Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Mt 28, 1-20
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Ioannes
Paulus PP. II
Ut unum sint
sobre
o Empenho Ecuménico
…/5
O diálogo com as Igrejas do Oriente
50.
A este propósito e antes de mais, deve-se constatar, com especial gratidão à
Providência divina, que a ligação com as Igrejas do Oriente, deteriorada ao
longo dos séculos, foi revigorada com o Concílio
Vaticano II. Os observadores destas Igrejas, presentes no Concílio ao lado
de representantes das Igrejas e Comunidades eclesiais do Ocidente, manifestaram
publicamente, num momento tão solene para a Igreja Católica, a vontade comum de
procurar a comunhão.
Por
sua vez, o Concílio testemunhou, com objectividade e profundo afecto, a sua
consideração pelas Igrejas do Oriente, pondo em relevo o seu carácter eclesial
e os vínculos objectivos de comunhão que as unem à Igreja Católica. Afirma o
Decreto sobre o ecumenismo: «Pela celebração da Eucaristia do Senhor, em cada
uma dessas Igrejas, a Igreja de Deus é edificada e cresce», acrescentando, como
consequência, que essas Igrejas «embora separadas, têm verdadeiros sacramentos,
e principalmente em virtude da sucessão apostólica, o sacerdócio e a
Eucaristia, ainda se unem muito intimamente connosco». 82
Nas
Igrejas do Oriente, sobressai a sua grande tradição litúrgica e espiritual, o
carácter específico do seu desenvolvimento histórico, os ordenamentos seguidos
por elas desde os primeiros tempos e sancionados pelos Santos Padres e pelos
Concílios ecuménicos, o seu modo próprio de enunciar a doutrina. Tudo isto na
convicção de que a legítima diversidade não se opõe de forma alguma à unidade
da Igreja, antes aumenta o seu decoro e contribui significativamente para o
cumprimento da sua missão.
O Concílio Ecuménico Vaticano II, querendo
basear o diálogo sobre a comunhão existente, chama a atenção precisamente para
a rica realidade das Igrejas do Oriente: «Em vista disto, o Sagrado Concílio
exorta a todos, mormente aos que pretendem dedicar-se à restauração da plena
comunhão desejada entre as Igrejas Orientais e a Igreja Católica, a que tenham
na devida consideração esta peculiar condição da origem e do crescimento das
Igrejas do Oriente e da índole das relações que vigoravam entre elas e a Sé
Romana antes da separação. Procurem apreciar rectamente todos estes factores». 83
51.
Esta indicação conciliar foi fecunda quer para as relações de fraternidade, que
se foram desenvolvendo através do diálogo da caridade, quer para a discussão
doutrinal no âmbito da Comissão mista internacional para o diálogo teológico
entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa no seu conjunto. Aquela indicação
foi igualmente rica de frutos nas relações com as antigas Igrejas do Oriente.
Tratou-se
de um processo lento e trabalhoso, mas que se tornou fonte de muita alegria; e
foi também apaixonante, porque permitiu reencontrar progressivamente a
fraternidade.
O restabelecimento dos contactos
52.
Relativamente à Igreja de Roma e ao Patriarcado Ecuménico de Constantinopla, o
processo a que acabámos de aludir teve início graças à recíproca abertura
manifestada pelos Papas João XXIII e Paulo VI, de um lado, e pelo Patriarca
Ecuménico Atenágoras I e seus sucessores, do outro. A mudança operada teve a
sua expressão histórica no acto eclesial com que «se tirou da memória e do meio
das Igrejas» 84 a recordação das
excomunhões que novecentos anos antes, em 1054, se tinham tornado símbolo do
cisma entre Roma e Constantinopla. Aquele evento eclesial, tão denso de empenho
ecuménico, verificou-se nos últimos dias do Concílio, a 7 de Dezembro de 1965.
A Assembleia Conciliar concluía-se assim com um acto solene, que era
simultaneamente purificação da memória histórica, perdão recíproco e
compromisso solidário na busca da comunhão.
