Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
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Evangelho: Mt 10, 16-42
16 «Eis que Eu vos envio
como ovelhas entre lobos. Sede, pois, prudentes como serpentes e simples como
pombas. 17 Acautelai-vos dos homens, porque vos farão comparecer nos
seus tribunais e vos açoitarão nas sinagogas. 18 Sereis levados por
Minha causa à presença dos governadores e dos reis, para dar testemunho diante
deles e diante dos gentios. 19 Quando vos entregarem, não cuideis
como ou o que haveis de falar, porque naquela hora vos será inspirado o que
haveis de dizer. 20 Porque não sereis vós que falais, mas o Espírito
de vosso Pai é o que falará em vós. 21 O irmão entregará à morte o
seu irmão e o pai o seu filho; os filhos se levantarão contra os pais e lhes
darão a morte. 22 Vós, por causa do Meu nome, sereis odiados por
todos; aquele, porém, que perseverar até ao fim será salvo. 23
Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos digo que não
acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do Homem. 24
«Não é o discípulo mais que o mestre, nem o servo mais que o senhor. 25
Basta ao discípulo ser como o mestre e ao servo como o senhor. Se eles chamaram
Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus familiares! 26 «Não
os temais, pois, porque nada há encoberto que não se venha a descobrir, nem
oculto que não venha a saber-se. 27 O que Eu vos digo às escuras,
dizei-o às claras e o que é dito ao ouvido, pregai-o sobre os telhados. 28
«Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma. Temei antes aquele
que pode lançar a alma e o corpo na Geena. 29 Porventura não se
vendem dois passarinhos por uns tostões? E, todavia, nem um só deles cairá no
chão sem a permissão de vosso Pai. 30 Até os próprios cabelos da
vossa cabeça estão todos contados. 31 Não temais, pois: vós valeis
mais que muitos passaritos. 32 «Todo aquele, portanto, que Me
confessar diante dos homens, também Eu o confessarei diante do Meu Pai que está
nos céus. 33 Porém, quem Me negar diante dos homens, também Eu o
negarei diante do Meu Pai, que está nos céus. 34 «Não julgueis que
vim trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas a espada. 35
Porque vim separar “o filho do seu pai e a filha da sua mãe e a nora da sua
sogra. 36 E os inimigos do homem serão os seus próprios familiares”.
37 Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim; e
quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim. 38
Quem não toma a sua cruz e Me segue, não é digno de Mim. 39 Quem se
prende à sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por Meu amor, acha-la-á.
40 «Quem vos recebe, a Mim recebe, e quem Me recebe, recebe Aquele
que Me enviou. 41 Quem recebe um profeta na qualidade de profeta,
receberá a recompensa do profeta; quem recebe um justo na qualidade de justo,
receberá a recompensa de justo. 42 E todo aquele que der de beber um
simples copo de água fresca a um destes pequeninos, por ele ser Meu discípulo,
na verdade vos digo que não perderá a sua recompensa».
Ioannes Paulus PP. II
Veritatis splendor
a todos os Bispos
da Igreja Católica
sobre algumas questões fundamentais
do Ensinamento Moral da Igreja
/…8
63.
De qualquer forma, é sempre da verdade que deriva a dignidade da consciência:
no caso da consciência recta, trata-se da verdade objectiva acolhida pelo
homem; no da consciência errónea, trata-se daquilo que o homem errando
considera subjectivamente verdadeiro. Nunca é aceitável confundir um erro
«subjectivo» acerca do bem moral com a verdade «objectiva», racionalmente
proposta ao homem em virtude do seu fim, nem equiparar o valor moral do acto
cumprido com uma consciência verdadeira e recta, àquele realizado seguindo o
juízo de uma consciência errónea. 108
O mal cometido por causa de uma ignorância invencível ou de um erro de juízo
não culpável, pode não ser imputado à pessoa que o realiza; mas, também neste
caso, aquele não deixa de ser um mal, uma desordem face à verdade do bem. Além
disso, o bem não reconhecido não contribui para o crescimento moral da pessoa
que o cumpre: não a aperfeiçoa nem serve para encaminhá-la ao supremo bem.
