Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 12, 22-41
22 Depois disse a
Seus discípulos: «Portanto digo-vos: Não vos preocupeis com o que é preciso
para a vossa vida, com o que haveis de comer, nem com o que é preciso para
vestir o vosso corpo. 23 A vida vale mais que o alimento e o corpo
mais que o vestido. 24 Considerai os corvos, que não semeiam, nem
ceifam, nem têm despensa, nem celeiro, e Deus, contudo, sustenta-os. Quanto
mais valeis vós do que eles? 25 Qual de vós, por muito que pense,
pode acrescentar um côvado à duração da sua vida? 26 Se vós, pois,
não podeis fazer o que é mínimo, porque estais em cuidado sobre o resto? 27
Considerai como crescem os lírios; não trabalham, nem fiam; contudo, digo-vos
que nem Salomão, com toda a sua glória, se vestia como um deles. 28
Se, pois, a erva que hoje está no campo e amanhã se lança no forno, Deus assim
a veste, quanto mais a vós, homens de pouca fé? 29 «Vós, pois, não
procureis o que haveis de comer ou beber; não andeis com o espírito preocupado.
30 Porque são os homens do mundo que buscam todas estas coisas. Mas
o vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. 31 Buscai, pois, em
primeiro lugar, o reino de Deus, e todas essas coisas vos serão dadas por
acréscimo. 32 Não temais ó pequenino rebanho, porque foi do agrado
do vosso Pai dar-vos o reino. 33 Vendei o que possuís e dai esmola;
fazei para vós bolsas que não envelhecem, um tesouro inesgotável no céu, onde
não chega o ladrão, nem a traça corrói. 34 Porque onde está o vosso
tesouro, aí estará também o vosso coração. 35 «Estejam cingidos os
vossos rins e acesas as vossas lâmpadas. 36 Fazei como os homens que
esperam o seu senhor quando volta das núpcias, para que, quando vier e bater à
porta, logo lha abram. 37 Bem-aventurados aqueles servos, a quem o
senhor quando vier achar vigiando. Na verdade vos digo que se cingirá, os fará
pôr à sua mesa e, passando por entre eles, os servirá. 38 Se vier na
segunda vigília, ou na terceira, e assim os encontrar, bem-aventurados são
aqueles servos. 39 Sabei que, se o pai de família soubesse a hora em
que viria o ladrão, vigiaria sem dúvida e não deixaria arrombar a sua casa. 40
Vós, pois, estai preparados porque, na hora que menos pensais, virá o Filho do
Homem». 41 Pedro disse-lhe: «Senhor, dizes esta parábola só para nós
ou para todos?».
CARTA ENCÍCLICA
QUADRAGESIMO ANNO
DE SUA SANTIDADE
PAPA PIO XI
SOBRE A RESTAURAÇÃO
E APERFEIÇOAMENTO
DA ORDEM SOCIAL
EM CONFORMIDADE COM
A LEI EVANGÉLICA NO XL ANIVERSÁRIO
DA
ENCÍCLICA DE LEÃO XIII “RERUM NOVARUM”
2. - EVOLUÇÃO DO
SOCIALISMO
.../6
Oxalá voltem à casa
paterna
Porém
nem a injúria Nos ofende, nem a magma desalenta o Nosso coração paterno a ponto
de repelirmos para longe de Nós estes filhos tristemente enganados e saídos do
caminho da verdade e da salvação; ao contrário com toda a possível solicitude
os convidamos, a que voltem ao seio da Santa Madre Igreja. Oxalá que dêm
ouvidos à Nossa voz! Oxalá que voltem à casa paterna donde saíram e aí permaneçam
na seu posto, nas fileiras daqueles que, fiéis às directivas promulgadas por
Leão XIII e por Nós hoje solenemente renovadas, procuram reformar a sociedade
segundo o espírito da Igreja, fazendo reflorescer a justiça e a caridade
sociais. E persuadam-se que em parte nenhuma podem encontrar maior felicidade,
até mesmo temporal, que junto daquele que por nós se fez pobre sendo rico, para
nos enriquecer com a sua pobreza, (58)
que viveu pobre e em trabalhos desde a sua juventude, que chama a si todos os
que trabalham e se vêm oprimidos, para os aliviar na caridade do seu Coração, (59) que finalmente sem aceitação de pessoas
exigirá mais d'aqueles a quem foi dado mais (60) e
retribuirá a cada um segundo as suas obras. (61)
3. - REFORMA DOS COSTUMES
Mas
se examinarmos as coisas mais a fundo, veremos à evidência, que esta
restauração social tão ardentemente desejada, não se pode obter sem prévia e
completa renovação do espírito cristão, do qual miseravelmente desertaram
tantos economistas; porque, sem ela, todos os esforços seriam inúteis e
fabricariam não sobre a rocha, mas sobre a areia movediça. (62)
E
realmente, veneráveis Irmãos e amados Filhos, acabámos de estudar a economia
actual, e achámo-la profundamente viciada. Citámos novamente a juízo o
comunismo e o socialismo, e vimos quanto as suas formas ainda as mais
mitigadas, se desviam dos ditames do Evangelho.
