02/02/2011

Hedonismo

Tema para breve reflexão
Quatro séculos antes de Cristo, já Aristipo de Cirene ([1]) elaborava o primeiro esboço de moral hedonista, que é, afinal, o avesso da verdadeira moral. Para Aristipo, o bem supremo é o prazer. É ele, portanto, a regra única e inapelável da acção. Como nos simples animais, afinal, que não conhecem princípios superiores, visto não possuírem o espírito. Mas, porque o possuí, deve o homem dominar e dirigir, para o seu fim último, não só tudo quanto é inferior a ele, mas também quanto é inferior nele. De resto, mesmo no animal, nunca o prazer tem o carácter de fim. Ora, no hedonismo, seja qual for a forma que ele assuma na história, o prazer é, não só o fim, mas o fim supremo do homem. Como todos os hedonistas, porém, esquece Aristipo que também o prazer, como meio que é, ordenado a fins superiores, deve ser moralizado.

(avelosoBROTÉRIA, Vol. LXX, nr. 6, nr. 666)




[1] Aristipo de Cirene (ca. 435-335 a.C.), contemporâneo de Sócrates, é considerado o fundador do hedonismo filosófico. Ele distinguia dois estados da alma humana, o prazer (movimento suave da alma) e a dor (movimento áspero da alma). Segundo ele o prazer, independentemente da sua origem, tem sempre a mesma qualidade e o único caminho para a felicidade é a busca do prazer e a diminuição da dor. Ele afirma inclusive que o prazer corpóreo é o próprio sentido da vida. Outros defensores do hedonismo clássico foram Teodoro de Cirene e Hegesias de Cirene.
Epicuro modificou a teoria hedonista afirmando ser a falta de sofrimento o verdadeiro prazer. Dessa forma o caminho para a felicidade consistiria não na busca de prazer, mas na libertação do sofrimento - da agitação e da dor. Esse caminho não é, para esse autor, o caminho da busca desenfreada de bens e prazeres corporais, mas o da busca da concentração nas necessidades realmente necessárias (ex. amizade), da serenidade e do equilíbrio.
É importante notar que o hedonismo cirenaico diferencia-se do hedonismo epicurista, sobretudo no que diz respeito à avaliação moral do prazer. Enquanto a escola cirenaica preceitua que o prazer é sempre um bem em si e melhor quanto mais tempo durar e quanto mais intenso for, a filosofia epicurista determina que o prazer, para ser um bem, precisa de moderação (gr. Phronēsis)

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