Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Jo 11, 1-20
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Evangelho: Jo 11, 1-20
1
Estava doente um homem, chamado Lázaro, de Betânia, aldeia de Maria e de Marta,
sua irmã. 2 Maria era aquela que ungiu o Senhor com perfume e Lhe enxugou os
pés com os seus cabelos, cujo irmão Lázaro estava doente. 3 Mandaram, pois,
suas irmãs dizer a Jesus: «Senhor, aquele que amas está doente». 4 Ouvindo
isto, Jesus disse: «Esta doença não é de morte, mas é para glória de Deus, a
fim de que o Filho de Deus seja glorificado por ela». 5 Ora Jesus amava Marta,
sua irmã Maria e Lázaro. 6 Tendo, pois, ouvido que Lázaro estava doente, ficou
ainda dois dias no lugar onde Se encontrava. 7 Depois disto, disse aos Seus
discípulos: «Voltemos para a Judeia». 8 Os discípulos disseram-Lhe: «Mestre,
ainda há pouco os judeus Te quiseram apedrejar, e Tu vais novamente para lá?». 9
Jesus respondeu: «Não são doze as horas do dia? Aquele que caminhar de dia, não
tropeça, porque vê a luz deste mundo; 10 porém, o que andar de noite tropeça,
porque lhe falta a luz». 11 Assim falou, e depois disse-lhes: «Nosso amigo
Lázaro dorme; mas vou despertá-lo». 12 Os Seus discípulos disseram-Lhe:
«Senhor, se ele dorme, também se há-de levantar». 13 Mas Jesus falava da sua
morte; e eles julgavam que falava do repouso do sono. 14 Jesus disse-lhes então
claramente: «Lázaro morreu, 15 e Eu, por vossa causa, estou contente por não
ter estado lá, para que acrediteis; mas vamos ter com ele». 16 Tomé, chamado
Dídimo, disse então aos outros discípulos: «Vamos nós também, para morrer com
Ele». 17 Chegou Jesus, e encontrou-o já há quatro dias no sepulcro. 18 Betânia
distava de Jerusalém cerca de quinze estádios. 19 Muitos judeus tinham ido ter
com Marta e Maria, para as consolarem pela morte de seu irmão. 20 Marta, pois,
logo que ouviu que vinha Jesus, saiu-Lhe ao encontro; e Maria ficou sentada em
casa.
Ioannes
Paulus PP. II
Dominum et vivificantem
sobre
o Espírito Santo
na
Vida da Igreja e do Mundo
/…2
2. Pai, Filho e Espírito Santo
8.
É característica do texto joanino que o Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam
nomeados claramente como Pessoas, a primeira distinta da segunda e da terceira
e estas também distintas entre si. Jesus fala do Espírito Consolador, usando
por mais de uma vez o pronome pessoal «Ele». E, ao mesmo tempo, em todo o
discurso de despedida, torna manifestos aqueles vínculos que unem
reciprocamente o Pai, o Filho e o Paráclito. Assim, «o Espírito... procede do
Pai» 28 e o Pai «dá» o Espírito 29. O Pai «envia» o Espírito em nome do
Filho 30, o Espírito «dá
testemunho» do Filho 31. O Filho
pede ao Pai que envie o Espírito Consolador 32;
mas, além disso, afirma e promete, em relação com a sua «partida» mediante a
Cruz: «Quando eu fôr, vo-lo enviarei» 33.
Portanto, o Pai envia o Espírito Santo com o poder da sua paternidade, como
enviou o Filho 34; mas, ao mesmo
tempo, envia-o, com o poder da Redenção realizada por Cristo — e neste sentido
o Espírito Santo é enviado também pelo Filho: «enviar-vo-lo-ei».
Aqui
neste ponto, é preciso notar que, se todas as outras promessas feitas no
Cenáculo anunciavam a vinda do Espírito Santo para depois da partida de Cristo,
a que é referida por São João no capítulo 16 vv. 7-8 inclui e acentua
claramente a relação de interdependência, que se poderia dizer causal, entre as
manifestações de um e de outro: «Quando eu for, enviar-vo-lo-ei». O Espírito
Santo virá na condição de Cristo partir, mediante a Cruz: virá não só em
seguida, mas por causa da Redenção realizada por Cristo, por vontade e obra do
Pai.
