Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Jo 20, 1-31
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Evangelho: Jo 20, 1-31
1 No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro, de manhã, sendo ainda escuro, e viu a pedra retirada do sepulcro. 2 Correu então, e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo a quem Jesus amava, e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos puseram».3 Partiu, pois, Pedro com o outro discípulo e foram ao sepulcro. 4 Corriam ambos juntos, mas o outro discípulo corria mais do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. 5 Tendo-se inclinado, viu os lençóis no chão, mas não entrou. 6 Chegou depois Simão Pedro, que o seguia, entrou no sepulcro e viu os lençóis postos no chão, 7 e o sudário que estivera sobre a cabeça de Jesus, que não estava com os lençóis, mas enrolado num lugar à parte. 8 Entrou também, então, o outro discípulo que tinha chegado primeiro ao sepulcro. Viu e acreditou. 9 Com efeito, ainda não entendiam a Escritura, segundo a qual Ele devia ressuscitar dos mortos. 10 Depois os discípulos voltaram para casa. 11 Entretanto, Maria estava da parte de fora do sepulcro a chorar. Enquanto chorava, inclinou-se para o sepulcro 12 e viu dois anjos vestidos de branco, sentados no lugar onde fora posto o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. 13 Eles disseram-lhe: «Mulher, porque choras?». Respondeu-lhes: «Porque levaram o meu Senhor e não sei onde O puseram». 14 Ditas estas palavras, voltou-se para trás e viu Jesus de pé, mas não sabia que era Jesus. 15 Jesus disse-lhe: «Mulher, porque choras? A quem procuras?». Ela, julgando que era o hortelão, disse-Lhe: «Senhor, se tu O levaste, diz-me onde O puseste; eu irei buscá-l'O». 16 Jesus disse-lhe: «Maria!». Ela, voltando-se, disse-Lhe em hebreu: «Rabboni!», 17 Jesus disse-lhe: «Não Me retenhas, porque ainda não subi para Meu Pai; mas vai a Meus irmãos e diz-lhes que subo para Meu Pai e vosso Pai, para Meu Deus e vosso Deus». 18 Foi Maria Madalena anunciar aos discípulos: «Vi o Senhor!», e as coisas que Ele lhe disse. 19 Chegada a tarde daquele mesmo dia, que era o primeiro da semana, e estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam juntos, por medo dos judeus, foi Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!». 20 Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se muito ao ver o Senhor. 21 Ele disse-lhes novamente: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também vos envio a vós». 22 Tendo dito esta palavras, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo. 23 Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». 24 Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. 25 Os outros discípulos disseram-lhe: «Vimos o Senhor!». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas Suas mãos a abertura dos cravos, se não meter a minha mão no Seu lado, não acreditarei». 26 Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, colocou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». 27 Em seguida disse a Tomé: «Mete aqui o teu dedo e vê as Minhas mãos, aproxima também a tua mão e mete-a no Meu lado; e não sejas incrédulo, mas fiel!». 28 Respondeu-Lhe Tomé: «Meu Senhor e Meu Deus!». 29 Jesus disse-lhe: «Tu acreditaste, Tomé, porque Me viste; bem-aventurados os que acreditaram sem terem visto». 30 Outros muitos prodígios fez ainda Jesus na presença de Seus discípulos, que não foram escritos neste livro. 31 Estes, porém, foram escritos a fim de que acrediteis que Jesus é o Messias, Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em Seu nome.
Ioannes Paulus PP. II
Redemptoris missio
sobre a Validade permanente
do Mandato Missionário
/…2
A Igreja sinal e instrumento de
salvação
9.
A primeira beneficiária da salvação é a Igreja: Cristo adquiriu-a com o Seu
sangue (cf. At 20, 28) e tornou-a Sua cooperadora na obra da
salvação universal. Com efeito, Cristo vive nela, é o seu Esposo, realiza o seu
crescimento, e cumpre a Sua missão através dela.