Assim, antes de nos sentirmos facilmente justificados em nome da nossa
consciência, deveríamos meditar nas palavras do Salmo: «Quem poderá discernir
todos os erros? Purificai-me das faltas escondidas» (Sal 19, 13).
Existem faltas que não conseguimos ver e que, não obstante, permanecem culpáveis,
porque nos recusamos a caminhar para a luz (cf. Jo 9, 39-41).
A
consciência, como juízo último concreto, compromete a sua dignidade quando é
culpavelmente errónea, ou seja, «quando o homem não se preocupa de buscar a
verdade e o bem, e quando a consciência se torna quase cega em consequência do
hábito ao pecado».109 Jesus alude
aos perigos da deformação da consciência, quando admoesta: «A lâmpada do corpo
é o olho; se o teu olho estiver são, todo o teu corpo andará iluminado. Se,
porém, o teu olho for mau, todo o teu corpo andará em trevas. Portanto, se a
luz que há em ti são trevas, quão grandes serão essas trevas!» (Mt 6,
22-23).
64.
Nas palavras de Jesus agora referidas, encontramos também o apelo para formar a
consciência, fazendo-a objecto de contínua conversão à verdade e ao bem.
Análoga é a exortação do Apóstolo a não se conformar com a mentalidade deste
mundo, mas a transformar-se pela renovação da própria mente (cf. Rm 12, 2).
Na verdade, o «coração» convertido ao Senhor e ao amor do bem é a fonte dos
juízos verdadeiros da consciência. Com efeito, «para poder conhecer a vontade
de Deus, o que é bom, o que Lhe é agradável e o que é perfeito» (Rm 12, 2),
é necessário o conhecimento da lei de Deus em geral, mas aquele não é
suficiente: é indispensável uma espécie de «conaturalidade» entre o homem e o
verdadeiro bem. 110 Esta
conaturalidade fundamenta-se e desenvolve-se nos comportamentos virtuosos do
mesmo homem: a prudência e as outras virtudes cardeais, e, antes ainda as
virtudes teologais da fé, esperança e caridade. Neste sentido, disse Jesus:
«Quem pratica a verdade aproxima- -se da luz» (Jo 3, 21).
Uma
grande ajuda para a formação da consciência têm-na os cristãos, na Igreja e no
seu Magistério, como afirma o Concílio: «Os fiéis, por sua vez, para formarem a
sua própria consciência, devem atender diligentemente à doutrina sagrada e
certa da Igreja. Pois, por vontade de Cristo, a Igreja Católica é mestra da
verdade, e tem por encargo dar a conhecer e ensinar autenticamente a Verdade
que é Cristo, e ao mesmo tempo declara e confirma, com a sua autoridade, os
princípios de ordem moral que dimanam da natureza humana».111 Portanto, a autoridade da Igreja, que se
pronuncia sobre as questões morais, não lesa de modo algum a liberdade de
consciência dos cristãos: não apenas porque a liberdade da consciência nunca é
liberdade «da» verdade, mas sempre e só «na» verdade; mas também porque o
Magistério não apresenta à consciência cristã verdades que lhe são estranhas,
antes manifesta as verdades que deveria já possuir, desenvolvendo-as a partir
do acto originário da fé. A Igreja põe-se sempre e só ao serviço da
consciência, ajudando-a a não se deixar levar cá e lá por qualquer sopro de
doutrina, ao sabor da maldade dos homens (cf. Ef 4, 14), a não se
desviar da verdade sobre o bem do homem, mas, especialmente nas questões mais
difíceis, a alcançar com segurança a verdade e a permanecer nela.
III. A opção fundamental e os
comportamentos concretos
«Não tomeis, porém, a liberdade, como
pretexto para servir a carne» (Gál 5, 13)
65.
