Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Jo 16, 5-33
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Evangelho: Jo 16, 5-33
5 «Agora vou para Aquele que Me enviou e nenhum de vós Me pergunta: Para
onde vais? 6 Mas, porque vos disse estas coisas a tristeza encheu o vosso
coração. 7 «Contudo, digo-vos a verdade: A vós convém que Eu vá, porque se não
for, o Paráclito não virá a vós; mas, se for, Eu vo-l'O enviarei. 8 Ele, quando
vier, convencerá o mundo quanto ao pecado, à justiça e ao juízo. 9 Quanto ao
pecado, porque não creram em Mim; 10 quanto à justiça, porque vou para o Pai e
vós não Me vereis mais; 11 quanto ao juízo, porque o príncipe deste mundo já
está julgado. 12 Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não as podeis
compreender agora. 13 Quando vier, porém, o Espírito da Verdade, Ele vos guiará
no caminho da verdade total, porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que
tiver ouvido e anunciar-vos-á as coisas que estão para vir. 14 Ele Me
glorificará, porque receberá do que é Meu e vo-lo anunciará. 15 Tudo quanto o
Pai tem é Meu. Por isso Eu vos disse que Ele receberá do que é Meu e vo-lo
anunciará. 16 «Um pouco, e já não Me vereis; outra vez
um pouco, e ver-Me-eis, porque vou para o Pai». 17 Disseram então entre si
alguns dos Seus discípulos: «Que é isto que Ele nos diz: Um pouco, e já não Me
vereis, e outra vez um pouco, e ver-Me-eis? Que significa também: Porque vou
para o Pai?». 18 Diziam pois: «Que é isto que Ele diz: Um pouco? Não sabemos o
que Ele quer dizer».19 Jesus, conhecendo que queriam interrogá-l'O, disse-lhes:
«Vós perguntais uns aos outros porque é que Eu disse: Um pouco, e já não Me
vereis, e outra vez um pouco, e ver-Me-eis.20 Em verdade, em verdade vos digo
que haveis de chorar e gemer, e o mundo se há-de alegrar; haveis de estar
tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria. 21 A mulher,
quando dá à luz, está em sofrimento, porque chegou a sua hora, mas, depois que
deu à luz a criança, já não se lembra da sua aflição, pela alegria que sente de
ter nascido um homem para o mundo. 22 Vós, pois, também estais agora tristes,
mas hei-de ver-vos de novo e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos tirará
a vossa alegria. 23 Naquele dia, não Me interrogareis sobre nada. «Em verdade,
em verdade vos digo que, se pedirdes a Meu Pai alguma coisa em Meu nome, Ele
vo-la dará. 24 Até agora não pedistes nada em Meu nome; pedi e recebereis, para
que a vossa alegria seja completa. 25 «Disse-vos estas coisas em parábolas. Mas
vem o tempo em que não vos falarei já por parábolas, mas vos falarei
abertamente do Pai. 26 Nesse dia pedireis em Meu nome, e não vos digo que
hei-de rogar ao Pai por vós, 27 porque o próprio Pai vos ama, porque vós Me
amastes e acreditastes que saí do Pai. 28 Saí do Pai e vim ao mundo; outra vez
deixo o mundo e vou para o Pai». 29 Os Seus discípulos disseram-Lhe: «Eis que
agora falas claramente e não usas nenhuma parábola. 30 Agora conhecemos que
sabes tudo e que não é necessário que alguém Te interrogue. Por isso cremos que
saíste de Deus».31 Jesus respondeu-lhes: «Credes agora?». 32 «Eis que vem a
hora, e já chegou, em que sereis espalhados cada um para seu lado e em que Me
deixareis só; mas Eu não estou só, porque o Pai está comigo.33 Disse-vos estas
coisas para que tenhais paz em Mim. Haveis de ter aflições no mundo; mas tende
confiança, Eu venci o mundo».
Ioannes Paulus PP. II
Sollicitudo rei socialis
aos
Bispos
aos
Sacerdotes
às
Famílias religiosas
aos
Filhos e Filhas da Igreja
e
a todos os Homens de Boa Vontade
pelo
vigésimo aniversário da Populorum
Progressio
/…2
10.
Como terceiro ponto, a Encíclica trouxe uma contribuição notável de novidade à
doutrina social da Igreja, no seu conjunto, e à própria concepção de
desenvolvimento. Esta novidade pode encontrar-se numa frase, que se lê no
parágrafo conclusivo do documento e que pode ser considerada como a fórmula que
a resume, além de ser aquilo que lhe dá uma classificação histórica: «o
desenvolvimento é o novo nome da paz». 27
Na
realidade, se a questão social adquiriu uma dimensão mundial, foi porque a
exigência de justiça só pode ser satisfeita neste mesmo plano. Não atender a
tal exigência poderia propiciar o irromper duma tentação de resposta violenta,
por parte das vítimas da injustiça, como acontece na origem de muitas guerras.