9.
Assim no discurso da Ceia pascal de despedida, atinge-se — por assim dizer — o
ápice da revelação trinitária. Ao mesmo tempo, encontramo-nos no limiar de
eventos definitivos e de palavras supremas, que por fim se traduzirão no grande
mandato missionário, dirigido aos Apóstolos e, mediante eles, à Igreja: «ide,
portanto, e ensinai todas as gentes», mandato que contém, em certo sentido, a
fórmula trinitária do Baptismo: «baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo» 35. A fórmula
reflecte o mistério íntimo de Deus, da vida divina, que é o Pai, o Filho e o
Espírito Santo, divina unidade da Trindade. O discurso de despedida pode ser
lido como uma preparação especial para esta fórmula trinitária, na qual se
exprime o poder vivificante do Sacramento, que opera a participação na vida de
Deus uno e trino, porque confere a graça santificante ao homem, como dom
sobrenatural. Por meio dela o homem é chamado e «tornado capaz» de participar
na imperscrutável vida de Deus.
10.
Na sua vida íntima Deus «é Amor» 36,
amor essencial, comum às três Pessoas divinas: amor pessoal é o Espírito Santo,
como Espírito do Pai e do Filho. Por isso ele «perscruta as profundezas de
Deus» 37, como Amor-Dom incriado.
Pode dizer-se que, no Espírito Santo, a vida íntima de Deus uno e trino se
torna totalmente dom, permuta de amor recíproco entre as Pessoas divinas; e
ainda, que no Espírito Santo Deus «existe» à maneira de Dom. O Espírito Santo é
a expressão pessoal desse doar-se, desse ser-amor 38.
É Pessoa-Amor. É Pessoa-Dom. Temos aqui uma riqueza insondável da realidade e
um aprofundamento inefável do conceito de pessoa em Deus, que só a Revelação
divina nos dá a conhecer.
Ao
mesmo tempo, o Espírito Santo, enquanto consubstancial ao Pai e ao Filho na
divindade, é Amor e Dom (incriado) do qual deriva como de uma fonte (fons
vívus) toda a dádiva em relação às criaturas (dom criado): a doação da
existência a todas as coisas, mediante a criação; e a doação da graça aos
homens, mediante toda a economia da salvação. Como escreve o Apóstolo São
Paulo: «O amor de Deus foi derramado nos nossos corações por meio do Espírito
Santo, que nos foi dado» 39.
3. O dar-se salvífico de Deus no
Espírito Santo
11.
O discurso de despedida de Cristo, durante a Ceia pascal, está em particular
conexão com este «dar» e «dar-se» do Espírito Santo. No Evangelho de São João
descobre-se como que a «lógica» mais profunda do mistério salvífico, contido no
eterno desígnio de Deus, qual expansão da inefável comunhão do Pai, do Filho e
do Espírito Santo. É a «lógica» divina, que leva do mistério da Trindade ao
mistério da Redenção do mundo em Jesus Cristo. A Redenção realizada pelo Filho
nas dimensões da história terrena do homem — consumada aquando da sua
«partida», por meio da Cruz e da Ressurreição — é, ao mesmo tempo, transmitida
ao Espírito Santo com todo o seu poder salvífico: transmitida Àquele que
«receberá do que é meu» 40. As
palavras do texto joanino indicam que, segundo o desígnio divino, a «partida»
de Cristo é condição indispensável para o «envio» e para a vinda do Espírito
Santo; mas dizem também que começa então a nova auto comunicação salvífica de
Deus, no Espírito Santo.
12.
É um novo princípio em relação ao primeiro: àquele princípio essencial do
dar-se salvífico de Deus, que se identifica com o próprio mistério da criação.
