Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho Mt 2, 1-23
1 Tendo nascido Jesus em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que uns Magos vieram do Oriente a Jerusalém, 2 dizendo: «Onde está o rei dos Judeus, que acaba de nascer? Porque nós vimos a Sua estrela no Oriente e viemos adorá-l'O». 3 Ao ouvir isto, o rei Herodes turbou-se, e toda a Jerusalém com ele. 4 E, convocando todos os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo, perguntou-lhes onde havia de nascer o Messias. 5 Eles disseram-lhe: «Em Belém de Judá, porque assim foi escrito pelo profeta: 7 “E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que apascentará Israel, Meu povo”». 6 Então Herodes, tendo chamado secretamente os Magos, inquiriu deles cuidadosamente acerca do tempo em que lhes tinha aparecido a estrela; 8 depois, enviando-os a Belém, disse: «Ide, informai-vos bem acerca do Menino, e, quando O encontrardes, comunicai-mo, a fim de que também eu O vá adorar». 9 Tendo ouvido as palavras do rei, eles partiram; e eis que a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando sobre o lugar onde estava o Menino, parou. 10 Vendo novamente a estrela, ficaram possuídos de grandíssima alegria. 11 Entraram na casa, viram o Menino com Maria, Sua mãe, e, prostrando-se, O adoraram; e, abrindo os seus tesouros ofereceram-Lhe presentes de ouro, incenso e mirra. 12 Em seguida, avisados em sonhos por Deus para não tornarem a Herodes, voltaram para a sua terra por outro caminho. 13 Tendo eles partido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e lhe disse: «Levanta-te, toma o Menino e Sua mãe, foge para o Egipto, e fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o Menino para O matar». 14 Ele, levantando-se de noite, tomou o Menino e Sua mãe, e retirou-se para o Egipto. 15 Lá esteve até à morte de Herodes, cumprindo-se deste modo o que tinha sido dito pelo Senhor por meio do profeta: “Do Egipto chamei o Meu filho”. 16 Então Herodes, percebendo que tinha sido enganado pelos Magos, irou-se em extremo, e mandou matar, em Belém e em todos os seus arredores, todos os meninos de idade de dois anos para baixo, segundo a data que tinha averiguado dos Magos. 17 Cumpriu-se então o que estava anunciado pelo profeta Jeremias: 18 “Uma voz se ouviu em Ramá, pranto e grande lamentação; Raquel chorando os seus filhos, sem admitir consolação, porque já não existem”. 19 Morto Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egipto, 20 e disse-lhe: «Levanta-te, toma o Menino e Sua mãe, e vai para a terra de Israel, porque morreram os que procuravam tirar a vida ao Menino». 21 Ele levantou-se, tomou o Menino e Sua mãe, e voltou para a terra de Israel. 22 Mas, ouvindo dizer que Arquelau reinava na Judeia em lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá; e, avisado por Deus em sonhos, retirou-se para a região da Galileia, 23 e foi habitar numa cidade chamada Nazaré, cumprindo-se deste modo o que tinha sido anunciado pelos profetas: “Será chamado nazareno”.
