Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
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Evangelho: Lc 21, 1-19
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Evangelho: Lc 21, 1-19
1 Levantando Jesus os olhos, viu vários ricos que lançavam as suas oferendas na caixa das esmolas. 2 Viu também uma viúva pobrezinha, que lançava duas pequenas moedas, 3 e disse: «Na verdade vos digo que esta pobre viúva lançou mais que todos os outros. 4 Porque todos esses fizeram a Deus oferta do que lhes sobrava; ela, porém, deu da sua própria indigência tudo o que tinha para viver». 5 Dizendo alguns, a respeito do templo, que estava ornado de belas pedras e de ricas ofertas, Jesus disse: 6 «De tudo isto que vedes, virão dias em que não ficará pedra sobre pedra que não seja derrubada». 7 Então interrogaram-n'O: «Mestre, quando acontecerão estas coisas, e que sinal haverá de que estão para acontecer?». 8 Ele respondeu: «Vede, não vos deixeis enganar; porque muitos virão em Meu nome, dizendo: Sou eu, está próximo o tempo. Não os sigais. 9 Quando ouvirdes falar de guerras e de tumultos, não vos assusteis; estas coisas devem suceder primeiro, mas não será logo o fim». 10 Depois disse-lhes: «Levantar-se-á nação contra nação e reino contra reino. 11 Haverá grandes terramotos por várias partes, pestes e fomes; aparecerão coisas espantosas e extraordinários sinais no céu. 12 Mas antes de tudo isto, lançar-vos-ão as mãos e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e às prisões e vos levarão à presença dos reis e dos governadores por causa do Meu nome. 13 Isto vos será ocasião de dardes testemunho. 14 Gravai, pois, nos vossos corações o não premeditar como vos haveis de defender, 15 porque Eu vos darei uma linguagem e uma sabedoria à qual não poderão resistir, nem contradizer, todos os vossos inimigos. 16 Sereis entregues por vossos pais, irmãos, parentes e amigos, e farão morrer muitos de vós; 17 e sereis odiados de todos por causa do Meu nome; 18 mas não se perderá um só cabelo da vossa cabeça. 19 Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas.
CARTA APOSTÓLICA
SALVIFICI DOLORIS
DO SUMO PONTÍFICE
JOÃO PAULO II
AOS BISPOS, AOS SACERDOTES,
ÀS FAMÍLIAS RELIGIOSAS
E AOS FIÉIS DA IGREJA CATÓLICA
SOBRE O SENTIDO CRISTÃO
DO SOFRIMENTO HUMANO
III
EM BUSCA DA RESPOSTA
À PERGUNTA SOBRE O SENTIDO DO SOFRIMENTO
/…2
9. No fundo de cada sofrimento experimentado pelo homem, como também na base de todo o mundo dos sofrimentos, aparece inevitavelmente a pergunta: porquê? É uma pergunta acerca da causa, da razão e também acerca da finalidade (para quê?); trata-se sempre, afinal, de uma pergunta acerca do sentido. Esta não só acompanha o sofrimento humano, mas parece até determinar o seu conteúdo humano, o que faz com que o sofrimento seja propriamente sofrimento humano.
A dor, como é óbvio, em especial a dor física, encontra-se amplamente difundida no mundo dos animais. Mas só o homem, ao sofrer, sabe que sofre e se pergunta o porquê; e sofre de um modo humanamente ainda mais profundo se não encontra uma resposta satisfatória. Trata-se de uma pergunta difícil, como é também difícil uma outra muito afim, ou seja, a que diz respeito ao mal. Porquê o mal? Porquê o mal no mundo? Quando fazemos a pergunta desta maneira fazemos sempre também, ao menos em certa medida, uma pergunta sobre o sofrimento.
Ambas as perguntas são difíceis, quando o homem as faz ao homem, os homens aos homens, como também quando o homem as apresenta a Deus. Com efeito, o homem não põe esta questão ao mundo, ainda que muitas vezes o sofrimento lhe provenha do mundo; mas põe-na a Deus, como Criador e Senhor do mundo.
