08/01/2012

Tratado De Deo Trino 54

Art. 6 – Se as Pessoas podem ser predicadas dos nomes essenciais concretos, de modo a dizermos: Deus é as três Pessoas ou a Trindade.

(I Sent., dist. IV, q. 2, a, 2, ad 4, 5,).

O sexto discute-se assim. – Parece que as Pessoas não podem predicar-se dos nomes essenciais concretos, de modo a dizermos – Deus é as três Pessoas ou a Trindade.

1. – Pois, a proposição – um homem é todo homem – é falsa porque Sócrates não é todo homem, nem Platão, nem qualquer outro. Ora, semelhantemente, a proposição – Deus é a Trindade – não pode ser verificada em nenhum dos supostos da natureza divina; pois, nem o Pai é a Trindade, nem o Filho, nem o Espírito Santo. Logo, é falsa a proposição – Deus é a Trindade.

2. Demais. – Os inferiores não se predicam dos seus superiores senão por predicação acidental, como quando digo – um animal é homem; pois, é um acidente para o animal ser homem. Ora, o nome de Deus está para as três Pessoas como um nome comum, para os inferiores, segundo Damasceno [1]. Logo, os nomes das Pessoas não podem ser predicados do nome de Deus, senão acidentalmente.

Mas, em contrário, Agostinho: Cremos que um mesmo Deus é a Trindade una do nome divino [2].

Como já dissemos [3], embora os nomes pessoais ou os adjectivos nocionais não possam ser predicados da essência, contudo os substantivos o podem, por causa da identidade real da essência e da pessoa. Ora, a essência divina é idêntica realmente não só a cada uma das pessoas, mas às três. Por isso uma pessoa, as duas ou as três podem ser predicadas da essência, como se dissermos – A essência é o Pai, o Filho e o Espírito Santo. E como o nome de Deus pode, por si, ser suposto pela essência, como vimos [4], assim como é verdadeira a proposição – A essência é as três Pessoas – também o será esta outra – Deus é as três Pessoas.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Como dissemos [5], o nome de homem pode, em si, ser suposto pela pessoa; mas, pelo seu adjunto, pode ser tomado pela natureza comum. Assim, é falsa a proposição – Um homem é todo homem, por não poder ser verificada em nenhum suposto. Ora, o nome de Deus é, em si mesmo, tomado pela essência. Por onde, embora de nenhum dos supostos da natureza divina seja verdadeira a proposição – Deus é a Trindade – contudo é verdadeira pela essência. E foi por não atender a isso que Porretano a negou [6].

RESPOSTA À SEGUNDA. – Quando dizemos – Deus ou a divina essência é o Pai – há predicação por identidade, e não como a de um inferior predicado do superior; porque em Deus não há universal nem singular. Por onde, como implica predicação essencial a proposição – o Pai é Deus – assim também esta outra – Deus é o Pai – implica predicação essencial e, de ne­nhum modo; acidental.

SÃO TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica,



[1] De Fide Orth., l. III, c. 4.
[2] De Fide Catholica, Serm. I.
[3] Q. 39, a. 5, ad 5
[4] Q. 39, a. 4 ad 3.
[5] Q. 39, a. 4 ad 3.
[6] Comm. In Boet De Trin., ad Ioannem Diac.

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