Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Mc 1, 23-45
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Evangelho: Mc 1, 23-45
23 Na sinagoga estava um
homem possesso dum espírito imundo, que começou a gritar: 24 «Que
tens que ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder? Sei Quem és, o
Santo de Deus». 25 Mas Jesus o ameaçou dizendo: «Cala-te, e sai
desse homem!». 26 Então o espírito imundo, agitando-o violentamente
e dando um grande grito, saiu dele. 27 Ficaram todos tão admirados,
que se interrogavam uns aos outros: «Que é isto? Que nova doutrina é esta? Ele
manda com autoridade até nos espíritos imundos, e eles obedecem-Lhe». 28
E divulgou-se logo a Sua fama por toda a região da Galileia. 29 Logo que saíram da sinagoga, foram a casa de Simão e
de André, com Tiago e João. 30 A sogra de Simão estava de cama com
febre. Falaram-Lhe logo dela. 31 Jesus, aproximando-Se e tomando-a
pela mão, levantou-a. Imediatamente a deixou a febre, e ela pôs-se a servi-los.
32 Ao anoitecer, depois do sol-posto, traziam-Lhe todos os enfermos
e possessos, 33 e toda a cidade se tinha juntado diante da porta. 34
Curou muitos que se achavam atacados com várias doenças, expulsou muitos
demónios, e não permitia que os demónios dissessem quem Ele era. 35
Levantando-Se muito antes de amanhecer, saiu e foi a um lugar solitário e lá
fazia oração. 36 Simão e os seus companheiros foram procurá-l'O. 37
Tendo-O encontrado, disseram-Lhe: «Todos Te procuram». 38 Ele
respondeu: «Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de que Eu
também lá pregue, pois para isso é que Eu vim». 39 E andava pregando
nas sinagogas, por toda a Galileia, e expulsava os demónios. 40 Foi ter com Ele um leproso que, suplicando e pondo-se de joelhos, Lhe
disse: «Se quiseres podes limpar-me». 41 Jesus, compadecido dele,
estendeu a mão e, tocando-o, disse-lhe: «Quero, fica limpo». 42
Imediatamente desapareceu dele a lepra e ficou limpo. 43 E logo
mandou-o embora, dizendo-lhe com tom severo: 44 «Guarda-te de o
dizer a alguém, mas vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela purificação o
que Moisés ordenou, para que lhes sirva de testemunho». 45 Ele,
porém, retirando-se, começou a contar e a divulgar o sucedido, de modo que
Jesus já não podia entrar abertamente numa cidade, mas ficava fora nos lugares
desertos, e de toda a parte vinham ter com Ele.
Ioannes
Paulus PP. II
Ut unum sint
sobre
o Empenho Ecuménico
…/7
III. QUANTA EST NOBIS VIA?
Continuar e intensificar o diálogo
77.
Agora podemos interrogar-nos sobre quanta estrada nos separa ainda daquele dia
abençoado, em que será alcançada a plena unidade na fé e poderemos então na
concórdia concelebrar a santa Eucaristia do Senhor. O melhor conhecimento
recíproco já conseguido entre nós, as convergências doutrinais alcançadas e que
tiveram como consequência um crescimento afectivo e efectivo de comunhão, não
podem bastar para a consciência dos cristãos que professam a Igreja una, santa,
católica e apostólica. A finalidade última do movimento ecuménico é o
restabelecimento da plena unidade visível de todos os baptizados.
Na
perspectiva desta meta, todos os resultados conseguidos até agora não passam de
uma etapa, embora prometedora e positiva.
78.
No movimento ecuménico, não são apenas a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas
que possuem esta noção exigente da unidade querida por Deus. A tendência para
tal unidade é expressa também por outros. 129
O
ecumenismo implica que as Comunidades cristãs se ajudem mutuamente, para que
esteja verdadeiramente presente nelas todo o conteúdo e todas as exigências «da
herança deixada pelos Apóstolos». 130
Sem isso, a plena comunhão nunca será possível. Esta ajuda recíproca na busca
da verdade é uma forma suprema da caridade evangélica.
A
busca da unidade está expressa nos vários documentos das numerosas Comissões
mistas internacionais de diálogo. Nesses textos, trata-se do Baptismo, da
Eucaristia, do Ministério e da Autoridade, partindo de uma certa unidade
fundamental de doutrina.