“Portanto,
para usar das palavras do Nosso Predecessor, se a sociedade humana se pode curar,
só se curará voltando à vida e instituições cristãs“. (63) Só estas podem dar remédio eficaz à
demasiada solicitude das coisas caducas origem de todos os vícios; só estas
podem fazer, que os homens, fascinados pelos bens deste mundo transitório,
desviem deles os olhos e os levantem ao céu. Quem dirá, que este remédio não é
hoje, mais que nunca, necessário à família humana?
A ruína das almas
Todos
se preocupam quase unicamente com as revoluções, calamidades e ruínas
temporais. Mas, se vemos as coisas à luz da fé, que é tudo isto em comparação
da ruína das almas? Bem pode dizer-se, que tais são hoje as condições da vida
social e económica, que se torna muito difícil a uma grande multidão de homens
ganharem o único necessário, a salvação eterna.
Nós,
a quem o Príncipe dos Pastores constituiu Pastor e Guarda destas inumeráveis
ovelhas, remidas com o seu sangue, não podemos contemplar a olhos enxutos o
gravíssimo perigo, que elas correm. Senão que, lembrados do Nosso dever
pastoral, com solicitude paterna, meditamos contínuamente no modo de as ajudar,
chamando em auxílio o zelo indefesso dos que a isso estão obrigados por justiça
ou caridade. Pois que aproveita aos homens poderem mais facilmente lucrar o
mundo inteiro com uma distribuição e uso mais racional das riquezas, se com
isso mesmo vem a perder a alma? (64)
Que aproveita ensinar-lhes os princípios da boa economia, se com avareza
sórdida e desenfreada se deixam arrebatar de tal maneira do amor dos próprios
bens, que “ouvindo os mandamentos do Senhor, fazem tudo o contrário“? (65)
Causa desta ruína
A
raiz e fonte desta defecção da lei cristã na vida social e económica, e da
consequente apostasia da fé católica para muitos operários é a desordem das
paixões, triste efeito do pecado original; foi ele que destruiu a admirável
harmonia das faculdades humanas e dispõe o homem a deixar-se facilmente
arrastar das más paixões e a preferir os bens caducos da terra aos eternos do
céu. Daqui aquela sede inextinguível de riquezas e bens temporais, que, se em
todos os tempos arrastou os homens a quebrar a lei de Deus e conculcar os
direitos do próximo, nas actuais condições económicas arma à fragilidade humana
laços ainda mais numerosos. Com efeito a incerteza da economia e mais ainda a
sua complicação exigem dos que a ela se aplicam, uma contenção de forças suma e
contínua; em consequência algumas consciências calejaram de tal maneira, que
julgam como lícitos todos os meios de aumentar os lucros e defender contra os vaivéns
da fortuna a riqueza adquirida à custa de tantos esforços e canceiras. A
facilidade dos lucros, que oferece a anarquia do mercado, leva muitos a
darem-se ao comércio desejosos unicamente de enriquecer sem grande trabalho; os
quais, com desenfreada especulação, levantam e diminuem os preços a capricho da
própria cobiça e com tal frequência, que desconcertam todos os cálculos dos
produtores. As instituições jurídicas destinadas a favorecer a colaboração dos
capitais, por isso dividem e diminuem os riscos, dão lugar muitas vezes aos
mais repreensíveis excessos; com efeito vemos a responsabilidade tão atenuada,
que já a poucos impressiona; sob a tutela de um nome colectivo praticam-se as
maiores injustiças e fraudes; os gerentes destas sociedades económicas,
esquecidos dos seus deveres, atraiçoam os direitos daqueles, cujas economias
deviam administrar. Nem se devem finalmente deixar em silêncio os traficantes
que, sem olharem à honestidade das suas artes, não temem estimular os caprichos
da clientela para deles abusarem em própria vantagem.
