
O
quarto discute-se assim. — Parece que as formas dos corpos procedem dos anjos.
1.
— Pois, Boécio diz, que das formas que são sem matéria procedem as que são na
matéria. Ora, aquelas são substâncias espirituais, ao passo que estas são as
dos corpos; logo, provém das primeiras.
2.
Demais. — O que é participado se reduz ao que é essencialmente. Ora, as
substâncias espirituais são, por essência, formas; ao passo que as criaturas
corpóreas participam das formas. Logo, as formas das coisas corpóreas são
derivadas das substâncias espirituais.
3.
Demais. — As substâncias espirituais têm maior virtude causal que os corpos
celestes. Ora, estes causam as formas dos seres inferiores, que vemos, e, por
isso, são considerados a causa da geração e da corrupção. Logo, muito mais, as
formas existentes na matéria são derivadas das substâncias espirituais.
Mas,
em contrário, diz Agostinho, que não se deve pensar que a matéria corporal
serve à vontade dos anjos; mas, antes, à de Deus. Pois, diz-se que a matéria
corporal serve à vontade daquele do qual recebeu a espécie. Logo, as formas
corporais não procedem dos anjos, mas de Deus.
Ora,
todas essas opiniões procedem da mesma raiz. Pois, procuravam a causa das
formas, como se estas, em si mesmas, fossem feitas. — Mas, como Aristóteles o
prova, tudo o que é propriamente feito é composto. Ora, às formas das coisas
corruptíveis é natural ora serem, ora não serem, não sendo elas mesmas as
geradas ou corrompidas, senão os seus compostos; e pois, as formas não têm o
ser, senão os compostos; e do modo pelo qual a alguma coisa convém o vir-a-ser,
desse mesmo lhe convém o ser. E, portanto, como o semelhante é feito pelo
semelhante, não se deve considerar como causa das formas corporais nenhuma
forma imaterial, mas algum composto; assim um fogo é gerado por outro. De
maneira que, as formas corporais são causadas, não de alguma forma imaterial,
mas por ser a matéria quase reduzida da potência ao acto, por algum agente
composto. Mas, como o agente composto, que é corpo, é movido pela substância
espiritual criada, conforme diz Agostinho, segue-se ulteriormente, que também
as formas corporais derivam das substâncias espirituais; não que estas infundam
formas, senão que movem para elas. Finalmente, se reduzem a Deus, como à causa
primeira, mesmo as espécies do intelecto angélico, que são umas como razões seminais
das formas corpóreas.
Ora,
na criação primeira da criatura corporal não há a considerar nenhuma
transmutação da potência para o acto. Donde, as formas corporais que os corpos,
na primeira criação, tiveram, foram imediatamente produzidas por Deus, a cuja
única vontade a matéria obedece como à causa própria. Por isso, para o
significar, Moisés antes de narrar as obras de cada um dos dias, diz: — Deus
disse: faça-se isto ou aquilo; querendo exprimir que a formação das coisas foi
feita pelo Verbo de Deus, do qual, conforme Agostinho, procede toda forma, toda
união e concórdia das partes.
DONDE
A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Boécio entende por formas sem matéria as
razões das coisas existentes na mente divina, como também diz o Apóstolo: Pela
fé reconhecemos que os séculos foram formados pela palavra de Deus; de sorte
que o visível fosse feito do invisível. Se, porém, por formas sem matéria
entende os anjos, deve-se concluir que deles vêm as formas existentes na matéria,
não por influxo, mas por movimento.
RESPOSTA
À SEGUNDA. — As formas participadas pela matéria reduzem-se, não a certas
formas da mesma natureza, por si subsistentes, como queriam os Platônicos, mas
às formas inteligíveis ou do intelecto angélico, donde procedem pelo movimento;
ou, ulteriormente, das razões do intelecto divino, pelas quais também as
sementes das formas são infundidas nas coisas criadas, de modo que possam ser
reduzidas ao acto , pelo movimento.
RESPOSTA
À TERCEIRA. — Os corpos celestes causam as formas nos seres inferiores deste
mundo, não influindo, mas movendo.
Nota: Revisão da tradução para português por ama
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