1
Oração
Senhor: Quase que não vejo a necessidade de Te pedir
humildade. Ser humilde é, para mim, um objectivo que persigo desde sempre.
Sempre longe, parece, cada vez mais distante porque, pobre de mim, sou formado
por este barro duro e seco que é o meu carácter, que resiste a ser moldado
pelas Tuas divinas mãos. Mas não Te importes Senhor, não Te importes com este
barro que não vale nada. Parte-o, esfrangalha-o nas Tuas mãos amorosas e, estou
certo, daí sairá algo que se possa - que Tu possas - aproveitar. Não dês
importância à minha prosápia, à minha vaidade, ao meu desejo incontido de
protagonismo e evidência. A verdade, que Te confesso, é esta: Não sei nada, não
posso nada, não tenho nada, não valho nada, não sou absolutamente nada.
O que me acontece e o que penso
É vulgar dizer-se que "óptimo" é inimigo do "bom" e com
este aforismo tentamos justificar-nos sempre que deixamos de fazer o que
devemos e quando devemos adiando com a
"desculpa" que queremos fazer mais e melhor.
3
Santíssima Virgem Glória e Graça
Meditação
Nossa
Senhora e o mar
Cristo
está junto ao mar porque quer ver como nos comportamos na nossa barca, na nossa
navegação. Ele sabe muito bem os perigos que o mar desta vida tem, conhece
profundamente e em detalhe as nossas incapacidades e deficiências como
“marinheiros”. Está ali, para “o que der e vier”. Da praia, se nos vir em
perigo, aflitos com a perda do rumo, acenar-nos-á para que vamos ter com Ele. É
tão bom saber que Cristo está na praia do nosso mar! Que confiança nos dá o
sabê-Lo ali, disponível para o que for preciso! Mesmo quando não nos damos
conta, ou pior, quando ignoramos a Sua presença, Ele está lá, sempre, solícito
e pronto a acudir-nos. Foi na praia que Jesus começou a fantástica história da
salvação humana. Eram homens do mar os que, em primeiro lugar, Jesus escolheu
para concretizar a Sua Missão Salvadora. Muito particularmente, três: Pedro,
Tiago e João, hão-de acompanhá-Lo mais perto da Sua intimidade. Jesus conversa
com eles de forma que eles entendem bem: Fala-lhes do mar e da faina da pesca.
Diz-lhes que o que espera deles, a tarefa grandiosa, extraordinária que lhes
tem reservada. Talvez não tenham percebido completamente o que encerrava esta
primeira conversa, mas não precisaram de mais para se decidirem. Na escolha
feita por Jesus, o que contou, de facto, foi a pronta decisão de O seguirem
assim que os chamou. Ele sabe bem o que espera os homens da Sua Igreja até ao
final dos tempos. A agitação, os ventos contrários, os naufrágios, as vagas
alterosas, o velame que se rompe, os mastros que quebram. Por isso, escolhe,
sempre, um “patrão” para a Sua barca que sabe guiá-la através de todas estas
dificuldades, que será sempre fiel ao rumo e que acabará sempre por alcançar
bom porto. Esses homens que ao longo dos séculos se têm sucedido no comando da
barca de Cristo, da Sua Igreja, são sempre as melhores escolhas porque, quem os
escolhe, é Ele. Como não confiar inteiramente naquele que foi escolhido para
esse lugar? Sozinho, entre o mundo e Cristo, o Papa encontra sempre o rumo
certo para a Igreja, porque não confia em si próprio, na sua sabedoria ou
aptidões, mas, sim, em Cristo a quem obedece fielmente nesse constante duc in altum. Nem um “til”, nem um
“jota” jamais será mudado ou alterado até ao final dos tempos. Jesus afirma: «Sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja e
as portas do inferno não prevalecerão contra ela.» Estas palavras atestam a
vontade de Jesus em edificar a Sua Igreja com uma referência especial à missão
e o poder específicos que Ele, por Sua vez, conferirá a Simão. Jesus define
Simão Pedro como cimento sobre o qual construirá a Sua Igreja. A relação
Cristo-Pedro reflecte-se, assim, na relação Pedro-Igreja. Confere-lhe valor e
clarifica o seu significado teológico e espiritual, que objectiva e eclesialmente
está na base do seu significado jurídico.
É bem conhecida a devoção das gentes do
mar à Virgem Santíssima. Muitas das suas embarcações têm nomes que a invocam.
Fazem-se procissões em sua honra muito concorridas com os barcos engalanados em
ambiente de grande festa e alegria. Algumas ostentam pinturas algumas de
carácter bem ingénuo quase infantis, outras mais elaboradas retratando cenas
mais complexas em que a Senhora é sempre a figura central. Apercebo-me sem
dificuldade que faz todo o sentido a presença da Mãe. De facto, ela tem muito a
ver com tudo o que se passa com a humanidade. Afinal todos os homens – por
vontade expressa do Filho - somos seus filhos. Mas também tem muito a ver com o
mar porque é Guia dos Navegantes; a Stela Maris; a segurança – iter para tuto. [1] A sua vida depois que o
Filho começou a ingente tarefa que O trouxe ao mundo foi passada entre
pescadores, homens do mar, gente habituada aos “altos e baixos” da profissão,
das pescas abundantes e dos malogros das redes vazias. Sabe do que falam,
conhece o que desejam, consola-os e anima-os a prosseguir. Tal como o Filho
também ela lhes diz: «Duc in altum»,
fazei-vos ao largo onde a pesca será mais abundante e compensadora do esforço
despendido. Não vai com eles nas barcas, mas fica em terra, na praia, pensando
neles, pedindo insistentemente ao Filho que os guie, os proteja, que os ventos
e as ondas não se tornem perigos insuperáveis. Mas, se acaso, soçobram ou estão
prestes a sucumbir porque ou perderam os remos ou as velas e estão à deriva num
mar desconhecido apressa-se a socorrê-los.
Em Dezembro de 2011 a embarcação “Virgem do Sameiro” com seis pescadores a bordo naufragou. Os pescadores recolheram-se numa balsa e andaram sessenta horas à deriva no mar, exaustos, sem comida nem água sem quaisquer meios disponíveis para sobreviver quando finalmente foram avistados por um helicóptero que os resgatou e os trouxe para terra. Rodeado pelas televisões e jornalistas, o Mestre da embarcação respondeu a uma jornalista que perguntava o que tinha a dizer sobre o que se afirmava que teria sido milagre por intervenção de Nossa Senhora: ‘Sim, estou convencido que foi um milagre! Não é por acaso que o nome da embarcação é “Virgem do Sameiro” e que dentro da balsa tínhamos um Terço do Rosário’». [2]
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