Com efeito, lemos já nas primeiras palavras do Livro do Génesis: «No princípio
criou Deus o céu e a terra..., e o espírito de Deus (ruah Elohim) adejava sobre
as águas» 41. Este conceito
bíblico de criação comporta não só o chamamento à existência do próprio ser do
cosmos, ou seja, o dom da existência, mas comporta também a presença do
Espírito de Deus na criação, isto é, o início do comunicar-se salvífico de Deus
às coisas que cria. Isto aplica-se, antes de mais, quanto ao homem, o qual foi
criado à imagem e semelhança de Deus: «Façamos o homem à nossa imagem, à nossa
semelhança» 42. «Façamos»:
poderá, acaso, dizer-se que o plural, usado aqui pelo Criador ao referir-se a
si mesmo, insinua já, de algum modo, o mistério trinitário, a presença da
Santíssima Trindade na obra da criação do homem? O leitor cristão, que já
conheça a revelação deste mistério, pode descobrir um seu reflexo também nessas
palavras. Em todo o caso, o conteúdo do Livro do Génesis permite-nos ver na
criação do homem o primeiro princípio do dom salvífico de Deus, na medida
daquela «imagem e semelhança» de si mesmo, por Ele outorgada ao homem.
13.
Parece, portanto, que as palavras pronunciadas por Jesus no discurso de
despedida devem ser relidas também em conexão com aquele «princípio» tão
longínquo, mas fundamental, que conhecemos pelo Livro do Génesis. «Se eu não
for, o Consolador não virá a vós; mas, se eu for, enviar-vo-lo-ei». Ao
referir-se à sua «partida» como condição da «vinda» do Consolador, Cristo
relaciona o novo princípio da comunicação salvífica de Deus no Espírito Santo
com o mistério da Redenção. Este é um novo princípio antes de mais nada, porque
entre o primeiro princípio e toda a história do homem — a começar da queda
original — se interpôs o pecado, que está em contradição com a presença do
Espírito de Deus na criação e está, sobretudo, em contradição com a comunicação
salvífica de Deus ao homem. São Paulo escreve que, precisamente por causa do
pecado, «a criação ... foi submetida à caducidade..., geme e sofre no seu
conjunto as dores do parto até ao presente» e «aguarda ansiosamente e revelação
dos filhos de Deus» 43.
14.
Por isso Jesus Cristo diz no Cenáculo: «É bem para vós que eu vá...»; «Se eu for,
enviar-vo-lo-ei» 44. A «partida»
de Cristo mediante a Cruz tem a potência da Redenção; e isto significa também
uma nova presença do Espírito de Deus na criação: o novo princípio do
comunicar-se de Deus ao homem no Espírito Santo. «Porque vós sois seus filhos,
Deus enviou aos vossos corações o Espírito do seu Filho que clama: Aba! Pai!» —
escreve o apóstolo São Paulo, na Carta aos Gálatas 45. O Espírito Santo é o Espírito do Pai, como
testemunham as palavras do discurso de despedida, no Cenáculo. Ele é,
simultaneamente, o Espírito do Filho: é o Espírito de Jesus Cristo, como viriam
a testemunhar os Apóstolos e, de modo particular, Paulo de Tarso 46. No facto de enviar este Espírito «aos
nossos corações» começa a realizar-se o que «a própria criação aguarda
ansiosamente» como lemos na Carta aos Romanos.
O
Espírito Santo vem «à custa» da «partida» de Cristo. Se essa «partida»,
anunciada no Cenáculo, causava a tristeza dos Apóstolos 47, — a qual devia atingir o seu ponto culminante
na paixão e na morte de Sexta-Feira Santa — contudo, a mesma «tristeza havia de
converter-se em alegria» 48.
Cristo, efectivamente, inserirá na sua «partida» redentora a glória da
ressurreição e da ascensão ao Pai. Portanto, a tristeza através da qual
transparece a alegria, é a parte que cabe aos Apóstolos na conjuntura da
«partida» do seu Mestre, uma partida «benéfica», porque graças a ela havia de
vir um outro «Consolador» 49. À
custa da Cruz, operadora da Redenção, vem o Espírito Santo, pelo poder de todo
o mistério pascal de Jesus Cristo; e vem para permanecer com os Apóstolos desde
o dia de Pentecostes, para permanecer com a Igreja e na Igreja e, mediante ela,
no mundo.
Deste
modo, realiza-se definitivamente aquele novo princípio da comunicação de Deus
uno e trino no Espírito Santo, por obra de Jesus Cristo, Redentor do homem e do
mundo.
4. O Messias, «ungido com o Espírito
Santo»
15.
