Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Mt 13, 24-43
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Mt 13, 24-43
24
Propôs-lhes outra parábola, dizendo: «O Reino dos Céus é semelhante a um homem
que semeou boa semente no seu campo. 25 Porém, enquanto os homens
dormiam, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e foi-se. 26
Tendo crescido a erva e dado fruto, apareceu então o joio. 27
Chegando os servos do pai de família, disseram-lhe: “Senhor, porventura não
semeaste tu boa semente no teu campo? Donde veio, pois, o joio?”. 28
Ele, respondeu-lhes: “Foi um inimigo que fez isto”. Os servos disseram-lhe:
“Queres que vamos e o arranquemos?”. 29 Ele respondeu-lhes: “Não,
para que talvez não suceda que, arrancando o joio, arranqueis juntamente com
ele o trigo. 30 Deixai-os crescer juntos até à ceifa, e no tempo da
ceifa direi aos ceifeiros: Colhei primeiramente o joio, e atai-o em molhos para
o queimar; o trigo, porém, recolhei-o no meu celeiro”». 31 Propôs-lhes
outra parábola, dizendo: «O Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda
que um homem tomou e semeou no seu campo. 32 É a mais pequena de
todas as sementes, mas, depois de ter crescido, é maior que todas as hortaliças
e chega a tornar-se uma árvore, de modo que as aves do céu vêm aninhar nos seus
ramos». 33 Disse-lhes outra parábola: «O Reino dos Céus é semelhante
ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha até que
tudo esteja fermentado». 34 Todas estas coisas disse Jesus ao povo
em parábolas; e não lhes falava sem parábolas, 35 a fim de que se
cumprisse o que estava anunciado pelo profeta, que diz: “Abrirei em parábolas a
Minha boca, publicarei as coisas escondidas desde a criação do mundo”». 36
Então, despedido o povo, foi para casa, e chegaram-se a Ele os Seus discípulos,
dizendo: «Explica-nos a parábola do joio no campo». 37 Ele
respondeu: «O que semeia a boa semente é o Filho do Homem. 38 O
campo é o mundo. A boa semente são os filhos do reino. O joio são os filhos do
Maligno. 39 O inimigo que o semeou é o demónio. O tempo da ceifa é o
fim do mundo. Os ceifeiros são os anjos. 40 De maneira que, assim
como é colhido o joio e queimado no fogo, assim acontecerá no fim do mundo. 41
O Filho do Homem enviará os Seus anjos e tirarão do Seu reino todos os escândalos
e os que praticam a iniquidade, 42 e lançá-los-ão na fornalha de
fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. 43 Então resplandecerão
os justos como o sol no reino de seu Pai. O que tem, ouvidos para ouvir, oiça.
Ioannes Paulus PP. II
Centesimus annus
aos veneráveis
Irmãos no Episcopado
ao Clero
às Familías religiosas
aos Fiéis da Igreia
Católica
e a todos os Homens
de Boa Vontade
no centenário da
Rerum
Novarum
/…3
17. Lendo a Encíclica, em conexão com todo
o rico Magistério leonino 47,
nota-se como ela indica fundamentalmente as consequências, no terreno económico-social,
de um erro de muito mais vastas dimensões. O erro, como se disse, consiste numa
concepção da liberdade humana que a desvincula da obediência à verdade e, por
conseguinte, também do dever de respeitar os direitos dos outros. O conteúdo da
liberdade reduz-se então ao amor de si próprio, até chegar ao desprezo de Deus
e do próximo, amor que conduz à afirmação ilimitada do interesse próprio, sem
se deixar conter por qualquer obrigação de justiça 48.
Este erro atingiu as suas consequências extremas
no trágico ciclo das guerras que revolveram a Europa e o mundo entre 1914 e
1945. Foram guerras ditadas pelo militarismo e pelo nacionalismo exacerbado, e
pelas formas de totalitarismo a eles ligadas, e guerras derivadas da luta de
classes, guerras civis e ideológicas. Sem a terrível carga de ódio e rancor,
acumulada por causa de tanta injustiça quer a nível internacional quer a nível
da injustiça social interna de cada Estado, não seriam possíveis guerras de
tamanha ferocidade em que foram investidas as energias de grandes Nações, em
que não se hesitou em violar os direitos humanos mais sagrados, e foi
planificado e executado o extermínio de povos e grupos sociais inteiros.
Recorde-se aqui, em particular, o povo hebreu, cujo destino terrível se tornou
um símbolo da aberração a que pode chegar o homem, quando se volta contra Deus.
