Analisada em detalhe durante séculos por gentes de todas as idades e graus
de cultura todos chegam à mesma conclusão: O Pai-Nosso é uma oração completa e
total. Contém tudo, absolutamente, o que precisamos dizer ao nosso Pai do Céu.
Descreve tudo, absolutamente, o que Ele deseja que façamos. Todas as orações que possamos fazer, por mais belas, cheias de
significado ou piedosas, ficarão aquém do Pai-Nosso ensinado directamente por
Jesus Cristo. Contém tudo quanto devemos dizer quando nos dirigimos a Deus. Louvor,
petição, promessa, compromisso. Sendo Universal, ė eminentemente pessoal porque
se trata da conversa de um filho com o seu Pai.
Milhões de páginas
escritas por eminentes pensadores, glosas e comentários sobre o “Pai Nosso” têm
sido objecto da nossa admiração ao longo dos tempos. Não admira, trata-se de
uma oração divina ensinada pelo próprio Jesus Cristo e a única coisa que temos
de fazer é ter bem presente que foi Ele mesmo que nos disse: «Rezai, pois, assim». Todas as orações
por belas e maravilhosas que possam ser não têm uma pálida semelhança com o
“Pai Nosso”. As nossas orações, fruto da nossa Fé e da nossa Piedade, são
humanas e, sem dúvida, agradáveis a Deus.
O “Pai Nosso” é, -
digamos - como que o “remate” final que consubstancia em si mesmo quanto
precisamos pedir, invocar, dizer. Seja esta oração divina a oração cristã por
excelência e estaremos, seguramente, no caminho certo para chegar ao íntimo de
Deus Nosso Senhor.
Perdão e Amor, Amar e
Perdoar!
O Senhor insiste
repetidamente nestes dois "suportes" da vida do cristão e, de facto,
o Perdão e o Amor andam a par. Cristo nosso Irmão e Exemplo não fez outra coisa
neste mundo: amou a todos a todos perdoou.
Não se pode rezar esta oração – o Pai-Nosso - sem ter bem consciência de
que são palavras divinas as que pronunciamos. Por isso mesmo todo o respeito e
atenção devem estar presentes sem o que não será nem autêntica nem eficaz, mas
mero papaguear que o Senhor não terá em conta.
Por vezes não alcançamos que nós, os cristãos, dispomos de uma oração
ensinada pelo próprio Jesus Cristo. Se nos detivéssemos - por breves momentos
que fosse - a pensar nisto, com que intensidade rezaríamos!
Uma oração que o próprio Deus e Senhor ensinou deve ser, com toda a
certeza, aquela que Lhe é mais agradável e irá mais "directamente" ao
Seu Coração de Pai Amantíssimo.
Pensemos, sobretudo, que Ele nos ensinou a dizer «PAI NOSSO» e não «meu
Pai», o que, quer dizer que sempre que o rezamos estamos unidos a todos os
homens Seus filhos.
O que é meu!
Constantemente nos ocorre esta consideração e não só quanto aos bens que
possuímos, os que gostaríamos de ter, mas a conta em que nos temos, os nossos
predicados, inteligência, cultura, sabedoria. Temos muitas coisas ou, melhor,
julgamos ter e ambicionando sempre por mais.
Ter não significa possuir - no verdadeiro sentido do termo - mas tão só que
nos foi dada a possibilidade de usufruir de algo durante algum tempo que será,
no máximo, o que durar a nossa vida terrena. Depois nada teremos porque não
precisaremos absolutamente de nada.
O olhar
Quantos pecados têm a sua “origem” no olhar.
Lembremos um dos mais conhecidos de todos os tempos, o pecado de David. As
consequências de ter detido o seu olhar numa cena íntima e reservada foram terríveis, desde o assassínio
congeminado de Urias, até a própria morte do seu filho e herdeiro.
Olhar, ver, são bem diferentes de mirar. Aqueles podem ser naturais e como
que automáticos, este, é sempre um acto declarado, voluntário e, por isso,
mesmo, responsável.
O que o Senhor pretende com este discurso é fundamentalmente transmitir-nos
dois princípios basilares de toda Vida Cristã: Primeiro ter ordenadas as
prioridades, saber se o que queremos é de facto o que necessitamos, depois ter
confiança ilimitada na providência divina. Uma vez postos os meios que
dispomos, confiar que o Senhor providenciará o que faltar.
O Senhor continua a insistir no desprendimento pessoal e na confiança na
providência divina. O pão nosso de cada dia não é o que pedimos na oração por
excelência?
Mas vai mais longe garantindo que o nosso Pai celeste sabe muito bem o que
necessitamos e não deixará de providenciar. A cada dia a sua preocupação, não
vivamos obcecados pelo futuro que não sabemos se haverá, façamos antes o que
devemos fazer e quando devemos.
No cofre do nosso coração guardamos o nosso maior Tesouro: A nossa Fé!
Guardemo-la com avareza autêntica, mais, esforcemo-nos por aumentá-lo até
não caber mais e termos reservas suficientes para toda a nossa vida.
Ter, ter, ter!
A vida de muitos - inclusive cristãos - parece resumir-se a esse objectivo.
Somos capazes de enormes esforços e até sacrifícios para o conseguir.
Lembro-me da homilia que um sacerdote inglês pronunciou numa Missa de
Domingo em Malta em 2016. O título era: o que eu quero e o que eu preciso. Foi
uma homilia notável porque despertou questões que raramente nos ocorrem que
poderiam resumir-se assim: ‘Preciso realmente disto que quero ou é apenas um
capricho?’
Pensemos bem e com honestidade e talvez concluamos que muitas coisas que
temos e outras que gostaríamos de ter são absolutamente dispensáveis.
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