Somente
uma rígida disciplina dos costumes, energicamente apoiada pela autoridade
pública, poderia ter afastado ou mesmo prevenido tão graves inconvenientes; mas
infelizmente essa faltou. Quando começou a aparecer o novo regime económico,
tinha o nacionalismo penetrado e lançado raízes em muitas inteligências; por
isso e ciência económica, que então se formou, prescindindo da lei moral,
soltava as rédeas às paixões humanas.
E
assim sucedeu, que, mais do que antes, muitíssimos não pensavam senão em
aumentar por todos os modos as suas riquezas; e procurando-se a si mais que
tudo e acima de todos, de nada tinham escrúpulo, nem sequer dos maiores delitos
contra o próximo. Os primeiros a entrar por este caminho largo que leva à
perdição, (66) granjearam por sua
vez e facilmente muitos imitadores da sua maldade, já pelo exemplo de um êxito
aparente, já pela insolente pompa das suas riquezas, ora metendo a ridículo a
consciência dos outros, como se estivesse agitada de vãos escrúpulos, ora
finalmente conculcando os competidores mais conscienciosos.
Desviados
do bom caminho os dirigentes da economia, deviam logicamente precipitar-se no
mesmo abismo da multidão operária; e isto tanto mais, que muitos directores de
oficinas usavam dos operários como de meros instrumentos, em nada solícitos da
sua alma, não pensando sequer no sobrenatural. Sentimo-Nos horrorizados ao pensar
nos gravíssimos perigos a que estão expostos nas fábricas modernas os costumes
dos operários - sobre tudo jovens - e o pudor das mulheres e donzelas; ao
lembrarmo-Nos de que muitas vezes o sistema económico hodierno e sobre tudo as
más condições da habitação, criam obstáculos à união e intimidade da vida de
família; ao recordarmos os muitos e grandes impedimentos opostos à devida
santificação dos Domingos e Festas de Guarda; ao considerarmos enfim como
diminuiu aquele sentimento verdadeiramente cristão, com que até os rudes e
ignorantes aspiravam aos bens superiores, para dar lugar à solicitude única de
procurar, tão-somente e por todos os meios, o pão quotidiano. Deste modo o
trabalho corporal, ordenado pela divina Providência, depois da culpa de origem,
para remédio do corpo e da alma, converte-se frequentemente em instrumento de
perversão: da oficina só a matéria sai enobrecida, os homens ao contrário
corrompem-se e aviltam-se.
REMÉDIOS
A) Cristianização da vida económica
A
esta tão deplorável crise das almas, que, enquanto dure, tornará inúteis todos
os esforços de regeneração social, não pode dar-se outro remédio, que não seja
reconduzir os homens à profissão franca e sincera da doutrina evangélica, aos
ensinamentos daquele, que tem - Ele só - palavras de vida eterna, (67) e palavras tais, que hão-de perdurar
eternamente, ainda depois de passarem os céus e a terra. (68) É certo que todos os verdadeiramente
entendidos em sociologia, anseiam por uma reforma moldada pelas normas da
razão, que restitua a vida económica à sã e recta ordem. Mas esta ordem, que também
Nós ardentemente desejamos e procuramos com o maior empenho, será de todo falha
e imperfeita, se não tenderem de concerto todas as energias humanas a imitar a
admirável unidade do divino conselho e a consegui-la, quanto ao homem é dado,
chamamos perfeita aquela ordem apregoada pela Igreja com grande força e tenacidade,
pedida mesmo pela razão humana, isto é: que tudo se encaminhe para Deus fim
primário e supremo de toda a actividade criada, e que todos os bens criados por
Deus se considerem como instrumentos dos quais o homem deve usar tanto quanto
lhe sirvam a conseguir o último fim. Nem deve julgar-se que esta filosofia
rebaixa as artes lucrativas ou as considera menos conformes à dignidade humana;
pelo contrário ensina a reconhecer e venerar nelas a vontade manifesta do
divino Criador, que colocou o homem sobre a terra para a cultivar e usar dela
segundo as suas múltiplas precisões. Nem é vedado aos que se empregam na
produção, aumentar justa e devidamente a sua fortuna; antes ensina a Igreja ser
justo que quem serve a sociedade e lhe aumenta os bens, se enriqueça também desses
mesmos bens conforme a sua condição, contanto que isto se faça com o respeito
devido à lei de Deus e salvos os direitos do próximo, e os bens se empreguem
segundo os princípios da fé e da recta razão. Se esta doutrina fosse por todos,
em toda a parte e sempre observada, não somente a produção e aquisição dos
bens, mas também o uso das riquezas, agora tantas vezes desordenado, voltaria
depressa aos limites da equidade e justa distribuição; à única e tão sórdida
preocupação dos próprios interesses, que é a desonra e o grande pecado do nosso
tempo, opor-se-ia na verdade e de facto a suavíssima e igualmente poderosa lei
da moderação cristã, que manda ao homem buscar primeiro o reino de Deus e a sua
justiça, seguro de que também na medida do necessário a liberalidade divina,
fiel às suas promessas, lhe dará por acréscimo os bens temporais. (69)
B) A lei da caridade
Mas
isto só não basta: à lei da justiça deve juntar-se a da caridade, “que é o
vínculo da perfeição“. (70)
Quanto se enganam, portanto, os reformadores incautos, que atendendo somente a
guardar a justiça comutativa, rejeitam com orgulho o concurso da caridade! Decerto,
não pode a caridade substituir a justiça, quando o devido se nega iniquamente.