O interesse pela liberdade, hoje particularmente sentido, induz muitos
estudiosos de ciências, quer humanas quer teológicas, a desenvolver uma análise
mais profunda da sua natureza e dos seus dinamismos. Salienta-se acertadamente
que a liberdade não é só a escolha desta ou daquela acção particular; mas é
também, dentro duma tal escolha, decisão sobre si mesmo e determinação da
própria vida a favor ou contra o Bem, a favor ou contra a Verdade, em última
análise, a favor ou contra Deus. Justamente se destaca a elevada importância de
algumas opções, que dão «forma» a toda a vida moral de um homem,
configurando-se como o sulco dentro do qual poderão encontrar espaço e
incremento as demais escolhas quotidianas particulares.
Alguns
autores, porém, propõem uma revisão bem mais radical da relação entre pessoa e
actos. Falam de uma «liberdade fundamental», mais profunda e diversa da
liberdade de escolha, fora da qual não se poderiam compreender nem julgar
correctamente os actos humanos. De acordo com esses autores, o papel chave na
vida moral deveria ser atribuído a uma «opção fundamental», efectuada por
aquela liberdade fundamental, com que a pessoa decide globalmente de si
própria, não através de uma escolha determinada e consciente a nível reflexo,
mas de maneira «transcendental» e «atemática». Os actos particulares, derivados
desta opção, constituiriam somente tentativas parciais e nunca decisivas de
exprimi-la, seriam apenas «sinais» ou sintomas dela. Objecto imediato destes
actos — diz-se — não é o Bem absoluto (diante do qual se exprimiria, a nível
transcendental, a liberdade da pessoa), mas são os bens particulares (também
chamados «categoriais»). Ora, segundo a opinião de alguns teólogos, nenhum
destes bens, por sua natureza parciais, poderia determinar a liberdade do homem
como pessoa na sua totalidade, mesmo que o homem só pudesse exprimir a própria
opção fundamental, mediante a sua realização ou a sua recusa.
Deste
modo, chega a introduzir-se uma distinção entre a opção fundamental e as
escolhas deliberadas de um comportamento concreto, uma distinção que, nalguns
autores, assume a forma de uma separação, já que eles restringem expressamente
o «bem» e o «mal» moral à dimensão transcendental própria da opção fundamental,
qualificando como «justas» ou «erradas» as escolhas de comportamentos particulares
«intramundanos», isto é, referentes às relações do homem consigo próprio, com
os outros e com o mundo das coisas. Parece assim delinear-se, no interior do
agir humano, uma cisão entre dois níveis de moralidade: por um lado, a ordem do
bem e do mal que depende da vontade, e, por outro, os comportamentos
determinados, que são julgados como moralmente justos ou errados, somente em
função de um cálculo técnico da proporção entre bens e males «pré-morais» ou
«físicos», que efectivamente resultam da acção. E isto até ao ponto de um
comportamento concreto, mesmo escolhido livremente, ser considerado como um
processo simplesmente físico, e não segundo os critérios próprios de um acto
humano. O resultado a que se chega, é reservar a qualificação propriamente
moral da pessoa à opção fundamental, subtraindo-a total ou parcialmente à
escolha dos actos particulares, dos comportamentos concretos.
66.
Não há dúvida que a doutrina moral cristã, em suas mesmas raízes bíblicas,
reconhece a importância específica de uma opção fundamental que qualifica a
vida moral e que compromete radicalmente a liberdade diante de Deus. Trata-se
da escolha da fé, da obediência da fé (cf. Rm 16, 26), pela qual «o
homem entrega-se total e livremente a Deus prestando "a Deus revelador o
obséquio pleno da inteligência e da vontade"».112 Esta fé, que opera mediante a caridade (cf. Gál
5, 6), provém do mais íntimo do homem, do seu «coração» (cf. Rm 10,
10), e daí é chamada a frutificar nas obras (cf. Mt 12, 33-35; Lc 6,
43-45; Rm 8, 5-8; Gál 5, 22). No Decálogo ao início dos diversos
mandamentos, aparece a cláusula fundamental: «Eu sou o Senhor, teu Deus...» (Êx
20, 2), a qual, imprimindo o sentido original às múltiplas e variadas
prescrições particulares, assegura à moral da Aliança uma fisionomia de
globalidade, unidade e profundidade. A opção fundamental de Israel refere-se
então ao mandamento fundamental (cf. Jos 24, 14-25; Êx 19, 3-8; Miq 6, 8).