As populações excluídas da repartição equitativa dos bens, destinados
originariamente a todos, poderiam perguntar-se: por que não responder com a
violência a quantos são os primeiros a tratar-nos com violência? E se a
situação se examinar à luz da divisão do mundo em blocos ideológicos — já
existente em 1967 — com as consequentes repercussões e dependências económicas
e políticas que isso acarreta, o perigo revela-se muito maior.
A
esta primeira consideração sobre o dramático conteúdo da fórmula da Encíclica
acrescenta-se outra, a que o mesmo documento faz alusão: 28 como justificar o facto de que ingentes
somas de dinheiro, que poderiam e deveriam ser destinadas a incrementar o
desenvolvimento dos povos, em vez disso são utilizadas para o enriquecimento de
indivíduos ou grupos, ou então para aumentar os arsenais de armas, quer nos
países desenvolvidos, quer naqueles que estão em vias de desenvolvimento,
alterando assim as verdadeiras prioridades? Isto é ainda mais grave se se
tiverem em conta as dificuldades que, não raro, obstaculizam a passagem directa
dos capitais destinados a prestar ajuda aos países a braços com a necessidade.
Se «o desenvolvimento é o novo nome da paz», a guerra e os preparativos militares
são o maior inimigo do desenvolvimento integral dos povos.
Sendo
assim, à luz da expressão do Papa Paulo VI, somos convidados a rever o conceito
de desenvolvimento, que não coincide certamente com o que algumas vezes se faz,
limitando-se a satisfazer as necessidades materiais, mediante o aumento dos
bens, sem prestar atenção aos sofrimentos da maioria e fazendo do egoísmo das
pessoas e das nações a principal motivação. Como perspicazmente nos recorda a
Carta de São Tiago: é daqui que «vêm as guerras e os conflitos... Das paixões
que lutam nos vossos membros. Cobiçais e não conseguis possuir...» (Tg 4,
1-2).
Pelo
contrário, num mundo diverso, dominado pela solicitude do bem comum de toda a
humanidade, ou seja pela preocupação com o «desenvolvimento espiritual e humano
de todos», e não com a busca do proveito particular, a paz seria possível, como
fruto de uma «justiça mais perfeita entre os homens». 29
Esta
novidade da Encíclica tem também um valor permanente e actual, tomando em conta
a mentalidade de hoje, que é tão sensível ao vínculo que existe entre o
respeito da justiça e a instauração da verdadeira paz.
III. PANORAMA DO MUNDO CONTEMPORÂNEO
11.
Os ensinamentos fundamentais da Encíclica Populorum Progressio tiveram no seu
tempo grande ressonância pelo seu carácter de novidade. O contexto social em
que nós vivemos hoje, porém, não pode dizer-se totalmente idêntico ao de há
vinte anos. E por isso, desejaria agora, com uma breve exposição, deter-me
nalgumas características do mundo contemporâneo, a fim de aprofundar o
ensinamento da Encíclica de Paulo VI, sempre sob o ponto de vista do «desenvolvimento
dos povos».
12.
O primeiro facto a salientar é que as esperanças de desenvolvimento, então bem
vivas, aparecem hoje muito longe da sua realização.
A
este respeito, a Encíclica não alimentava ilusões. A sua linguagem austera, por
vezes dramática, limitava-se a evidenciar a gravidade da situação e a pôr bem
diante da consciência de todos a premente obrigação de contribuírem para a
resolver. Naqueles anos reinava um certo optimismo difundido, quanto à
possibilidade de colmatar, sem esforços excessivos, o atraso económico dos
povos menos favorecidos, de os dotar com infraestruturas e de os assistir no
processo de industrialização.
No
contexto histórico de então, para além dos esforços de cada país, a Organização
das Nações Unidas promoveu consecutivamente dois decénios do desenvolvimento. 30 E, efectivamente, foram tomadas algumas
medidas, bilaterais e multilaterais, com a finalidade de prestar ajuda a
numerosas nações, algumas independentes já havia muito tempo, outras — a maior
parte — acabadas de nascer, como Estados, do processo de descolonização. Por
seu lado, a Igreja sentiu o dever de aprofundar os problemas apresentados por
esta nova situação, pensando em como apoiar, com a sua inspiração religiosa e
humana, estes esforços, para lhes dar uma «alma» e um impulso eficaz.
