Art. 4 ― Se a alma é o homem.
(III
Sent., dist., V, q. 3, a. 2; dist. XXII, q. 1, a. 1; II Cont. Gent., cap. LVII;
Opusc. XVI, De Unit. Intell.; De Ent. Et Ess., cap. II;VII Metaphys., lect IX).
1.
― O quarto discute-se assim. ― Parece que a alma é o homem. Pois, diz a
Escritura (2 Cor 4, 16): Essa é a razão porque não desfalecemos; mas
ainda que se destrua em nós o homem exterior, todavia o interior se vai
renovando de dia em dia. Ora, o que no homem é interior é a alma. Logo, a alma
é o homem interior.
2.
Demais. ― A alma humana é uma determinada substância, mas não é a substância
universal. Logo, é particular e, portanto, hipóstas e ou pessoa e não outra
senão humana. Logo, a alma é o homem; pois, a pessoa humana é o homem.
Mas,
em contrário, Agostinho elogia Varrão dizendo que o homem não é só alma, nem só
corpo, mas simultaneamente, alma e corpo.
Que a alma seja o homem, pode-se entender de dois modos. De um modo, que o
homem é a alma, mas não este determinado homem, composto de alma e corpo, como
Sócrates. E digo assim porque certos ensinaram que só a forma pertence à
natureza da espécie, sendo a matéria parte do indivíduo e não da espécie. ― O
que certamente não pode ser verdadeiro. Pois, à natureza da espécie pertence
aquilo que significa a definição. Ora, a definição, nas coisas naturais, não
significa só a forma, mas a forma e a matéria. Por onde, a matéria é parte da
espécie, nas sobreditas coisas; não por certo a matéria signada, que é o
princípio de individuação, mas a matéria comum. Assim, pois, como da natureza
de um determinado homem é que seja composto de tal alma e tais carnes e tais
ossos, assim da natureza do homem é que o seja da alma e das carnes e dos
ossos; pois, é necessário que a substância da espécie tenha tudo o que
comumente pertence à substância de todos os indivíduos contidos na espécie.
Porém,
de outro modo, pode-se entender no sentido em que uma determinada alma seja um
determinado homem. E isso se poderia sustentar se se estabelecesse que a
operação da alma sensitiva fosse só dela, sem o corpo, porque as operações
atribuídas ao homem conviriam só à alma. Ora, cada coisa produzindo as suas
operações próprias, o homem é o que opera as suas. Pois, já se demonstrou (a.
3) que sentir não é operação só da alma. ― Sendo, portanto, o sentir uma
certa operação do homem, embora não própria, é manifesto que este não é só a
alma, mas algo composto de alma e corpo. Platão, porém, ensinando que o sentir
é próprio da alma, podia ensinar que o homem é uma alma que usa de um corpo.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― Segundo o Filósofo, um ser é principalmente
aquilo que nele é o principal; assim, o que faz o chefe de uma cidade se
considera como feito pela cidade. E, desse modo, às vezes se chama homem ao que
neste é o principal; umas vezes, à parte intelectiva, segundo a verdade das
coisas, chamada o homem interior; outras vezes, porém, à parte sensitiva com o
corpo, segundo a opinião de alguns que só se detêm nas coisas sensíveis; e este
se chama o homem exterior.
RESPOSTA
À SEGUNDA. ― Nem toda substância particular é hipóstase ou pessoa, mas a que
tem a natureza completa da espécie. Por onde, a mão ou o pé não se pode chamar
hipóstase ou pessoa; e semelhantemente, nem a alma, que é parte da espécie
humana.
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