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Evangelho Mt 2, 1-23
1 Tendo nascido Jesus em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que uns Magos vieram do Oriente a Jerusalém, 2 dizendo: «Onde está o rei dos Judeus, que acaba de nascer? Porque nós vimos a Sua estrela no Oriente e viemos adorá-l'O». 3 Ao ouvir isto, o rei Herodes turbou-se, e toda a Jerusalém com ele. 4 E, convocando todos os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo, perguntou-lhes onde havia de nascer o Messias. 5 Eles disseram-lhe: «Em Belém de Judá, porque assim foi escrito pelo profeta: 7 “E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que apascentará Israel, Meu povo”». 6 Então Herodes, tendo chamado secretamente os Magos, inquiriu deles cuidadosamente acerca do tempo em que lhes tinha aparecido a estrela; 8 depois, enviando-os a Belém, disse: «Ide, informai-vos bem acerca do Menino, e, quando O encontrardes, comunicai-mo, a fim de que também eu O vá adorar». 9 Tendo ouvido as palavras do rei, eles partiram; e eis que a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando sobre o lugar onde estava o Menino, parou. 10 Vendo novamente a estrela, ficaram possuídos de grandíssima alegria. 11 Entraram na casa, viram o Menino com Maria, Sua mãe, e, prostrando-se, O adoraram; e, abrindo os seus tesouros ofereceram-Lhe presentes de ouro, incenso e mirra. 12 Em seguida, avisados em sonhos por Deus para não tornarem a Herodes, voltaram para a sua terra por outro caminho. 13 Tendo eles partido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e lhe disse: «Levanta-te, toma o Menino e Sua mãe, foge para o Egipto, e fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o Menino para O matar». 14 Ele, levantando-se de noite, tomou o Menino e Sua mãe, e retirou-se para o Egipto. 15 Lá esteve até à morte de Herodes, cumprindo-se deste modo o que tinha sido dito pelo Senhor por meio do profeta: “Do Egipto chamei o Meu filho”. 16 Então Herodes, percebendo que tinha sido enganado pelos Magos, irou-se em extremo, e mandou matar, em Belém e em todos os seus arredores, todos os meninos de idade de dois anos para baixo, segundo a data que tinha averiguado dos Magos. 17 Cumpriu-se então o que estava anunciado pelo profeta Jeremias: 18 “Uma voz se ouviu em Ramá, pranto e grande lamentação; Raquel chorando os seus filhos, sem admitir consolação, porque já não existem”. 19 Morto Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egipto, 20 e disse-lhe: «Levanta-te, toma o Menino e Sua mãe, e vai para a terra de Israel, porque morreram os que procuravam tirar a vida ao Menino». 21 Ele levantou-se, tomou o Menino e Sua mãe, e voltou para a terra de Israel. 22 Mas, ouvindo dizer que Arquelau reinava na Judeia em lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá; e, avisado por Deus em sonhos, retirou-se para a região da Galileia, 23 e foi habitar numa cidade chamada Nazaré, cumprindo-se deste modo o que tinha sido anunciado pelos profetas: “Será chamado nazareno”.
Ioannes Paulus PP. II
Redemptoris missio
sobre a Validade permanente
do Mandato Missionário
/…5
38.
A época em que vivemos é, ao mesmo tempo, dramática e fascinante. Se por um
lado, parece que os homens vão no encalço da prosperidade material, mergulhando
cada vez mais no consumismo materialista, por outro lado, manifesta-se a
angustiante procura de sentido, a necessidade de vida interior, o desejo de
aprender novas formas e meios de concentração e de oração. Não só nas culturas
densas de religiosidade, mas também nas sociedades secularizadas, procura-se a
dimensão espiritual da vida como antídoto à desumanização. Este fenómeno,
denominado «ressurgimento religioso», não está isento de ambiguidade, mas traz
com ele também um convite. A Igreja tem em Cristo, que se proclamou «o Caminho,
a Verdade e a Vida» (Jo 14, 6), um imenso património espiritual para
oferecer à humanidade. É o caminho cristão que leva ao encontro de Deus, à
oração, à ascese, à descoberta do sentido da vida. Também este é um areópago a
evangelizar.
Fidelidade a Cristo promoção da
liberdade do homem
39.
Todas as formas de actividade missionária se caracterizam pela consciência de
promover a liberdade do homem, anunciando-lhe Jesus Cristo. A Igreja deve ser
fiel a Cristo, já que é o Seu Corpo e continua a Sua missão. É necessário que
ela «caminhe pela mesma via de Cristo, via de pobreza, obediência, serviço e
imolação própria até à morte, da qual Ele saiu vitorioso pela sua ressurreição».