Todavia o ódio e a injustiça só se apoderam
de inteiras Nações e fazem-nas entrar em acção, quando são legitimados e
organizados por ideologias que se fundamentam mais naqueles do que na verdade
do homem 49. A Rerum novarum combatia as ideologias do ódio e indicava os
caminhos para destruir a violência e o rancor, mediante a justiça. Possa a
memória desses terríveis acontecimentos guiar as acções dos homens e, de modo
particular, dos dirigentes dos povos no nosso tempo, em que outras injustiças
alimentam novos ódios e se desenham no horizonte novas ideologias que exaltam a
violência.
18. É verdade que, desde 1945, as armas
silenciam no Continente europeu; mas a verdadeira paz — deve-se lembrar — nunca
é o resultado da vitória militar, mas implica o superação das causas da guerra
e a autêntica reconciliação entre os povos. Durante muitos anos, de facto,
houve, na Europa e no mundo, mais uma situação de não-guerra do que de paz verdadeira.
Metade do Continente caiu sob o domínio da ditadura comunista, enquanto a outra
metade se organizava para se defender contra tal perigo. Muitos povos perdem o
poder de dispor de si próprios, vêem-se encerrados nos limites sufocantes de um
império, enquanto se procura destruir a sua memória histórica e a raiz secular
da sua cultura. Multidões enormes são forçadas a abandonar a sua terra e
violentamente deportadas.
Uma corrida louca aos armamentos absorve os
recursos necessários para um equilibrado progresso das economias internas e
para auxílio às Nações mais desfavorecidas. O progresso científico e
tecnológico, que deveria contribuir para o bem-estar do homem, acaba
transformado num instrumento de guerra: ciência e técnica são usadas para
produzir armas cada vez mais aperfeiçoadas e destrutivas, enquanto a uma
ideologia, que não passa de uma perversão da autêntica filosofia, se pede que
forneça justificações doutrinais para a nova guerra. E esta não é apenas temida
e preparada, mas é combatida, com enorme derramamento de sangue, em várias
partes do mundo. A lógica dos blocos ou impérios, já denunciada nos diversos
Documentos da Igreja, sendo o mais recente a Encíclica Sollicitudo rei socialis 50,
faz com que todas as controvérsias e discórdias, que surgem nos Países do
Terceiro Mundo, sejam sistematicamente incrementadas e aproveitadas para criar
dificuldades ao adversário.
Os grupos extremistas, que procuram
resolver tais controvérsias com as armas, encontram facilmente apoios políticos
e militares, são armados e adestrados para a guerra, enquanto aqueles que se
esforçam por encontrar soluções pacíficas e humanas, no respeito dos legítimos
interesses de todas as partes, permanecem isolados e muitas vezes caiem vítimas
dos seus adversários. Mesmo a militarização de tantos Países do «Terceiro
Mundo» e as lutas fratricidas que os atormentaram, a difusão do terrorismo e de
meios cada vez mais bárbaros de luta político-militar, encontram uma das suas
causas primárias na paz precária que se seguiu à II Guerra Mundial. Sobre todo
o mundo, enfim, grava a ameaça de uma guerra atómica, capaz de levar à extinção
da humanidade. A ciência, usada para fins militares, pôs à disposição do ódio,
incrementado pelas ideologias, o instrumento decisivo. Mas a guerra pode
terminar sem vencedores nem vencidos num suicídio da humanidade, e então é
necessário rejeitar a lógica que a ela conduz, ou seja, a ideia de que a luta
pela destruição do adversário, a contradição e a própria guerra são factores de
progresso e avanço da história 51.
Quando se compreende a necessidade dessa rejeição, devem necessariamente entrar
em crise quer a lógica da «guerra total» quer a da «luta de classes».
19. No fim da II Guerra Mundial, porém, um
tal desenvolvimento está ainda em formação nas consciências, e o dado mais
saliente é o estender-se do totalitarismo comunista sobre mais de metade da
Europa e parte do mundo. A guerra, que deveria restituir a liberdade aos
indivíduos e restaurar os direitos dos povos, terminou sem ter conseguido estes
fins; pelo contrário, acabou de um modo que, para muitos povos, especialmente
para aqueles que mais tinham sofrido, abertamente os contradiz. Pode-se dizer
que a situação criada deu lugar a diversas respostas.