Este
gesto tinha sido precedido pelo encontro entre o Papa Paulo VI e o Patriarca
Atenágoras I, em Jerusalém, no mês de Janeiro de 1964, durante a peregrinação
daquele à Terra Santa. Naquela ocasião, ele pôde encontrar também o Patriarca
ortodoxo de Jerusalém, Benedictos. Em seguida, o Papa Paulo VI fora visitar o
Patriarca Atenágoras a Fanar (Istambul), no dia 25 de Julho de 1967, e, no mês
de Outubro do mesmo ano, o Patriarca era solenemente acolhido em Roma. Estes
encontros na oração apontavam o caminho a seguir para a aproximação entre a
Igreja do Oriente e a Igreja do Ocidente, e o restabelecimento da unidade que
existia entre elas no primeiro milénio.
Depois
da morte do Papa Paulo VI e do breve pontificado do Papa João Paulo I, quando
me foi confiado o ministério de Bispo de Roma, considerei ser um dos primeiros
deveres do meu serviço pontifício renovar um contacto pessoal com o Patriarca
ecuménico Dimítrios I, que entretanto tinha assumido, na Sé de Constantinopla,
a sucessão do Patriarca Atenágoras. Durante a minha visita a Fanar, no dia 29
de Novembro de 1979, pudemos — o Patriarca e eu — decidir a inauguração do
diálogo teológico entre a Igreja Católica e todas as Igrejas Ortodoxas em
comunhão canónica com a Sé de Constantinopla. Importa acrescentar, a este
propósito, que então estavam já em curso os preparativos para a convocação do
futuro Concílio das Igrejas Ortodoxas. A procura da sua harmonia é um
contributo para a vida e a vitalidade daquelas Igrejas irmãs, e isto em
consideração também da função que elas são chamadas a desempenhar no caminho
para a unidade. O Patriarca Ecuménico quis retribuir-me a visita que lhe tinha
feito em Novembro de 1979, pelo que, em Dezembro de 1987, tive a alegria de o
acolher em Roma, com afecto sincero e a solenidade que lhe era devida. Neste
contexto de fraternidade eclesial, recorde-se o costume, assente já há vários
anos, de acolher em Roma, na festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, uma
delegação do Patriarcado Ecuménico, tal como o de enviar a Fanar uma delegação
da Santa Sé à solene celebração de Santo André.
53.
Estes contactos regulares permitem, além do mais, um intercâmbio directo de
informações e pareceres para uma coordenação fraterna. Por outro lado, a nossa
mútua participação na oração habitua-nos de novo a viver lado a lado, induz-nos
a acolher juntos e, consequentemente, a pôr em prática a vontade do Senhor para
a sua Igreja.
Ao
longo do caminho que percorremos do Concílio
Vaticano II em diante, ocorre mencionar pelo menos dois acontecimentos
particularmente significativos e de grande relevo ecuménico nas relações entre
o Oriente e o Ocidente: em primeiro lugar, o Jubileu de 1984, promovido para
comemorar o XI centenário da obra evangelizadora dos Santos Cirilo e Metódio, e
que me consentiu proclamar co-patronos da Europa estes dois Apóstolos dos
Eslavos, mensageiros da fé. Já o Papa Paulo VI, em 1964, durante o Concílio,
tinha proclamado S. Bento patrono da Europa. Associar os dois irmãos de
Tessalónica ao grande fundador do monaquismo ocidental serve indirectamente
para pôr em destaque aquela dúplice tradição eclesial e cultural tão
significativa para os dois mil anos de cristianismo que caracterizaram a
história do continente europeu. Por isso, não é supérfluo recordar que Cirilo e
Metódio provinham do âmbito da Igreja Bizantina do seu tempo, época em que ela
estava em comunhão com Roma. Ao proclamá-los, juntamente com S. Bento, patronos
da Europa, desejava não apenas confirmar a verdade histórica sobre o
cristianismo no continente europeu, mas também fornecer um tema importante àquele
diálogo entre o Oriente e o Ocidente, que suscitou tantas esperanças no
pós-Concílio. A Europa encontra as suas raízes espirituais tanto em S. Bento,
como nos Santos Cirilo e Metódio. Agora que o segundo milénio do nascimento de
Cristo chega ao seu termo, eles hão-de ser venerados conjuntamente, como
patronos do nosso passado e como santos a quem as Igrejas e as nações do
continente europeu confiam o seu futuro.
54.
