O Senhor procura-nos a todo
o instante: levanta-te - diz-nos - e sai da tua preguiça, do teu comodismo, dos
teus pequenos egoísmos, dos teus “problemazinhos” sem importância. Desapega-te
da terra; estás aí rasteiro, achatado e informe. Ganha altura, peso, volume e
visão sobrenatural.
Muitas vezes dou comigo a
pensar que, a minha vida é uma constante procura de um encontro com o Senhor,
fazendo oração, procurando-O no sacrário,
participando na Santa Missa. Quando me detenho mais um pouco, vejo com clareza
que não é bem assim, aliás, não é de todo assim; com efeito, eu, procuro
encontrar-me com Ele, mas, isto só acontece porque, primeiro, Ele, quis
encontrar-se comigo.
De muitas maneiras
diferentes, nos mais diversos ambientes e circunstâncias, sinto que me fala, me
interpela, me chama. Está à minha espera! E não deixo de me surpreender com
este cuidado e carinho que Jesus tem para comigo, sendo eu o que sou, sendo eu
como sou: Nada! Depois, mergulho em mim mesmo e reflicto: Sou filho de Deus! Ser Teu filho Senhor! Esta certeza é cada
vez mais uma presença dominante no meu espírito e desejo sinceramente que assim
continue, aumente e cresça até tomar conta total de mim. De tal modo desejo que
esta realidade tome posse de mim, que me entrego totalmente nas Tuas mãos
amorosas de Pai misericordioso, e embora não saiba bem para que me queres, para
que queres como filho a alguém como eu, entrego-me confiante porque sei que me
conheces profundamente, com todos os meus defeitos e pequenas virtudes e é
assim, e não de outro modo, que me queres ao pé de Ti. Não me afastes, Senhor.
Eu sei que Tu não me afastarás nunca. Peço-Te que não permitas que alguma vez, nem por
breves instantes, seja eu a afastar-me de Ti.
Penso na minha vida e
imagino-me um marinheiro, um navegante na viagem permanente que é qualquer vida
normal e corrente de todo o ser humano. Dentro de mim mesmo entrechocam-se
emoções contraditórias principalmente devido a que, sabendo-me um ponto
minúsculo no Universo, tenho simultâneamente a certeza de uma extraordinária
“grandeza” pessoal cuja verdadeira dimensão não consigo abarcar completamente.
«Estava
junto do mar, quando chega um dos príncipes da sinagoga, de nome Jairo, e, ao
vê-lo, cai-lhe aos pés e suplica-lhe instantemente, dizendo: A minha filhinha
está em agonia, Vem impor-lhe as mãos, para que se salve e viva! E foi com
ele.»
Cristo está junto ao mar. O
mar da vida de cada homem. O mar onde navega a multidão de seres humanos
lutando por chegar a um porto. O porto que cada um escolheu para si, para
descansar da luta da viagem, longa ou breve, que começou quando nasceu de sua
mãe e acabará exactamente nesse porto.
Sabemos qual é o porto para onde
nos dirigimos? Temos a certeza de que a nossa “navegação” nos levará a esse
destino?
Sem dúvida que o porto é o
seio de Deus fim de todo o homem: A Eternidade!
No cais desse porto, Ele
estará à nossa espera com o grande livro nas mãos. Ao lado está presente o Anjo
que designou para ser o “nosso Guarda”.
Ele sabe qual era a vontade do nosso Criador a nosso respeito, o que
desejava que nós fizéssemos para navegar no rumo que tinha traçado para nós.
Ao lado do Juiz, está
atentíssimo ao folhear das páginas, preparado para intervir, sempre em nosso
favor, nalguma passagem mais crítica ou delicada. Apressar-se-á a explicar que
as circunstâncias, o mar revolto, as ondas e os ventos, o ambiente, as
debilidades pessoais, talvez tenham contribuído para o nosso navegar por vezes
incerto, errático. Nesse livro está toda a nossa vida, desde que nascemos até a
esse derradeiro momento da nossa partida. É um registo fiel e rigoroso onde tudo,
absolutamente se descreve.
Em primeiro lugar deverá
constar a “expectativa” do Criador a nosso respeito: ‘Desde o início do mundo, pensei em ti e criei-te para seres… Depois
virá uma lista, rigorosa, completa de tudo quanto nos deu para conseguir-mos corresponder
a essas “expectativas”. É uma lista longa, que, constataremos talvez com
espanto, cobre todos os dias da nossa vida. Diariamente fomos recebendo dons,
graças, inspirações, sentimentos que se destinaram a ajudar-nos em cada momento
a caminhar nesse sentido.