Realizou-se também cabalmente a missão do Messias, isto é, daquele que recebera
a plenitude do Espírito Santo, em favor do Povo eleito por Deus e de toda a
humanidade. «Messias», literalmente, significa «Cristo», isto é, «Ungido»; e na
história da salvação significa «ungido com o Espírito Santo». Esta era a
tradição profética do Antigo Testamento. Atendo-se a ela, Simão Pedro, em casa
de Cornélio, diria: «Vós conheceis o que aconteceu por toda a Judeia... depois
do baptismo pregado por João: como Deus ungiu com o Espírito Santo e com o
poder a Jesus de Nazaré» 50.
Destas
palavras de São Pedro, e de muitas outras semelhantes 51, é preciso remontar, antes de mais, à
profecia de Isaías, algumas vezes chamada «o quinto evangelho», ou então «o
evangelho do Antigo Testamento». Isaías, fazendo alusão à vinda dum personagem
misterioso, que a revelação neo-testamentária identificará em Jesus, liga a sua
pessoa e a sua missão a uma acção particular do Espírito de Deus — Espírito do
Senhor. São estas as palavras do Profeta:
«Despontará
um rebento do tronco de Jessé, e um renovo brotará da sua raiz.
Sobre
ele pousará o espírito do Senhor, espírito de sabedoria e de entendimento, espírito
de conselho e de fortaleza, espírito de conhecimento e de temor de Deus, o no
temor do Senhor está a sua inspiração» 52.
Este
texto é importante para toda a pneumatologia do Antigo Testamento, porque
constitui como que uma ponte entre o antigo conceito bíblico do «espírito»,
entendido primeiro que tudo como «sopro carismático», e o «Espírito» como
pessoa e como dom, dom para a pessoa. O Messias da estirpe de David («do tronco
de Jessé») é precisamente essa pessoa, sobre a qual «pousará» o Espírito do
Senhor. É evidente que, neste caso, não se pode falar ainda da revelação do
Paráclito; todavia, com essa alusão velada à figura do futuro Messias, abre-se,
por assim dizer, o caminho que, uma vez demandado, vai preparando a revelação
plena do Espírito Santo na unidade do mistério trinitário, a qual se tornará
manifesta, finalmente, na Nova Aliança.
16.
Esse caminho é o próprio Messias. Na Antiga Aliança a unção tinha-se tornado o
símbolo externo do dom do Espírito. O Messias, bem mais do que qualquer outro
personagem ungido na Antiga Aliança, é o único grande Ungido pelo próprio Deus.
É o ungido no sentido de possuir a plenitude do Espírito de Deus. Ele mesmo
será também o mediador para ser concedido este Espírito a todo o Povo. Com
efeito, são do mesmo Profeta estas outras palavras:
«O
espírito do Senhor Deus está sobre mim, Porque o Senhor consagrou-me com a
unção; enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres, a pensar as feridas dos
corações quebrantados, a proclamar a redenção para os cativos, a libertação
para os prisioneiros, a promulgar o ano de misericórdia do Senhor» 53.
O
Ungido é também enviado «com o Espírito do Senhor»:
«Agora
o Senhor Deus me envia juntamente com o seu espírito» 54.
Segundo
o Livro de Isaías, o Ungido e o Enviado juntamente com o Espírito do Senhor é
também o eleito Servo do Senhor, sobre o qual repousa o Espírito de Deus:
«Eis
o meu servo que eu amparo o meu eleito, no qual a minha alma pôs a sua
complacência; fiz repousar sobre ele o meu espírito» 55.
Como
é sabido, o Servo do Senhor é revelado no Livro de Isaías como o verdadeiro
Homem das dores: o Messias que sofre pelos pecados do mundo 56. E, simultaneamente, é ele mesmo Aquele
cuja missão produzirá para toda a humanidade verdadeiros frutos de salvação:
«Ele
levará o direito às nações...» 57;
e tornar-se-á «a aliança do povo à luz das nações...» 58; «para que leve a minha salvação até aos
confins da terra» 59.
Porque:
«O
meu Espírito, que desceu sobre ti e as palavras que te pus na boca não se
apartarão dos teus lábios nem da boca da tua descendência nem da boca dos
descendentes dos teus descendentes,
diz
o Senhor, desde agora e para sempre» 60.