Em alguns Países, e sob alguns aspectos,
assiste-se a um esforço positivo para reconstruir, depois das destruições da
guerra, uma sociedade democrática e inspirada na justiça social, a qual priva o
comunismo do potencial revolucionário, constituído por multidões exploradas e
oprimidas. Estas tentativas procuram em geral preservar os mecanismos do livre
mercado, assegurando através da estabilidade da moeda e da firmeza das relações
sociais, as condições de um crescimento económico estável e sadio, no qual as
pessoas, com o seu trabalho, podem construir um futuro melhor para si e para os
próprios filhos. Simultâneamente, estes países procuram evitar que os
mecanismos de mercado sejam o único termo de referência da vida associada e
tendem a submetê-los a um controle público que faça valer o princípio do destino
comum dos bens da terra. Uma certa abundância de ofertas de trabalho, um sólido
sistema de segurança social e de acesso profissional, a liberdade de associação
e a acção incisiva do sindicato, a previdência em caso de desemprego, os
instrumentos de participação democrática na vida social, neste contexto,
deveriam subtrair o trabalho da condição de «mercadoria» e garantir a
possibilidade de realizá-lo com dignidade.
Existem, depois, outras forças sociais e
movimentos de ideias que se opõem ao marxismo com a construção de sistemas de
«segurança nacional», visando controlar de modo capilar toda a sociedade, para
tornar impossível a infiltração marxista. Exaltando e aumentando o poder do
Estado, elas pretendem preservar o seu povo do comunismo; mas, fazendo isso,
correm o grave risco de destruir aquela liberdade e aqueles valores da pessoa,
em nome dos quais é preciso opor-se àquele.
Outra forma de resposta prática, enfim,
está representada pela sociedade do bem-estar, ou sociedade do consumo. Ela
tende a derrotar o marxismo no terreno de um puro materialismo, mostrando como
uma sociedade de livre mercado pode conseguir uma satisfação mais plena das
necessidades materiais humanas que a defendida pelo comunismo, e excluindo
igualmente os valores espirituais. Na verdade, se por um lado é certo que este
modelo social mostra a falência do marxismo ao construir uma sociedade nova e
melhor, por outro lado, negando a existência autónoma e o valor da moral, do
direito, da cultura e da religião, coincide com ele na total redução do homem à
esfera do económico e da satisfação das necessidades materiais.
20. No mesmo período, desenvolve-se um
grandioso processo de «descolonização», pelo qual numerosos Países adquirem ou
reconquistam a independência e o direito de disporem livremente de si. Com a
aquisição formal da soberania estatal, porém, estes Países muitas vezes estão
apenas no início do caminho para a construção de uma autêntica independência.
De facto, sectores decisivos da economia permanecem ainda nas mãos de grandes
empresas estrangeiras, que recusam ligar-se estavelmente ao progresso do País
que as acolhe, e a própria vida política é controlada por forças estrangeiras,
enquanto, dentro das fronteiras do Estado, convivem grupos tribais, ainda não
amalgamados numa autêntica comunidade nacional. Falta, além disso, uma classe
de profissionais competentes, capazes de fazer funcionar de modo honesto e
normal o aparelho do Estado, e não existem também os quadros para uma eficiente
e responsável gestão da economia.
Dada a situação, a muitos parece que o
comunismo poderia oferecer como que um atalho para a edificação da Nação e do
Estado, e nascem, por isso, diversas variantes do socialismo com um carácter
nacional específico. Misturam-se assim, nas múltiplas ideologias que acabam por
se formar, em proporções variáveis, exigências legítimas de salvação nacional,
formas de nacionalismo e de militarismo, princípios vindos de antigas tradições
populares, por vezes conformes à doutrina social cristã, e conceitos do marxismo-leninismo.
21. Recorde-se, enfim, como, depois da II
Guerra Mundial e mesmo por reacção aos seus erros, se difundiu um sentimento
mais vivo dos direitos humanos, que foi reconhecido em diversos Documentos
internacionais 52, e na
elaboração, poder-se-ia dizer, de um novo «direito dos povos», a que a Santa Sé
deu constante contributo. Fulcro desta evolução foi a Organização das Nações
Unidas. Cresceu não só a consciência do direito dos indivíduos, mas também a
dos direitos das Nações, enquanto se adverte mais claramente a necessidade de
actuar para sanar os graves desequilíbrios entre as diversas áreas do mundo, o
que transferiu, em certo sentido, o centro da questão social do âmbito nacional
para o nível internacional 53.