63 A Igreja, portanto, tem o
dever de fazer todo o possível para cumprir a sua missão no mundo e alcançar
todos os povos; e tem também o direito, que lhe foi dado por Deus, de levar a
termo o seu plano. A liberdade religiosa, por vezes ainda limitada e cerceada,
é a premissa e a garantia de todas as liberdades que asseguram o bem comum das
pessoas e dos povos. É de se auspiciar que a autêntica liberdade religiosa seja
concedida a todos, em qualquer lugar, e para isso a Igreja se empenha a fim de
que tal aconteça nos vários Países, especialmente nos de maioria católica, onde
ela alcançou uma maior influência. Não se trata porém, de um problema de
maioria ou de minoria, mas de um direito inalienável de toda a pessoa humana.
Por
outro lado, a Igreja dirige-se ao homem no pleno respeito da sua liberdade: 64 a missão não restringe a liberdade, pelo
contrário, favorece-a. A Igreja propõe, não impõe nada: respeita as pessoas e
as culturas, detendo-se diante do sacrário da consciência Aos que se opõem com
os mais diversos pretextos à actividade missionária, a Igreja repete: Abri as
portas a Cristo!
Dirijo-me
a todas as Igrejas particulares, antigas ou de formação recente. O mundo vai-se
unificando cada vez mais, o espírito evangélico deve levar à supressão de
barreiras culturais, nacionalistas, evitando qualquer isolamento. Já Bento XV
admoestava os missionários do seu tempo a que nunca «esquecessem a dignidade
pessoal para não pensarem mais na pátria terrena que na do céu», 65 A mesma recomendação vale hoje para as
Igrejas particulares: abri as portas aos missionários, pois «toda a Igreja
particular que se separasse voluntariamente da Igreja universal perderia a sua
referência ao desígnio de Deus e empobrecer-se-ia na sua dimensão eclesial», 66
Dirigir a atenção para Sul e Oriente
40.
A actividade missionária ainda hoje representa o máximo desafio para a Igreja.
À medida que se aproxima o fim do segundo Milénio da Redenção, é cada vez mais
evidente que os povos que ainda não receberam o primeiro anúncio de Cristo
constituem a maioria da humanidade. Certamente o balanço da actividade
missionária dos tempos modernos é positivo: a Igreja está estabelecida em todos
os continentes, e a maioria dos fiéis e das Igrejas particulares já não está na
velha Europa, mas nos Continentes que os missionários abriram à fé.
Permanece,
porém, o facto de que «os confins da terra» para onde o Evangelho deve ser
levado, alargam-se cada vez mais e a sentença de Tertuliano, segundo a qual o
Evangelho foi anunciado por toda a terra e a todos os povos, 67 está ainda longe de se concretizar: a missão
ad gentes ainda está no começo. Novos povos aparecem no cenário mundial e
também eles têm o direito de receber o anúncio da salvação. O crescimento
demográfico no sul e no oriente, em Países não cristãos, faz aumentar
continuamente o número das pessoas que ignoram a redenção de Cristo.
É
necessário, portanto, dirigir a atenção missionária para aquelas áreas
geográficas e para aqueles ambientes culturais que permaneceram à margem do
influxo evangélico. Todos os crentes em Cristo devem sentir, como parte
integrante da sua fé, a solicitude apostólica de a transmitir aos outros, pela
alegria e luz que ela gera. Essa solicitude deve-se transformar, por assim
dizer, em fome e sede de dar a conhecer o Senhor, quando estendemos o olhar
para os horizontes imensos do mundo não-cristão.
CAPÍTULO V
OS CAMINHOS DA MISSÃO
41.
«A actividade missionária não é mais nem menos do que a manifestação ou
epifania, e a realização do desígnio de Deus no mundo e na história: pela
missão, Deus realiza claramente a história de salvação». 68 Que caminhos segue a Igreja para
conseguir este resultado?
A
missão é uma realidade unitária, mas complexa; e explica-se de vários modos,
alguns do quais são de particular importância, na presente situação da Igreja e
do mundo.
A primeira forma de evangelização é o
testemunho
42.
