Central de Fukushima |
Em entrevista à BBC, o voluntário Yasuteru Yamada, que tem 72 anos e negocia com o reticente governo japonês e com a empresa, usa uma lógica tão simples quanto assombrosa: "Em média, devo viver mais uns 15 anos. Já um cancro vindo da radiaçãolevaria de 20 a 30 anos para surgir. Logo, nós que somos mais velhos temos menos risco de desenvolver cancro", afirma Yamada.
É arrepiante. Em contrapartida ao individualismo actual - e lidando de uma maneira absolutamente realista em relação à vida e à morte -sexagenários e septuagenários querem dar uma última contribuição: ser úteis nos seus últimos anos e permitir que alguns jovens possam chegar às idades deles com saúde e disposição semelhantes.
O que mais impressiona em toda a história é a matemática da vida. A morte não é para eles um problema a ser solucionado - ou talvez corrigido, pela hipótese mística da vida eterna que a medicina e a biologia tentam encapar e da qual as revistas de boa saúde nos tentam convencer; a morte é, de facto, a constante da equação.
Nada que o mundo ocidental não conheça. O filósofo alemão Georg Friedrich Hegel (1770-1831) certa vez definiu "mestre" como alguém desapegado da vida a ponto de enfrentar a morte, enquanto "servo" seria um escravo do desejo de continuar vivo - e que obedeceria mais às regras que lhe garantissem mais vida. Em consequência, o servo anula a sua vontade de transformar o mundo e a si mesmo.
Criados numa sociedade de consumo, corremos o risco de levar essa escravidão às últimas, defendendo a boa saúde e os confortos com muito mais afinco do que aquilo que podemos fazer por nós e pelos outros enquanto ainda gozamos dela.
Os senhores do Japão ensinam que a morte é a hora em que podemos continuar a existir na memória das pessoas.
Agrad Amílcar Granjo
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.