O
Concílio deu grande realce ao papel da Igreja, em favor da salvação da
humanidade. Enquanto reconhece que Deus ama todos os homens e lhes dá a
possibilidade de se salvarem (cf. 1 Tim 2, 4), 15 a Igreja professa que Deus constituiu
Cristo como único mediador e que ela própria foi posta como instrumento
universal de salvação. 16 «Todos os homens, pois, são chamados a esta católica
unidade do Povo de Deus (...) à qual, de diversos modos, pertencem ou estão
ordenados quer os fiéis católicos, quer os outros crentes em Cristo, quer
universalmente todos os homens, chamados à salvação pela graça de Deus». 17 É necessário manter unidas, estas duas
verdades: a real possibilidade de salvação em Cristo para todos os homens, e a
necessidade da Igreja para essa salvação. Ambas facilitam a compreensão do
único mistério salvífico, permitindo experimentar a misericórdia de Deus e a
nossa responsabilidade. A salvação, que é sempre um dom do Espírito, exige a
colaboração do homem, para se salvar tanto a si próprio como aos outros. Assim
o quis Deus, e por isso estabeleceu e comprometeu a Igreja no plano da salvação.
«Este povo messiânico — diz o Concílio — estabelecido por Cristo como uma
comunhão de vida, amor e verdade, serve também, nas mãos d'Ele, de instrumento
da redenção universal, sendo enviado a todo o mundo, como luz desse mundo e sal
da terra». 18
A salvação é oferecida a todos os
homens
10.
A universalidade da salvação em Cristo não significa que ela se destina apenas
àqueles que, de maneira explícita, crêem em Cristo e entraram na Igreja. Se é
destinada a todos, a salvação deve ser posta concretamente à disposição de
todos. É evidente, porém, que, hoje como no passado, muitos homens não têm a
possibilidade de conhecer ou aceitar a revelação do Evangelho, e de entrar na
Igreja. Vivem em condições sócio-culturais que não o permitem, e frequentemente
foram educados noutras tradições religiosas. Para eles, a salvação de Cristo
torna-se acessível em virtude de uma graça que, embora dotada de uma misteriosa
relação com a Igreja, todavia não os introduz formalmente nela, mas ilumina
convenientemente a sua situação interior e ambiental. Esta graça provém de
Cristo, é fruto do Seu sacrifício e é comunicada pelo Espírito Santo: ela
permite a cada um alcançar a salvação, com a sua livre colaboração.
Por
isso o Concílio, após afirmar a dimensão central do Mistério Pascal, diz: «isto
não vale apenas para aqueles que crêem em Cristo, mas para todos os homens de
boa vontade, no coração dos quais opera invisivelmente a graça. Na verdade, se
Cristo morreu por todos e a vocação última do homem é realmente uma só, isto é,
a divina, nós devemos acreditar que o Espírito Santo oferece a todos, de um
modo que só Deus conhece, a possibilidade de serem associados ao Mistério Pascal».
19
«Não
podemos calar-nos» (at 4, 20)
11.
Que dizer então das objecções, atrás referidas, relativamente à missão ad
gentes? Respeitando todas as crenças e todas as sensibilidades, devemos afirmar
antes de mais, com simplicidade, a nossa fé em Cristo, único Salvador do homem
— fé que recebemos como um dom do Alto, sem mérito algum da nossa parte.
Dizemos com S. Paulo: «eu não me envergonho do Evangelho, o qual é poder de
Deus para salvação de todo o crente» (Rm 1, 16). Os mártires
cristãos de todos os tempos — também do nosso — deram e continuam a dar a vida
para testemunhar aos homens esta fé, convencidos de que cada homem necessita de
Jesus Cristo, o Qual, destruindo o pecado e a morte, reconciliou os homens com
Deus.
Cristo
proclamou-se Filho de Deus, intimamente unido ao Pai e, como tal, foi
reconhecido pelos discípulos, confirmando as suas palavras com milagres e
sobretudo com a ressurreição. A Igreja oferece aos homens o Evangelho,
documento profético, capaz de corresponder às exigências e aspirações do
coração humano: é e será sempre a «Boa Nova». A Igreja não pode deixar de
proclamar que Jesus veio revelar a face de Deus, e merecer, pela cruz e
ressurreição, a salvação para todos os homens.
À
pergunta porquê a missão?, respondemos, com a fé e a experiência da Igreja, que
abrir-se ao amor de Cristo é a verdadeira libertação. N'Ele, e só n'Ele, somos
libertados de toda a alienação e extravio, da escravidão ao poder do pecado e
da morte. Cristo é verdadeiramente «a nossa paz» (Ef 2,14), e «o
amor de Cristo nos impele» (2 Cor 5, 14), dando sentido e alegria à
nossa vida. A missão é um problema de fé, é a medida exacta da nossa fé em
Cristo e no Seu amor por nós.