O homem contemporâneo acredita mais nas testemunhas do que nos mestres, 69 mais na experiência do que na doutrina,
mais na vida e nos factos do que nas teorias. O testemunho da vida cristã é a
primeira e insubstituível forma de missão: Cristo, cuja missão nós continuamos,
é a «testemunha» por excelência (Ap 1, 5; 3, 14) e o modelo do
testemunho cristão. O Espírito Santo acompanha o caminho da Igreja,
associando-a ao testemunho que Ele próprio dá de Cristo (cf. Jo 15, 26-27).
A
primeira forma de testemunho é a própria vida do missionário, da família cristã
e da comunidade eclesial, que torna visível um novo modo de se comportar. O
missionário que, apesar dos seus limites e defeitos humanos, vive com
simplicidade, segundo o modelo de Cristo, é um sinal de Deus e das realidades
transcendentes. Mas todos na Igreja, esforçando-se por imitar o divino Mestre,
podem e devem dar o mesmo testemunho, 70
que é, em muitos casos, o único modo possível de se ser missionário.
O
testemunho evangélico, a que o mundo é mais sensível, é o da atenção às pessoas
e o da caridade a favor dos pobres, dos mais pequenos, e dos que sofrem. A
gratuidade deste relacionamento e destas acções, em profundo contraste com o egoísmo
presente no homem, faz nascer questões precisas, que orientam para Deus e para
o Evangelho. Também o compromisso com a paz, a justiça, os direitos do homem, a
promoção humana, é um testemunho do Evangelho, caso seja um sinal de atenção às
pessoas e esteja ordenado ao desenvolvimento integral do homem. 71
43.
O cristão e as comunidades cristãs vivem profundamente inseridos na vida dos
respectivos povos, e são também sinal do Evangelho pela fidelidade à sua
pátria, ao seu povo, e à sua cultura nacional, sempre porém na liberdade que
Cristo trouxe. O cristianismo está aberto à fraternidade universal, porque
todos os homens são filhos do mesmo Pai e irmãos em Cristo.
A
Igreja é chamada a dar o seu testemunho por Cristo, assumindo posições
corajosas e proféticas, face à corrupção do poder político ou económico; não
correndo ela própria atrás da glória e dos bens materiais; usando os seus bens
para o serviço dos mais pobres e imitando a simplicidade de vida de Cristo. A
Igreja e os missionários devem ainda dar o testemunho da humildade, começando
por si próprios, ou seja, desenvolvendo a capacidade de exame de consciência, a
nível pessoal e comunitário, a fim de corrigirem nas suas atitudes aquilo que é
anti-evangélico e desfigura o rosto de Cristo.
O primeiro anúncio de Cristo Salvador
44.
O anúncio tem a prioridade permanente, na missão: a Igreja não pode esquivar-se
ao mandato explícito de Cristo, não pode privar os homens da «Boa Nova» de que
Deus os ama e salva. «A evangelização conterá sempre — como base, centro e, ao
mesmo tempo, vértice do seu dinamismo — uma proclamação clara de que, em Jesus
Cristo (...) a salvação é oferecida a cada homem, como dom de graça e de
misericórdia do próprio Deus». 72
Todas as formas de actividade missionária tendem para esta proclamação que
revela e introduz no mistério, desde sempre escondido e agora revelado em
Cristo (cf. Ef 3, 3-9; Col 1, 25-29), o qual se encontra no amago da
missão e da vida da Igreja, como ponto fulcral de toda a evangelização.
Na
realidade complexa da missão, o primeiro anúncio tem um papel central e
insubstituível, porque introduz «no mistério do amor de Deus, que, em Cristo,
nos chama a uma estreita relação pessoal com Ele» 73
e predispõe a vida para a conversão. A fé nasce do anúncio, e cada comunidade
eclesial consolida-se e vive da resposta pessoal de cada fiel a esse anúncio. 74 Como a economia salvífica está centrada
em Cristo, assim a actividade missionária tende para a proclamação do Seu
mistério.