Os
textos proféticos que acabam de ser apresentados devem ser lidos por nós à luz
do Evangelho; o Novo Testamento, por sua vez, adquire um esclarecimento
particular da admirável luz contida nestes textos vétero-testamentários. O
Profeta apresenta o Messias como aquele que vem com o Espírito Santo, como
aquele que possui em si a plenitude deste Espírito; e, ao mesmo tempo, é
portador d'Ele para os outros, para Israel, para todas as nações, para toda a
humanidade. A plenitude do Espírito de Deus é acompanhada por múltiplos dons,
os bens da salvação, destinados de modo particular aos pobres e aos que sofrem
- a todos aqueles que abrem os seus corações a esses dons: isso acontece,
algumas vezes mediante as experiências dolorosas da própria existência; mas,
primeiro que tudo, por aquela disponibilidade interior que vem da fé. O velho
Simeão, «homem justo e piedoso», com o qual estava o Espírito Santo, teve a
intuição disso, no momento da apresentação de Jesus no Templo, quando
vislumbrou n'Ele a «salvação preparada em favor de todos os povos» à custa do
grande sofrimento — a Cruz — que ele deveria vir a abraçar juntamente com sua
Mãe 61. Disso tinha também e
ainda melhor a intuição a Virgem Maria, que havia concebido do Espírito Santo 62, quando meditava no seu coração os
«mistérios» do Messias, ao qual estava associada 63.
17.
É conveniente sublinhar, aqui neste ponto, que o «espírito do Senhor», que «se
pousa» sobre o futuro Messias, é, claramente, antes de mais nada um dom de Deus
para a pessoa deste Servo do Senhor. Mas ele não é uma pessoa isolada e
independente, pois opera por vontade do Senhor, com o poder da sua decisão ou
escolha. Se bem que à luz dos textos de Isaías a obra salvífica do Messias,
Servo do Senhor, inclua a acção do Espírito que se desenrola mediante ele
próprio, todavia no seu contexto vétero-testamentário não é sugerida a
distinção dos sujeitos ou das Pessoas divinas, tais como subsistem no mistério
trinitário e serão reveladas depois no Novo Testamento. Quer em Isaías, quer em
todo o Antigo Testamento, a personalidade do Espírito Santo acha-se
completamente escondida: escondida na revelação do único Deus, bem como no
anúncio profético do futuro Messias.
18.
No início da sua actividade messiânica, Jesus Cristo socorrer-se-á deste anúncio,
contido nas palavras de Isaías. Isso aconteceria na cidade de Nazaré, onde ele
tinha transcorrido trinta anos de vida, na casa de José, o carpinteiro, ao lado
de Maria, a Virgem sua Mãe. Quando lhe foi dada a ocasião de tomar a palavra na
Sinagoga, tendo aberto o Livro de Isaías, encontrou a passagem em que está
escrito: «O Espírito do Senhor está sobre mim; por isso me consagrou com a
unção»; e depois de ter lido este texto, disse aos presentes: «Cumpriu-se hoje
esta passagem da Escritura que acabais de ouvir» 64.
Deste modo, confessou e proclamou ser Aquele que «foi ungido» pelo Pai, ser o
Messias, isto é, Aquele no qual tem a sua morada o Espírito Santo como dom do
próprio Deus, Aquele que possui a plenitude deste Espírito, Aquele que marca o
«novo princípio» do dom que Deus concede à humanidade no Espírito Santo.
5. Jesus de Nazaré, «elevado» no
Espírito Santo
19.
Embora Jesus não seja recebido como Messias na sua terra de Nazaré, todavia, ao
iniciar a sua actividade pública, a sua missão messiânica no Espírito Santo foi
revelada ao Povo por João Batista, filho de Zacarias e de Isabel. Ele anuncia,
junto do Jordão, a vinda do Messias e administra o baptismo de penitência. Ele
diz: «Eu baptizo-vos com água, mas vai chegar quem é mais forte do que eu, a
quem eu não sou digno nem sequer de desatar as correias das sandálias: ele
baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo» 65.