Contudo ainda que o homem alcance, enfim, quanto lhe é devido, restará sempre
um campo imenso aberto à caridade: a justiça, se bem que praticada com todo o
rigor, se pode extirpar as raízes das lutas sociais, não poderá nunca, sozinha,
congraçar os ânimos e unir os corações. Ora, todas as instituições criadas para
consolidar a paz e promover a colaboração social, por mais perfeitas que
pareçam, tem o fundamento da sua estabilidade principalmente no vínculo que une
as almas; se este, falta, tornam-se ineficazes os melhores estatutos, como
tantas vezes a experiência no-lo ensinou. Por isso só haverá uma verdadeira cooperação
de todos para o bem comum, quando as diversas partes da sociedade sentirem
intimamente, que são membros de uma só e grande família, filhos do mesmo Pai
celeste, antes um só corpo em Cristo e “membros uns dos outros“, (71) de modo que “se um membro sofre, todos os
membros sofrem com ele“. (72)
Então os ricos e senhores converterão em amor solícito e operoso o antigo
desprezo pelos irmãos mais pobres; acolherão os seus justos pedidos com bom
rosto e coração aberto, perdoar-lhes-ão, até sinceramente ,as culpas e os
erros. Por sua vez os operários, reprimindo qualquer sentimento de ódio e
inveja, de que abusam com tanta astúcia os fautores da luta de classes, não
desdenharão o posto que a divina Providência lhes assinou na sociedade humana,
antes o terão em grande apreço, bem persuadidos de que no seu emprego e ofício
trabalham útil e honrosamente para o bem comum, e seguem mais de perto Aquele
que, sendo Deus, quis na terra fazer-se operário e ser considerado como filho
de operário.
É
desta nova difusão do espírito evangélico no mundo, do espírito de moderação
cristã e de caridade universal, que há-de brotar, como esperamos, aquela tão
desejada e completa restauração da sociedade humana em Cristo, e aquela “Paz de
Cristo no reino de Cristo“, a que desde o início do nosso Pontificado
firmemente propusemos consagrai todo o Nosso cuidado e solicitude pastoral. (73) A
esta obra primordial e hoje absolutamente necessária, também vós, veneráveis
Irmãos, posto. pelo Espírito Santo a governar connosco a Igreja de Deus (74) consagrais incansavelmente o melhor do
vosso zelo em todas as partes do mundo, inclusivamente nas terras de missões
entre infiéis. A vós o merecido louvor e convosco a todos esses valorosos
colaboradores na mesma grande empresa, clérigos ou leigos, aos Nossos amados
Filhos da Acção Católica, que Nós com tanto prazer vemos dedicarem-se
generosamente comNosco à solução dos problemas sociais, na persuasão de que a
Igreja por força da sua divina instituição tem o direito e o dever de se ocupar
d'eles. A todos estes instantemente exortamos no Senhor, que não se poupem a
nenhum trabalho, não se deixem vencer das dificuldades, mas cada vez cobrem
maior ânimo e sejam fortes. (75) É
árdua efectivamente a empresa que lhes propomos: conhecemos muito bem, que de
ambas as partes surgem inúmeros obstáculos, quer das classes superiores, quer
das inferiores da sociedade. Não desanimem porém; a vida do cristão é uma
contínua milícia; mas assinalar-se em empresas difíceis é próprio dos que, como
bons soldados, (76)
mais de perto seguem a Cristo.