O
anúncio tem por objecto Cristo crucificado, morto e ressuscitado: por meio
d'Ele se realiza a plena e autêntica libertação do mal, do pecado e da morte;
n'Ele Deus dá a «vida nova», divina e eterna. É esta a «Boa Nova», que muda o
homem e a história da humanidade, e que todos os povos têm o direito de
conhecer. Um tal anúncio tem de se inserir no contexto vital do homem e dos
povos que o recebem. Além disso ele deve ser feito numa atitude de amor e de
estima a quem o escuta, com uma linguagem concreta e adaptada às circunstancias.
Para isso concorre o Espírito, que instaura uma união entre o missionário e os
ouvintes, tornada possível enquanto um e os outros, por Cristo, entram em
comunhão com o Pai. 75
45.
Sendo feito em união com toda a comunidade eclesial, o anúncio nunca é um facto
pessoal. O missionário está presente e actuante em virtude de um mandato
recebido, pelo que, mesmo se estiver sozinho, sempre viverá coligado, através
de laços invisíveis mas profundos, à actividade evangelizadora de toda a
Igreja. 76 Os ouvintes, mais cedo
ou mais tarde, entrevêem, por detrás dele, a comunidade que o enviou e o apoia.
O
anúncio é animado pela fé, que gera entusiasmo e ardor no missionário. Como
ficou dito, os Actos dos Apóstolos definem uma tal atitude com a palavra parrésia,
que significa falar com coragem e desembaraço; o mesmo termo aparece em S.
Paulo: «No nosso Deus, encontramos coragem para vos anunciar o Evangelho, no
meio de muitos obstáculos» (1 Tes 2, 2). «Rezai também por mim, para
que, quando abrir a boca, me seja dado anunciar corajosamente o Mistério do
Evangelho, do qual, mesmo com as algemas, sou embaixador, e para que tenha a
audácia de falar dele como convém» (Ef 6, 19-20).
Ao
anunciar Cristo aos não cristãos, o missionário está convencido de que existe
já, nas pessoas e nos povos, pela acção do Espírito, uma ansia — mesmo se
inconsciente — de conhecer a verdade acerca de Deus, do homem, do caminho que
conduz à libertação do pecado e da morte. O entusiasmo posto no anúncio de
Cristo deriva da convicção de responder a tal ansia, pelo que o missionário não
perde a coragem nem desiste do seu testemunho, mesmo quando é chamado a
manifestar a sua fé num ambiente hostil ou indiferente. Ele sabe que o Espírito
do Pai fala nele (cf. Mt 10, 17-20; Lc 12, 11-12), podendo repetir
com os apóstolos: «nós somos testemunhas destas coisas, juntamente com o
Espírito Santo» (At 5, 32). Está ciente de que não anuncia uma
verdade humana, mas «a Palavra de Deus», dotada de intrínseca e misteriosa
força (cf. Rm 1, 16).
A
prova suprema é o dom da vida, até ao ponto de aceitar a morte para testemunhar
a fé em Jesus Cristo. Como sempre, na história cristã, os «mártires», isto é,
as testemunhas, são numerosas e indispensáveis no caminho do Evangelho. Também
na nossa época, há tantos: bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos,
tantas vezes, heróis desconhecidos que deram a vida para testemunhar a fé. São
esses, os anunciadores e as testemunhas por excelência.
Conversão e baptismo
46.
O anúncio da Palavra de Deus visa a conversão cristã, isto é, a adesão plena e
sincera a Cristo e ao seu Evangelho, mediante a fé. A conversão é dom de Deus, obra
da Trindade: é o Espírito que abre as portas dos corações, para que os homens
possam acreditar no Senhor e «confessá-Lo» (1 Cor 12, 3). Jesus,
referindo-se a quem se aproxima d'Ele pela fé, diz: «ninguém pode vir a Mim, se
o Pai, que me enviou, o não atrair» (Jo 6, 44).