13.
Não se pode dizer que estas diversas iniciativas religiosas, humanas,
económicas e técnicas tenham sido vãs, uma vez que alguns resultados puderam
ser alcançados. Mas, em linhas gerais, tendo em conta os diversos factores, não
se pode negar que a situação actual do mundo, sob o ponto de vista do
desenvolvimento, nos deixa uma impressão muito negativa.
Por
isso, desejo chamar a atenção para alguns índices genéricos, sem excluir outros
específicos. Não querendo entrar na análise numérica ou estatística, bastará
olhar para a realidade de uma multidão inumerável de homens e de mulheres,
crianças, adultos e anciãos, isto é, de pessoas humanas concretas e
irrepetíveis, que sofrem sob o peso intolerável da miséria. O número daqueles
que não têm esperança, pelo facto de que, em muitas regiões da terra, a sua
situação se agravou sensivelmente, são milhões e milhões. Perante estes dramas
de total indigência e necessidade, em que vivem tantos dos nossos irmãos e
irmãs, é o próprio Senhor Jesus que vem interpelar-nos (cf. Mt 25, 31-46).
14.
A primeira verificação negativa a fazer é a da persistência e, muitas vezes, a
do alargamento, do fosso entre a área do chamado Norte desenvolvido e a do Sul
em vias de desenvolvimento. Esta terminologia geográfica tem apenas valor
indicativo, porque não se pode ignorar que as fronteiras da riqueza e da
pobreza passam pelo interior das próprias sociedades, quer desenvolvidas, quer
em vias de desenvolvimento. De facto, assim como existem desigualdades sociais
até aos extremos da miséria em países ricos, assim, em contraposição, nos
países menos desenvolvidos também se vêem, não raro, manifestações de egoísmo e
de ostentação de riqueza, tão desconcertantes quanto escandalosas.
À
abundância de bens e de serviços disponíveis nalgumas partes do mundo,
sobretudo no Norte desenvolvido, corresponde um inadmissível atraso no Sul; e é
precisamente nesta faixa geopolítica que vive a maior parte do género humano.
Quando
se repara na gama dos diversos sectores — produção e distribuição dos víveres,
higiene, saúde e habitação, disponibilidade de água potável, condições de
trabalho, especialmente feminino, duração da vida e outros índices económicos e
sociais — o quadro, no seu conjunto, apresenta- se desolador, quer
considerando-o em si mesmo, quer em relação aos dados correspondentes dos
países mais desenvolvidos. A palavra «fosso» volta espontaneamente aos lábios.
Talvez
não seja este o termo mais apropriado para designar a verdadeira realidade,
enquanto pode dar a impressão de um fenómeno estacionário. E não é assim. Na
caminhada dos países desenvolvido se em vias de desenvolvimento verificou-se
nestes anos uma diferente velocidade de aceleração, que contribuiu para
aumentar as distâncias. Deste modo, os países em vias de desenvolvimento,
especialmente os mais pobres, encontram-se hoje numa situação de gravíssimo
atraso.
A
isto há que acrescentar ainda as diferenças de cultura e dos sistemas de
valores entre os vários grupos de população, que nem sempre coincidem com o
grau de desenvolvimento económico, mas que contribuem também para criar
distâncias. São estes os elementos e aspectos, que tornam muito mais complexa a
questão social, precisamente porque ela adquiriu uma dimensão universal.
Quando
se olha para as várias partes do mundo, separadas pela crescente distância
desse fosso, e quando se observa que cada uma delas parece seguir um rumo
próprio, com as suas realizações particulares, compreende-se a razão por que na
linguagem corrente se fala de mundos diferentes, dentro do nosso único mundo:
Primeiro Mundo, Segundo Mundo, Terceiro Mundo e, algumas vezes, Quarto Mundo. 31 Expressões como estas, que não pretendem,
por certo, classificar de modo exaustivo todos os países, não deixam de ser
significativas: são o sinal da sensação difundida de que a unidade do mundo,
por outras palavras, a unidade do género humano, está seriamente comprometida.
Esta maneira de falar, para além do seu valor mais ou menos objectivo, encobre
sem dúvida um conteúdo moral, diante do qual a Igreja, que é «sacramento ou
sinal e instrumento... da unidade de todo o género humano», 32 não pode ficar indiferente.
15.