Desta
unidade fundamental, mas ainda parcial, deve-se agora passar àquela unidade
visível, necessária e suficiente, que se inscreva na realidade concreta, para
que as Igrejas realizem verdadeiramente o sinal daquela comunhão plena na
Igreja una, santa, católica e apostólica, que se há-de exprimir na
concelebração eucarística.
Este
caminho para a unidade visível necessária e suficiente, na comunhão da única
Igreja querida por Cristo, exige ainda um trabalho paciente e corajoso. Ao
fazê-lo, é preciso não impor outras obrigações fora das indispensáveis (cf.
Act 15, 28).
79.
Já desde agora, é possível individuar a argumentação que ocorre aprofundar para
se alcançar um verdadeiro consenso de fé: 1) as relações entre Sagrada
Escritura, suprema autoridade em matéria de fé, e a Sagrada Tradição,
indispensável interpretação da palavra de Deus; 2) a Eucaristia, sacramento do
Corpo e do Sangue de Cristo, oferta de louvor ao Pai, memória sacrifical e
presença real de Cristo, efusão santificadora do Espírito Santo; 3) a Ordem,
como sacramento, para o tríplice ministério do episcopado, do presbiterado e do
diaconado; 4) o Magistério da Igreja, confiado ao Papa e aos Bispos em comunhão
com ele, concebido como responsabilidade e autoridade em nome de Cristo para o
ensino e preservação da fé; 5) a Virgem Maria, Mãe de Deus e Ícone da Igreja,
Mãe espiritual que intercede pelos discípulos de Cristo e pela humanidade
inteira.
Neste
corajoso caminho para a unidade, a lucidez e a prudência da fé impõem-nos
evitar o falso irenismo e a negligência pelas normas da Igreja. 131 Mas, a mesma lucidez e prudência
recomendam-nos fugir do desleixo no empenhamento pela unidade e, mais ainda, da
oposição preconcebida ou do derrotismo que tende a ver tudo pelo negativo.
Manter
uma visão da unidade que tenha em conta todas as exigências da verdade
revelada, não significa pôr um freio ao movimento ecuménico. 132 Pelo contrário, significa evitar que ele
se acomode a soluções aparentes, que não chegariam a nada de estável e sólido. 133 A exigência da verdade deve ser
completamente respeitada. E não é, porventura, esta a lei do Evangelho?
Recepção dos resultados conseguidos
80.
Enquanto prossegue o diálogo sobre novas temáticas ou se desenvolve a níveis
mais profundos, temos uma tarefa nova a realizar: como receber os resultados
conseguidos até agora. Estes não podem permanecer como simples afirmações das
Comissões bilaterais, mas devem tornar-se património comum. Para que isto se
verifique, reforçando assim os laços de comunhão, é preciso um sério exame que,
segundo modos, formas e competências diversas, há-de envolver todo o povo de
Deus. De facto, trata-se de questões que, frequentemente, dizem respeito à fé
e, como tais, requerem o consenso universal, que se estende dos Bispos aos
fiéis leigos, pois todos receberam a unção do Espírito Santo. 134 É o mesmo Espírito que assiste o
Magistério e suscita o sensus fidei.
Para
receber os resultados do diálogo impõe- -se, portanto, um amplo e cuidadoso
processo crítico que analise e verifique com rigor a sua coerência com a
Tradição de fé, recebida dos Apóstolos e vivida na comunidade dos crentes
reunida ao redor do Bispo, seu legítimo Pastor.
81.
Este processo, que se há-de efectuar com prudência e em atitude de fé, terá a
assistência do Espírito Santo. Para que tenha êxito favorável, é necessário que
os seus resultados sejam oportunamente divulgados por pessoas competentes. Para
semelhante objectivo, é de grande importância o contributo que os teólogos e
Faculdades de Teologia estão chamados a oferecer, no cumprimento do seu carisma
na Igreja. Claro está que as comissões ecuménicas têm, a este respeito,
responsabilidades e funções totalmente singulares.
Todo
o processo é seguido e ajudado pelos Bispos e pela Santa Sé. A autoridade
docente tem a responsabilidade de exprimir o juízo definitivo.
Em
tudo isto, será de grande ajuda ater-se metodologicamente à distinção entre o
depósito da fé e a formulação em que ele é expresso, como recomendava o Papa
João XXIII no discurso pronunciado na abertura do Concílio Vaticano II. 135
Continuar o ecumenismo espiritual e
testemunhar a santidade
82.
