O novo ministro de Interior explica o seu reencontro com Deus depois de anos a virar-Lhe as costas
No seu gabinete no Congresso de Deputados há um enorme retrato de Tomás Moro, santo a quem João Paulo II pedia que se encomendassem os políticos para obter fortaleza, paciência, perseverança e bom humor. (…) Os que o conhecem bem dizem que o Jorge de "agora" nada tem que ver com o de “antes”. Ele fala de conversão.
-O sua conversão foi ao modo de Santo Paulo ou ao de Santo Agostinho?
-Foi, guardando as distâncias, más agostiniana que paulina, no sentido de que não foi instantânea, mas que resisti muito.
-Vinha do ateísmo?
-Não.
-Então, do agnosticismo.
-Tampouco. Eu não negava Deus, simplesmente vivia como se não existisse, só me lembrava dele nos momentos difíceis. Era isso a que chamam um católico não praticante.
- Isso não é uma contradição?
-É. Mas eu vivia nessa contradição. A minha fé era uma fé morta porque era uma fé sem obras.
-Que mudou tudo?
-A convicção plena de que a minha vida só fazia sentido à luz de Deus. A partir desse momento, Ele começou a ter más presença na minha vida. É neste sentido não que falo de conversão.
-Em que consiste a sua vida com Deus?
-Digamos que o meu plano de vida está muito próximo da espiritualidade do Opus Dei: ir à missa todos os dias, rezar o Rosário, fazer uns tempos de oração, outro de leitura espiritual...
-Lê muito?
-Muito. Depois da minha conversão dei-me conta que o meu deficit em formação religiosa, moral e ética era importante. Tinha que recuperar o tempo perdido e a dedicar-me à leitura ajudou.
-O autor que más o marcou?
-São muitos, mas se tenho de mencionar um que quedar, elejo Vittorio Messori, a quem me unem tantas coisas. O providencialismo, por exemplo. Messori analisa os acontecimentos tendo em conta que Deus é o Senhor da Historia, do Tempo, da Cronologia. A mim também me atrai esse tipo de visão dos factos que se incorpora no que se chama Teologia da Historia.
-E o livro?
-Mencionarei três, ainda que haja muitos mais. O regresso do filho pródigo, de Henry Nouwen, A história de uma alma, de Santa Teresinha de Lisieux, e As confissões, de Santo Agostinho. Li-os pela primeira vez em 1997.
-É o ano de o seu caminho de regresso?
-1997 foi o ano em que o Senhor me disse: “Chegámos até aqui. Ou sim ou sopas”. Mas o meu caminho de regresso começou em 1991.
-Seis anos antes.
-Eu disse que a minha conversão foi mais agostiniana que paulina, pois tive muito que pedir.
-O que se passou em 1991?
-Encontrava-me em viajem oficial nos Estados Unidos, convidado pelo Departamento de Estado. Num fim-de-semana levaram-nos a Las Vegas. Ali, por meio de um grande amigo, que sem dúvida foi um instrumento da providência de Deus, Ele veio manifestamente ao meu encontro. O lembro-o e penso em São Paulo “Onde abundou o pecado, superabundou a Graça”.
-É fácil ter Deus presente no Congresso dos Deputados?
-Ainda pareça que Lhe tenhamos fechado a porta, ainda que às vezes não O queiramos ver ou escutar, tenho a íntima convicção de que Deus está muito presente no Congresso. As Cortes são o órgão legislativo do Estado e Deus, o grande legislador do universo.
-Como vive a política?
-Como um magnífico campo para o apostolado, a santificação e o serviço aos outros, como minha vocação pessoal e específica, o lugar donde Deus quer que esteja. Para um católico, dedicar-se à política, aqui e agora, é um desafio apaixonante.
-Como a vivia antes?
-Como uma actividade que me apaixonava. Mas estava instalado no relativismo, e quando não há convicções tudo é cálculo político, interesses partidários.
-Antes falava de providencialismo. Não acredita no azar?
-Na vida as coisas não sucedem porque sim ou graças aos amigos ou por esperto que se seja; tudo isto são causas segundas, mediações humanas, que, respeitando a liberdade de cada um, respondem aos desígnios de Deus. Voltando a Santo Agostinho e guardando de novo as distâncias, se penso no que me aconteceu antes da minha conversão, posso dizer como o de Hipona nas suas Confissões: “Ah, Senhor, eras Tu”.
(jorge fernández díaz, trad ama)
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