João
Baptista anuncia o Messias — Cristo, não apenas como Aquele que «vem» com o
Espírito Santo, mas como Aquele que também «é portador» do Espírito Santo, como
seria melhor revelado por Jesus no Cenáculo. João torna-se, quanto a isto, o
eco fiel das palavras de Isaías; palavras que, proferidas pelo antigo Profeta,
diziam respeito ao futuro, ao passo que no seu ensino, nas margens do Jordão,
constituem a introdução imediata à nova realidade messiânica. João é não só
profeta, mas também mensageiro: é o precursor de Cristo. Aquilo que ele anuncia
realiza-se diante dos olhos de todos. Jesus de Nazaré vem ao Jordão para receber,
também ele, o baptismo de penitência. A vista do recém-chegado, João proclama:
«Aí está o Cordeiro de Deus, que vai tirar o pecado do mundo» 66. E diz isso por inspiração do Espírito
Santo67 dando testemunho do cumprimento da profecia de Isaías. Ao mesmo tempo
confessa a fé na missão redentora de Jesus de Nazaré. Nos lábios de João
Baptista as palavras «Cordeiro de Deus» encerram uma afirmação da verdade
quanto ao Redentor, não menos significativa que as palavras usadas por Isaías:
«Servo do Senhor».
Deste
modo, com o testemunho de João junto do Jordão, Jesus de Nazaré, rejeitado
pelos próprios conterrâneos, é elevado aos olhos de Israel como Messias, ou
seja «Ungido» com o Espírito Santo. E o testemunho de João Baptista é
corroborado por um outro testemunho de ordem superior, mencionado pelos três
Evangelhos Sinópticos. Com efeito, quando todo o povo tinha sido baptizado e no
momento em que Jesus, recebido o baptismo, estava em oração, «abriu-se o céu e
o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corporal, como uma pomba» 68; e, simultaneamente, ouviu-se uma voz
vinda do céu que dizia: Este é o meu Filho muito amado, no qual pus as minhas
complacências» 69.
É
uma teofania trinitária, que dá testemunho da exaltação de Cristo, por ocasião
do baptismo no Jordão. Ela não só confirma o testemunho de João Baptista, mas
revela uma dimensão ainda mais profunda da verdade acerca de Jesus de Nazaré
como Messias. Ou seja: o Messias é o Filho muito amado do Pai. A sua exaltação
solene não se reduz à missão messiânica do «Servo do Senhor». A luz da teofania
do Jordão, esta exaltação alcança o mistério da própria Pessoa do Messias. Ele
é exaltado porque é o Filho da complacência divina. A voz do Alto diz: «o meu
Filho».
(Nota: Revisão da tradução para português por ama)
____________________
Notas:
28 Jo 15, 26.
29 Jo 14, 16.
30 Jo 14, 26.
31 Jo 15, 26.
32 Jo 14, 16.
33 Jo, 16, 7.
34 Cf. Jo 3, 16s., 34; 6, 57; 17, 3. 18. 23.
35 Mt 28, 19.
36 Cf. 1 Jo 4, 8. 16.
37 1 Cor 2, 10.
38 Cf. S. TOMÁS DE AQUINO, Summa Theol. Ia, qq. 37-38.
39 Rom 5, 5.
40 Jo 16, 14.
41 Gén 1, 1 s.
42 Gén 1, 26.
43 Rom 8, 19-22.
44 Jo 16, 7.
45 Gál 4, 6; cf. Rom 8, 15.
46 Cf. Gál 4, 6; Flp 1, 19; Rom 8, 11.
47 Cf. Jo 16, 6.
48 Cf. Jo 16, 20.
49 Cf. Jo 16, 7.
50 Act 10, 37 s.
51 Cf. Lc 4, 16-21; 3, 16; 4, 14; Mc 1, 10.
52 Is 11, 1-3.
53 Is 61, 1 s.
54 Is 48, 16.
55 Is 42,1.
56 Cf. Is 53, 5-6. 8.
57 Is 42, 1.
58.Is 42, 6.
59 Is 49, 6.
60 Is 59, 21.
61 Cf. Lc 2, 25-35.
62 Cf. Lc 1, 35.
63 Cf. Lc 2, 19. 51
64 Cf. Lc 4, 16-21; Is 61, 1 s.
65 Lc 3, 16; cf. Mt 3, 11; Mc 1, 7s.; Jo 1, 33.
66 Jo 1, 29.
67 Cf. Jo 1, 33 s.
68 Lc 3, 21 s.; cf. Mt 3, 16; Mc 1, 10.
69 Mt 3, 17.
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