Compreende-se como a gravidade do compromisso ecuménico interpele profundamente
os fiéis católicos. O Espírito convida-os a um sério exame de consciência. A
Igreja Católica deve entrar naquilo que se poderia chamar «diálogo da
conversão», no qual está posto o fundamento interior do diálogo ecuménico. Em
tal diálogo, que se realiza diante de Deus, cada um deve procurar os próprios
erros, confessar as suas culpas, e colocar-se nas mãos d'Aquele que é o
Intercessor junto do Pai, Jesus Cristo.
Certamente,
é nesta relação de conversão à vontade do Pai e, ao mesmo tempo, de penitência
e de absoluta confiança no poder reconciliador da verdade que é Cristo, que se
acha a força para levar a bom termo a longa e árdua peregrinação ecuménica. O «
diálogo da conversão » de cada comunidade com o Pai, sem indulgência por si
própria, é o fundamento de relações fraternas que sejam algo diverso de mero
entendimento cordial ou de uma convivência simplesmente exterior. Os laços da
koinónia fraterna hão-de ser tecidos diante de Deus e em Cristo Jesus.
Somente
o colocar-se diante de Deus pode oferecer uma base sólida para aquela conversão
dos indivíduos cristãos e para aquela contínua reforma da Igreja, enquanto
instituição também humana e terrena, 136
que constituem as condições preliminares de todo o empenho ecuménico. Um dos
procedimentos fundamentais do diálogo ecuménico é o esforço de envolver as
Comunidades cristãs neste espaço espiritual, completamente interior, onde
Cristo, pelo poder do Espírito, as induz a todas, sem excepção, a examinarem-se
diante do Pai e a interrogarem-se se foram fiéis ao seu desígnio sobre a
Igreja.
83.
Falei da vontade do Pai, do espaço espiritual onde cada comunidade escuta o
apelo a superar os obstáculos à unidade. Pois bem, todas as Comunidades cristãs
sabem que semelhante exigência e um tal superação, graças à força que o Espírito
dá, não estão fora do seu alcance. Com efeito, todas têm mártires da fé cristã.
137 Não obstante o drama da
divisão, estes irmãos conservaram em si mesmos uma união a Cristo e a seu Pai
tão radical que pôde chegar até ao derramamento do sangue. Mas não é,
porventura, essa mesma união que é chamada em causa naquilo que classifiquei
como «diálogo da conversão»? Não é, por acaso, este diálogo que sublinha a
necessidade de seguir em toda a sua profundidade a experiência da verdade para
a plena comunhão?
84.
Numa visão teocêntrica, nós, cristãos, já temos um Martirológio comum. Este
inclui também os mártires do nosso século, mais numerosos do que se pensa, e
mostra como, a um nível profundo, Deus manteve entre os baptizados a comunhão
na exigência suprema da fé, manifestada com o sacrifício da vida. 138 Se se pode morrer pela fé, isso
demonstra que se pode alcançar a meta, quando se trata de outras formas da
mesma exigência. Já constatei, e com alegria, como a comunhão, imperfeita mas
real, é mantida e cresce a muitos níveis da vida eclesial. Considero agora que
ela seja já perfeita naquilo que todos nós consideramos o ápice da vida de
graça, o martyria até à morte, a comunhão mais verdadeira que possa existir com
Cristo que derrama o seu Sangue e, neste sacrifício, aproxima aqueles que
outrora estavam longe (cf. Ef 2, 13).
Se
para todas as Comunidades cristãs os mártires são a prova do poder da graça,
estes contudo não são os únicos que testemunham tal poder. Embora de modo
invisível, a comunhão ainda não plena das nossas comunidades está, na verdade,
solidamente cimentada na plena comunhão dos santos, isto é, daqueles que, no
termo de uma existência fiel à graça, estão na comunhão de Cristo glorioso.
Estes santos provêm de todas as Igrejas e Comunidades eclesiais, que lhes
abriram a entrada na comunhão da salvação.
Quando
se fala de um património comum, devem-se inserir nele não só as instituições,
os ritos, os meios de salvação, as tradições que todas as Comunidades
conservaram e pelas quais elas estão plasmadas, mas também, e em primeiro
lugar, esta realidade da santidade. 139
Na
irradiação que dimana do «património dos santos» pertencentes a todas as
Comunidades, o «diálogo da conversão» para a unidade plena e visível
apresenta-se, então, sob uma luz de esperança. Esta presença universal dos
santos dá, de facto, a prova da transcendência do poder do Espírito. Ela é
sinal e prova da vitória de Deus sobre as forças do mal que dividem a
humanidade. Justamente canta a liturgia essa intervenção vitoriosa de Deus nos
santos: «ao coroar os seus méritos, coroais os vossos próprios dons». 140
Onde
existe a vontade sincera de seguir Cristo, muitas vezes o Espírito consegue
derramar a sua graça por sendas diversas daquelas ordinárias. A experiência
ecuménica permitiu-nos compreendê-lo melhor. Se, no espaço espiritual interior
que descrevi, as Comunidades souberem «converter-se» verdadeiramente à busca da
comunhão plena e visível, Deus fará por elas aquilo que fez pelos seus santos.
