Jesus disse a Pedro: «O que atares na terra ficará atado nos céus,
e o que desatares na terra ficará desatado nos céus.»
Atar e desatar é outra
comparação utilizada por Jesus para manifestar a Sua vontade de conferir a
Simão um poder universal e completo, garantido e autenticado pela aprovação divina.
Não se trata só do poder de
enunciar afirmações doutrinais ou dar directrizes gerais de acção: segundo
Jesus, é o poder de atar e desatar,
ou seja, de tomar todas as medidas necessárias para a vida e o desenvolvimento
da Igreja.
A contraposição atar-desatar serve para mostrar a
totalidade do poder.
Ora bem, é necessário
acrescentar em seguida que a finalidade deste poder consiste em abrir o acesso
ao reino, não em fechá-lo: “abrir”, isto é tornar possível a entrada no reino
dos Céus, e não pôr obstáculos, que equivaleriam a “fechar”.
Como não aceitar
inteiramente como guia e chefe o que foi escolhido para esse lugar?
A missão do Papa é uma
missão divina porque emana do próprio Jesus Cristo, com um mandato preciso e
claro.
O que Jesus disse a Pedro
não foram generalidades mais ou menos abrangentes, algo vago, indefinido. Não!
É, portanto, claro que um cristão tem o dever de acatar as directrizes emanadas
desde a Cátedra de Pedro.
Seja quem for o homem que a
ocupe, ele é sempre o Vigário de Cristo na terra e, a palavra “vigário”
significa exactamente, aquele que substitui alguém.
Na sua viagem no mar da
vida, Jairo, encontra-se com a tempestade. O drama da doença, da morte eminente
da sua filha querida. É um personagem importante, mas perante a gravidade da
situação sabe, no mais íntimo do seu coração que só um milagre podia curar a
filha e alguém lhe terá dito que, Jesus, poderia fazer esse milagre. Talvez
tenha ouvido falar dos milagres recentes que Ele fizera.
Na sequência do Evangelho de
São Mateus, Jesus tinha vindo de Gerasa e, decerto, os acontecimentos
extraordinários, os dois mil porcos precipitados no mar como “preço”, da cura
do endemoninhado, teriam chegado ao seu conhecimento; também poderá ter ouvido
falar do filho da viúva de Naim, ressuscitado em pleno cortejo fúnebre. Vai,
portanto, ter com Ele à praia, não espera que o chame, adianta-se e decide-se.
A situação é grave, a
tormenta violentíssima. «Cai-lhe aos pés»,
diz expressamente o Evangelho. Uma atitude de enorme humildade, de profunda
entrega.
Cair aos pés de Jesus é
“meio caminho andado” para alcançar a misericórdia que se implora.
Que tem de mais
ajoelharmo-nos? Não é Ele o Criador e Senhor de todas as coisas?
Esta passagem tão linear
deve fazer-nos pensar na facilidade com que, por vezes, nos aproximamos de
Jesus. Por exemplo, em frente do Sacrário, onde Ele está presente em Corpo,
Alma e Divindade como nos comportamos? Ajoelhamos reverentemente ou, se não o
podemos fazer, detemo-nos sem pressas e fazemos uma vénia conveniente, sentida,
própria de quem se sabe servo quem cumprimenta o seu Senhor? E como O recebemos
na Sagrada Comunhão? Aproximamo-nos com respeito, com profundo recolhimento
interior? Se Ele Se nos entrega em Corpo, Alma e Divindade para nosso alimento,
não será para nós bastante recebê-Lo como alimento?
A comunhão deve ser um acto
íntimo e respeitoso, feito com decoro e compenetração. Diria até, com
cerimónia. Trata-se de Deus Nosso Senhor, Criador dos Céus e da Terra e de
todas as coisas visíveis e invisíveis. O respeito, nunca demasiado, pelas
coisas sagradas e, sobretudo, pela Sagrada Eucaristia, deve ser uma atitude
permanente em nós e deveríamos esforçar-nos para o fazer também sentir aos
outros.
