Art. 2 — Se a vontade quer necessariamente tudo quanto quer.
(Iª
IIae, q. 10, a. 2; II Sent., dist. XXV, a. 2; De Verit., q. 22, a. 6; De Malo,
q. 3, a. 3; q. 6; I Periherm., lect XIV).
O
segundo discute-se assim. ― Parece que a vontade quer, necessariamente, tudo
quanto quer.
1.
― Pois, diz Dionísio, que o mal está fora do alcance da vontade. Logo, a
vontade busca, necessariamente, o bem a si proposto.
2.
Demais. ― O objecto da vontade está para a mesma, como o motor, para o móvel.
Ora, o movimento do móvel resulta, necessariamente, do motor. Logo, o objecto
da vontade move-se necessariamente.
3.
Demais. ― Assim como o apreendido pelo sentido é o objecto do apetite
sensitivo; assim o apreendido pelo intelecto é o objecto do apetite
intelectivo, chamado vontade. Ora, o apreendido pelo sentido move,
necessariamente, o apetite sensitivo, conforme o dito de Agostinho: os animais
são movidos pelas coisas vistas. Logo, o apreendido pelo intelecto move,
necessariamente, a vontade.
Mas,
em contrário, diz Agostinho que pela vontade pecamos e por ela vivemos bem; e,
então ela exerce-se sobre termos opostos. Logo, não quer, necessariamente, tudo
o que quer.
A vontade não quer, necessariamente, tudo o que quer. E isso evidencia-se considerando
que, assim como o intelecto adere aos primeiros princípios natural e
necessariamente, assim a vontade adere ao último fim, como já se disse (a.
2). Ora, há certos inteligíveis que não têm conexão necessária com os
primeiros princípios; como as proposições contingentes, de cuja remoção não
resulta a remoção dos primeiros princípios. E a essas o intelecto não anui,
necessariamente. Há, porém proposições necessárias, que têm conexão necessária
com os sobreditos princípios; assim, as conclusões demonstráveis, de cuja
remoção resulta a remoção dos primeiros princípios. E, a esses, o intelecto anui
necessariamente, conhecida que seja a conexão necessária das conclusões com os
princípios, pela dedução da demonstração; não anui, porém, necessariamente,
antes de conhecer, pela demonstração, a necessidade da conexão. Ora, o mesmo se
passa com a vontade. Assim, há, certos bens particulares sem conexão necessária
com a beatitude, porque, sem eles, pode um ser feliz. E a tais bens a vontade
não adere necessariamente. Há outros, porém, que têm com ela conexão necessária
e pelos quais o homem adere a Deus, em quem só consiste a verdadeira beatitude.
Contudo, antes de ser demonstrada, pela certeza da visão divina, a necessidade
de tal conexão, a vontade não adere, necessariamente, a Deus nem às coisas de
Deus. Mas à vontade de quem vê a Deus em essência adere a Ele necessariamente,
assim como, nesta vida, queremos necessariamente, ser felizes. Donde é claro,
que a vontade não quer necessariamente tudo o que quer.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― A vontade não pode buscar nada senão sob a
noção de bem. Ora, como este é múltiplo, ela, por isso, não fica determinada a
um só, necessariamente.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― O motor causa, necessariamente, o movimento no móvel, só quando o
poder do motor excede o móvel, de modo que toda a sua possibilidade fique
sujeita ao motor. Ora, como a possibilidade da vontade é em relação ao bem
universal e perfeito, a possibilidade dela não fica totalmente sujeita a nenhum
bem particular. E, portanto, não é movida por este, necessariamente.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― A virtude sensitiva não compara noções difrentes, como a razão,
mas apreende, absolutamente o seu objecto como uno. E por isso, por esse objecto
uno, move, determinadamente, o apetite sensitivo. Mas a razão, comparando
muitas noções, o apetite intelectivo ou vontade pode ser movido por muitos objectos,
e não por um só, necessariamente.
Nota:
Revisão da tradução para português por ama
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