O
nono discute-se assim. — Parece que mais anjos pecaram do que perseveraram.
1.
— Pois, como diz o Filósofo, o mal é mais frequente do que o bem.
2.
Demais. — A justiça e o pecado encontram-se, pela mesma razão, nos anjos e nos
homens. Ora, há mais homens maus que bons, segundo a Escritura: O número dos
insensatos é infinito. Logo, pela mesma razão, nos anjos.
3.
Demais. — Os anjos distinguem-se pelas pessoas e pelas ordens. Se, portanto,
mais anjos perseveraram, parece que nem em todas as ordens houve pecadores.
Mas,
em contrário, diz a Escritura: Muitos mais estão connosco do que tu com eles; o
que se entende dos bons anjos, que nos auxiliam, e dos maus, que se nos opõem.
Mais anjos perseveraram do que pecaram, por ser o pecado contra a inclinação
natural. Ora, o que é contra a natureza acontece menos frequentemente, pois
esta consegue sempre, ou quase sempre, o seu efeito.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — No passo aduzido, o Filósofo refere-se aos
homens que, abandonando o bem da razão, só conhecido de poucos, praticam o mal
por seguirem os bens sensíveis, conhecidos do maior número. Ora, a natureza dos
anjos sendo somente intelectual, a objeção não colhe.
Por
onde é clara a RESPOSTA À SEGUNDA OBJEÇÃO.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Para os que dizem que o diabo era o maior da ordem inferior dos
anjos, a que preside aos acontecimentos terrestres, é claro que houve anjos decaídos,
não de todas as ordens, mas só da ínfima. Segundo, porém, os que dizem que o
maior dos diabos era da ordem suprema, é provável terem caído alguns de cada
uma das ordens; assim como, a fim de suprirem a ruína angélica, foram assumidos
homens, para cada ordem. No que tudo mais comprova a liberdade do livre
arbítrio, capaz de se inclinar para o mal, qualquer que seja o grau da
criatura. A Sagrada Escritura, contudo, não atribui aos demónios os nomes de
certas ordens, como os dos Serafins e dos Tronos; porque esses nomes provêm do
ardor da caridade e da habitação com Deus, que não podem coexistir com o pecado.
Atribuem-se-lhes, porém, os nomes de Querubins, Potestades e Principados, nomes
derivados da ciência e do poder, comuns tanto aos bons como aos maus.
Revisão
da tradução portuguesa por ama
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