18/06/2011

O Paraíso, conto de fadas?

Observando

O famoso astrofísico britânico,  Stephen Hawking, voltou a surpreender a opinião pública com uma entrevista publicada em «The Guardian», em 16 de Maio de 2011, na qual declarava que o paraíso é um conto de fadas («fairy story») para gente temerosa da morte.
Não é a primeira vez que Hawking faz este tipo de declarações. Ainda que num passado recente se declara-se crente, não há muito afirmou que o universo se explica por si mesmo sem necessidade de acudir à crença no Deus Criador.
Muitas pessoas ateias materialistas pensam o mesmo, mas o caso de Hawking chama muito mais a atenção por ser um científico reconhecido, como director de investigação e ex-catedrático de matemáticas aplicadas e física teórica da Universidade de Cambridge.
Mas além disso, Hawking desde a idade de 21 anos, padece de doença neuro-degenerativa incurável, esclerose lateral amiotrófica (ELA), que o obriga a estar permanentemente imobilizado numa cadeira de rodas mal podendo mover-se. Para comunicar utiliza um sofisticado programa computorizado.
Eis aqui a sua recente declaração: «Vivi com a perspectiva de uma morte prematura durante os últimos 49 anos. Não tenho medo de morrer, mas não tenho pressa em morrer. É muito o que quero fazer antes. Eu considero o cérebro como um computador que deixará de funcionar quando faltem os seus componentes. Não há paraíso ou vida depois da morte para os computadores que deixam de funcionar, esse é um conto de fadas de gente que tem medo do escuro».
Chama a atenção que Hawking não admite nem a existência de Deus nem da alma e rejeita a realidade da vida depois da morte e, todavia, afirma que, apesar das nuvens escuras que se cerram sobre o seu futuro, goza mais a vida nos últimos anos. Não tem medo da morte, nem tampouco tem pressa em morrer, já que quer fazer ainda muitas coisas. Inclusive enfatiza a necessidade de «cumprir o nosso potencial na terra fazendo bom uso das nossas vidas». Respondendo à pergunta sobre como devemos viver, afirmou: «Devemos procurar o valor maior da nossa acção».
A opinião de Hawking, como as de todo o ser humano, merece todo o respeito, mas ao mesmo tempo a sua posição intelectual não é do todo coerente. Tampouco o foi quando rejeitou a criação de Deus, ao mesmo tempo que afirmava a existência dos princípios da natureza que regem o universo. Deixou sem resposta a pergunta: Quem deu origem a esses princípios? Acaso são eternos ou surgiram do nada?
De igual forma agora o principio ético, afirmado por Hawking, de  «procurar o valor maior da nossa acção», implica a rejeição da atitude egoísta de procurar só o bem-estar próprio, ainda que à custa de prejudicar outras pessoas. Mas por isso cabe perguntar-lhe: Por que é que o homem deve esforçar-se em fazer o bem? Porque é que temos de sacrificar-nos a favor de outras pessoas? Se Deus não existe e não há nenhuma esperança sobre o mais para além da morte, que sentido tem a vida? Houve pessoas ateias que ante esse vazio de sentido preferiram suicidar-se: «Se temos que morrer não vale a pena viver sem nenhuma esperança».
Por isso cremos que Hawking, ao reconhecer o postulado ético de não fazer o mal e de obrar o bem e de amar a nossos semelhantes, mostra implicitamente a presença, por vezes escondida, de um Deus justo e bondoso que inspira a nossa consciência como um farol luminoso para esta vida e que ao mesmo tempo garante a justiça e a bondade, já agora e de maneira mais definitiva depois da morte. Por isso a existência do «paraíso», independentemente de como se interprete, longe de ser um fantasioso conto de fadas, tem um fundamento na própria consciência humana, acreditado pela razão e confirmado pela revelação cristã.

miguel manzanera, SJ, conoZe, trad ama


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