Jesus Cristo dá uma
instrução, uma regra absolutamente fundamental quando se trata de avaliar a
honestidade e credibilidade dos que se apresentam como mestres e directores: «Pelos frutos, pois, os conhecereis»
As palavras por mais
belas, os discursos por mais elaborados, as “teorias” por mais consistentes só
têm de facto valor e merecem credibilidade se corresponderem aos actos de quem
as profere ou apresenta. Nunca se ouvirá dizer de alguém que é um santo porque
“fala muito bem”, mas, unicamente porque as obras que pratica e a vida que leva
corresponde ao que diz. Por isso, para nós cristãos, o apostolado mais
importante e, diria, “primário” é o exemplo que damos. Temos, forçosamente, que
insistir no exemplo como primordial no apostolado. O que fazemos tem de
corresponder ao que dizemos porque quem nos ouve estará atento ao que fazemos. O
que dará credibilidade ás nossas palavras são os actos e não a beleza do
discurso ou, até, a lógica dos argumentos.
Res non
verba!
Obras e não palavras! Antigo aforismo latino absolutamente actual e a ter em
conta.
O Senhor enfatiza a importância do
exemplo que é sobretudo fruto da unidade e coerência de vida. Mais importante
que parecer é ser e fazer o que desejamos sirva de exemplo aos outros. Sem vida
interior sólida e bem estruturada não é possível convencer ninguém - nem a nós
próprios - que é fundamental uma vida coerente e bem assente na honestidade de
procedimentos.
Jesus Cristo espera de nós uma “colaboração” activa na difusão do Reino de
Deus. Essa “colaboração” não é outra coisa que apostolado e este, não é mais
que a distribuição que fazemos aos outros dos frutos das nossas boas obras.
Como se sabe os Judeus consideravam – e ainda assim é
– que alguns alimentos eram impróprios – impuros – e que Deus não desejava que
os tomassem para não ficarem eles próprios contaminados.
Jesus Cristo vem explicar claramente que a Lei é,
assim, mal interpretada porque se de facto antigamente se recomendava a
abstinência de alguns alimentos tal se devia a evitar excessos de comida e
bebida daí também se recomendasse o jejum frequente. Uma “medida profiláctica”
dada a um povo rude e violento transformou-se numa lei de observância rigorosa
e talvez caricata. A pureza ou impureza não tem a ver com a limpeza do corpo,
mas com a brancura da alma e do coração. O que se pensa e deseja no íntimo, só
o próprio e Deus o sabem e só a Este haverá que dar contas.
Temos necessidade premente de pedir ao Senhor - com
insistente perseverança -, que nos dê a graça de um coração puro. Livres de
amarras a coisas que não interessam, de prisões a sentimentos que não nos
convêm, de desejos que não nos dignificam Esta necessidade é bem real porque,
pobres de nós, homens, somos constantemente arrastados pela nossa sensualidade,
apetites e desejos. Dá-me, Senhor, um coração puro.
O Evangelista tem a preocupação de que conste neste
relato algo singular: Jesus «tomando-o à parte de entre a multidão»… Porquê
o Senhor deseja fazer este milagre com a discrição possível, fora dos olhares
dos circunstantes? Talvez por um pormenor: «atravessando o território da
Decápole» onde como se sabe, não era bem-vindo. Não obstante, alguns
pedem-Lhe por um pobre surdo-mudo, que o cure e, o Senhor, não resiste aos
pedidos justos. Tal como Deus desistiria do castigo de Sodoma e Gomorra por
causa dos justos que Abraão invocava, assim Cristo, por um só filho Seu fará o
que Se Lhe pedir.
«abre-te»,
diz-nos o Senhor a nós constantemente. Abre-te a Mim que Sou a Vida!
Abre-te a Mim que Sou o amor!
Abre-te a Mim que Sou a Salvação! Abre-te e vive, e ama e salva-te! Como
resistir a este apelo de Cristo? Como ficar parados na berma do caminho por onde
Ele passa num constante convite, num insistente apelo? Não nos fechemos em
nós mesmos que somos tão pouca coisa, abramo-nos, antes, a Cristo que É tudo.
A Liturgia, seguramente com um objectivo muito
concreto, quer dar-nos uma imagem do verdadeiro Jesus Cristo Nosso Senhor e das
Suas relações com os homens. Um milagre portentoso: A cura do servo do
centurião; outro de escasso relevo: A cura da sogra de Pedro; e, depois as
curas incontáveis - todos os doentes o
procuravam - e a expulsão dos demónios. Ou seja, o poder de Jesus não tem
nem medida nem obedece a outro critério que não seja a Sua infinita
misericórdia. Jesus Cristo sendo Deus todo-poderoso não tem nada de Seu nem
sequer «onde reclinar a cabeça»! Que chefe é este que espera seguidores
fiéis e entusiasmados? Não haverá n’Ele algo que poderíamos chamar
"visionário?". Seguramente que sim! O Senhor é um visionário, um
entusiasta que acredita nos homens e deseja absolutamente os homens acreditem
nEle e O sigam. Porquê? Porque só se o fizerem poderão salvar-se.