É bem sabido que, quando se calcorreia o terreno desta pergunta, se chega não só a múltiplas frustrações e conflitos nas relações do homem com Deus, mas sucede até chegar-se à própria negação de Deus. Se, efectivamente, a existência do mundo como que abre o olhar da alma à existência de Deus, à sua sapiência, poder e magnificência, então o mal e o sofrimento parecem ofuscar esta imagem, às vezes de modo radical; e isto mais ainda olhando ao quotidiano com a dramaticidade de tantos sofrimentos sem culpa e de tantas culpas sem pena adequada. Esta circunstância, portanto — mais do que qualquer outra, talvez — indica quanto é importante a pergunta sobre o sentido do sofrimento e com que acuidade se devam tratar, quer a mesma pergunta, quer as possíveis respostas a dar-lhe.
10. O homem pode dirigir tal pergunta a Deus, com toda a comoção do seu coração e com a mente cheia de assombro e de inquietude; e Deus espera por essa pergunta e escuta-a, como vemos na Revelação do Antigo Testamento. A pergunta encontrou a sua expressão mais viva no Livro de Job.
É conhecida a história deste homem justo que, sem culpa nenhuma da sua parte, é provado com inúmeros sofrimentos. Perde os seus bens, os filhos e filhas e, por fim, ele próprio é atingido por uma doença grave. Nesta situação horrível, apresentam-se em sua casa três velhos amigos que procuram — cada um com palavras diferentes — convencê-lo de que, para ter sido atingido por tão variados e tão terríveis sofrimentos, deve ter cometido alguma falta grave. Com efeito, dizem-lhe eles, o sofrimento atinge o homem sempre como pena por uma culpa; é mandado por Deus, que é absolutamente justo e age com motivações que são da ordem da justiça. Dir-se-ia que os velhos amigos de Job querem não só convencê-lo da justeza moral do mal, mas, de algum modo, procuram defender, aos seus próprios olhos, o sentido moral do sofrimento. Este, a seu ver, pode ter sentido somente como pena pelo pecado; e portanto, exclusivamente no plano da justiça de Deus, que paga o bem com o bem e o mal com o mal.
O ponto de referência, neste caso, é a doutrina expressa noutros escritos do Antigo Testamento, que nos apresentam o sofrimento como castigo infligido por Deus pelos pecados dos homens. O Deus da Revelação é Legislador e Juiz em plano tão elevado, que nenhuma autoridade temporal o pode alcançar. O Deus da Revelação, efectivamente, primeiro que tudo é o Criador, do qual provém, juntamente com a existência, o bem que é essencial à criação. Por conseguinte, a violação consciente e livre deste bem, por parte do homem, é não só transgressão da lei, mas também ofensa ao Criador, que é o Primeiro Legislador. Tal transgressão tem carácter de pecado no sentido próprio, isto é, no sentido bíblico e teológico desta palavra. Ao mal moral do pecado corresponde o castigo, que garante a ordem moral no mesmo sentido transcendente em que esta ordem foi estabelecida pela vontade do Criador e Supremo Legislador. Daqui se segue também uma das verdades fundamentais da fé religiosa, baseada igualmente na Revelação; ou seja, que Deus é juiz justo, que premeia o bem e castiga o mal: «Vós, Senhor, sois justo em tudo o que fizestes; todas as vossas obras são verdadeiras, rectos os vossos caminhos, todos os vossos juízos se baseiam na verdade, e tomastes decisões conforme a verdade em tudo o que fizestes que nos sobreviesse e à cidade santa dos nossos pais, Jerusalém. Sim, em verdade e justiça nos infligistes todos estes castigos por causa de nossos pecados». (23)
Na opinião manifestada pelos amigos de Job exprime-se uma convicção que também se encontra na consciência moral da humanidade: a ordem moral objectiva exige uma pena para a transgressão, para o pecado e para o crime. Sob este ponto de vista, o sofrimento aparece como um «mal justificado». A convicção daqueles que explicam o sofrimento como castigo pelo pecado apoia-se na ordem da justiça, e isso corresponde à opinião expressa por um dos amigos de Job: «Pelo que vi, aqueles que cultivam a iniquidade e os que semeiam a maldade também as colhem». (24)
11. Job, no entanto, contesta a verdade do princípio que identifica o sofrimento com o castigo do pecado; e faz isso baseando-se na própria situação pessoal. Ele, efectivamente, tem consciência de não ter merecido semelhante castigo; e, por outro lado, vai expondo o bem que praticou durante a sua vida. Por fim, o próprio Deus desaprova os amigos de Job pelas suas acusações e reconhece que Job não é culpado. O seu sofrimento é o de um inocente: deve ser aceite como um mistério, que o homem não está em condições de entender totalmente com a sua inteligência.