O quadro que acaba de se ser traçado ficaria porém incompleto, se aos «índices
económicos e sociais» do subdesenvolvimento não se juntassem outros índices,
igualmente negativos e até mesmo mais preocupantes, a começar pelos do plano
cultural. Tais são: o analfabetismo, a dificuldade ou impossibilidade de ter
acesso aos níveis superiores de instrução, a incapacidade de participar na
construção da própria Comunidade nacional, as diversas formas de exploração e
de opressão — económicas, sociais, políticas e também religiosas — da pessoa
humana e dos seus direitos, as discriminações de todos os tipos, especialmente
aquela que é mais odiosa, a fundada na diferença de raça. Se é para lamentar
alguma destas pragas em áreas do Norte mais desenvolvido, elas são sem dúvida
mais frequentes, mais duradouras e mais difíceis de eliminar nos países em vias
de desenvolvimento e menos progredidos.
E
é forçoso aqui anotar que, no mundo de hoje, entre os outros direitos, é com
frequência sufocado o direito de iniciativa económica. E, no entanto, trata-se
de um direito importante, não só para os indivíduos singularmente, mas de igual
modo para o bem comum. A experiência demonstra-nos que a negação deste direito
ou a sua limitação, em nome de uma pretensa «igualdade» de todos na sociedade,
é algo que reduz, se é que não chega mesmo a destruir de facto, o espírito de
iniciativa, isto é, a subjectividade criadora do cidadão. Como resultado surge,
deste jeito, não tanto uma verdadeira igualdade, quanto um «nivelamento para
baixo». Em lugar da iniciativa criadora prevalecem a passividade, a dependência
e a submissão ao aparato burocrático que, como único órgão «disponente» e
«decisor» — se não mesmo «possessor» — da totalidade dos bens e dos meios de
produção, faz com que todos fiquem numa posição de dependência quase absoluta,
que é semelhante à tradicional dependência do operário-proletário do capitalismo.
Ora isto gera um sentimento de frustração ou desespero e predispõe para o
desinteresse pela vida nacional, impelindo muitas pessoas para a emigração e
favorecendo em todo o caso uma espécie de emigração «psicológica».
Uma
situação assim tem as suas consequências também sob o ponto de vista dos
«direitos das nações singularmente». Com efeito, acontece com frequência que
uma nação é privada da sua subjectividade, ou seja, da «soberania» que lhe
compete, no sentido económico e mesmo político-social e, de certo modo,
cultural, porque adstrita a uma comunidade nacional onde todas estas dimensões
da vida estão ligadas entre si.
E
preciso recordar sempre, além disto, que nenhum grupo social, por exemplo um
partido, tem o direito de usurpar o papel de guia único, porque isso comporta a
destruição da verdadeira subjectividade da sociedade e das pessoas-cidadãos,
como acontece em todo o género de totalitarismo. Nesta situação o homem e o
povo tornam-se «objecto» apesar de todas as declarações contrárias e das
garantias verbais.
Aqui
neste ponto, é conveniente acrescentar que, no mundo de hoje, há muitas outras
formas de pobreza. Realmente, certas carências ou privações não merecem
porventura este qualificativo? A negação ou a limitação dos direitos humanos —
como, por exemplo, o direito à liberdade religiosa, o direito a participar na
construção da sociedade, a liberdade de associação, ou de constituir
sindicatos, ou de tomar iniciativas em campo económico — não empobrecem elas a
pessoa humana quiçá tanto, se não mais, do que a privação dos bens materiais? E
um desenvolvimento que não tenha em conta o pleno reconhecimento destes
direitos, será deveras um desenvolvimento de dimensões humanas?
Em
poucas palavras, o subdesenvolvimento dos nossos dias não é apenas económico;
mas é também cultural, político e simplesmente humano, como já há vinte anos
evidenciava a Encíclica Populorum
Progressio. De modo que, chegados a este ponto, é forçoso perguntar se a
realidade tão triste de hoje não será, pelo menos em parte, o resultado de uma
concepção demasiado limitada, ou seja, predominantemente económicas do
desenvolvimento.
16.
Impõe-se verificar que, apesar dos louváveis esforços feitos nos últimos dois
decénios, por parte das nações mais desenvolvidas ou em vias de desenvolvimento
e das Organizações internacionais, com o objectivo de encontrar as vias para
sair da situação, ou pelo menos para remediar algum dos seus sintomas, as
condições se agravaram consideravelmente.
As
responsabilidades deste agravamento promanam de causas diversas. Há que apontar
as reais e graves omissões da parte das próprias nações em vias de
desenvolvimento e, de modo especial, da parte daqueles que nas mesmas detêm o
poder económico e político. Por outro lado, não se pode fingir, de modo algum,
que não se vêem as responsabilidades das nações desenvolvidas, que nem sempre,
ou pelo menos não suficientemente, sentiram o dever de prestar ajuda aos países
afastados do mundo do bem-estar, ao qual pertencem.