Ele saberá superar os obstáculos herdados do passado e conduzi-las-á, pelos
seus caminhos, onde Ele quer: à koinónia visível que é, simultaneamente, louvor
da sua glória e serviço ao seu desígnio de salvação.
85.
Visto que, na sua infinita misericórdia, Deus pode tirar o bem até mesmo das
situações que ofendem o seu desígnio, podemos então descobrir que o Espírito
fez com que as oposições servissem, em algumas circunstâncias, para explicitar
aspectos da vocação cristã, como sucede na vida dos santos. Apesar da divisão,
que é um mal de que nos devemos curar, todavia realizou-se como que uma comunicação
da riqueza da graça, que está destinada a embelezar a koinônia: a graça de Deus
estará com todos aqueles que, seguindo o exemplo dos santos, se esforçam por
favorecer as suas exigências. Como podemos nós hesitar em converter-nos aos
anseios do Pai? Ele está connosco.
Contributo da Igreja Católica na busca
da unidade dos cristãos
86.
A Constituição Lumen gentium, numa
afirmação fundamental que ressoa depois no Decreto
Unitatis redintegratio, 141
escreve que a única Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católica. 142 O Decreto sobre o ecumenismo sublinha a
presença nela da plenitude (plenitudo) dos instrumentos de salvação. 143 A plena unidade realizar-se-á quando
todos participarem da plenitude dos meios de salvação que Cristo confiou à sua
Igreja.
87.
Ao longo do caminho que leva à plena unidade, o diálogo ecuménico esforça-se
por suscitar uma recíproca ajuda fraterna, por meio da qual as Comunidades se
dedicam a dar mutuamente aquilo de que cada uma tem necessidade para crescer
segundo o desígnio de Deus que leva à plenitude definitiva (cf. Ef 4,
11-13). Como disse, nós, enquanto Igreja Católica, estamos conscientes de
ter recebido muito do testemunho, da procura e mesmo até da maneira como foram
sublinhados e vividos pelas outras Igrejas e Comunidades eclesiais certos bens
cristãos comuns. Entre os progressos realizados durante os últimos trinta anos,
há que atribuir um lugar de destaque a essa recíproca influência fraterna. Na
etapa a que chegámos, 144 tal
dinamismo de mútuo enriquecimento deve ser tomado seriamente em consideração.
Baseado sobre a comunhão que já existe, graças aos elementos eclesiais
presentes nas Comunidades cristãs, tal dinamismo não deixará de impelir para a
comunhão plena e visível, meta suspirada do caminho que estamos realizando. É a
forma ecuménica da lei evangélica da partilha. Isto me incita a repetir: «É
preciso em tudo demonstrar o cuidado de ir ao encontro daquilo que os nossos
irmãos cristãos, legitimamente, desejam e esperam de nós, conhecendo o seu modo
de pensar e a sua sensibilidade (...). É necessário que os dons de cada um se
desenvolvam para a utilidade e proveito de todos». 145
O ministério de unidade do Bispo de
Roma
88.
Entre todas as Igrejas e Comunidades eclesiais, a Igreja Católica está
consciente de ter conservado o ministério do Sucessor do apóstolo Pedro, o
Bispo de Roma, que Deus constituiu como «perpétuo e visível fundamento da
unidade», 146 e que o Espírito
ampara para que torne participantes deste bem essencial todos os outros.
Segundo a feliz expressão do Papa Gregório Magno, o meu ministério é o de servus
servorum Dei. Esta definição preserva o melhor possível do risco de separar a
potestade (e particularmente o primado) do ministério, o que estaria em
contradição com o significado de potestade dado pelo Evangelho: «Eu estou no
meio de vós como aquele que serve» (Lc 22, 27), diz o Senhor nosso
Jesus Cristo, Chefe da Igreja. Por outra parte, como pude afirmar por ocasião
do encontro no Conselho Ecuménico das Igrejas, em Genebra, a 12 de Junho de
1984, a convicção da Igreja Católica de, na fidelidade à Tradição apostólica e
à fé dos Padres, ter conservado, no ministério do Bispo de Roma, o sinal visível
e o garante da unidade, constitui uma dificuldade para a maior parte dos outros
cristãos, cuja memória está marcada por certas recordações dolorosas. Por
quanto sejamos disso responsáveis, com o meu Predecessor Paulo VI imploro
perdão. 147
89.
