Art. 3 — Se Deus move
imediatamente o intelecto criado.
O terceiro discute-se assim: Parece que Deus não move imediatamente o intelecto criado.
1. Pois, a acção do intelecto é imanente ao indivíduo de que provém e, por isso, não passa para a matéria exterior, como diz Aristóteles. Ora, a acção do ser movido por outro, não é imanente àquele, mas provém deste. Logo, o intelecto não é movido por outro ser; donde resulta que Deus não pode movê-lo.
2.
Demais. — O que tem em si o princípio suficiente do seu movimento não é movido
por outro. Ora, o movimento do intelecto é o seu próprio inteligir-se a si
mesmo; assim, diz-se, segundo o Filósofo, que inteligir e sentir são
movimentos. Ora, o princípio suficiente de inteligir é a luz inteligível ínsita
no intelecto. Logo, este não é movido por outro.
3.
Demais. — Como o sentido é movido pelo sensível, assim o intelecto, pelo
inteligível. Ora, Deus não é inteligível para nós, mas excede o nosso
intelecto. Logo, não no-lo pode mover.
Mas,
em contrário. — O docente move o intelecto do discente. Ora, Deus ensina ao
homem a ciência, como diz a Escritura (Sl 93, 10). Logo, move a
intelecto do homem.
Assim como nos movimentos corpóreos chama-se movente o que dá a forma,
princípio do movimento; assim diz-se que move o intelecto o que causa a forma,
princípio da operação intelectual, chamada movimento do intelecto. Ora, no ser
que intelige, é duplo o princípio da operação do intelecto: um, a virtude
intelectual mesma, cujo princípio está também no ser que intelige em potência;
o outro é o princípio do inteligir actual, que é a semelhança da coisa
inteligida nesse ser.
Donde,
diz-se que move o intelecto o que lhe dá a virtude de inteligir, para que
intelija, ou o que nele imprime a semelhança da coisa inteligida. Ora, de ambos
esses modos Deus move o intelecto criado. — Pois, ele é o ser primeiro
imaterial. E como a intelectualidade resulta da imaterialidade, segue-se que
ele é o primeiro ser inteligente. Donde, como o primeiro, em qualquer ordem, é
causa de tudo o mais dele resultante, conclui-se que de Deus provém toda
virtude de inteligir. — Semelhantemente, sendo Deus o ser primeiro, e preexistindo
nele, como na causa primeira, todos os entes, necessário é que estes estejam em
Deus inteligivelmente, ao modo dele. Pois, assim como todas as razões
inteligíveis das coisas existem, primeiramente, em Deus, de quem derivam para
os outros intelectos, afim de inteligirem em acto, assim também derivam para as
criaturas, a fim de que subsistam. Donde, Deus move o intelecto criado
dando-lhe a virtude, natural ou acrescentada, de inteligir, e imprimindo-lhe
as espécies inteligíveis; e de tudo isso ele governa e conserva a
existência.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A operação intelectual provém, por certo, do
intelecto em que está, como da causa segunda; mas provém de Deus, como da causa
primeira, pois, é ele que dá ao ser que intelige o poder de inteligir.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — A luz intelectual, simultaneamente com a semelhança da coisa
inteligida, é o princípio suficiente, embora secundário, do inteligir, pois, é
dependente do primeiro princípio.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — O inteligível move o nosso intelecto, imprimindo-lhe, de certo
modo, a sua semelhança pela qual ele pode inteligir. Mas as semelhanças que
Deus imprime no intelecto criado não bastam para que ele seja inteligido em
essência, como antes já se estabeleceu (q. 12, a. 2). Donde, Deus
move o intelecto criado, embora a este não lhe seja inteligível, como já se
disse.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama
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