O outro acontecimento que me apraz recordar, é a celebração do Milénio do
Baptismo da Rus' (988-1988). A Igreja Católica, e de modo particular esta Sé
Apostólica, quis tomar parte nas celebrações jubilares, e procurou sublinhar
como o Baptismo conferido, em Kiev, a S. Vladimiro fora um dos acontecimentos
centrais para a evangelização do mundo. A ele devem a sua fé, não apenas as
grandes nações eslavas do Leste europeu, mas também aqueles povos que vivem
para além dos Montes Urais até ao Alasca.
E,
nesta perspectiva, encontra a sua motivação mais profunda, aquela afirmação,
que usei várias vezes: a Igreja deve respirar com os seus dois pulmões! No
primeiro milénio da história do cristianismo, essa frase referia-se sobretudo
ao binómio Bizâncio-Roma; desde o baptismo da Rus' para a frente, ela vê
alargarem-se os seus confins: a evangelização estendeu-se a um âmbito muito
mais vasto, a ponto de abraçar praticamente a Igreja inteira. Se se considera
ainda que esse acontecimento salvífico, verificado ao longo das margens do
Dniepre, remonta a uma época em que a Igreja no Oriente e no Ocidente não
estava dividida, compreende-se claramente como a perspectiva a seguir para a
plena comunhão, seja aquela da unidade na legítima diversidade. Isto mesmo o
afirmei vigorosamente na Epístola
encíclica Slavorum apostoli, 85
dedicada aos Santos Cirilo e Metódio, e na Carta
apostólica Euntes in mundum, 86
dirigida aos fiéis da Igreja Católica na comemoração do Milénio do Baptismo da
Rus' de Kiev.
Igrejas irmãs
55.
No seu horizonte histórico, o Decreto
conciliar Unitatis redintegratio tem presente a unidade que, apesar de
tudo, se viveu no primeiro milénio. Tal unidade assume, em determinado sentido,
a configuração de modelo: «É grato ao sagrado Concílio trazer à memória de
todos o facto de que no Oriente florescem muitas Igrejas particulares ou
locais, entre as quais sobressaem as Igrejas Patriarcais; não poucas delas se
gloriam de ter origem nos próprios Apóstolos». 87
O caminho da Igreja tem início em Jerusalém, no dia do Pentecostes, e todo o
seu desenvolvimento primordial, na oikoumene de então, se concentrava ao redor
de Pedro e dos Onze (cf. Act 2, 14). As estruturas da Igreja no Oriente e no
Ocidente foram-se naturalmente formando na linha daquele património apostólico.
A sua unidade, dentro do primeiro milénio, mantinha-se naquelas mesmas
estruturas, por meio dos Bispos, sucessores dos Apóstolos, em comunhão com o
Bispo de Roma. Se hoje, no final do segundo milénio, procuramos restabelecer a
plena comunhão, é a esta unidade, assim estruturada, que nos devemos referir.
O
Decreto sobre o ecumenismo põe em relevo um outro aspecto característico, pelo
qual todas as Igrejas particulares permaneciam na unidade: «a solicitude e o
cuidado de conservar na comunhão de fé e caridade aquelas relações fraternas
que devem vigorar entre as Igrejas locais como entre irmãs». 88
56.
Após o Concílio Vaticano II e
retomando tal tradição, restabeleceu-se o uso de atribuir a denominação de
«Igrejas irmãs» às Igrejas particulares ou locais reunidas ao redor do seu
bispo. Também a supressão das recíprocas excomunhões, removendo um doloroso obstáculo
de ordem canónica e psicológica, foi um passo muito significativo no caminho
para a plena comunhão.
As
estruturas de unidade, que existiam antes da divisão, são um património de
experiência que guia o nosso caminho para o reencontro da plena comunhão.
Obviamente, durante o segundo milénio, o Senhor não cessou de dar à sua Igreja
abundantes frutos de graça e de crescimento. Mas, infelizmente, o progressivo
afastamento recíproco entre as Igrejas do Ocidente e do Oriente privou-as das
riquezas dos dons e ajudas mútuas. Impõe-se realizar, com a graça de Deus, um
grande esforço para restabelecer entre elas a plena comunhão, fonte de tantos
bens para a Igreja de Cristo. Tal esforço requer toda a nossa boa vontade, a
oração humilde e uma colaboração perseverante que nada deve desencorajar. S.