Todavia, é significativo e encorajador que a questão do primado do Bispo de
Roma se tenha tornado actualmente objecto de estudo, imediato ou em
perspectiva, e igualmente significativo e encorajador é que uma tal questão
esteja presente como tema essencial não apenas nos diálogos teológicos que a
Igreja Católica mantém com as outras Igrejas e Comunidades eclesiais, mas
também de um modo mais genérico no conjunto do movimento ecuménico.
Recentemente, os participantes na Va Assembleia Mundial da Comissão «Fé e Constituição»
do Conselho Ecuménico das Igrejas, realizada em Santiago de Compostela,
recomendaram que ela «desse início a um novo estudo sobre a questão de um
ministério universal da unidade cristã». 148
Após séculos de duras polémicas, as outras Igrejas e Comunidades eclesiais cada
vez mais perscrutam com um novo olhar tal ministério de unidade. 149
90.
O Bispo de Roma é o Bispo da Igreja que conserva o testemunho do martírio de
Pedro e de Paulo: «Por um misterioso desígnio da Providência, é em Roma que ele
conclui o seu caminho de seguimento de Jesus, como é em Roma que dá esta máxima
prova de amor e de fidelidade. Em Roma, Paulo, o Apóstolo dos Gentios, dá
também o seu testemunho supremo. A Igreja de Roma tornava-se assim a Igreja de
Pedro e de Paulo». 150
No
Novo Testamento, a pessoa de Pedro ocupa um lugar proeminente. Na primeira
parte dos Actos dos Apóstolos, aparece como chefe e porta-voz do colégio
apostólico, designado como «Pedro (...) com os Onze» (2, 14; cf. também 2,
37; 5, 29). O lugar atribuído a Pedro está fundado sobre as próprias palavras
de Cristo, tal como são recordadas nas tradições evangélicas.
91.
O Evangelho de Mateus traça e especifica a missão pastoral de Pedro na Igreja:
«És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne nem o sangue quem
t'o revelou, mas o meu Pai que está nos céus. Também Eu te digo: Tu és Pedro, e
sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno nada poderão
contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus, e tudo quanto ligares na
terra ficará ligado nos Céus, e tudo quanto desligares na terra será desligado
nos Céus» (16, 17-19). Lucas põe em evidência que Cristo recomenda a
Pedro de confirmar os irmãos, mas, ao mesmo tempo, faz-lhe conhecer a sua
fraqueza humana e necessidade de conversão (cf. 22, 31-32). É como
se, sobre o horizonte da fraqueza humana de Pedro, se manifestasse plenamente
que o seu particular ministério na Igreja provém totalmente da graça; é como se
o Mestre se dedicasse de modo especial à sua conversão, a fim de o preparar
para a tarefa que está para lhe confiar na sua Igreja, e fosse muito exigente
com ele. A mesma função de Pedro, sempre ligada a uma realista afirmação da sua
fraqueza, encontra-se no quarto Evangelho: «Simão, filho de João, tu amas-Me
mais do que estes? (...) Apascenta as minhas ovelhas» (cf. 21, 15-19).
Significativo é ainda que, segundo a primeira Carta de Paulo aos Coríntios,
Cristo ressuscitado tenha aparecido a Cefas e em seguida aos doze (cf. 15,
5).
É
importante destacar como a fraqueza de Pedro e de Paulo manifeste que a Igreja
se funda sobre o poder infinito da graça (cf. Mt 16, 17; 2 Cor 12, 7-10).
Pedro, logo a seguir à sua investidura, é repreendido, com rara severidade, por
Cristo que lhe diz: «Tu és para Mim um estorvo» (Mt 16, 23). Como
não ver na misericórdia de que Pedro tem necessidade, uma relação com o
ministério daquela misericórdia que ele primeiro entre todos experimentou?