O Livro de Job não abala as bases da ordem moral transcendente, fundada sobre a justiça, como são propostas em toda a Revelação, na Antiga e na Nova Aliança. Contudo este Livro demonstra ao mesmo tempo, com toda a firmeza, que os princípios desta ordem não podem ser aplicados de maneira exclusiva e superficial. Se é verdade que o sofrimento tem um sentido como castigo, quando ligado à culpa, já não é verdade que todo o sofrimento seja consequência da culpa e tenha carácter de castigo. A figura do justo Job é disso prova convincente no Antigo Testamento. A revelação, palavra do próprio Deus, põe o problema do sofrimento do homem inocente com toda a clareza: o sofrimento sem culpa. Job não foi castigado; não havia razão para lhe ser infligida uma pena, não obstante ter sido submetido a uma duríssima prova. Da introdução do Livro deduz-se que Deus condescendeu com esta provação, em seguida à provocação de Satanás. Este, de facto, impugnou diante do Senhor a justiça de Job: «Acaso teme Job a Deus em vão? ... Abençoastes os seus empreendimentos e os seus rebanhos expandem-se sobre a terra. Mas estendei a vossa mão e tocai nos seus bens; juro que vos amaldiçoará na vossa face». (25) Se o Senhor permite que Job seja provado com sofrimento, fá-lo para demonstrar a sua justiça. O sofrimento tem carácter de prova.
O Livro de Job não é a última palavra da Revelação sobre este tema. É um anúncio, de certo modo, da Paixão de Cristo. Entretanto, só por si, já é argumento suficiente para que a resposta à pergunta sobre o sentido do sofrimento não fique ligada, sem reservas, à ordem moral baseada somente na justiça. Se tal resposta tem uma fundamental e transcendente razão e validade, ao mesmo tempo apresenta-se não só insuficiente em casos análogos ao do sofrimento do justo Job, mas parece, mais ainda, reduzir e empobrecer o conceito de justiça que encontramos na Revelação.
12. O Livro de Job põe de modo perspicaz, a pergunta sobre o «porquê» do sofrimento; e mostra também que ele atinge o inocente, mas ainda não dá a solução ao problema.
No Antigo Testamento notamos uma orientação que tende a superar o conceito segundo o qual o sofrimento teria sentido unicamente como castigo pelo pecado, ao mesmo tempo que se acentua o valor educativo da pena-sofrimento. Deste modo, nos sofrimentos infligidos por Deus ao povo eleito está contido um convite da sua misericórdia, que corrige para levar à conversão.
«Estes castigos não sucederam para a nossa ruína, mas são uma lição salutar para o nosso povo». (26)
Assim é afirmada a dimensão pessoal da pena. Segundo esta dimensão, a pena tem sentido não só porque serve para contrabalançar o mesmo mal objectivo da transgressão com outro mal, mas sobretudo porque oferece a possibilidade de reconstruir o bem no próprio sujeito que sofre.
Isto é um aspecto importantíssimo do sofrimento. Está profundamente arraigado em toda a Revelação da Antiga e sobretudo da Nova Aliança. O sofrimento deve servir à conversão, isto é, à reconstrução do bem no sujeito, que pode reconhecer a misericórdia divina neste chamamento à penitência. A penitência tem como finalidade superar o mal que, sob diversas formas, se encontra latente no homem, e consolidar o bem, tanto no mesmo homem, como nas relações com os outros e, sobretudo, com Deus.
13. Mas para se poder perceber a verdadeira resposta ao «porquê» do sofrimento, devemos voltar a nossa atenção para a revelação do amor divino, fonte última do sentido de tudo aquilo que existe. O amor é também a fonte mais rica do sentido do sofrimento que, não obstante, permanece sempre um mistério; estamos conscientes da insuficiência e inadequação das nossas explicações. Cristo introduz-nos no mistério e ajuda-nos a descobrir o «porquê» do sofrimento, na medida em que nós formos capazes de compreender a sublimidade do amor divino.