Paulo incita-nos: «Levai os fardos uns dos outros» (Gal 6, 2). Como
se adapta bem a nós e é tão actual esta exortação do Apóstolo! A denominação
tradicional de «Igrejas irmãs» deveria acompanhar-nos incessantemente neste
caminho.
57.
Como almejava o Papa Paulo VI, o nosso claro objectivo é reencontrarmos juntos
a plena unidade na legítima diversidade: «Deus concedeu-nos receber na fé este
testemunho dos Apóstolos. Por meio do baptismo, nós somos um só em Cristo (cf.
Gal 3, 28). Em virtude da sucessão apostólica, o sacerdócio e a
Eucaristia unem-nos mais intimamente; participando nos dons de Deus à sua
Igreja, estamos em comunhão com o Pai, por meio do Filho, no Espírito Santo
(...). Em cada Igreja local, realiza-se este mistério do amor divino.
Porventura não é este o motivo da expressão tradicional e tão bela
"Igrejas irmãs", com que gostavam de se designar as Igrejas locais? (cf.
Decreto Unitatis redintegratio, 14). Esta vida de Igrejas irmãs,
vivemo-la nós durante séculos, celebrando juntos os Concílios ecuménicos, que
defenderam o depósito da fé de qualquer alteração. Agora, após um longo período
de divisão e incompreensão recíproca, o Senhor concede redescobrirmo-nos como
Igrejas irmãs, não obstante os obstáculos que no passado se colocaram entre
nós». 89 Se hoje, às portas do
terceiro milénio, procuramos o restabelecimento da plena comunhão, é para a
actuação desta realidade que devemos tender, como é a tal realidade que havemos
de fazer referência.
O
contacto com esta gloriosa tradição é fecundo para a Igreja. Na verdade, como
afirma o Concílio, «as Igrejas do Oriente têm desde a origem um tesouro, do qual
a Igreja do Ocidente herdou muitas coisas em liturgia, tradição espiritual e
ordenação jurídica». 90
A
este «tesouro» pertencem também «as riquezas daquelas tradições espirituais,
que o monaquismo sobretudo expressou. Pois desde os gloriosos tempos dos Santos
Padres floresceu no Oriente aquela elevada espiritualidade monástica, que de lá
se difundiu para o Ocidente». 91
Como tive ocasião de assinalar na recente Carta
apostólica Orientale lumen, as Igrejas do Oriente viveram com grande
generosidade o empenho testemunhado pela vida monástica, «a começar pela
evangelização, que é o serviço mais elevado que o cristão pode oferecer ao
irmão, para prosseguir em muitas outras formas de serviço espiritual e
material. Mais, pode-se dizer que o monaquismo foi na antiguidade — e com
interrupções, também em tempos sucessivos — o instrumento privilegiado para a
evangelização dos povos». 92
O
Concílio não se limita a pôr em relevo tudo aquilo que torna as Igrejas no
Oriente e no Ocidente semelhantes entre si. De acordo com a verdade histórica,
aquele não hesita em afirmar: «Não admira que alguns aspectos do mistério
revelado sejam por vezes apreendidos mais convenientemente e postos em melhor
luz por um que por outro. Nestes casos, deve dizer-se que aquelas várias fórmulas
teológicas, em vez de se oporem, não poucas vezes se completam mutuamente». 93 O intercâmbio de dons entre as Igrejas,
na sua complementaridade, torna fecunda a comunhão.
58.
A partir da reafirmação da comunhão de fé que já existe, o Concílio Vaticano II tirou consequências pastorais, úteis para a
vida consagrada dos fiéis e para a promoção do espírito de unidade. Por causa
dos estreitíssimos vínculos sacramentais existentes entre a Igreja Católica e
as Igrejas Ortodoxas, o Decreto
Orientalium ecclesiarum pôs em evidência que «a praxe pastoral demonstra,
com relação aos irmãos orientais, que se podem e devem considerar as várias
circunstâncias das pessoas nas quais nem é lesada a unidade da Igreja, nem há
perigos a evitar, mas urgem a necessidade da salvação e o bem espiritual das
almas. Por isso, a Igreja Católica, consideradas as circunstâncias de tempos,
lugares e pessoas, muitas vezes tem usado e usa de modos de agir mais suaves, a
todos dando os meios de salvação e o testemunho de caridade entre os cristãos
através da participação nos sacramentos e em outras funções e coisas sagradas».