Ao registar, com satisfação, um tal
processo, não se pode todavia silenciar o facto de que o balanço geral das
diversas políticas de auxílio ao desenvolvimento não é sempre positivo. Além
disso, as Nações Unidas ainda não conseguiram construir instrumentos eficazes,
alternativos à guerra, na solução dos conflitos internacionais, e este parece
ser o problema mais urgente que a comunidade internacional tem para resolver.
III.
O ANO 1989
22. Partindo da situação mundial que
acabamos de descrever, e que aparece já exposta na Encíclica Sollicitudo rei
socialis, é que se compreende bem o inesperado e promissor alcance dos factos
dos últimos anos. O seu ponto mais alto é constituído pelos acontecimentos de
1989, nos Países da Europa central e oriental, mas eles abraçam um arco de
tempo e um horizonte geográfico mais amplo. No decurso dos anos '80, caem
progressivamente certos regimes ditatoriais e opressivos em alguns Países da
América Latina, e também da África e da Ásia. Noutros casos, inicia-se um
difícil, mas fecundo caminho de transição para formas políticas mais
participativas e mais justas. Contributo importante, mesmo decisivo, veio do
empenho da Igreja na defesa e promoção dos direitos do homem: em ambientes
fortemente ideologizados, onde a filiação partidária ofuscava o sentimento da
dignidade humana comum, a Igreja, com simplicidade e coragem afirmou que todo o
homem, — sejam quais forem as suas convicções pessoais — traz gravada em si a
imagem de Deus e, por isso, merece respeito. Com esta afirmação, muitas vezes
se identificou a grande maioria do povo, o que levou à procura de formas de
luta e de soluções políticas mais respeitadoras da dignidade da pessoa.
Deste processo histórico, emergiram novas
formas de democracia, que oferecem a esperança de uma alteração nas frágeis
estruturas políticas e sociais, agravadas pela hipoteca de uma penosa série de
injustiças e rancores, além de uma economia desastrosa e de duros conflitos
sociais. Ao mesmo tempo que, com toda a Igreja, agradeço a Deus o testemunho,
muitas vezes heróico, que tantos Pastores, comunidades cristãs, simples fiéis e
outros homens de boa vontade deram nessas difíceis circunstâncias, suplico-Lhe
que ampare os esforços para construir um futuro melhor. Este constitui uma
responsabilidade não só dos cidadãos desses Países, mas de todos os cristãos e
dos homens de boa vontade. Trata-se de mostrar que os complexos problemas de
tais povos obtêm melhor resolução pelo método do diálogo e da solidariedade, do
que pela luta até à destruição do adversário, e pela guerra.
23. De entre os numerosos factores que
concorreram para a queda dos regimes opressivos, alguns merecem uma referência
particular. O factor decisivo, que desencadeou as mudanças, é certamente a
violação dos direitos do trabalho. Não se pode esquecer que a crise fundamental
dos sistemas, que pretendem exprimir o governo ou, melhor, a ditadura do
proletariado, inicia com os grandes movimentos verificados na Polónia, em nome
da solidariedade. São as multidões dos trabalhadores a tornar ilegítima a
ideologia, que presume falar em nome deles, a reencontrar e quase redescobrir
expressões e princípios da doutrina social da Igreja, a partir da experiência
difícil do trabalho e da opressão que viveram.
Merece, portanto, ser sublinhado o facto
de, quase por todo o lado, se ter chegado à queda de semelhante «bloco» ou
império, através de uma luta pacífica que lançou mão apenas das armas da
verdade e da justiça. Enquanto o marxismo defendia que somente extremando as
contradições sociais, através do embate violento, seria possível chegar à sua
solução, as lutas que conduziram ao derrube do marxismo insistem com pertinácia
em tentar todas as vias da negociação, do diálogo, do testemunho da verdade,
fazendo apelo à consciência do adversário e procurando despertar nele o sentido
da dignidade humana comum.
Parecia que a configuração europeia, saída
da segunda guerra mundial e consagrada no Tratado de Ialta, só poderia ser
abalada por outra guerra. Pelo contrário, foi superada pelo empenho não
violento de homens que sempre se recusaram a ceder ao poder da força, e ao
mesmo tempo souberam encontrar aqui e ali formas eficazes para dar testemunho
da verdade. Isto desarmou o adversário, porque a violência sempre tem
necessidade de se legitimar com a mentira, ou seja, de assumir, mesmo se falsamente,
o aspecto da defesa de um direito ou de resposta a uma ameaça de outrem 54. Agradeço a Deus ainda por ter sustentado
o coração dos homens durante o tempo da difícil prova, e pedimos-Lhe que um tal
exemplo possa valer em outros lugares e circunstâncias. Que os homens aprendam
a lutar pela justiça sem violência, renunciando tanto à luta de classes nas
controvérsias internas, como à guerra nas internacionais.