A
tentação hoje é reduzir o cristianismo a uma sabedoria meramente humana, como
se fosse a ciência do bom viver. Num mundo fortemente secularizado, surgiu uma «gradual
secularização da salvação», onde se procura lutar, sem dúvida, pelo homem, mas
por um homem dividido a meio, reduzido unicamente à dimensão horizontal. Ora
nós sabemos que Jesus veio trazer a salvação integral, que abrange o homem todo
e todos os homens, abrindo-lhes os horizontes admiráveis da filiação divina.
Porquê
a missão? Porque a nós, como a S. Paulo, «foi-nos dada esta graça de anunciar
aos gentios a insondável riqueza de Cristo» (Ef 3, 8). A novidade de
vida n'Ele é «Boa Nova» para o homem de todos os tempos: a ela todos são
chamados e destinados. Todos, de facto, a buscam, mesmo se às vezes
confusamente, e têm o direito de conhecer o valor de tal dom e aproximar-se
dele. A Igreja, e, nela, cada cristão, não pode esconder nem guardar para si
esta novidade e riqueza, recebida da bondade divina para ser comunicada a todos
os homens.
Eis
por que a missão, para além do mandato formal do Senhor, deriva ainda da
profunda exigência da vida de Deus em nós. Aqueles que estão incorporados na
Igreja Católica devem-se sentir privilegiados, e, por isso mesmo, mais
comprometidos a testemunhar a fé e a vida cristã como serviço aos irmãos e
resposta devida a Deus, lembrados de que «a grandeza da sua condição não se
deve atribuir aos próprios méritos, mas a uma graça especial de Cristo; se não
correspondem a essa graça por pensamentos, palavras e obras, em vez de se salvarem,
incorrem num julgamento ainda mais severo». 20
CAPÍTULO II - O REINO DE DEUS
12.
«Deus, rico em misericórdia, é Aquele que Jesus Cristo nos revelou como Pai.
Foi o Seu próprio Filho Quem, em Si mesmo, no-l'O manifestou e deu a conhecer»,
21 Isto escrevi-o eu, no início
da Encíclica Dives in Misericordia,
mostrando como Cristo é a revelação e a encarnação da misericórdia do Pai. A
salvação consiste em crer e acolher o mistério do Pai e do Seu amor, que se
manifesta e oferece em Jesus, por meio do Espírito. Assim se cumpre o Reino de
Deus, preparado já no Antigo Testamento, realizado por Cristo e em Cristo,
anunciado a todos os povos pela Igreja, que actua e reza para que ele se
realize de modo perfeito e definitivo.
Na
verdade, o Antigo Testamento atesta que Deus escolheu para Si e formou um povo,
para revelar e cumprir o Seu plano de amor. Mas, ao mesmo tempo, Deus é criador
e Pai de todos os homens, atende às necessidades de cada um, estende a Sua
bênção a todos (cf. Gn 12, 3) e com todos selou uma aliança (cf.
Gn 9, 1-17). Israel faz a experiência de um Deus pessoal e salvador (cf.
Dt 4, 37; 7, 6-8; Is 43, 1-7), do Qual se torna testemunha e porta-voz,
no meio das nações. Ao longo da sua história, Israel toma consciência de que a
sua eleição tem um significado universal (cf por ex.: Is 2, 2-5; 25, 6-8;
60, 1-6; Jer 3, 17; 16, 19).
Cristo torna presente o Reino
13.
Jesus de Nazaré levou o plano de Deus ao seu pleno cumprimento. Depois de ter
recebido o Espírito Santo no baptismo, Ele manifesta a sua vocação messiânica
nestes moldes: percorre a Galileia, «pregando a Boa Nova de Deus: 'Completou-se
o tempo, o Reino de Deus está perto! Arrependei-vos, e acreditai na Boa Nova'» (Mc
1, 14-15; cf. Mt 4, 17; Lc 4, 43). A proclamação e a instauração do Reino
de Deus são o objectivo da Sua missão: «pois foi para isso que fui enviado» (Lc
4, 43). Mais ainda: o próprio Jesus é a «Boa Nova», como afirma logo no
início da missão, na sinagoga da Sua terra natal, aplicando a Si próprio as
palavras de Isaías, sobre o Ungido, enviado pelo Espírito do Senhor (cf.
Lc 4, 14-21). Sendo Ele a «Boa Nova», então em Cristo há identidade entre
mensagem e mensageiro, entre o dizer, o fazer e o ser. A força e o segredo da
eficácia da Sua acção estão na total identificação com a mensagem que anuncia:
proclama a «Boa Nova» não só por aquilo que diz ou faz, mas também pelo que é.