Não podemos deixar de
reagir naturalmente, com admiração enorme e, ao mesmo tempo, surpresa. Admiração por constatar – como de resto o
próprio Jesus o afirma – uma fé tão profunda que traduz uma confiança total e
absoluta no poder de Jesus Cristo por parte de um homem que nem sequer é
considerado como “um crente”. Surpresa
porque este homem – de posição destacada – se preocupa e sofre com a saúde de
um subalterno seu, contrariando todos os sentimentos – comuns, sobretudo
naquela época – em o que os “patrões”, ou “senhores” tratavam os subalternos
com profundo desprezo. Mais uma vez, vem ao de cima a absoluta necessidade de
sermos – os cristãos – pessoas se são critério e isentos de preconceitos ou
reservas em relação aos outros. Este
acontecimento – que supomos ser o mesmo – é relatado de forma diferente por
outro evangelista, mas, o que interessa não é o pormenor, mas sim a
extraordinária lição de fé daquele homem que procura Jesus. Não é um judeu nem
sequer se poderia considerar um “crente” no sentido que lhe davam os chefes do
povo daquela época, e, por isso mesmo, constatamos que o Senhor não faz acepção
de pessoas e que ter fé não é privilégio de alguns, mas um dom que Deus concede
a quem muito bem entende. E a fé deste homem está alicerçada – profundamente –
no seu coração misericordioso porque o que pede não é para si, porque não se
considera digno, mas para um servo, um subalterno.
Quando, na vida corrente, nos propõem algo, a nós cabe-nos ter uma de duas
atitudes: aceitar ou recusar. Não obtemos nenhum resultado positivo por tentar
emitir as nossas condições de acordo com as conveniências próprias. Quem o faz
é quem faz a proposta, o convite, porque, naturalmente, é quem sabe o que
pretende de nós, o que deseja que façamos. Assim com o chamamento que Cristo
faz pessoalmente a cada um em particular. Ele sabe para que nos quer, para que
nos chama.
Uma pessoa séria de
bom critério quando é chamada só tem uma de duas respostas: Sim, aceito! Ou:
Não, recuso! Estamos a considerar o
chamamento divino que num momento qualquer da nossa vida o Senhor não deixará
de nos fazer. Em primeiro lugar, ser chamado é uma honra e um privilégio que,
só por si, deveria ser mais que suficiente para o nosso acolhimento imediato;
depois considerando Quem chama não nos deve preocupar para quê ou porquê porque
só pode ser bom e conveniente para nós.
Impressiona o diálogo tão simples entre o pobre leproso e Jesus Cristo. Não
são necessárias nem muitas palavras nem grandes gestos. Uma afirmação de fé:
«Se quiseres»! Não há pior lepra que o pecado. Se nos fosse
dado ver o mal, o horror que constitui a ferida aberta no Coração de Jesus por
um pecado nosso ficaríamos arrepiados e aturdidos. E, no entanto, como neste
trecho do Evangelho, o Senhor estende a Sua mão e toca-nos. Mais, humilha-Se
num pouco de pão consagrado e oferece-se como alimento! Diria que, de facto,
somos “curados” cada vez que recebemos a Comunhão Eucarística, não prostrados
como o leproso do Evangelho, mas com toda a vénia, respeito e compunção que o
nosso amor por Jesus nos obriga e sugere. Com o Senhor
tudo é simples e claro. A gente diz-lhe o que deseja sem duvidar um segundo que
Ele o pode fazer. E se o pedido é justo e a Fé verdadeira Ele nos dará o que
pedimos. Sem dúvida que este leproso fez o seu pedido da forma mais correcta e
- atrevo-me – eficaz, para obter o que desejava. Mostra a sua confiança no
poder de Jesus e na Sua infinita misericórdia. Reparemos bem: Pede o que deseja
com simplicidade sem se alongar em palavras ou justificações desnecessárias,
porque sabe, acredita, confia, que O Senhor conhece o que ele precisa e tem o
poder e o desejo de lho conceder. Jesus
cura todos os que a Ele recorrem com Fé e Confiança.
Não precisa de grandes manifestações porque o Seu Coração Amantíssimo e Misericordioso
vibra e comove-Se com as necessidades e carências dos Seus irmãos os homens. Pois
se Ele deu a Sua vida por nós como não fará o que lhe pedirmos? Estamos habituados,
por assim dizer, aos pormenorizados relatos que São Mateus faz da actividade
diária de Jesus. Incansavelmente percorre lugar após lugar, povoação após
povoação movido pelo desejo de encontrar quem precise da Sua assistência,
conselho, auxílio. Na verdade, todos precisam de algo e sabem que, Jesus pode
satisfazer e atender as suas necessidades.
A resposta de Jesus
aos discípulos aterrados com a procela tem toda a razão de ser. Talvez pudesse
acrescentar: ‘Eu não estou aqui convosco? Como podeis temer?’ Mas, como se vê
pelo texto eles não tinham, ainda fé suficiente em Jesus. Por isso ficam
admirados com o poder de Jesus. Nós,
também, não temos nada a temer porque se O Senhor está connosco, na nossa alma
em graça, nada – absolutamente – nos poderá fazer mal. Confiar na Sua Infinita
Misericórdia SEMPRE, mesmo quando parece que está ausente, desinteressado ou a
dormir. Perante situações extremas - guerras, cataclismos da natureza,
perseguições e violências de toda a ordem, somos, por vezes, levados a
exclamar: Senhor, onde estás? Dormes? Não Te importas? Este “grito” explica-se,
é natural. Somos humanos e reconhecemos a nossa impotência.
Mas, Ele, não, pode
tudo, é o Senhor de tudo.
Não Se enfadará com o
nosso “grito”, bem ao contrário, actuará com a urgência que julgar conveniente.
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