Também a moral da Nova Aliança está dominada pelo apelo fundamental de Jesus
para O «seguir» — assim diz Ele ao jovem: «Se queres ser perfeito (...) vem e
segue-me» (Mt 19, 21) —: a este apelo, o discípulo responde com uma
decisão e escolha radical. As parábolas evangélicas do tesouro e da pérola
preciosa, pela qual se vende tudo o que se possui, são imagens eloquentes e
efectivas do carácter radical e incondicionado da opção exigida pelo Reino de
Deus. A radicalidade da escolha de seguir Jesus está maravilhosamente expressa
nas suas palavras: «O que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que
perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á» (Mc 8, 35).
O
apelo de Jesus «vem e segue-Me» indica a máxima exaltação possível da liberdade
do homem e, ao mesmo tempo, atesta a verdade e a obrigação de actos de fé e de
decisões que se podem designar como opção fundamental. Uma análoga exaltação da
liberdade humana, encontramo-la nas palavras de S. Paulo: «Vós, irmãos, fostes
chamados à liberdade» (Gál 5, 13). Mas o Apóstolo acrescenta imediatamente
uma grave admoestação: «Não tomeis, porém, a liberdade como pretexto para
servir a carne». Nesta advertência, ressoam as suas palavras precedentes:
«Cristo nos libertou, para que permaneçamos livres. Ficai, portanto, firmes e
não vos submetais outra vez ao jugo da escravidão» (Gál 5, 1).
O
apóstolo Paulo convida-nos à vigilância: a liberdade está sempre ameaçada pela
insídia da escravidão. E é precisamente este o caso de um acto de fé — no
sentido de uma opção fundamental — que seja separado da escolha dos actos
particulares, conforme opinavam as tendências acima recordadas.
67.
Estas tendências são, pois, contrárias ao ensinamento bíblico, que concebe a
opção fundamental como uma verdadeira e própria escolha da liberdade e une
profundamente uma tal escolha com os actos particulares. Pela opção
fundamental, o homem é capaz de orientar a sua vida e tender, com a ajuda da
graça, para o seu fim, seguindo o apelo divino. Mas esta capacidade
exercita-se, de facto, nas escolhas particulares de actos determinados, pelos
quais o homem se conforma deliberadamente com a vontade, a sabedoria e a lei de
Deus. Portanto, deve-se afirmar que a chamada opção fundamental, na medida em
que se diferencia de uma intenção genérica e, por conseguinte, ainda não
determinada numa forma vinculante da liberdade, realiza-se sempre através de
escolhas conscientes e livres. Precisamente por isso, ela fica revogada quando
o homem compromete a sua liberdade em escolhas conscientes de sentido
contrário, relativas a matéria moral grave.
Separar
a opção fundamental dos comportamentos concretos, significa contradizer a
integridade substancial ou a unidade pessoal do agente moral no seu corpo e
alma. Uma opção fundamental, que não considere explicitamente as
potencialidades que põe em acto e as determinações que a exprimem, não se
ajusta à finalidade racional imanente ao agir do homem e a cada uma das suas
escolhas deliberadas. Na verdade, a moralidade dos actos humanos não se deduz
somente da intenção, da orientação ou opção fundamental, interpretada no
sentido de uma intenção vazia de conteúdos vinculantes bem determinados ou de
uma intenção à qual não corresponda um esforço real nas distintas obrigações da
vida moral. A moralidade não pode ser julgada, se se prescinde da conformidade
ou oposição da escolha deliberada de um comportamento concreto relativamente à
dignidade e à vocação integral da pessoa humana. Cada escolha implica sempre
uma referência da vontade deliberada aos bens e aos males, indicados pela lei
natural como bens a praticar e males a evitar. No caso dos preceitos morais
positivos, a prudência tem sempre a função de verificar a sua oportunidade numa
determinada situação, por exemplo tendo em conta outros deveres quem sabe mais
importantes ou urgentes. Mas os preceitos morais negativos, ou seja, os que
proibem alguns actos ou comportamentos concretos como intrinsecamente maus, não
admitem qualquer legítima excepção; eles não deixam nenhum espaço moralmente
aceitável para a «criatividade» de qualquer determinação contrária. Uma vez
reconhecida, em concreto, a espécie moral de uma acção proibida por uma regra
universal, o único acto moralmente bom é o de obedecer à lei moral e abster-se
da acção que ela proíbe.
