PEQUENA AGENDA DO CRISTÃO
Quinta-Feira
(Coisas muito simples, curtas, objectivas)
Propósito: Participar na Santa Missa.
Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria,
confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei
esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me
fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou
digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me
dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens,
Senhor. Convidaste-me e eu vim.
Lembrar-me: Comunhões espirituais.
Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.
Pequeno exame: Cumpri o propósito que me propus ontem?
LEITURA ESPIRITUAL
Existe Deus?
Verdade do cristianismo?
No final do segundo milénio,
e justamente no espaço da sua expansão originária, na Europa, o cristianismo
encontra-se mergulhado numa profunda crise, provinda da crise da sua pretensão
de verdade.
Esta crise tem uma dupla
dimensão: em primeiro lugar, pergunta-se cada vez com maior insistência se, no
fundo, será justo aplicar à religião a noção de verdade; por outras palavras,
se ao homem é dado conhecer a verdade propriamente dita sobre Deus e as coisas
divinas.
O homem contemporâneo reconhece-se muito
melhor na parábola budista do elefante e dos cegos: uma vez, um rei, do Norte
da Índia, reuniu em certo lugar todos os habitantes cegos da cidade.
Depois, fez passar um
elefante diante dos que ali estavam presentes. Deixou que uns tocassem na
cabeça, e disse: “Um elefante é assim”.
Outros puderam tocar na orelha ou no dente, na
tromba, no lombo, no casco, na traseira, nos pelos da cauda.
O rei, em seguida, perguntou
a cada um: “Como é um elefante?”.
E, segundo a parte que
tinham tocado, respondiam:
“É como um cesto
entrançado…”, “é como um vaso…”, “é como a haste de um arado…”;
“É como um armazém…”;
“É como um pilar…”;
“É como uma giesta…”.
Então – continua a parábola
– começaram a discutir, gritando:
“O elefante é assim”, “não,
é assim”, atiraram-se uns aos outros e começaram a lutar, para grande
divertimento do rei.
A disputa entre religiões
surge aos homens de hoje como esta discussão entre cegos de nascença.
Pois, face ao mistério de
Deus, somos cegos de nascença, assim parece.
Para o pensamento actual, o
cristianismo não está de modo algum mais bem situado do que as restantes
religiões; pelo contrário, com a sua pretensão de verdade, parece sofrer de uma
cegueira peculiar em face do limite do nosso conhecimento do divino, e
caracteriza-se por um fanatismo particularmente insensato que, de modo
incorrigível, confunde o todo com a porção apreendida na sua própria
experiência.
Além disso, este cepticismo generalizado perante a pretensão de verdade em matéria de religião vê-se apoiado pelas questões que a ciência moderna levantou sobre as origens e os conteúdos do cristianismo.
A teoria evolucionista
parece ter superado a doutrina da criação;
Os conhecimentos sobre
origem do homem debelaram, aparentemente, a doutrina do pecado original;
A exegese crítica relativiza
a figura de Jesus e questiona a sua consciência filial;
A origem da Igreja em Jesus
afigura-se duvidosa, etc.
O fundamento filosófico do
cristianismo revela-se problemático após o “fim da metafísica” e as suas bases
históricas surgem a uma luz ambígua em virtude dos modernos métodos históricos.
É, pois, fácil reduzir os
conteúdos cristãos a símbolos, não lhes atribuir uma maior verdade do que aos
mitos da história das religiões – vê-los como uma modalidade de experiência
religiosa que, com humildade, se deveria situar ao lado das outras.
Aparentemente, vistas assim
as coisas, poderia continuar a ser-se cristão e prosseguir na utilização das
formas de expressão do cristianismo, cuja pretensão se alterou de modo radical:
a verdade, que era para o homem uma força vinculante e uma promessa segura,
converte-se doravante numa forma de expressão cultural da sensibilidade
religiosa geral, e que se nos afigura óbvia em virtude da nossa origem
europeia.
Ernst Troeltsch, no início do século XX, fez uma formulação filosófica e teológica desta retirada do cristianismo da sua pretensão originariamente universal, que apenas se podia fundar na sua pretensão de verdade.
O cristianismo é, pois,
apenas o lado do rosto de Deus voltado para a Europa.
As “particulares
características ligadas à cultura e às raças”, e “as características das suas
grandes formações religiosas que abarcam um contexto mais amplo” elevam-se à
categoria de instância derradeira:
“Quem se atreveria a
formular juízos de valor verdadeiramente categóricos a tal respeito?
É algo que só o próprio Deus
poderia fazer, ele que está na origem destas diferenças”.
Um cego de nascença sabe que
não nasceu para ser cego e, por conseguinte, não deixará de se interrogar sobre
o porquê da sua cegueira e sobre o modo como dela sair.
Só aparentemente o homem se
resignou ao veredicto de ser cego de nascença frente àquilo que lhe pertence, à
única realidade que, em última instância, conta na nossa vida.
A tentativa titânica de se
apropriar do mundo inteiro, de extrair da nossa vida e para a nossa vida todo o
possível mostra, tal como as explosões de um culto do êxtase, da transgressão e
da destruição de si, que o homem se não contenta com semelhante juízo.
Porque, se não sabe donde
vem e porque existe, não será porventura em todo o seu ser uma criatura
falhada?
O adeus aparentemente
indiferente à verdade sobre Deus e sobre a existência do nosso eu, a aparente
satisfação por não ter já de se ocupar de tudo isto, é um engano.
O homem não pode resignar-se
a ser e a permanecer, quanto ao que é essencial, um cego de nascença.
O adeus à verdade nunca pode
ser definitivo.
Sendo assim, importa levantar de novo a questão extemporânea da verdade do cristianismo, por supérflua e difícil de responder que a muitos se afigure.