Desde
o início, a conversão exprime-se com uma fé total e radical: não põe limites
nem impedimentos ao dom de Deus. Ao mesmo tempo, porém, determina um processo
dinâmico e permanente que se prolonga por toda a existência, exigindo uma passagem
contínua da «vida segundo a carne» à «vida segundo o Espírito» (cf. Rm 8,
3-13). Esta significa aceitar, por decisão pessoal, a soberania salvífica
de Cristo, tornando-se Seu discípulo.
A
Igreja chama a todos, a esta conversão, a exemplo de João Baptista que
preparava o caminho para Cristo, «pregando um baptismo de conversão, em ordem
ao perdão dos pecados» (Mc 1, 4), e a exemplo do próprio Cristo que,
«depois de João ter sido preso, veio para a Galileia pregar a Boa Nova de Deus,
dizendo: 'Completou-se o tempo, o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos, e
acreditai no Evangelho'» (Mc 1, 14-15 ).
Hoje
o apelo à conversão, que os missionários dirigem aos não cristãos, é posto em
discussão ou facilmente deixado no silêncio. Vê-se nele um acto de «proselitismo»;
diz-se que basta ajudar os homens a tornarem-se mais homens ou mais fiéis à
própria religião, que basta construir comunidades capazes de trabalharem pela
justiça, pela liberdade, pela paz, e pela solidariedade. Esquece-se, porém, que
toda a pessoa tem o direito de ouvir a «Boa Nova» de Deus que se revela e se dá
em Cristo, para realizar em plenitude a sua própria vocação. A grandeza deste
evento ressoa nas palavras de Jesus à samaritana: «Se tu conhecesses o dom de Deus»,
e no desejo inconsciente, mas intenso da mulher: «Senhor, dá-me dessa água,
para que eu não tenha mais sede» (Jo 4, 10.15).
47.
Os Apóstolos, movidos pelo Espírito Santo, convidaram todos a mudarem de vida,
a converterem-se e a receberem o baptismo. Logo depois do evento do
Pentecostes, Pedro fala de modo convincente à multidão: «ao ouvirem aquelas
palavras, os presentes sentiram-se emocionados até ao fundo do coração e
perguntaram a Pedro e aos outros apóstolos: 'Que havemos de fazer, irmãos?'
Pedro respondeu-lhes: 'Convertei-vos e peça cada um o baptismo em nome de Jesus
Cristo, para a remissão dos seus pecados; recebereis então o dom do Espírito
Santo'» (At 2, 37-38). E naquele dia baptizou cerca de três mil
pessoas. Noutra ocasião, depois da cura de um paralítico, Pedro fala à
multidão, dizendo de novo: «convertei-vos, pois, e mudai de vida, para que
sejam apagados os vossos pecados!» (At 3, 19).
A
conversão a Cristo está conexa com o baptismo: está-o não só per força da
práxis da Igreja, mas por vontade de Cristo, que enviou a fazer discípulos em
todas as nações, e a baptizá-los (cf. Mt 28, 19); está-o ainda por
intrínseca exigência da recepção em plenitude da vida nova n'Ele: «Em verdade,
em verdade, te digo — assim falou Jesus a Nicodemos — quem não nascer da água e
do Espírito não pode entrar no Reino de Deus» (Jo 3, 5). O baptismo,
de facto, regenera-nos para a vida de filhos de Deus, une-nos a Jesus Cristo e
unge-nos no Espírito Santo: aquele não é um simples selo da conversão, à
maneira de um sinal exterior que a comprova e atesta; mas é o sacramento que significa
e opera este novo nascimento do Espírito, instaura vínculos reais e
inseparáveis com a Trindade, torna-nos membros do Corpo de Cristo, que é a
Igreja.