68.
Deve-se acrescentar aqui uma importante consideração pastoral. Pela lógica das
posições acima descritas, o homem poderia, em virtude de uma opção fundamental,
permanecer fiel a Deus, independentemente da conformidade ou não de algumas das
suas escolhas e dos seus actos determinados com as normas ou regras morais
específicas. Devido a uma opção originária pela caridade, o homem poderia
manter-se moralmente bom, perseverar na graça de Deus, alcançar a própria
salvação, mesmo se alguns dos seus comportamentos concretos fossem deliberada e
gravemente contrários aos mandamentos de Deus, reafirmados pela Igreja.
Na
verdade, o homem não se perde só pela infidelidade àquela opção fundamental,
pela qual ele se entregou «total e deliberadamente a Deus».113 Em cada pecado mortal cometido
deliberadamente, ele ofende a Deus que deu a lei e torna-se, portanto, culpável
perante toda a lei (cf. Tg 2, 8-11); mesmo conservando- -se na fé,
ele perde a «graça santificante», a «caridade» e a «bem-aventurança eterna».114 «A graça da justificação — ensina o
Concílio de Trento —, uma vez recebida, pode ser perdida não só pela
infidelidade que faz perder a mesma fé, mas também por qualquer outro pecado
mortal».115
Pecado mortal e venial
69.
As considerações em torno da opção fundamental induziram, como acabamos de ver,
alguns teólogos a submeterem também a profunda revisão a distinção tradicional
entre pecados mortais e pecados veniais. Eles sublinham que a oposição à lei de
Deus, que causa a perda da graça santificante — e, no caso de morte neste
estado de pecado, a eterna condenação — pode ser somente o fruto de um acto que
empenhe a pessoa na sua totalidade, isto é, um acto de opção fundamental.
Segundo esses teólogos, o pecado mortal, que separa o homem de Deus,
verificar-se-ia somente na rejeição de Deus, feita a um nível da liberdade que
não é identificável com um acto de escolha, nem alcançável com consciência
reflexa. Neste sentido — acrescentam —, é difícil, pelo menos psicologicamente,
aceitar o facto de que um cristão, que quer permanecer unido a Jesus Cristo e à
Sua Igreja, possa cometer pecados mortais tão fácil e repetidamente, como
indicaria, às vezes, a mesma «matéria» dos seus actos. Seria igualmente difícil
aceitar que o homem é capaz, num breve espaço de tempo, de romper radicalmente
o ligame de comunhão com Deus e, sucessivamente, converter-se a Ele por uma
sincera penitência. É necessário, portanto, — dizem — medir a gravidade do
pecado mais pelo grau de empenho da liberdade da pessoa que realiza um acto do
que pela matéria de tal acto.
70.