O
ministério de Jesus é descrito no contexto das viagens na Sua terra. O
horizonte da missão antes da Páscoa concentra-se em Israel; no entanto, Jesus
oferece um novo elemento de importância capital. A realidade escatológica não
fica adiada para um remoto fim do mundo, mas está próxima e começa já a
cumprir-se. O Reino de Deus aproxima-se (cf. Mc 1, 15), roga-se que
venha (Mt 6, 10), a fé já o descobre operante nos sinais, isto é,
nos milagres (cf. Mt 11, 4-5), nos exorcismos (cf. Mt 12,
25-28), na escolha dos Doze (cf. Mc 3, 13-19), no anúncio de
Boa Nova aos pobres (cf. Lc 4, 18). Nos encontros de Jesus com os
pagãos, fica claro que o acesso ao Reino se faz pela fé e conversão (cf.
Mc 1, 15), e não por mera proveniência étnica.
O
Reino, inaugurado por Jesus, é o Reino de Deus: o próprio Jesus revela Quem é
este Deus, para o Qual usa a expressão familiar «Aba», Pai (Mc 14, 36).
Deus, revelado especialmente nas parábolas (cf. Lc 15, 3-32; Mt 20, 1-16),
é sensível às necessidades e aos sofrimentos do homem: um Pai cheio de amor e
compaixão, que perdoa e dá gratuitamente os benefícios que Lhe pedem.
S.
João diz-nos que «Deus é amor» (1 Jo 4, 8.16). Todo o homem, por
isso, é convidado a «converter-se» e a «crer» no amor misericordioso de Deus
por ele: o Reino crescerá na medida em que cada homem aprender a dirigir-se a
Deus, na intimidade da oração, como a um Pai (cf. Lc 11, 2; Mt 23, 9),
e se esforçar por cumprir a Sua vontade (cf. Mt 7, 21).
Características e exigências do Reino
14.
Jesus revela progressivamente as características e as exigências do Reino,
através das suas palavras, das suas obras e da sua pessoa.
O
Reino de Deus destina-se a todos os homens, pois todos foram chamados a
pertencer-lhe. Para sublinhar este aspecto, Jesus aproximou-se sobretudo
daqueles que eram marginalizados pela sociedade, dando-lhes preferência, ao
anunciar a Boa Nova. No início do Seu ministério, proclama: fui enviado a
anunciar a Boa Nova aos pobres (cf. Lc 4, 18). As vítimas da
rejeição e do desprezo, declara: «bem-aventurados vós, os pobres» (Lc 6,
20), fazendo-lhes, inclusive, sentir e viver já uma experiência de
libertação, estando com eles, partilhando a mesma mesa (cf. Lc 5, 30; 15,
2), tratando-os como iguais e amigos (cf. Lc 7, 34),
procurando que se sentissem amados por Deus, e revelando deste modo imensa
ternura pelos necessitados e pecadores (cf. Lc 15, 1-32).
A
libertação e a salvação, oferecidas pelo Reino de Deus, atingem a pessoa humana
tanto nas suas dimensões físicas como espirituais. Dois gestos caracterizam a
missão de Jesus: curar e perdoar. As múltiplas curas provam a Sua grande
compaixão face às misérias humanas; mas significam também que, no Reino de
Deus, não haverá doenças nem sofrimentos, e que a Sua missão, desde o início,
visa libertar as pessoas daqueles. Na perspectiva de Jesus, as curas são também
sinal da salvação espiritual, isto é, da libertação do pecado Realizando gestos
de cura, Jesus convida à fé, à conversão, ao desejo do perdão. (cf. Lc 5,
24) Recebida a fé, a cura impele a ir mais longe: introduz na salvação (cf.
Lc 18, 42-43). Os gestos de libertação da possessão do demónio, mal
supremo e símbolo do pecado e da rebelião contra Deus, são sinais de que o «Reino
de Deus chegou até vós» (Mt 12, 28).
15.
O reino pretende transformar as relações entre os homens, e realiza-se
progressivamente à medida que estes aprendem a amar, perdoar, a servir-se
mutuamente. Jesus retoma toda a Lei, centrando-a no mandamento do amor (cf.
Mt 22, 34-40; Lc 10, 25-28). Antes de deixar os seus, dá-lhes um «mandamento
novo»: «amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 13, 34; cf. 15, 12).
