Em seguida devem-se considerar as potências apetitivas, E sobre este assunto, quatro pontos se hão-de tratar. Primeiro, do apetite em comum. Segundo, da sensualidade. Terceiro da vontade. Quarto, do livre arbítrio.
Sobre
o primeiro, dois artigos se discutem:
Art. 1 — Se o apetite é uma potência especial da alma.
Art.
2 — Se o apetite sensitivo e o intelectivo são potências diversas.
Art. 1 — Se o apetite é uma potência
especial da alma.
(III
Sent., dist. XXVII, q. 1, a. 2; De Verit., q., 22, a 3).
O
primeiro discute-se assim. ― Parece que o apetite não é uma potência da alma.
1.
― Pois, não se deve atribuir uma potência especial da alma ao que é comum aos
seres animados e aos inanimados. Ora, o apetite é-lhes comum porque, como diz
Aristóteles, o bem é o que todos os seres desejam. Logo, é uma potência
especial da alma.
2.
Demais. ― As potências distinguem-se pelos objectos. Mas o que conhecemos é o
mesmo que desejamos. Logo, a virtude apetitiva não deve ser diferente da
apreensiva.
3.
Demais. ― O comum não se distingue por oposição com o próprio. Ora, cada uma
das potências da alma deseja um certo bem apetecível particular, a saber, o
objecto que lhe é conveniente. Logo, em relação a esse objecto, que é o
apetecível comum, não é necessário introduzir uma potência diferente das
outras, chamada apetitiva.
Mas,
em contrário, o Filósofo distingue a apetitiva das outras potências. E
Damasceno também distingue as virtudes apetitivas das cognitivas.
É necessário admitir na alma uma potência apetitiva. O que se evidencia
considerando que cada inclinação resulta de uma forma; assim, o fogo, pela sua
forma, inclina-se para o lugar superior e para gerar um semelhante a si. Ora, a
forma, nos entes que participam do conhecimento, encontra-se de modo mais alto
do que nos privados dele. Pois, nestes últimos, encontra-se somente a forma que
determina cada um deles a um ser próprio, e que a cada qual é natural. E a
inclinação natural resulta dessa forma natural, sendo chamada apetite natural.
Ao passo que nos entes dotados de conhecimento, cada qual é determinado, pela
forma natural, ao ser natural próprio, o qual todavia é susceptível de receber
as espécies das outras coisas; assim, o sentido recebe as espécies de todos os
sensíveis, e o intelecto, de todos os inteligíveis. De modo que a alma do homem
torna-se, de certo modo, em tudo, pelo sentido e pelo intelecto. Donde, os
entes dotados de conhecimento aproximam-se, de certo modo, da semelhança com
Deus, em quem todas as coisas preexistem, como diz Dionísio. Portanto, assim
como as formas existem, nos entes que têm conhecimento, de modo mais elevado
que o das, formas naturais; assim é necessário que haja neles uma inclinação
superior ao modo da inclinação natural e chamada apetite natural. E essa inclinação
superior pertence à virtude apetitiva da alma, pela qual o animal pode apetecer
as coisas que apreende, além daquelas às quais se inclina pela forma natural.
E, portanto, é necessário admitir, na alma, uma potência apetitiva.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― O apetecer encontra-se nos entes dotados de
conhecimento, mas de modo superior ao comum, que existe em todos os outros
seres, como já se disse. E, portanto, é necessário que seja, para isso,
determinada uma potência da alma.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― O apreendido e o apetecido são idênticos quanto ao objecto, mas
diferem pela relação com ele. Pois, o objecto é apreendido como ente sensível
ou inteligível; ao passo que é apetecido como conveniente ou bom. Ora, a
diversidade de relações com os objectos, e não a diversidade material, é que
fundamentam a diversidade das potências.
RESPOSTA
À TERCEIRA. ― Cada potência da alma é uma forma ou natureza, com inclinação
natural para alguma coisa. Donde, cada uma deseja o objecto que lhe é
conveniente, por um apetite natural. Superior a este, porém, é o apetite
animal, consequente à apreensão, e pelo qual alguma coisa é apetecida, não pela
razão de ser conveniente ao acto de tal potência ou tal outra, como p. ex., a
visão, a ver, e audição, a ouvir; mas por ser conveniente, absolutamente ao animal.
Nota:
Revisão da tradução para português por ama
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