A Exortação Apostólica pós-sinodal
Reconciliatio et paenitentia reiterou a importância e a permanente
actualidade da distinção entre pecados mortais e veniais, conforme a tradição
da Igreja. E o Sínodo dos Bispos de 1983, donde procedia tal Exortação, «não só
reafirmou tudo o que foi proclamado no Concílio de Trento sobre a existência e
a natureza dos pecados mortais e veniais, mas quis ainda lembrar que é pecado
mortal aquele que tem por objecto uma matéria grave e que, conjuntamente, é
cometido com plena advertência e consentimento deliberado».116
A
afirmação do Concílio de Trento não considera só a «matéria grave» do pecado
mortal, mas lembra também, como sua condição necessária, «a plena advertência e
o consentimento deliberado». De resto, quer na teologia moral quer na prática
pastoral, são bem conhecidos os casos onde um acto grave, por causa da sua
matéria, não constitui pecado mortal devido à falta de plena advertência ou do
consentimento deliberado de quem o realiza. Por outro lado, «há-de evitar-se
reduzir o pecado mortal a um acto de "opção fundamental" — como hoje
em dia se costuma dizer — contra Deus», entendendo com isso quer um desprezo
explícito e formal de Deus e do próximo, quer uma recusa implícita e não
reflexa do amor. «Dá-se, efectivamente, o pecado mortal também quando o homem,
sabendo e querendo, por qualquer motivo escolhe alguma coisa gravemente desordenada.
Com efeito, numa escolha assim já está incluído um desprezo do preceito divino,
uma rejeição do amor de Deus para com a humanidade e para com toda a criação: o
homem afasta-se de Deus e perde a caridade. A orientação fundamental pode,
pois, ser radicalmente modificada por actos particulares. Podem, sem dúvida,
verificar- -se situações muito complexas e obscuras sob o ponto de vista
psicológico, que influem na imputabilidade subjectiva do pecador. Mas, da
consideração da esfera psicológica, não se pode passar para a constituição de
uma categoria teológica, como é precisamente a da "opção
fundamental", entendendo-a de tal modo que, no plano objectivo, mudasse ou
pusesse em dúvida a concepção tradicional de pecado mortal».117
Deste
modo, a separação entre opção fundamental e escolhas deliberadas de
determinados comportamentos — desordenados em si próprios ou nas circunstâncias
— que não a poriam em causa, supõe o desconhecimento da doutrina católica sobre
o pecado mortal: «Com toda a tradição da Igreja, chamamos pecado mortal a este
acto, pelo qual o homem, com liberdade e advertência rejeita Deus, a sua lei, a
aliança de amor que Deus lhe propõe, preferindo voltar-se para si mesmo, para
qualquer realidade criada e finita, para algo contrário ao querer divino
(conversio ad creaturam). Isto pode acontecer de modo directo e formal, como
nos pecados de idolatria, apostasia e ateísmo; ou de modo equivalente, como em
qualquer desobediência aos mandamentos de Deus em matéria grave».118
(Nota: Revisão da tradução para português por ama)
______________________________________________________
Notas (italiano):
108 Cf S. Tommaso d'Aquino, De Ventate, q.
17, a. 4.
109 Conc. Ecum. Vat. II, Cost. past. sulla
Chiesa nel mondo contemporaneo Gaudium et spes, 16.
110 Cf S. Tommaso d'Aquino, Summa
Theologiae, II-II, q. 45, a. 2.
111 Dich. sulla libertà religiosa
Dignitatis humanae, 14.
112 Conc. Ecum. Vat. II, Cost. dogm. sulla
Divina Rivelazione Dei Verbum, 5; cf Conc. Ecum. Vat. I, Cost. dogm. sulla fede
cattolica Dei Filius, cap. 3: DS, 3008.
113 Conc. Ecum. Vat. II, Cost. dogm. sulla
Divina Rivelazione Dei Verbum, 5; cf S. Congregazione per la Dottrina della
Fede, Dich. su alcune questioni di etica sessuale Persona humana (29 dicembre
1975), 10: AAS 68 (1976), 88-90.
114 Cf Esort. ap. post-sinodale
Reconciliatio et paenitentia (2 dicembre 1984), 17: AAS 77 (1985), 218-223.
115 Sess. VI, Decr. sulla giustificazione
Cum hoc tempore, cap. 15: DS, 1544; can. 19: DS, 1569.
116 Esort. ap. post-sinodale Reconciliatio
et paenitentia (2 dicembre 1984), 17: AAS 77 (1985), 221.
117 Ibid.: l. c., 223.
118 Esort. ap. post-sinodale Reconciliatio
et paenitentia (2 dicembre 1984), 17: AAS 77 (1985), 222.
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