Lembra-me de antigamente se comungar de joelhos, que é a
atitude natural de recolhimento interior e respeito do homem para com Deus. Os
tempos são outros, evidentemente, e a prática comum hoje em dia é comungar-se
de pé. No entanto, não podemos, nem devemos transigir com novas práticas, - a
menos que a Santa Igreja assim o recomende -, com facilidades ou, como dizia,
familiaridades, sob pena de a Sagrada Comunhão se ir tornando uma coisa banal e
corriqueira em vez de um acto profundamente reflectido e de extraordinária
importância.
Ajoelhar-se diante de Jesus
é uma atitude constante no Evangelho.
Pouco antes deste relato
sobre Jairo, São Marcos conta-nos o que aconteceu com um leproso: «Vem ter com Ele um leproso que, suplicando e
lançando-se de joelhos Lhe diz: Se quiseres, podes limpar-me».
De facto, qualquer atitude
corporal pode ser adequada para se falar com Deus. Perante o nosso progenitor
também não costumamos tomar nenhuma atitude especial, claro está, dentro das
normas do respeito que nos merece. Mas, na oração, que é o nosso diálogo com
Deus a nossa postura deverá ser, além de amor filial, e preferencialmente de
recolhimento, de veneração, de reconhecimento do nosso “nada” perante o Criador
de todas as coisas. A resposta de Jesus a esta postura de humildade e entrega
confiante é sempre generosa, pronta, extraordinária. Ele comove-Se, enternece-Se,
sente-Se movido a satisfazer o que pedimos.
Jairo não sabe nada destas
coisas, sabe apenas que, aquele Homem em frente do qual se prostra é a sua
única esperança naquela grande aflição. Reconhece, assim, a Omnipotência de
Jesus e, por causa deste reconhecimento que é já, em si mesmo, uma graça de
Deus, toma a atitude de entrega, de submissão, de profundo respeito por Quem,
sabe no íntimo do seu coração de pai amargurado, pode salvar a sua filha.
Jesus tem de se deter junto
daquele homem que se ajoelha aos Seus pés.
A conversa interrompe-se,
faz-se silêncio na multidão próxima, todos ficam expectantes do que se vai
seguir. Jairo explica, certamente com um acento de ansiedade: «A minha filhinha está em agonia, Vem
impor-lhe as mãos, para que se salve e viva!»
Jesus entende muito bem a
mensagem. Nela, Jairo, diz tudo quanto quer, o que precisa, o que deseja do
Mestre. Diz o que o traz ali, à Sua presença, a urgência que o impele, a
gravidade da situação que o consome e, com total confiança, faz o pedido, simples,
concreto, objectivo. É assim que devemos rezar. Não nos ficarmos por
“generalidades”. Como as crianças, dizer exactamente o que desejamos, pedir o
que queremos, abrir a alma e o coração sem medos nem receios. Como as crianças
– Pai, quero isto, quero aquilo –, sem
rodeios nem falsas razões. O Senhor sabe muito bem o que precisamos e o que é
melhor para nós e nunca deixará de nos ouvir como desejamos ser ouvidos.
Dar-nos o que pedimos depende da Sua Vontade e do bem que o que pedimos pode,
ou não, ser para nós. Mas, Ele, sabe mais, sempre, fará o que é melhor para
nós, por isso mesmo podemos – e devemos dizer: ‘Sei que farás sempre melhor que
aquilo que Te peço. Aceito a Tua Vontade Santa sobre todas as coisas. Ámen’
Voltamos ao leproso. «Se quiseres podes limpar-me». Que manifestação de fé, confiança absoluta no
Senhor!
Uma confissão tão simples,
sem rodeios, sem muitas palavras não pode deixar de tocar no fundo do Coração
amantíssimo de Jesus. Ele olha para aquele homem, um destroço humano de quem
todos se afastam com repulsa e compadece-Se de tal forma que faz algo tão
extraordinário, que deve ter espantado tanto os circunstantes, que o
evangelista achou que o deveria fazer constar: «Ele, enternecido, estendeu a mão e tocou-o». Jesus não sente repulsa por ninguém, por
mais doente que o homem possa estar, por mais grave ou horroroso que seja o mal
que o afecta. Pois se não há pior mal que o pecado, nem nada mais horrível, e,
Ele, nos acolhe, esquece, perdoa! Jesus não nos afasta nunca, somos nós que nos
afastamos deLe.
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