Igualmente, por três vezes ele negará Jesus. Também o Evangelho de João
sublinha que Pedro recebe o encargo de apascentar o rebanho com uma tríplice
profissão de amor (cf. 21, 15-17), que corresponde à sua tríplice
negação (cf. 13, 38). Lucas, por sua vez, na palavra de Cristo já
citada e à qual aderirá a primeira tradição com o intuito de delinear a missão
de Pedro, insiste sobre o facto de que este deverá «confirmar os seus irmãos,
uma vez convertido» (cf. Lc 22, 31).
Revisão
da tradução portuguesa por ama
_____________________________________________
Notas:
(em italiano)
129
Il paziente lavoro della Commissione "Fede e Costituzione" è
pervenuto ad una visione analoga, che la VII Assemblea del Consiglio Ecumenico
delle Chiese ha fatto sua nella dichiarazione detta di Canberra (7-20 febbraio
1991, cfr. Signs of the spirit, Official report, Seventh Assembly, WCC, Geneva
1991, pp. 235-258) e che è stata riaffermata dalla Conferenza mondiale di
"Fede e Costituzione" a Santiago de Compostela (3-14 agosto 1993,
cfr. Service d'information 85 [1994], 18-38).
130
Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sull'ecumenismo Unitatis redintegratio, 14.
131
Cfr. ibid., 4 e 11.
132
Cfr. Discorso ai Cardinali e alla Curia Romana (28 giugno 1985), 6: AAS 77
(1985), 1153.
133
Cfr. ibid.
134
Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Cost. dogm. sulla Chiesa Lumen gentium, 12.
135
Cfr. AAS 54 (1962), 792.
136
Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sull'ecumenismo Unitatis redintegratio, 6.
137
Cfr. ibid., 4; Paolo VI, Omelia per la canonizzazione dei martiri ugandesi (18
ottobre 1964): AAS 56 (1964), 906.
138
Cfr. Giovanni Paolo II, Lett. ap. Tertio millennio adveniente (10 novembre
1994), 37: AAS 87 (1995), 29-30; Lett. enc. Veritatis splendor (6 agosto 1993),
93: AAS 85 (1993), 1207.
139
Cfr. Paolo VI, Discorso tenuto all'insigne santuario di Namugongo, Uganda (2
agosto 1969): AAS 61 (1969), 590-591.
140
Cfr. Missale Romanum, Præfatio de Sanctis I: "Sanctorum "coronando
merita, tua dona coronans"".
141
Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sull'ecumenismo Unitatis redintegratio, 4.
142
Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Cost. dogm. sulla Chiesa Lumen gentium, 8.
143
Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sull'ecumenismo Unitatis redintegratio, 3.
144
Dopo il documento detto di Lima della Commissione "Fede e
Costituzione" su Battesimo, Eucaristia, Ministero (gennaio 1982): Ench.
Œcum. 1, 1392-1446, e nello spirito della Dichiarazione della VII Assemblea
generale del Consiglio Ecumenico delle Chiese su L'unità della Chiesa come
koinonia: dono ed esigenza (Canberra 7-20 febbraio 1991): cfr. Istina 36
(1991), 389-391.
145
Discorso ai Cardinali e alla Curia Romana (28 giugno 1985), 4: AAS 77 (1985),
1151-1152.
146
Conc. Ecum. Vat. II, Cost. dogm. sulla Chiesa Lumen gen-
tium,
23.
147
Cfr. Discorso al Consiglio Ecumenico delle Chiese (12 giugno 1984), 2:
Insegnamenti VII, 1 (1984), 1686.
148
Conferenza Mondiale di "Fede e Costituzione", Rapporto della II
Sezione, Santiago de Compostela (14 agosto 1993): Confessing the one faith to
God's glory, 31, 2, Faith and Order Paper n. 166, WCC, Geneva 1994, p. 243.
149
Per non citare che alcuni esempi: il Rapporto finale della Anglican-Roman
Catholic International Commission - ARCIC I (settembre 1981): Ench. Œcum. 1,
3-88; la Commissione Mista Internazionale per il Dialogo tra la Chiesa
Cattolica e i discepoli di Cristo, Rapporto 1981: Ench. Œcum. 1, 529-547; la
Commissione Mista Nazionale Congiunta Cattolico-Luterana, Documento Il ministero
pastorale nella Chiesa (13 marzo 1981): Ench. Œcum. 1, 703-742; il problema si
delinea, in chiara prospettiva, nella ricerca condotta dalla Commissione Mista
Internazionale per il Dialogo Teologico tra la Chiesa Cattolica e la Chiesa Ortodossa
nel suo insieme.
150
Discorso ai Cardinali e alla Curia Romana (28 giugno 1985), 3: AAS 77 (1985),
1150.
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