24. O segundo factor de crise é com certeza
a ineficácia do sistema económico, que não deve ser considerada apenas como um
problema técnico, mas sobretudo como consequência da violação dos direitos
humanos à iniciativa, à propriedade e à liberdade no sector da economia. A este
aspecto, está ainda associada a dimensão cultural e nacional: não é possível
compreender o homem, partindo unilateralmente do sector da economia, nem ele
pode ser definido simplesmente com base na sua inserção de classe. A
compreensão do homem torna-se mais exaustiva, se o virmos enquadrado na esfera
da cultura, através da linguagem, da história e das posições que ele adopta
diante dos acontecimentos fundamentais da existência, tais como o nascimento, o
amor, o trabalho, a morte. No centro de cada cultura, está o comportamento que
o homem assume diante do mistério maior: o mistério de Deus. As culturas das
diversas Nações constituem fundamentalmente modos diferentes de enfrentar a
questão sobre o sentido da existência pessoal: quando esta questão é eliminada,
corrompem-se a cultura e a vida moral das Nações. Por isso, a luta pela defesa
do trabalho une-se espontaneamente a esta, a favor da cultura e dos direitos
nacionais.
A verdadeira causa das mudanças, porém,
está no vazio espiritual provocado pelo ateísmo, que deixou as jovens gerações
privadas de orientação e induziu-as em diversos casos, devido à irreprimível
busca da própria identidade e do sentido da vida, a redescobrir as raízes
religiosas da cultura das suas Nações e a própria Pessoa de Cristo, como
resposta existencialmente adequada ao desejo de bem, de verdade, e de vida que
mora no coração de cada homem. Esta procura encontrou guia e apoio no
testemunho de quantos, em circunstâncias difíceis e até na perseguição,
permaneceram fiéis a Deus. O marxismo tinha prometido desenraizar do coração do
homem a necessidade de Deus, mas os resultados demonstram que não é possível
consegui-lo sem desordenar o coração.
25. Os factos de '89 oferecem o exemplo do
sucesso da vontade de negociação e do espírito evangélico, contra um adversário
decidido a não se deixar vincular por princípios morais: eles são uma
advertência para quantos, em nome do realismo político, querem banir o direito
e a moral da arena política. É certo que a luta, que levou às mudanças de '89,
exigiu lucidez, moderação, sofrimentos e sacrifícios; em certo sentido, aquela
nasceu da oração, e teria sido impensável sem uma confiança ilimitada em Deus,
Senhor da história, que tem nas suas mãos o coração dos homens. Só unindo o
próprio sofrimento pela verdade e pela liberdade ao de Cristo na Cruz, é que o
homem pode realizar o milagre da paz e discernir a senda frequentemente
estreita entre a cobardia que cede ao mal, e a violência que, na ilusão de o
estar a combater, ainda o agrava mais.
Todavia não é possível ignorar os
inumeráveis condicionalismos, em que a liberdade do indivíduo se exerce: esses
influenciam mas não determinam a liberdade; tornam mais ou menos fácil o seu
exercício, mas não a podem destruir. Não é lícito do ponto de vista ético nem
praticável menosprezar a natureza do homem que está feito para a liberdade. Na
sociedade onde a sua organização reduz arbitrariamente ou até suprime a esfera
em que a liberdade legitimamente se exerce, o resultado é que a vida social
progressivamente se desorganiza e definha.
Além disso, o homem, criado para a
liberdade, leva em si a ferida do pecado original, que continuamente o atrai
para o mal e o torna necessitado de redenção. Esta doutrina é não só parte
integrante da Revelação cristã, mas tem também um grande valor hermenêutico,
enquanto ajuda a compreender a realidade humana. O homem tende para o bem, mas
é igualmente capaz do mal; pode transcender o seu interesse imediato, e contudo
permanecer ligado a ele. A ordem social será tanto mais sólida, quanto mais
tiver em conta este facto e não contrapuser o interesse pessoal ao da sociedade
no seu todo, mas procurar modos para a sua coordenação frutuosa. Com efeito,
onde o interesse individual é violentamente suprimido, acaba substituído por um
pesado sistema de controle burocrático, que esteriliza as fontes da iniciativa
e criatividade. Quando os homens julgam possuir o segredo de uma organização
social perfeita que torne o mal impossível, consideram também poder usar todos
os meios, inclusive a violência e a mentira, para a realizar. A política
torna-se então uma «religião secular», que se ilude de poder construir o
Paraíso neste mundo. Mas qualquer sociedade política, que possui a sua própria
autonomia e as suas próprias leis 55, nunca poderá ser confundida com o Reino
de Deus. A parábola evangélica da boa semente e do joio (cf. Mt 13, 24-30.