O amor com que Jesus amou o mundo tem a sua expressão suprema, no dom da Sua
vida pelos homens (cf. Jo 15, 13), que manifesta o amor que o Pai
tem pelo mundo (cf. Jo 3, 16). Por isso a natureza do Reino é a
comunhão de todos os seres humanos entre si e com Deus.
O
Reino diz respeito a todos: às pessoas, à sociedade, ao mundo inteiro.
Trabalhar pelo Reino significa reconhecer e favorecer o dinamismo divino, que
está presente na história humana e a transforma. Construir o Reino quer dizer trabalhar
para a libertação do mal, sob todas as suas formas. Em resumo, o Reino de Deus
é a manifestação e a actuação do Seu desígnio de salvação, em toda a sua
plenitude.
Em Cristo ressuscitado, o Reino
cumpre-se e é proclamado
16.
Ao ressuscitar Jesus dos mortos, Deus venceu a morte, e n'Ele inaugurou
definitivamente o Seu Reino. Durante a vida terrena, Jesus é o profeta do Reino
e, depois da Sua paixão, ressurreição e ascensão aos céus, participa do poder
de Deus, e do Seu domínio sobre o mundo (cf Mt 28, 18; At 2, 36; Ef 1,
18-21). A ressurreição confere à mensagem de Cristo, e a toda a Sua acção
e missão, um alcance universal. Os discípulos constatam que o Reino já está
presente na pessoa de Jesus, e pouco a pouco vai-se instaurando no homem e no mundo,
por uma misteriosa ligação com a Sua pessoa. Assim depois da ressurreição, eles
pregam o Reino, anunciando a morte e a ressurreição de Jesus; Filipe, na
Samaria, «anunciava a Boa Nova do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo» (At
8, 12). Paulo, em Roma, «anunciava o Reino de Deus e ensinava o que diz
respeito ao Senhor Jesus Cristo» (At 28, 31). Também os primeiros
cristãos anunciam «o Reino de Cristo e de Deus» (Ef 5, 5; cf. Ap 11, 15;
12, 10), ou então «o Reino eterno de Nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo»
(2 Ped 1, 11). Sobre o anúncio de Jesus Cristo, com o Qual o Reino
se identifica, se concentra a pregação da Igreja primitiva. Como outrora, é
preciso unir hoje o anúncio do Reino de Deus (o conteúdo do «querigma» de
Jesus) e a proclamação da vinda de Jesus Cristo (o «querigma» dos apóstolos).
Os dois anúncios completam-se e iluminam-se mutuamente.
O Reino em relação a Cristo e à Igreja
17.
Hoje fala-se muito do Reino, mas nem sempre em consonância com o sentir da
Igreja. De facto, existem concepções de salvação e missão que podem ser
designadas «antropocêntricas», no sentido redutivo da palavra, por se
concentrarem nas necessidades terrenas do homem. Nesta perspectiva, o Reino
passa a ser uma realidade totalmente humanizada e secularizada, onde o que
conta são os programas e as lutas para a libertação socioeconómica, política e
cultural, mas sempre num horizonte fechado ao transcendente. Sem negar que, a
este nível, também existem valores a promover, todavia estas concepções
permanecem nos limites de um reino do homem, truncado nas suas mais autênticas
e profundas dimensões, espelhando-se facilmente numa das ideologias de
progresso puramente terreno. O Reino de Deus, pelo contrário, «não é deste
mundo (...) não é daqui debaixo» (Jo 18, 36).
Existem
também concepções que propositadamente colocam o acento no Reino,
autodenominando-se de «reino-cêntricas», pretendendo com isso fazer ressaltar a
imagem de uma Igreja que não pensa em si, mas dedica-se totalmente a
testemunhar e servir o Reino. E uma «Igreja para os outros» — dizem — como
Cristo é o homem para os outros. A tarefa da Igreja é orientada num duplo
sentido: por um lado promover os denominados «valores do Reino», como a paz, a
justiça, a liberdade, a fraternidade, por outro, favorecer o diálogo entre os
povos, as culturas, as religiões, para que, num mútuo enriquecimento, ajudem o
mundo a renovar-se e a caminhar cada vez mais na direcção do Reino.