Portanto
unicamente confiados no auxílio omnipotente daquele que “a todos os homens quer
salvar“, (77) esforcemo-nos em
ajudar estas pobres almas, afastadas de Deus, e arrancando-as aos cuidados temporais,
em que vivem enredadas, ensinemos-lhes a aspirar confiadamente às coisas
eternas. Nem isto é sempre tão difícil de obter, como à primeira vista parece:
se nos recônditos do coração, ainda o mais perdido, como brasas debaixo da
cinza, se ocultam maravilhosas energias de espírito, testemunho seguro daquela “alma
naturalmente cristã “, quanto mais as haverá nos corações daqueles, e são a
maior parte, que mais por ignorância ou por influências externas, do que por
malícia, se deixaram arrastar para o erro?
Além
disto apresentam-nos já sinais lisonjeiros de restauração social as próprias
fileiras dos operários, nas quais vemos com indizível gozo da alma poderosos
núcleos de jovens, que escutam com docilidade as inspirações da graça divina e
se empenham com zelo incrível em ganhar para Cristo a alma de seus irmãos. E
não são menos dignos de elogio os dirigentes das organizações operárias que,
esquecidos dos seus interesses e solícitos sobretudo do bem dos companheiros,
procuram harmonizar prudentemente as suas justas reclamações com a prosperidade
de toda a indústria, nem por nenhumas dificuldades ou suspeitas se deixam
demover de tão nobre procedimento. Podem ver-se até muitos jovens destinados a
ocupar brevemente ou pelo engenho ou pelas riquezas um posto de realce nas
primeiras camadas da sociedade, que se consagram com o mais intenso cuidado a
estas questões, dando risonha esperança de virem a dedicar-se todos à
restauração social.
Caminho a seguir
As
circunstâncias, veneráveis Irmãos, mostram bem qual a via a trilhar. Como
noutras épocas da Igreja, temos de defrontar-nos com um mundo quase recaído no
paganismo. Para reconduzir a Cristo, a quem renegaram, essas classes inteiras
de homens, devem escolher-se e formar-se de entre elas soldados auxiliares da
Igreja, que conheçam bem os homens, os seus pensamentos e aspirações, e possam
pela caridade fraterna penetrar-lhes suavemente no coração. Os primeiros e
imediatos apóstolos dos operários devem ser operários; os apóstolos dos
artistas e comerciantes devem sair de entre eles.
Procurar
cuidadosamente estes apóstolos dos operários e patrões, escolhê-los com
prudência, formá-los e educá-los como convém, é principalíssimo dever vosso e
do vosso clero, veneráveis Irmãos. É decerto um pesado múnus imposto aos
sacerdotes, para cujo desempenho devem preparar-se devidamente com aturado
estudo das questões sociais os levitas que formam a esperança da Igreja; mas é
sobre tudo necessário que os escolhidos em particular para este ofício sejam
dotados de um tão apurado sentimento de justiça, que resistam varonilmente a
qualquer reclamação iníqua ou acção injusta; se avantajem na prudência e numa
discrição não inclinada a extremos; que estejam mais que tudo, penetrados da
caridade de Cristo, que só pode render forte e suavemente os corações e as
vontades dos homens às leis da justiça e da equidade. Não há dúvida que este
caminho, abonado já por felizes resultados, é o que se deve seguir
denodadamente.
A
esses Nossos amados filhos, escolhidos para tão grande empresa, esperamos vivamente
no Senhor, que se dêm todos ao cultivo dos homens a si confiados, e que no
desempenho desse ofício eminentemente sacerdotal e apostólico usem como convêm
da força da educação cristã, ensinando os jovens, fundando associações
católicas, criando círculos, onde se cultive o estudo segundo os princípios da
fé. Tenham sobretudo em grande apreço e saibam usar para bem dos seus dirigidos
aquele preciosíssimo instrumento de restauração individual e social, que são os
Exercícios espirituais por Nós encarecidos na Nossa Encíclica Mens Nostra, na qual lembrámos expressamente e
recomendámos os exercícios como utilíssimos para todas as classes do laicado e
em particular para os operários: com efeito nesta escola do espírito não só se
cultivam ótimos cristãos, mas formam-se e inflamam-se no fogo do Coração de
Jesus verdadeiros apóstolos para todos os estados da vida. Desta escola, como
os Apóstolos do Cenáculo de Jerusalém, sairão fortes na fé, constantes nas
perseguições, ardentes de zelo, unicamente solícitos de propagar por toda a
parte o reino de Cristo.
