Há
muitos anos que sirvo em casa de Zaqueu. Confesso que não é um trabalho muito
agradável e não fora o excelente salário há muito teria procurado outro. Mas…
também tenho de reconhecer que me afeiçoei ao meu amo não só porque me trata
bem, mas principalmente porque tenho a noção que sou o único amigo – e, às
vezes, confidente – que tem.
O
meu amo é «chefe dos publicanos» o que não lhe granjeia grandes
simpatias junto do povo pelo que tem muito poucos amigos. Não obstante ser «um
homem rico» e possuir uma excelente casa, onde nada falta, e uma mesa
farta, vive de facto quase isolado e só. Claro que eu sei muito bem que todos
suspeitam que os meios de fortuna lhe vêm directamente do exercício da sua
profissão de cobrador de impostos e não só das “comissões” que os romanos lhe
pagam para os cobrar, mas também porque muitas vezes se “aproveita” de algumas
situações cobrando mais do que o devido, arrecadando para si esses dinheiros.
Talvez, até, os seus colegas lhe entreguem parte do que eles próprios também
cobram a mais. Aconteceu, porém, que um dos seus subordinados – um tal
conhecido por Mateus – tinha subitamente abandonado a profissão e, isto, em
circunstâncias relatadas por muita gente do povo. Claro que Mateus veio ter com
o seu chefe – o meu amo – e contou-lhe o que sucedera e o levara a tal decisão
de mudar de vida. Desde então, o meu amo nunca mais teve sossego por causa de
uma ideia fixa que se lhe instalara no espírito: tinha de conhecer esse homem a
que chamavam Jesus o Nazareno, esse mesmo que fora “o responsável” pela mudança
de vida de Mateus que agora o seguia para onde quer que fosse. De facto, «procurava
conhecer de vista Jesus» porque,
julgava ele, um contacto pessoal não seria possível: um judeu falar com um
publicano!!!
Um
dia, no mercado da cidade próxima, Jericó, deparei-me com uma agitação fora do
comum e informaram-me que esse Jesus ia passar por ali pelo que toda a gente se
juntava no caminho à saída da cidade para o ver e, se possível, fazer-lhe algum
pedido. Voltei a toda a pressa para casa e informei o meu amo dizendo-lhe que
ali estava a oportunidade porque tanto ansiava. Ele não hesitou um minuto sequer
e «Correndo adiante, subiu a um sicómoro para O ver» quando passasse por
ali. Confesso que fiquei espantado com tal atitude e percebi-me que o seu
desejo de ver Jesus era de tal forma genuíno que não se importou com o que
outros pudessem dizer por se colocar, assim, empoleirado numa árvore, algo
inesperado por parte de uma pessoa tão importante.
O
cortejo que seguia Jesus aproximava-se e, então, aconteceu uma coisa
extraordinária: Jesus parou mesmo debaixo do sicómoro onde o meu amo se
empoleirara e «levantando os olhos disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa,
porque convém que Eu fique hoje em tua casa». O meu amo, radiante «desceu
a toda a pressa, e recebeu-O alegremente»
Foi
um dia memorável que jamais esquecerei. Os dois, Jesus e Zaqueu, conversaram longamente
como se fossem “velhos amigos” e era bem notória a alegria e, ao mesmo tempo, a
serenidade que o meu amo ostentava. Não lhe importando os murmúrios que os
circunstantes deixavam escapar, as críticas e os “remoques”, pondo-se
subitamente «de pé diante do Senhor, disse-Lhe: Eis, Senhor, que dou
aos pobres metade dos meus bens e, naquilo em que tiver defraudado alguém,
restituir-lhe-ei o quádruplo». Os murmúrios cessaram de repente e as
pessoas comentavam admiradas e algo incrédulas o que acabavam de ouvir. Mas, a
verdade, é que logo que Jesus se afastou o meu amo começou a tratar das coisas
tal como tinha dito e prometido.
O
que posso dizer é que o meu amo nunca mais foi o mesmo homem; a mudança na sua
vida, no seu modo de proceder foi tal que, aos poucos muitas pessoas que – como
atrás disse – evitavam qualquer contacto, passaram a ser visitas de sua casa e,
muitas vezes assisti, com pedidos de auxílio e assistência que nunca lhes
negava.
Há
anos que sirvo em casa de um Centurião Romano. Na verdade sou um escravo com a
mais humilde tarefa: calçar e descalçar as sandálias do meu senhor.