Ao
lado de aspectos positivos, essas concepções revelam frequentemente outros
negativos. Antes de mais, silenciam o que se refere a Cristo: o Reino, de que
falam, baseia-se num «teocentrismo», porque — como dizem — Cristo não pode ser
entendido por quem não possui a fé n'Ele, enquanto povos, culturas e religiões
se podem encontrar na mesma e única realidade divina, qualquer que seja o seu
nome. Pela mesma razão, realçam o mistério da criação, que se reflecte na
variedade de culturas e crenças, mas omitem o mistério da redenção. Mais ainda,
o Reino, tal como o entendem eles, acaba por marginalizar ou desvalorizar a
Igreja, como reacção a um suposto eclesio-centrismo do passado, por
considerarem a Igreja apenas um sinal, aliás passível de ambiguidade.
18.
Ora este não é o Reino de Deus, que conhecemos pela Revelação: ele não pode ser
separado de Cristo nem da Igreja.
Como
já se disse, Cristo não só anunciou o Reino, mas, n'Ele, o próprio Reino se
tornou presente e plenamente se realizou. E não apenas através das Suas
palavras e obras: «o Reino manifesta-se principalmente na própria pessoa de
Cristo, Filho de Deus e Filho do Homem, que veio 'para servir e dar a Sua vida
em resgate por muitos' (Mc 10, 45)». 22
O Reino de Deus não é um conceito, uma doutrina, um programa sujeito a livre
elaboração, mas é, acima de tudo, uma Pessoa que tem o nome e o rosto de Jesus
de Nazaré, imagem do Deus invisível. 23
Se separarmos o Reino, de Jesus, ficaremos sem o Reino de Deus por Ele pregado,
acabando por se distorcer quer o sentido do Reino, que corre o risco de se
transformar numa meta puramente humana ou ideológica, quer a identidade de
Cristo, que deixa de aparecer como o Senhor, a Quem tudo se deve submeter (cf.
1 Cor 15, 27).
De
igual modo, não podemos separar o Reino, da Igreja. Com certeza que esta não é
fim em si própria, uma vez que se ordena ao Reino de Deus, do qual é princípio,
sinal e instrumento. Mesmo sendo distinta de Cristo e do Reino, a Igreja
todavia está unida indissoluvelmente a ambos. Cristo dotou a Igreja, Seu Corpo,
da plenitude de bens e de meios da salvação; o Espírito Santo reside nela, dá-lhe
a vida com os Seus dons e carismas, santifica, guia e renova-a continuamente.
24 Nasce daí uma relação única e singular que, mesmo sem excluir a obra de
Cristo e do Espírito fora dos confins visíveis da Igreja, confere a esta um
papel específico e necessário. Disto provém a ligação especial da Igreja com o
Reino de Deus e de Cristo, que ela tem «a missão de anunciar e estabelecer em
todos os povos». 25
19.
Nesta visão de conjunto, é que se compreende a realidade do Reino. É verdade
que ele exige a promoção dos bens humanos e dos valores, que podem mesmo ser
chamados «evangélicos», porque intimamente ligados à Boa Nova. Mas essa
promoção, que a Igreja também toma a peito realizar, não deve ser separada nem
contraposta às outras suas tarefas fundamentais, como são o anúncio de Cristo e
Seu Evangelho, a fundação e desenvolvimento de comunidades que actuem entre os
homens a imagem viva do Reino. Isto não nos deve fazer recear que se possa cair
numa forma de eclesio-centrismo. Paulo VI, que afirmou existir «uma profunda
ligação entre Cristo, a Igreja e a evangelização», 26 disse também que a Igreja «não é fim em si própria,
pelo contrário, deseja intensamente ser toda de Cristo, em Cristo e para
Cristo, e toda dos homens, entre os homens e para os homens». 27
(Nota: Revisão da tradução para português por ama)
______________________________
Notas:
15 Cf. Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium,
14-17; Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 3.
16 Cf. Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 48;
Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 43; Decreto
sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 7. 21.
17 Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 13.
18 ibid., 9.
19 Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo
Gaudium et spes, 22.
20 Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja
Lumen gentium, 14.
21 Carta Enc. Dives in misericordia, 1: l.c., 1177.
22 Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja
Lumen gentium, 5.
23 Cf. Conc. ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja
no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 22.
24 Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja
Lumen gentium 4.
25 ibid., 5.
26 Exort. Ap. Evangelii nuntiandi, 16: l.c., 15.
27 Discurso de Abertura da III Sessão do Conc. Ecum. Vat.
II, 14 de Setembro de 1904: AAS 56 (1964) 810.
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