E
certamente agora, mais que nunca, são precisos estes valorosos soldados de
Cristo, que trabalhem com todas as forças por preservar a família humana da
pavorosa catástrofe, em que viria a precipitar-se, se o desprezo das doutrinas
do Evangelho deixasse triunfar uma ordem de coisas, que conculca as leis da
natureza, não menos que as de Deus. A Igreja de Cristo, alicerçada na rocha
inabalável, nada tem que temer por si, pois sabe muito bem, que as portas do inferno
não prevalecerão contra ela; (78) e
uma experiência de vinte séculos prova-lhe, que das tempestades mais violentas
sai cada vez mais forte e coroada de novos triunfos. Mas o seu coração de Mãe
estremece de horror ao pensar nos males sem número, em que estas tempestades
afogariam milhares de homens e mais ainda nos gravíssimos danos espirituais que
daí resultariam em ruína de tantas almas resgatadas com o sangue de Cristo.
Devem
pois envidar-se todos os esforços para desviar da sociedade humana males tão
grandes: a isto devem endereçar-se os nossos trabalhos, a nossa solicitude, as
nossas orações a Deus, assíduas e fervorosas. Com o socorro da graça divina
temos em nossas mãos a sorte da família humana.
Não
consintamos, veneráveis Irmãos e amados Filhos, que os filhos deste século se
mostrem na sua geração mais prudentes do que nós, que somos, por mercê divina,
filhos da luz. (79)
Vemos com quanta sagacidade eles escolhem adeptos militantes e os formam, para
que espalhem os seus erros cada vez mais largamente, em todas as classes e
sobre todos os pontos do globo. E quando se trata de combater mais
violentamente a Igreja de Cristo, vemos que, dando tréguas às discórdias
intestinas, cerram fileiras num só exército, e unidos trabalham com todas as
forças por levar a efeito o comum intento.
União das forças católicas
Ninguém
ignora quantas e quão grandes obras, empreende por toda a parte o zelo
infatigável dos católicos, tanto no campo social e económico, como no do ensino
e da religião. Não raro, porém, esta actividade admirável e laboriosa se torna
menos eficaz devido à demasiada dispersão de forças. Unam-se pois todos os
homens de boa vontade, que sob a direcção dos Pastores da Igreja querem
combater este bom e pacífico combate de Cristo; e todos, seguindo as directivas
e ensinamentos da Igreja, se esforcem por contribuir na medida do seu engenho,
forças e condição para aquele renovamento cristão da sociedade, que Leão XIII
inaugurou com a imortal Encíclica Rerum
novarum: não se procurando a si mesmos nem os seus próprios interesses, mas
os de Jesus Cristo; (80)
não teimando em fazer triunfar as suas ideias, por boas que sejam, mas
dispostos a sacrificá-las ao bem comum; para que em tudo e sobre tudo reine e
impere Cristo, a quem seja honra, glória e poder por todos os séculos. (81)
Para
que isto se realize, a todos vós, veneráveis Irmãos e amados Filhos, quantos
sois membros da grande família católica a Nós confiada, mas com particular
afecto aos operários e aos outros trabalhadores de artes mecânicas, a Nós mais
especialmente recomendados pela divina Providência, e também aos patrões e
empresários cristãos damos de coração a Bênção Apostólica.
Dado em Roma, junto de S. Pedro, aos
XV de maio de MCMXXXI, ano X do Nosso Pontificado.
PIO PP. XI.
© Copyright 1931- Libreria Editrice
Vaticana
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama.
________________________
Notas:
(58) II Cor., 8, 9.
(59) Mt., 11, 28.
(60) Cfr. Lc., 12, 48.
(61) Mr., 16, 27.
(62) Cfr. Mr, 7, 24 ss.
(63)
Encícl. Rerum novarum, n. 22.
(64)
Cfr. Mt., 16, 26.
(65)
Cfr. Judic., 2, 17.
(66)
Cfr. Mt., 7, 13.
(67) Cfr. Joh., 6, 70.
(68) Cfr. Mt., 24, 35.
(69) Mt., 6, 33.
(70) Col., 3, 14.
(71)
Rom, 12, 5.
(72)
I Cor., 12, 26.
(73)
Cfr. Encícl. Ubi arcano, de 23 de Dezembro de 1922.
(74) Cfr. Act., 20, 28.
(75) Cfr. Deut., 31, 7.
(76) Cfr. II Tim., 2, 3.
(77) I Tim., 2, 4.
(78) Mt., 16, 18.
(79) Cfr. Lc., 16, 8.
(80) Cfr. Phil., 2, 21.
(81)
Apoc., 5, 13.
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