Recordamos
tudo isto, porque uns tantos, precisamente onde se realiza a missão ad gentes,
tendem a separar a conversão a Cristo, do baptismo, considerando-o como
desnecessário. É verdade que, em certos ambientes, alguns aspectos
sociológicos, referentes ao baptismo, lhe obscurecem o genuíno significado de
fé. Isso fica-se a dever a diversos factores históricos e culturais, que é
necessário suprimir onde ainda subsistam, para que o sacramento da regeneração
espiritual surja em todo o seu valor: nesta tarefa, empenhem-se as comunidades
eclesiais locais. Também é verdade que algumas pcssoas se dizem interiormente
comprometidas com Cristo e com a Sua mensagem, mas sem quererem sê-lo
sacramentalmente, porque, devido aos seus preconceitos ou por culpa dos
cristãos, não chegam a perceber a verdadeira natureza da Igreja, mistério de fé
e de amor. 77 Desejo encorajar
estas pessoas a abrirem-se plenamente a Cristo, recordando, a quantos sentem o
fascínio de Cristo, que foi Ele próprio que quis a Igreja como «lugar» aonde,
de facto, O podem encontrar. Ao mesmo tempo, convido os fiéis e as comunidades
cristãs a testemunharem autenticamente Cristo com a sua vida nova.
Cada
convertido é certamente um dom oferecido à Igreja, mas comporta também para ela
uma grave responsabilidade, não só porque ele terá de ser preparado para o baptismo
com o catecumenado, e depois continuar a sua instrução religiosa, mas também
porque — especialmente se é adulto — traz como que uma energia nova, o
entusiasmo da fé, o desejo de encontrar na própria Igreja o Evangelho vivido.
Seria para ele uma desilusão se, entrando na comunidade eclesial, encontrasse
aí uma vida sem fervor, privada de sinais de renovação. Não podemos pregar a
conversão, se nós mesmos não nos convertermos todos os dias.
(Nota: Revisão da tradução para português por ama)
______________________________
Notas:
63
Conc. Ecum. Vat. II, Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad
gentes, 5; cf. Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 8.
64
Cf. Conc. Ecum. VAT. II, Declaração sobre a liberdade religiosa Dignitatis
humanae, 3-4; Paulo VI, Exort. Ap. Evangelii nuntiandi, 79-80: l.c., 71-75;
João Paulo II, Carta Enc. Redemptor hominis, 12: l.c., 278-281.
65 Epist. Ap. Maximum illud: l.c., 446.
66 PauLo VI, Exort. Ap. Evangelii
nuntiandi, 62: l.c., 52.
67 Cf. De praescriptione haereticorum, XX:
CCL I, 201 s.
68 Conc. Ecum. Vat. II, Decreto sobre a
actividade missionária da Igreja Ad gentes, 9; cf. cap. II, 10-18.
69 Cf. PAULO VI, Exort. Ap. Evangelii
nuntiandi, 41: l.c., 31 s.
70 Cf. Conc. Ecum. VAT. II, Const. dogm.
sobre a Igreja Lumen gentium, 28. 35. 38; Const. past. sobre a Igreja no mundo
contemporâneo Gaudium et spes, 43; Decreto sobre a actividade missionária da
Igreja Ad gentes, 11-12.
71 Cf. Paulo VI, Carta Enc. Populorum
progressio (26/III/1967), 21. 42: AAS 59 ( 1967), 267 s., 278.
72 Paulo VI, Exort. Ap. Evangelii
nuntiandi, 27: l.c., 23.
73 Conc. Ecum. Vat. II, Decreto sobre a
actividade missionária da Igreja Ad gentes, 13.
74 Cf. Paulo VI, Exort. Ap. Evangelii
nuntiandi, 15: l.c., 13-15; Coce. Ecum. Vat. II, Decreto sobre a actividade
missionária da Igreja Ad gentes, 13-14.
75 Cf. Carta Enc. Dominum et Vivificantem,
42. 64: l.c., 857-859, 892-894.
76 Cf. Paulo VI, Exort. Ap. Evangelii
nuntiandi, 60: l.c., 50 s.
77 Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
sobre a Igreja Lumen gentium, 6-9.
.
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