13/08/2012

Tratado sobre o homem 41

Questão 80: Das potências apetitivas em comum.
Art. 2 — Se o apetite sensitivo e o intelectivo são potências diversas.


(De Verit., q. 22, a. 4; q. 25, a. 1; III De Anima, lect. XIV).

O segundo discute-se assim. ― Parece que o apetite sensitivo e o intelectivo não são potências diversas.

1. ― Pois, as potências não se diversificam pelas diferenças acidentais, como se disse antes (q. 77, a. 3). Ora, é acidental ao apetecível ser apreendido pelo sentido ou pelo intelecto. Logo, o apetite sensitivo e o intelectivo não são potências diversas.

2. Demais. ― O conhecimento intelectivo é o do universal e, por aí, se distingue do sensitivo que é o conhecimento do singular. Ora, essa distinção não tem lugar na parte apetitiva; pois, sendo o apetite movido, pela alma, para causas singulares, todos os apetites visam causas singulares. Logo, o apetite intelectivo não deve se distinguir do sensitivo.

3. Demais. ― Assim como a apetitiva, como potência inferior, é dependente da apreensiva, assim também a motiva. Mas, não há, no homem, uma potência motiva, consequente ao intelecto, diferente da que, nos outros animais, é consequente ao sentido. Logo, pela mesma razão, não é diferente a potência apetitiva.

Mas, em contrário; o Filósofo distingue um duplo apetite, e diz, que o superior move o inferior.

É necessário admitir o apetite intelectivo como potência diferente da sensitiva. Pois, a potência apetitiva é uma potência passiva, cuja natureza é ser movida pelo que foi apreendido; Donde, o apetecível apreendido é motor não movido; porém, o apetite é motor movido, como diz Aristóteles. Ora, o passivo e o móvel distinguem-se pela distinção do activo e do motivo; pois, é forçoso que o motivo seja proporcionado ao móvel e o activo, ao passivo, e a essência da potência passiva mesma está em ser ordenada ao que lhe é activo. Ora, como o que é apreendido pelo intelecto é de outro género do que o apreendido pelo sentido, resulta que o apetite intelectivo é potência diferente do sensitivo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― Não é por acidente que o apetecível é apreendido pelo sentido e pelo intelecto, mas em si mesmo é que convém a este. Pois, o apetecível só como apreendido é que move o apetite. Donde, as diferenças do apreendido são, em si, as do apetecível. E, por isso, as potências apetitivas distinguem-se pelas diferenças das coisas apreendidas, como sendo os objectos próprios delas.

RESPOSTA À SEGUNDA. ― Embora o apetite intelectivo busque coisas singulares exteriores à alma, busca-as todavia por meio de alguma noção universal; assim, quando deseja algo de bom. Donde, diz o Filósofo, pode ter-se ódio universalmente, p. ex., quando o temos de todo género de ladrões. Semelhantemente, pelo apetite intelectivo, também podemos desejar bens imateriais, que os sentidos não apreendem, como a ciência, as virtudes e outros semelhantes.

RESPOSTA À TERCEIRA. ― Como já foi dito, a opinião universal não move senão mediante a particular; e, semelhantemente, o apetite superior move mediante o inferior. E, portanto, não há outra virtude motiva consequente ao intelecto e ao sentido.

Nota: Revisão da tradução para português por ama

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