36-43) ensina que apenas a Deus compete separar os filhos do Reino e os
filhos do Maligno, e que o julgamento terá lugar no fim dos tempos. Pretendendo
antecipar o juízo para agora, o homem substitui-se a Deus e opõe-se à sua
paciência.
Graças ao sacrifício de Cristo na Cruz, a
vitória do Reino de Deus está garantida de uma vez para sempre; todavia, a
condição cristã comporta a luta contra as tentações e as forças do mal. Somente
no fim da história é que o Senhor voltará glorioso para o juízo final (cf.
Mt 25, 31), com a instauração dos novos céus e da nova terra (cf. 2
Ped 3, 13; Ap 21, 1), mas, enquanto perdura o tempo, a luta entre o bem e
o mal continua, mesmo no coração do homem.
O que a Sagrada Escritura nos ensina sobre
os caminhos do Reino de Deus tem valor e incidência na vida das sociedades
temporais, que — segundo quanto ficou dito — pertencem às realidades do tempo,
com sua dimensão de imperfeito e provisório. O Reino de Deus presente no mundo
sem ser do mundo, ilumina a ordem da sociedade humana, enquanto a força da
graça a penetra e a vivifica. Assim notam-se melhor as exigências de uma
sociedade digna do homem, são rectificados os desvios, é reforçada a coragem do
agir em favor do bem. A esta tarefa de animação evangélica das realidades
humanas estão chamados, juntamente com todos os homens de boa vontade, os
cristãos, e de modo especial os leigos 56.
(Nota: Revisão da
tradução para português por ama)
____________________________
Notas:
(47) Cf. Ep. Apost. Arcanum divinae
sapientiae (10 Februarii 1880): Leonis XIII P. M. Acta, II, Romae 1882, 10-40;
Ep. Enc. Diuturnum illud (29 Iunii 1881): Leonis XIII P. M. Acta, II, Romae
1882, 269-287; Ep. Enc. Immortale Dei (1 Novembris 1885): Leonis XIII P. M.
Acta, V, Romae 1886, 118-150; Litt. Enc. Sapientiae Christianae (10 Ianuarii
1890): Leonis XIII P. M. Acta, X, Romae 1891, 10-41; Ep. Enc. Quod Apostolici
muneris (28 Decembris 1878): Leonis XIII P. M. Acta, I, Romae 1881, 170-183;
Litt. Enc. Libertas praestantissimum (20 Iunii 1888): Leonis XIII P. M. Acta,
VIII, Romae 1889, 212-246.
(48) Cf. LEO PP. XIII, Litt. Enc.
Libertas praestantissimum: I. mem., 224-226.
(49) Cf. Nuntius pro Mundiali Die Paci
fovendae dicato 1980: AAS 71 (1979), 1572-1580.
(50) Cf. Litt. Enc. Sollicitudo rei
socialis, 20: l. mem., 536 s.
(51) Cf. IOANNES PP. XXIII, Litt. Enc.
Pacem in terris (11 Aprilis 1963), III: AAS 55 (1963), 286-289.
(52) Cf. Declaratio Universalis de
Hominis Iuribus, anno 1948 habita; IOANNES XXIII Litt. Enc. Pacem in terris, IV:
l. mem., 291-296; « Actus Finalis » Conferentiae pro Securitate et Cooperatione
in Europa (CSCE), Helsinkii, anno 1975.
(53) Cf. PAULUS PP. VI, Litt. Enc.
Populorum progressio (26 Maii 1967), 61-65: AAS 59 (1967), 287-289.
(54) Cf. Nuntius pro Mundiali Die Paci
fovendae dicato 1980: l. mem., 1572-1580.
(55) Cf. CONC. OEC. VAT. II, Const.
past. Gaudium et spes de Ecclesia in mundo huius temporis, 36; 39.
(56) Cf. Adhort. Apost. post-synodalis
Christifideles laici (30 Decembris 1988), 3244: AAS 81 (1989), 431-481.
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