Logo no início, deverão
descrever-se os talentos que recebemos, que Ele, com Infinita Bondade, inseriu
na nossa alma no momento em que fomos concebidos.
Depois virá um rol exaustivo
das graças iniciais que nos foram concedidas: O ambiente cristão em que
nascemos, a educação que os nossos pais nos proporcionaram, o exemplo que nos
deram, assim como que uma espécie de “handicap” que nos foi concedido em
relação a tantos – muitos – outros que não tiveram nada disso ou tiveram muito
menos.
Aqui sobressai a graça do
Baptismo que nos integrou na Sua Santa Igreja e onde, perante o mundo, nos foi
dado o nome pelo qual Ele próprio, nos chamou desde o início da criação.
Constará, decerto, a primeira vez que nos dirigimos à Sua Santíssima Mãe, a
primeira Ave-Maria que, pacientemente, a nossa mãe nos ensinou a balbuciar. Com
cores muito vivas estará patente o retrato da nossa alma inocente, branca,
pura, impecável na festa do nosso primeiro encontro com Ele, quando O recebemos
pela primeira vez.
Também consta o momento em
que nos tornamos Seus “soldados” com a descrição das graças que em nós infundiu
o Espírito Santo. A partir destas páginas iniciais abre-se um segundo capítulo
que cobre toda a nossa juventude.
Minuciosamente passa em
revista, ponto por ponto, tudo o que se passou connosco nesse período.
Não nos lembrávamos nem de
uma pequena parte e, no entanto, está tudo ali cuidadosamente registado. Talvez
surja um “apontamento” referente a uma insinuação que nos fez acerca da nossa
vocação e, claro, a nossa resposta. Esta referência há-de aparecer mais vezes
ao longo das páginas deste capítulo e, também, em cada caso, a resposta que
então demos: ‘Sim, aqui estou’! ‘Sim, mas…’; ‘Agora… não’!; ‘Não! Nem pensar em
tal coisa’!
Ficamos muito admirados porque
não nos lembrávamos de quantas vezes tínhamos ouvido a pergunta, escutado o
desafio: ‘Vem comigo. Segue-me’! E os
entusiasmos passageiros, os desejos de corresponder logo sufocados e os
projectos de mudança por concretizar… tantas oportunidades não aproveitadas e
para sempre perdidas!
As mãos divinas folheiam
agora o grande capítulo da nossa vida adulta. Desejaríamos que algumas
passagens, talvez páginas inteiras, não estivessem ali, mas… estão! Deve ser
aqui que “o nosso Guarda” mais intervém, quase sempre para confirmar: ‘Mas… arrependeu-se, pediu perdão’… ‘Sim
– dirá Cristo – é verdade, foi perdoado e o assunto esquecido, mas… consta
aqui… quod scripsi, scripsi’.
E, o Senhor, passa
adiante... Sentimos como que um “aperto” no peito ao constatar os pequenos
traços vermelhos com que o Juiz vai sublinhando passagens do livro; às vezes
páginas inteiras. Traços vermelhos! Não auguram nada de bom!….
Reflectindo
Neste
"caminhar" em Novembro tudo parece contribuir para um certo
"abatimento" do ânimo interior.
Parece-me
normal.
Estou a chegar
ao fim de um ano e tendo a passar em revista quanto se passou e, sobretudo,
como reagi aos acontecimentos.
Mas, ao mesmo
tempo penso que, talvez isso interesse muito pouco..., o que se passou...
passou, o que fiz... está feito, o que deveria ter feito e não fiz está
irremediavelmente perdido.
Quando disse
"abatimento interior" queria referir exactamente essa insatisfação
pessoal de verificar que, bem ao contrário do que me julgo, não sou um
super-homem capaz de tudo e mais alguma coisa e só tenho de concluir que sou
apenas uma pessoa, com defeitos, sem dúvida, mas, também com algumas virtudes,
das quais a mais importante é reconhecer a minha inteira dependência da Vontade
de Deus, daí que conclua que nada mais tenho a fazer, e, sobretudo
preocupar-me, desde que Lhe diga com o coração nas mãos: 'Senhor, faz de mim o
que quiseres, eu quero fazer, em tudo a Tua Vontade Santa'.
Fico em paz.
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