Todavia,
é necessário denunciar a existência de mecanismos económicos, financeiros e
sociais que, embora conduzidos pela vontade dos homens, funcionam muitas vezes
de maneira quase automática, tornando mais rígidas as situações de riqueza de
uns e de pobreza dos outros. Estes mecanismos, manobrados - de maneira directa
ou indirecta - pelos países mais desenvolvidos, com o seu próprio funcionamento
favorecem os interesses de quem os manobra, mas acabam por sufocar ou
condicionar as economias dos países menos desenvolvidos. Apresenta-se como necessário
submeter mais adiante estes mecanismos a uma análise atenta, sob o aspecto
ético-moral.
Já
a Populorum Progressio previa que com
tais sistemas podia aumentar a riqueza dos ricos, mantendo perdurável a miséria
dos pobres. 33 Houve algo a
comprovar esta previsão, com o aparecimento do chamado Quarto Mundo.
17.
Embora a sociedade mundial ofereça aspectos de fragmentação, o que se exprime
com os nomes convencionais de Primeiro, Segundo, Terceiro e mesmo Quarto Mundo,
a interdependência das suas diversas partes permanece sempre muito estreita; e,
quando acontece esta ser dissociada das exigências éticas, isso leva a
consequências funestas para os mais fracos.
Mais
ainda, esta interdependência, por uma espécie de dinâmica interna e sob o
impulso de mecanismos que não se pode deixar de qualificar como perversos,
provoca efeitos negativos até nos países ricos. Mesmo no interior destes países
se verificam, embora em menor escala, as manifestações características do
subdesenvolvimento. Sendo assim, deveria aparecer óbvio que o desenvolvimento
ou se torna comum a todas as partes do mundo, ou então sofre um processo de
regressão mesmo nas zonas caracterizadas por um constante progresso. Este
fenómeno é particularmente indicativo da natureza do desenvolvimento autêntico:
ou nele participam todas as nações do mundo, ou não será na verdade
desenvolvimento.
Entre
os sintomas específicos do subdesenvolvimento, que atingem de maneira crescente
também os povos desenvolvidos, há dois particularmente reveladores de uma situação
dramática. Em primeiro lugar, a crise de habitações (alojamento). Neste Ano
Internacional das pessoas sem-tecto, proclamado pela Organização das Nações
Unidas, a atenção volta-se para os milhões de seres humanos privados de uma
habitação conveniente, ou até mesmo sem qualquer habitação, a fim de despertar
a consciência de todos e encontrar uma solução para este grave problema, que
tem consequências negativas no plano individual, familiar e social. 34
A
falta de habitações verifica-se em plano universal e é devida, em grande parte,
ao fenómeno sempre crescente da urbanização. 35
Até os povos mais desenvolvidos oferecem o triste espectáculo de indivíduos e
de famílias que literalmente lutam para sobreviver, sem um tecto, ou com um
abrigo tão precário que é como se não existisse.
A
falta de habitações, que é um problema de per si muito grave, deve ser
considerada como a sinal e a síntese de uma série de insuficiências económicas,
sociais, culturais ou simplesmente humanas; e, tendo em conta a extensão do
fenómeno, não deveria ser difícil convencermo-nos de quanto estamos longe do
autêntico desenvolvimento dos povos.
(Nota: Revisão da tradução para português por ama)
________________________
Notas:
27. Cf. Carta Enc. Populorum Progressio, 87: l.c., p.
299.
28. Cf. ibid, 53:
l.c., p. 283.
29. Cf. ibid, 76:
l.c., p. 295.
30. Os decénios referem-se aos anos de 1960-1970 e de
1970-1980; está a decorrer actualmente o terceiro decénio ( 1980-1990) .
31. A expressão «Quarto mundo» é usada não só
ocasionalmente para designar os países ditos menos avançados (PMA), mas também
e sobretudo para designar as faixas de grande ou extrema pobreza dos países de
médio e alto rendimento.
32. CONC. ECUM. VATICANO II, Const. dogm. sobre a
Igreja Lumen Gentium, 1.
33. Cf. Carta Enc. Populorum Progressio, 33: l.c., p.
273.
34. Como é sabido, a Santa Sé associou-se à celebração
deste Ano Internacional, com um especial documento da Pontifícia Comissão
«Iustitia et Pax»: Que fizeste do teu irmão sem-tecto? - A Igreja perante a
falta de habitações (27 de Dezembro de 1987).
35. Cf. PAULO VI, Carta Apost. Octogesima Adveniens (
14 de Maio de 1971), 8-9: AAS 63 (1971), pp. 406-408.
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