Mais
uma vez abordo este tema: A VIDA ETERNA.
Penso
nos muitos que nos hospitais ou em casa esperam um "desfecho
inevitável" e que não têm ninguém que lhes "abra a porta" para o
enfrentar. Não têm um familiar, um amigo que os ajude nessa
"passagem". A maior parte das vezes, talvez, porque nem lhes ocorre,
outras... porque não se dispõem a sugerir algo tão delicado e, pensam,
constrangedor.
Eu
tenho "algumas experiências" pessoais sobre este assunto. A primeira
que refiro é o indescritível rosto da minha Querida Fernandinha, momentos
antes de partir para a Eternidade, depois de ter recebido os três Sacramentos:
a Absolvição, a Comunhão Eucarística e a Unção dos Doentes. Espelhava uma
serenidade tão profunda que parecia irreal. Percebi que contemplava a Face de
Deus. Uma segunda que refiro foi no "velório" de uma grande amiga
nossa. O mesmo rosto espelhando serenidade, tranquilidade, paz. Soube, depois,
que uma amiga comum lhe tinha proporcionado receber os mesmos Sacramentos
administrados por um Sacerdote amigo comum. Que maior prova de amizade se pode
prestar! Aflige-me pensar que muitos Médicos e outros profissionais
hospitalares não estejam preparados para estas situações. Mas, aflige-me
mais o saber que muitos destes profissionais são cristãos mas como que põem de
lado essa condição, como se aduzissem: sou um profissional de saúde não sou um
Sacerdote! Sinceramente penso que, hoje em dia, dificilmente se poderia esperar
outra coisa. A vida humana e, sobretudo a sua dignidade intrínseca, não é uma
preocupação dos que gerem a política e aprovam as leis. Os seus olhos baços não
distinguem o importante do acessório, a sua mentalidade quadriculada só lhes
permite equacionar números e tabelas estatísticas. Falta humanismo, consideração
pelo outro seja quem for e, talvez pior, falta honestidade intelectual,
pessoal, que os conduza a não opinar e, muito menos legislar, sobre o que não
sabem, não estão em condições de entender. Claro que admito que essa gente
ocupa lugares porque outros os elegeram, daí que o voto eleitoral é muito mais
que um dever cívico, é uma obrigação moral. Não me interessa escrever sobre
política mas, todavia, não posso ignorar que o o ser humano tem a política como
que incrustada no seu ser essencial, daí que, abstrair-se dela seja como que
uma fuga inadmissível. Conheci pessoas que, quase liminarmente se escusavam a
ser "políticos" mas que postos perante o dever de aceitar um cargo
qualquer nessa área, o aceitaram pondo como condição a quem os convidava para
esse cargo, o agir segundo a sua própria consciência e nunca pelo considerado
"políticamente correcto" ou as orientações dos Chefes, fossem quem
fossem. Ou seja... aceito servir mas recuso a servir-me. Destas pessoas que
referi, avulta o meu Querido Pai, que, quase obrigado aceitou ser Governador
Civil de um dos maiores Distritos do País. Serviu tal qual impôs como condição:
desempenhar o seu encargo como quem era e, nunca, de outra forma qualquer. Esta
postura teve "custos" para a sua vida pessoal, a sua família, deixou
de ter tempo para assistir à sua empresa pessoal sempre em evolução, ao
acompanhamento mais próximo da sua numerosa família. Mas... cumpriu a tarefa
que tinha aceite, durante 12 anos, até que, exausto disse BASTA! Deixo de ser
eu próprio a falar para deixar que muitos outros o façam muito melhor que eu o
faria, até porque poderei parecer "suspeito", as honras,
condecorações, referências com que foi comulado atestam quanto digo. Nunca vi
lá em sua casa nenhum "quadro" com estas honrarias ou condecorações.
Estava tudo guardado numa gaveta do seu escritório pessoal. Penso, estou
convicto, que nunca a deve ter aberto para "se comprazer" com tais
provas de admiração. O meu Querido Pai é um exemplo daquilo que repetia sem
cessar: 'um homem, só é homem se for igual a si mesmo'. "Igual a si
mesmo"... esta é a minha verdadeira herança que o meu Querido Pai me
deixou: ser, sempre e em qualquer circunstância igual a mim mesmo! Comparo tal
com as palavras de Jesus: "Sede homens de uma só palavra: sim... si, não...
não, o que vá além disto...".
Volto
ao princípio: A Vida Eterna. O tema é tão vasto e, para mim, tão importante,
que não posso mais que tentar discorrer sobre ele. Na verdade sinto-me como que
impotente para tal, que sei eu sobre a Vida Eterna? Mas, no entanto... deveria
- devo fazer o possível - saber. Jesus Cristo nas Suas pregações, discursos e
conversas mais circunscritas aos Seus mais próximos seguidores, abordava
constantemente o tema... A Vida Eterna. Se o fazia era porque, seguramente, o
considerava de extrema importância. Ao longo dos quase três anos de convívio
assíduo com os Doze, foi repetidamente falando sobre o tema. Concluo que o
faria porque era, de facto importante que tivessem presente a Verdade Absoluta.
A Vida Eterna, naquele tempo, era um conceito algo indefenido e, para muitos,
insustentável. Por exemplo, os Saduceus, não acreditavam que existisse. Isto
dever-se-á, principalmente, aos Chefes do Povo, muito mais preocupados com a
vida presente, com os seus negócios e oportunidades que com a salvação eterna. É
sempre assim que acontece quando o ser humano resolve ignorar a visão
sobrenatural considerando apenas o presente, imediato, expectável. Triste
decisão! Quando o homem, eu, decido optar por esta, perco uma como que "vantagem
ou dom" únicos que unicamente possuo: Fui criado, existo... para sempre! Inestimável
conclusão: Fui criado, existo... para sempre! O que tenho de considerar que
realmente importa que deixe como herança aos que de mim vierem a herdar, é esta
certeza absoluta: Fui criado, existo... para sempre! Os "meus
herdeiros" terão de reconhecer que esta herança é consistente, real,
verdadeira porque ao herdar reconhecerão que a herança existe realmente, tem
razão de ser. Como? Pelo exemplo que dei. Talvez que, ao considerar o que acabo
de escrever, me assuste... eu... exemplo!?! Sim... tenho forçosamente de ser
exemplo se não... que pode aproveitar aos "herdeiros"? Daqui extraio
a minha responsabilidade, a minha obrigação e dever: Ser exemplo! Que nunca
alguém possa dizer que fiz o que não disse, que pratiquei o que combati, que,
em suma, não fui "igual a mim mesmo".
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