94
Esta
orientação teológica e pastoral com a respectiva experiência feita nos anos do
pós-Concílio, foi assumida por ambos os Códigos
de Direito Canónico. 95 E o
mesmo ficou explicitado, do ponto de vista pastoral, no Directório para a
aplicação dos princípios e das normas sobre o ecumenismo. 96
Em
matéria tão importante e delicada, é necessário que os Pastores instruam
cuidadosamente os fiéis, para que estes conheçam claramente as razões precisas,
quer de tal partilha no âmbito do culto litúrgico, quer dos ordenamentos
diversos que existem a tal respeito.
Nunca
se há-de perder de vista a dimensão eclesiológica da participação nos
sacramentos, sobretudo na santa Eucaristia.
Progressos do diálogo
59.
Desde a sua criação em 1979, a Comissão mista internacional para o diálogo
teológico entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa no seu conjunto trabalhou
intensamente, orientando progressivamente a sua pesquisa para aquelas
perspectivas que, de comum acordo, tinham sido determinadas com o objectivo de
restabelecer a plena comunhão entre as duas Igrejas. Tal comunhão fundada na
unidade de fé, em continuidade com a experiência e a tradição da Igreja antiga,
encontrará a sua expressão plena na concelebração da santa Eucaristia. Com
espírito positivo e baseando-se sobre aquilo que temos em comum, a Comissão
mista pôde avançar substancialmente e, como tive ocasião de declarar ao
venerado Irmão, Sua Santidade Dimítrios I, Patriarca ecuménico, ela chegou a
exprimir «aquilo que a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa já podem professar
juntas como fé comum no mistério da Igreja e no vínculo entre a fé e os sacramentos».
97 A Comissão pôde ainda
constatar e afirmar que, «nas nossas Igrejas, a sucessão apostólica é
fundamental para a santificação e a unidade do povo de Deus». 98 Trata-se de pontos de referência
importantes para a continuação do diálogo. Mais: estas afirmações feitas
conjuntamente constituem a base que habilita os católicos e os ortodoxos a
prestarem desde agora, no nosso tempo, um testemunho comum, fiel e concorde,
para que o nome do Senhor seja anunciado e glorificado.
60.
Mais recentemente, a Comissão mista internacional realizou um passo
significativo na questão tão delicada do método a seguir na busca da plena
comunhão entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, questão esta que
frequentemente exasperou as relações entre católicos e ortodoxos. Ela pôs as
bases doutrinais para uma positiva solução do problema, que se funda sobre a
doutrina das Igrejas irmãs. Neste contexto, também apareceu claramente que o
método a seguir para a plena comunhão é o diálogo da verdade, alimentado e amparado
pelo diálogo da caridade. O reconhecimento às Igrejas Orientais Católicas do
direito de se organizarem e realizarem o seu apostolado, bem como o efectivo
envolvimento destas Igrejas no diálogo da caridade e no diálogo teológico
favorecerão não apenas um respeito recíproco, real e fraterno, entre os
ortodoxos e os católicos que vivem no mesmo território, mas também o seu
empenho comum na busca da unidade. 99 Um passo em frente foi dado. O
empenhamento deve continuar. Já desde agora se pode, porém, constatar uma
pacificação dos ânimos, que torna a busca mais fecunda.
Quanto
às Igrejas Orientais já em comunhão com a Igreja Católica, o Concílio exprimira
o seu apreço nos termos seguintes: «Dando graças a Deus porque muitos filhos
orientais da Igreja Católica (...) já vivem em plena comunhão com os irmãos que
cultivam a tradição ocidental, este Sagrado Concílio declara que todo este
património espiritual, litúrgico e teológico, nas suas diversas tradições, faz
parte da plena catolicidade e apostolicidade da Igreja». 100 Certamente as Igrejas Orientais
Católicas saberão, no espírito do Decreto sobre o ecumenismo, participar
positivamente no diálogo da caridade e no diálogo teológico, quer a nível local
quer a nível universal, contribuindo assim para a recíproca compreensão e para
uma procura dinâmica da plena unidade. 101
61.
