22/11/2011

Tratado De Deo Trino 6

Art. 5 — Se em Deus há mais de duas processões.


(IV Cont Gent., cap. XXIV; De Pot., q. 9,a. 9; 10, a. 2. ad argumenta sed contra)

O quinto discute-se assim. — Parece que há em Deus mais de duas processões.

— Pois, assim como a ciência e a vontade se atribuem a Deus, assim também a potência. Se, portanto, se admitem em Deus duas processões, segundo o intelecto e a vontade, resulta que se deve admitir uma terceira, segundo a potência.

Demais. — A bondade é por excelência o princípio da processão; pois, como se disse, o bem é difusivo de si [1]. Logo, devemos admitir uma processão, em Deus, segundo a bondade.

Demais. — O vigor da fecundidade é maior em Deus que em nós. Ora, em nós não há só uma, mas muitas processões do verbo; pois de um verbo procede outro, e semelhantemente, de um, outro amor. Logo, há em Deus mais de duas processões.

Mas, em contrário, em Deus só há dois procedentes, o Filho e o Espírito Santo. Logo, só há nele duas processões.

Em Deus só se podem admitir processões segundo os actos imanentes no agente. Ora, tais actos, em a natureza intelectual e divina, são apenas dois — inteligir e querer. Pois o sentir, que também se considera como operação do que sente, está fora da natureza intelectual; nem é totalmente diverso do género de atos tendentes ao exterior, pois o sentir se completa pela acção sensível, no sentido. Donde se conclui que em Deus não pode haver outra processão, além da do Verbo e do Amor.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — A potência é princípio de acção transitiva, e por isso, fundados nela, admitimos a acção transitiva. E assim, quanto ao atributo da potência, não se admite processão da Pessoa divina, mas só das criaturas.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A bondade, como diz Boécio, pertence à essência e não à operação [2], a não ser talvez como objecto da vontade. Donde, como é necessário admitir as processões divinas, em relação a certos actos, não se podem admitir outras processões, relativamente à bondade e atributos semelhantes, a não ser a do Verbo e a do Amor, pelas quais Deus intelige e ama a sua essência, a sua verdade e a sua bondade.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Como já demonstramos [3], Deus, por um ato simples, tudo intelige e semelhantemente tudo quer. Donde, o não poder existir nele um verbo, procedendo, de outro verbo, nem um amor procedendo de outro amor; mas existe um só Verbo perfeito com um só perfeito amor. E isto lhe manifesta a perfeita fecundidade.

SÃO TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica,



[1] 1.De Div. Nom., c. 4.
[2] De Hebd.
[3] Q. 14, a. 7; q. 19, a. 5.

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