Para descobrir o sentido profundo do sofrimento, seguindo a Palavra de Deus revelada, é preciso abrir-se amplamente ao sujeito humano com as suas múltiplas potencialidades. É preciso, sobretudo, acolher a luz da Revelação, não só porque ela exprime a ordem transcendente da justiça, mas também porque ilumina esta ordem com o amor, qual fonte definitiva de tudo o que existe. O Amor é ainda a fonte mais plena para a resposta à pergunta acerca do sentido do sofrimento. Esta resposta foi dada por Deus ao homem na Cruz de Jesus Cristo.
IV
JESUS CRISTO:
O SOFRIMENTO VENCIDO PELO AMOR
14. «Deus amou tanto o mundo que deu o Seu Filho unigénito, para que todo aquele que crê n'Ele não pereça, mas tenha a vida eterna». (27) Estas palavras pronunciadas por Cristo no colóquio com Nicodemos, introduzem-nos no próprio centro da acção salvífica de Deus. Elas exprimem também a própria essência da soteriologia cristã, quer dizer, da teologia da salvação. E salvação significa libertação do mal; e por isso mesmo está em relação íntima com o problema do sofrimento. Segundo as palavras dirigidas a Nicodemos, Deus dá o seu Filho ao «mundo» para libertar o homem do mal, que traz em si a definitiva e absoluta perspectiva do sofrimento. Ao mesmo tempo, a palavra «dá» («deu») indica que esta libertação deve ser realizada pelo Filho unigénito, mediante o seu próprio sofrimento. E nisto se manifesta o amor, o amor infinito, quer do mesmo Filho unigénito, quer do Pai, o qual «dá» para isso o seu Filho. Tal é o amor para com o homem, o amor pelo «mundo»: é o amor salvífico.
Encontramo-nos aqui — importa dar-nos conta disso claramente na nossa reflexão comum sobre este problema — perante uma dimensão completamente nova do nosso tema. É uma dimensão diversa daquela que determinava e, em certo sentido, restringia a busca do significado do sofrimento dentro dos limites da justiça. É a dimensão da Redenção, que no Antigo Testamento as palavras do justo Job — pelo menos segundo o texto da Vulgata — parecem já prenunciar: «Sei, de facto, que o meu Redentor vive e que no último dia... verei o meu Deus...». (28) Enquanto até aqui as nossas considerações se concentravam, primeiro que tudo e, em certo sentido, exclusivamente, no sofrimento sob as suas múltiplas formas temporais (como era o caso também dos sofrimentos do justo Job), agora as palavras do colóquio de Jesus com Nicodemos, acima citadas, referem-se ao sofrimento no seu sentido fundamental e definitivo. Deus dá o seu Filho unigénito, para que o homem «não pereça»; e o significado deste «não pereça» é cuidadosamente determinado pelas palavras que lhe seguem: «mas tenha a vida eterna».
O homem «perece», quando perde a «vida eterna». O contrário da salvação não é, pois, somente o sofrimento temporal, qualquer sofrimento, mas o sofrimento definitivo: a perda da vida eterna, o ser repelido por Deus, a condenação. O Filho unigénito foi dado à humanidade para proteger o homem, antes de mais nada, deste mal definitivo e do sofrimento definitivo. Na sua missão salvífica, portanto, o Filho deve atingir o mal nas suas próprias raízes transcendentais, a partir das quais se desenvolve na história do homem. Estas raízes transcendentais do mal estão pegadas ao pecado e à morte: elas estão, de facto, na base da perda da vida eterna. A missão do Filho unigénito consiste em vencer o pecado e a morte. E Ele vence o pecado com a sua obediência até à morte, e vence a morte com a sua ressurreição.