Em
breve tempo me apercebi que era reconhecido e apreciado, embora, calçar ou
descalçar alguém não seja um “trabalho” nem
nobre nem muito digno mas, quando terminaado, o meu senhor dizia-me
sempre: obrigado! Aquele agradecimento entrava no meu coração como uma espécie
de raio surpreendente e de enormíssimo impacto… nunca tal se ouvira relatar: um
senhor agradecer o trabalho do seu escravo! Ainda mais quando esse senhor era
alguém com tão destacada posição!?
A
minha vida diária não tinha comparação com as vidas de muitos conhecidos meus.
Segundo me relatavam, o tratamento que recebiam dos seus senhores era bem
diferente. Além de lhes ser exigida disponibilidade constante a qualquer hora
do dia ou da noite, recebiam como única paga uma alimentação deficiente e
apenas sofrível. Se acaso adoeciam assim ficavam, na esperança que a doença se
afastasse por si. Receber a visita de um médico era algo impensável. Quando
lhes contava que, em casa do meu senhor, a alimentação era abundante e bem
confeccionada; que nos era concedido descanso absoluto durante a noite; que
dormía-mos em catres e não no chão duro; que… enfim… eramos tratados nas
maleitas e doenças que surgiam… olhavam para mim incrédulos! Então, para os
convencer de que quanto relatava era verdade contei-lhes o que me acontecera na
minha recente e grave doença e como o meu senhor intervira para evitar a morte
que se adivinhava próxima: Ora um centurião tinha um servo a quem dedicava
muita afeição e que estava doente, quase a morrer. Ouvindo falar de Jesus,
enviou-lhe alguns judeus de relevo para lhe pedir que viesse salvar-lhe o
servo.
Chegados
junto de Jesus, suplicaram-lhe insistentemente: «Ele merece que lhe faças isso,
pois ama o nosso povo e foi ele quem nos construiu a sinagoga.» Jesus
acompanhou-os. Não estavam já longe da casa, quando o centurião lhe mandou
dizer por uns amigos: «Não te incomodes, Senhor, pois não sou digno de que
entres debaixo do meu tecto, pelo que nem me julguei digno de ir ter contigo.
Mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. Porque também eu tenho os
meus superiores a quem devo obediência e soldados sob as minhas ordens, e digo
a um: ‘Vai’, e ele vai; e a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faz
isto’, e ele faz.» Ouvindo estas palavras, Jesus sentiu admiração por ele e
disse à multidão que o seguia: «Digo-vos: nem em Israel encontrei tão grande
fé.» E, de regresso a casa, os enviados encontraram o servo de perfeita saúde.
…
Reflectindo
Uma vez mais me
detenho no tema: PLANO DE VIDA
Pessoalmente pelas
circunstâncias que vivo sou o único responsável pela administração do meu
tempo.
Há muitos anos que
decidi ter um plano diário para, pelo menos, tentar ter algumas regras - não um
regulamento - básicas como "esqueleto" desse programa.
Em primeiríssimo
lugar as prioridades:
Oração diária;
Depois:
Participação na Santa Missa.
Se a primeira é
fácil e muito acessível, tenho as minhas orações diárias devidamente escritas,
para cada dia da semana e, portanto... já a segunda pode apresentar problemas
de horários. Mas, seja qual for a dificuldade a minha experiência pessoal
encontra sempre forma de resolver o assunto.
O Anjo da Minha
Guarda guia-me infalível e certeiramente onde tenho de ir.
Depois já me sinto
intimamente confortado e tranquilo para prosseguir.
Planos, refiro-me
aos planos normais da vida corrente... raramente faço fora os que já estão
determinados ou, de alguma forma estabelecidos.
O que pensei fazer
hoje? Não é uma pergunta que me surja de manhã, confesso, o que me surge é a
questão... o que não posso deixar de fazer hoje e, isso, é de fácil resposta...
consulto o calendário pessoal... os aniversários, as Festas, as comunicações a
fazer nesse dia... e já está. A partir daqui estou como que livre de
compromissos - e os compromissos devem ser cumpridos com todo o empenho - e
sigo em frente para o instante seguinte. Evidentemente que não sei - como ninguém saberá - se esse
"instante" vai acontecer, mas isso não deve restringir a minha
vontade de fazer o que for.
O nosso Criador não
põe como que uma espada sobre a nossa cabeça como "Hoje serás chamado a
prestarr contas, o que acomulaste para quem será?.
Não!
Tenho de fazer
algo, o que for. O Senhor não me quer sentado na vera do caminho da vida à
espera do que for, quer que eu viva, actue, me entregue com todos os defeitos e
virtudes que possa ter ao que Ele, em cada momento, espera de mim.
Por isso mesmo...
penso que só me resta dizer-Lhe: "Domine, quid me vis facere", e tudo
fica resolvido.
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