08/01/2023

Publicações em Janeiro 8

  


DENTRO DO EVANGELHO

 

Jesus Cristo dá uma instrução, uma regra absolutamente fundamental quando se trata de avaliar a honestidade e credibilidade dos que se apresentam como mestres e directores: «Pelos frutos, pois, os conhecereis»

As palavras por mais belas, os discursos por mais elaborados, as “teorias” por mais consistentes só têm de facto valor e merecem credibilidade se corresponderem aos actos de quem as profere ou apresenta. Nunca se ouvirá dizer de alguém que é um santo porque “fala muito bem”, mas, unicamente porque as obras que pratica e a vida que leva corresponde ao que diz. Por isso, para nós cristãos, o apostolado mais importante e, diria, “primário” é o exemplo que damos. Temos, forçosamente, que insistir no exemplo como primordial no apostolado. O que fazemos tem de corresponder ao que dizemos porque quem nos ouve estará atento ao que fazemos. O que dará credibilidade ás nossas palavras são os actos e não a beleza do discurso ou, até, a lógica dos argumentos.

Res non verba! Obras e não palavras! Antigo aforismo latino absolutamente actual e a ter em conta.

 

 O Senhor enfatiza a importância do exemplo que é sobretudo fruto da unidade e coerência de vida. Mais importante que parecer é ser e fazer o que desejamos sirva de exemplo aos outros. Sem vida interior sólida e bem estruturada não é possível convencer ninguém - nem a nós próprios - que é fundamental uma vida coerente e bem assente na honestidade de procedimentos.

Jesus Cristo espera de nós uma “colaboração” activa na difusão do Reino de Deus. Essa “colaboração” não é outra coisa que apostolado e este, não é mais que a distribuição que fazemos aos outros dos frutos das nossas boas obras.

Como se sabe os Judeus consideravam – e ainda assim é – que alguns alimentos eram impróprios – impuros – e que Deus não desejava que os tomassem para não ficarem eles próprios contaminados.

Jesus Cristo vem explicar claramente que a Lei é, assim, mal interpretada porque se de facto antigamente se recomendava a abstinência de alguns alimentos tal se devia a evitar excessos de comida e bebida daí também se recomendasse o jejum frequente. Uma “medida profiláctica” dada a um povo rude e violento transformou-se numa lei de observância rigorosa e talvez caricata. A pureza ou impureza não tem a ver com a limpeza do corpo, mas com a brancura da alma e do coração. O que se pensa e deseja no íntimo, só o próprio e Deus o sabem e só a Este haverá que dar contas.

Temos necessidade premente de pedir ao Senhor - com insistente perseverança -, que nos dê a graça de um coração puro. Livres de amarras a coisas que não interessam, de prisões a sentimentos que não nos convêm, de desejos que não nos dignificam Esta necessidade é bem real porque, pobres de nós, homens, somos constantemente arrastados pela nossa sensualidade, apetites e desejos. Dá-me, Senhor, um coração puro.

O Evangelista tem a preocupação de que conste neste relato algo singular: Jesus «tomando-o à parte de entre a multidão»… Porquê o Senhor deseja fazer este milagre com a discrição possível, fora dos olhares dos circunstantes? Talvez por um pormenor: «atravessando o território da Decápole» onde como se sabe, não era bem-vindo. Não obstante, alguns pedem-Lhe por um pobre surdo-mudo, que o cure e, o Senhor, não resiste aos pedidos justos. Tal como Deus desistiria do castigo de Sodoma e Gomorra por causa dos justos que Abraão invocava, assim Cristo, por um só filho Seu fará o que Se Lhe pedir.

«abre-te», diz-nos o Senhor a nós constantemente. Abre-te a Mim que Sou a Vida! Abre-te a Mim que Sou o amor! Abre-te a Mim que Sou a Salvação! Abre-te e vive, e ama e salva-te! Como resistir a este apelo de Cristo? Como ficar parados na berma do caminho por onde Ele passa num constante convite, num insistente apelo? Não nos fechemos em nós mesmos que somos tão pouca coisa, abramo-nos, antes, a Cristo que É tudo.

A Liturgia, seguramente com um objectivo muito concreto, quer dar-nos uma imagem do verdadeiro Jesus Cristo Nosso Senhor e das Suas relações com os homens. Um milagre portentoso: A cura do servo do centurião; outro de escasso relevo: A cura da sogra de Pedro; e, depois as curas incontáveis - todos os doentes o procuravam - e a expulsão dos demónios. Ou seja, o poder de Jesus não tem nem medida nem obedece a outro critério que não seja a Sua infinita misericórdia. Jesus Cristo sendo Deus todo-poderoso não tem nada de Seu nem sequer «onde reclinar a cabeça»! Que chefe é este que espera seguidores fiéis e entusiasmados? Não haverá n’Ele algo que poderíamos chamar "visionário?". Seguramente que sim! O Senhor é um visionário, um entusiasta que acredita nos homens e deseja absolutamente os homens acreditem nEle e O sigam. Porquê? Porque só se o fizerem poderão salvar-se.