15. Quando se diz que Cristo com a sua missão atinge o mal nas próprias raízes, nós pensamos não só no mal e no sofrimento definitivo, escatológico (para que o homem «não pereça, mas tenha a vida eterna»), mas também — pelo menos indirectamente — no mal e no sofrimento na sua dimensão temporal e histórica. O mal, de facto, permanece ligado ao pecado e à morte. E ainda que se deva ter muita cautela em considerar o sofrimento do homem como consequência de pecados concretos (como mostra precisamente o exemplo do justo Job), ele não pode contudo ser separado do pecado das origens, daquilo que em São João é chamado «o pecado do mundo», (29) nem do pano de fundo pecaminoso das acções pessoais e dos processos sociais na história do homem. Se não é permitido aplicar aqui o critério restrito da dependência directa (como faziam os três amigos de Job), não se pode também, por outro lado, pôr absolutamente de parte o critério segundo o qual, na base dos sofrimentos humanos, há uma multíplice implicação com o pecado.
Sucede o mesmo quando se trata da morte. Esta, muitas vezes, até é esperada, como uma libertação dos sofrimentos desta vida; ao mesmo tempo, não é possível deixar passar despercebido que ela constitui como que uma síntese definitiva da obra destrutora do sofrimento, tanto no organismo corporal como na vida psíquica. Mas a morte comporta, antes de mais, a desagregação da personalidade total psicofísica do homem. A alma sobrevive e subsiste separada do corpo, ao passo que o corpo é sujeito a uma decomposição progressiva, segundo as palavras do Senhor Deus, pronunciadas depois do pecado cometido pelo homem nos princípios da sua história terrena: «És pó e em pó te hás-de tornar». (30) Portanto, mesmo que a morte não seja um sofrimento no sentido temporal da palavra, mesmo que de certo modo ela se encontre para além de todos os sofrimentos, contudo o mal que o ser humano nela experimenta tem um carácter definitivo e totalizante. Com a sua obra salvífica, o Filho unigénito liberta o homem do pecado e da morte. Antes de mais, cancela da história do homem o domínio do pecado, que se enraizou sob o influxo do Espírito maligno a partir do pecado original; e dá desde então ao homem a possibilidade de viver na Graça santificante. Na esteira da vitória sobre o pecado, tira o domínio também à morte, abrindo, com a sua ressurreição, o caminho para a futura ressurreição dos corpos. Uma e outra são condição essencial da «vida eterna», isto é, da felicidade definitiva do homem em união com Deus; isto, para os salvados, quer dizer que na perspectiva escatológica o sofrimento é totalmente cancelado.
Como consequência da obra salvífica de Cristo, o homem passou a ter, durante a sua existência na terra, a esperança da vida e da santidade eternas. E ainda que a vitória sobre o pecado e sobre a morte, alcançada por Cristo com a sua Cruz e a sua Ressurreição, não suprima os sofrimentos temporais da vida humana, nem isente do sofrimento toda a dimensão histórica da existência humana, ela projecta, no entanto, sobre essa dimensão e sobre todos os sofrimentos uma luz nova. É a luz do Evangelho, ou seja, da Boa Nova. No centro desta luz encontra-se a verdade enunciada no colóquio com Nicodemos: «Com efeito, Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigénito». (31) Esta verdade opera uma mudança, desde os fundamentos, no quadro da história do homem e da sua situação terrena. Apesar do pecado que se enraizou nesta história, como herança original, como «pecado do mundo» e como suma dos pecados pessoais, Deus Pai amou o Filho unigénito, isto é, ama-o de modo perdurável; depois, no tempo, precisamente por motivo deste amor que supera tudo, Ele «dá» este Filho, a fim de que atinja as próprias raízes do mal humano e assim se aproxime, de maneira salvífica, do inteiro mundo do sofrimento, no qual o homem é participante.
Notas:
(23) Dan. 3, 27 s.; cfr. Ps. 17 (18), 10; Ps. 36 (35), 7; Ps. 48 (47), 12; Ps. 51 (50), 6; Ps. 99 (98), 4; Ps. 119 (118), 75; Mal. 3, 16-21; Matth. 20, 16; Marc. 10, 31; Luc. 17, 34; Io. 5, 30; Rom. 2, 2.
(24) Iob 4, 8.
(25) Iob 1, 9-11.
(26) Cfr. 2 Macc. 6, 12.
(27) Io. 3, 16.
(28) Iob 19, 25-26.
(29) 1, 29.
(30) Gen. 3, 19.
(31) Io. 3, 16.
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