Nesta perspectiva, a Igreja Católica nada mais deseja senão a plena comunhão
entre Oriente e Ocidente. Para isso, inspira-se na experiência do primeiro
milénio. Nesse período, de facto, «o desenvolvimento de diferentes experiências
de vida eclesial não impedia que, mediante relações recíprocas, os cristãos
pudessem continuar a saborear a certeza de estarem na sua própria casa em
qualquer Igreja, porque de todas se elevava, numa admirável variedade de
línguas e entoações, o louvor do único Pai, por Cristo, no Espírito Santo;
todas se reuniam para celebrar a Eucaristia, coração e modelo da comunidade,
não só pelo que diz respeito à espiritualidade ou à vida moral, mas também para
a própria estrutura da Igreja, na variedade dos ministérios e dos serviços sob
a presidência do Bispo, sucessor dos Apóstolos. Os primeiros Concílios são um
testemunho eloquente desta constante unidade na diversidade». 102 Como recompor tal unidade, após quase
mil anos? Eis a grande tarefa que a Igreja Católica deve cumprir, e que pesa
igualmente sobre a Igreja Ortodoxa. Daqui se compreende toda a actualidade do
diálogo, amparado pela luz e pela força do Espírito Santo.
Revisão
da tradução portuguesa por ama
_____________________________________________
Notas:
(em italiano)
82
N. 15.
83 Ibid.,
14.
84
Cfr. Dichiarazione comune del Papa Paolo VI e del Patriarca di Costantinopoli
Athenagoras I (7 dicembre 1965): Tomos agapis, Vatican-Phanar (1958-1970),
Roma-Istanbul 1971, pp. 280-281.
85
Cfr. AAS 77 (1985), 779-813.
86
Cfr. AAS 80 (1988), 935-956; cfr. anche Lett. Magnum Baptismi donum (14
febbraio 1988): AAS 80 (1988), 988 -997.
87
Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sull'ecumenismo Unitatis redintegratio, 14.
88
Ibid.
89
Breve ap. Anno ineunte (25 luglio 1967): Tomos agapis, Vatican-Phanar (1958-1970),
Roma-Istanbul 1971, pp. 388-391.
90
Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sull'ecumenismo Unitatis redintegratio, 14.
91
Ibid., 15.
92
N. 14: L'Osservatore Romano 2-3 maggio 1995, p. 3.
93
Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sull'ecumenismo Unitatis redintegratio, 17.
94
N. 26.
95
Cfr. Codice di Diritto Canonico, can. 844, 2 e 3; Codice dei Canoni delle
Chiese Orientali, can. 671, 2 e 3.
96
Pontificio Consiglio per la Promozione dell'Unità dei Cristiani, Directoire
pour l'application des principes et des normes sur l'Œcuménisme (25 marzo
1993), 122-128: AAS 85 (1993), 1086-1088.
97
Dichiarazione del Sommo Pontefice Giovanni Paolo II e del Patriarca ecumenico
Demetrio I (7 dicembre 1987): AAS 80 (1988), 253.
98
Commissione Mista Internazionale per il dialogo Teologico tra la Chiesa
Cattolica e la Chiesa Ortodossa nel suo Insieme, Documento Il sacramento
dell'Ordine nella struttura sacramentale della Chiesa, in particolare
l'importanza della successione apostolica per la santificazione e l'unità del
popolo di Dio (26 giugno 1988), 1: Service d'information 68 (1988), 195.
99
Cfr. Giovanni Paolo II, Lettera ai Vescovi del continente europeo circa i
rapporti tra cattolici e ortodossi nella nuova situazione dell'Europa centrale
e orientale (31 maggio 1991), 6: AAS 84 (1992), 168.
100
Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sull'ecumenismo Unitatis redintegratio, 17.
101
Cfr. Lett. ap. Orientale Lumen (2 maggio 1995), 24: L'Osservatore Romano 2-3
maggio 1995, p. 5.
102
Cfr. Lett. ap. Orientale Lumen (2 maggio 1995), 24: L'Osservatore Romano 2-3 maggio
1995, p. 4.
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