Não podemos deixar de reagir naturalmente, com admiração enorme e, ao mesmo tempo, surpresa.  Admiração por constatar – como de resto o próprio Jesus o afirma – uma fé tão profunda que traduz uma confiança total e absoluta no poder de Jesus Cristo por parte de um homem que nem sequer é considerado como “um crente”.   Surpresa porque este homem – de posição destacada – se preocupa e sofre com a saúde de um subalterno seu, contrariando todos os sentimentos – comuns, sobretudo naquela época – em o que os “patrões”, ou “senhores” tratavam os subalternos com profundo desprezo. Mais uma vez, vem ao de cima a absoluta necessidade de sermos – os cristãos – pessoas se são critério e isentos de preconceitos ou reservas em relação aos outros. Este acontecimento – que supomos ser o mesmo – é relatado de forma diferente por outro evangelista, mas, o que interessa não é o pormenor, mas sim a extraordinária lição de fé daquele homem que procura Jesus. Não é um judeu nem sequer se poderia considerar um “crente” no sentido que lhe davam os chefes do povo daquela época, e, por isso mesmo, constatamos que o Senhor não faz acepção de pessoas e que ter fé não é privilégio de alguns, mas um dom que Deus concede a quem muito bem entende. E a fé deste homem está alicerçada – profundamente – no seu coração misericordioso porque o que pede não é para si, porque não se considera digno, mas para um servo, um subalterno.

Quando, na vida corrente, nos propõem algo, a nós cabe-nos ter uma de duas atitudes: aceitar ou recusar. Não obtemos nenhum resultado positivo por tentar emitir as nossas condições de acordo com as conveniências próprias. Quem o faz é quem faz a proposta, o convite, porque, naturalmente, é quem sabe o que pretende de nós, o que deseja que façamos. Assim com o chamamento que Cristo faz pessoalmente a cada um em particular. Ele sabe para que nos quer, para que nos chama.

Uma pessoa séria de bom critério quando é chamada só tem uma de duas respostas: Sim, aceito! Ou: Não, recuso!   Estamos a considerar o chamamento divino que num momento qualquer da nossa vida o Senhor não deixará de nos fazer. Em primeiro lugar, ser chamado é uma honra e um privilégio que, só por si, deveria ser mais que suficiente para o nosso acolhimento imediato; depois considerando Quem chama não nos deve preocupar para quê ou porquê porque só pode ser bom e conveniente para nós.

Impressiona o diálogo tão simples entre o pobre leproso e Jesus Cristo. Não são necessárias nem muitas palavras nem grandes gestos. Uma afirmação de fé: «Se quiseres»!  Não há pior lepra que o pecado. Se nos fosse dado ver o mal, o horror que constitui a ferida aberta no Coração de Jesus por um pecado nosso ficaríamos arrepiados e aturdidos. E, no entanto, como neste trecho do Evangelho, o Senhor estende a Sua mão e toca-nos. Mais, humilha-Se num pouco de pão consagrado e oferece-se como alimento! Diria que, de facto, somos “curados” cada vez que recebemos a Comunhão Eucarística, não prostrados como o leproso do Evangelho, mas com toda a vénia, respeito e compunção que o nosso amor por Jesus nos obriga e sugere. Com o Senhor tudo é simples e claro. A gente diz-lhe o que deseja sem duvidar um segundo que Ele o pode fazer. E se o pedido é justo e a Fé verdadeira Ele nos dará o que pedimos. Sem dúvida que este leproso fez o seu pedido da forma mais correcta e - atrevo-me – eficaz, para obter o que desejava. Mostra a sua confiança no poder de Jesus e na Sua infinita misericórdia. Reparemos bem: Pede o que deseja com simplicidade sem se alongar em palavras ou justificações desnecessárias, porque sabe, acredita, confia, que O Senhor conhece o que ele precisa e tem o poder e o desejo de lho conceder.   Jesus cura todos os que a Ele recorrem com Fé e Confiança.

Não precisa de grandes manifestações porque o Seu Coração Amantíssimo e Misericordioso vibra e comove-Se com as necessidades e carências dos Seus irmãos os homens. Pois se Ele deu a Sua vida por nós como não fará o que lhe pedirmos? Estamos habituados, por assim dizer, aos pormenorizados relatos que São Mateus faz da actividade diária de Jesus. Incansavelmente percorre lugar após lugar, povoação após povoação movido pelo desejo de encontrar quem precise da Sua assistência, conselho, auxílio. Na verdade, todos precisam de algo e sabem que, Jesus pode satisfazer e atender as suas necessidades.

A resposta de Jesus aos discípulos aterrados com a procela tem toda a razão de ser. Talvez pudesse acrescentar: ‘Eu não estou aqui convosco? Como podeis temer?’ Mas, como se vê pelo texto eles não tinham, ainda fé suficiente em Jesus. Por isso ficam admirados com o poder de Jesus.   Nós, também, não temos nada a temer porque se O Senhor está connosco, na nossa alma em graça, nada – absolutamente – nos poderá fazer mal. Confiar na Sua Infinita Misericórdia SEMPRE, mesmo quando parece que está ausente, desinteressado ou a dormir. Perante situações extremas - guerras, cataclismos da natureza, perseguições e violências de toda a ordem, somos, por vezes, levados a exclamar: Senhor, onde estás? Dormes? Não Te importas? Este “grito” explica-se, é natural. Somos humanos e reconhecemos a nossa impotência.

Mas, Ele, não, pode tudo, é o Senhor de tudo.

Não Se enfadará com o nosso “grito”, bem ao contrário, actuará com a urgência que julgar conveniente.

 

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