Mas como?
A teologia cristã deverá,
sem dúvida, examinar cuidadosamente, sem medo de se expor, as diferentes
instâncias que se levantaram contra a pretensão de verdade do cristianismo no
campo da filosofia, das ciências naturais, da história natural.
Mas, por outro lado, deverá
tentar igualmente obter uma visão geral do problema relativo à verdadeira
essência do cristianismo, da sua posição na história das religiões e do seu
lugar na existência humana. Gostaria de dar um passo nesta direcção, realçando
como, nas suas origens e dentro do cosmos das religiões, o cristianismo encarou
esta sua pretensão.
Que eu saiba, não existe nenhum texto do cristianismo antigo que arroje tanta luz sobre a questão como a discussão de Santo Agostinho com a filosofia religiosa do “mais erudito entre os Romanos”, Marco Terêncio Varrão 116-27 a.C.
Este partilhava a imagem
estóica de Deus e do mundo;
Definiu Deus como animam
motu ac ratione mundum gubernantem (como “a alma que governa o mundo por
meio do movimento e da razão”), por outras palavras: como a alma do mundo que
os Gregos chamam kosmos: hunc ipsum mundum esse deum.
Esta alma do mundo, porém,
não recebe nenhum culto.
Não é objecto de religio.
Por outras palavras: verdade
e religião, conhecimento racional e ordem cultual situam-se em dois planos de
todo diversos.
A ordem cultual, o mundo
concreto da religião, não pertence à ordem da res, da realidade como tal, mas à
dos mores – dos costumes.
Não foram os deuses que
criaram o Estado, o Estado é que instituiu os deuses, cuja veneração é
essencial para a ordem do Estado e para o bom comportamento dos cidadãos.
Na sua essência, a religião
é um fenómeno político.
Varrão distingue assim três
tipos de “teologia”, entendendo por teologia a ratio, quae de diis explicatur –
a compreensão e a explicação do divino, poderíamos traduzir.
Tais são a theologia
mythica, a theologia civilis e a theologia naturalis.
Mediante quatro definições,
explica ele, em seguida, que se deve entender por estas “teologias”.
A primeira definição
refere-se aos três teólogos associados a estas três teologias: os teólogos da
teologia política são os poetas, porque compuseram cantos sobre os deuses e
são, por isso, cantores da divindade.
Os teólogos da teologia
física (natural) são os filósofos, os eruditos, os pensadores, que, indo além
dos hábitos, se interrogam sobre a realidade, sobre a verdade;
Os teólogos da teologia
civil são os “povos”, que decidiram não se aliar aos filósofos (à verdade), mas
aos poetas, às suas visões poéticas, às suas imagens e às suas figuras.
A segunda definição concerne aos lugares a que na realidade estão associadas as teologias singulares.
À teologia mítica
corresponde o teatro, que tinha efectivamente um carácter religioso, cultual;
segundo a opinião comum, os espectáculos tinham sido instituídos em Roma por
ordem dos deuses.
À teologia política
corresponde a urbs.
O espaço da teologia natural
seria o cosmos.
A terceira definição designa o conteúdo das três teologias: A teologia mítica teria por conteúdo as fábulas sobre os deuses, criadas pelos poetas; a teologia de Estado, o culto; A teologia natural responderia à questão sobre quem são os deuses.
Vale a pena, agora, prestar
maior atenção: «Se – como em Heraclito – esses (os deuses) são feitos de fogo
ou – como em Pitágoras – de números, ou – como em Epicuro – de átomos, e outras
coisas ainda que os ouvidos podem suportar mais facilmente dentro dos muros
escolares do que fora deles, na praça pública», depreende-se com absoluta clareza
que esta teologia natural é uma desmitologização, ou melhor uma racionalidade,
que perscruta criticamente o que existe por detrás da aparência mítica e a
dissolve mediante o conhecimento científico-natural.
Culto e conhecimento ficam
entre si separados.
O culto continua necessário,
enquanto for uma questão de utilidade política; o conhecimento tem um efeito
destruidor sobre a religião e não deveria, por isso, trazer-se à praça pública.
(Joseph Ratzinger (Bento xvi)
SACRAMENTOS
O Matrimónio
1. O desígnio divino sobre o
matrimónio
«Jesus Cristo não só
restabelece a ordem inicial querida por Deus, mas dá a graça para viver o
Matrimónio na nova dignidade de sacramento, que é o sinal do seu amor esponsal
pela Igreja: «Vós maridos amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja» (Ef
5,25)» (Compêndio, 341).
«Entre os baptizados, não
pode haver contrato matrimonial válido que não seja por isso mesmo sacramento»
(CDC, 1055 §2).
REFLEXÃO
Algumas vezes a nossa vontade parece condicionada ás conveniências e é
bom que assim seja, por isso convém não agir por impulso.
(AMA,17.06.2021)
SÃO JOSEMARIA – textos
Que a tua vida não seja uma vida estéril
Que a tua vida não seja uma vida estéril. – Sê útil. – Deixa
rasto. – Ilumina, com o resplendor da tua fé e do teu amor. Apaga, com a tua
vida de apóstolo, o rasto viscoso e sujo que deixaram os semeadores impuros do
ódio. – E incendeia todos os caminhos da Terra com o fogo de Cristo que levas
no coração. (Caminho, 1)
Se cedesses à tentação de perguntar a ti mesmo: quem me manda a
mim meter-me nisto? teria de responder-te: manda-to, pede-to o próprio Cristo.
A messe é grande e os operários são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da messe que
mande operários para a sua messe. Não digas, comodamente: eu para isto não
sirvo; para isto já há outros; não estou feito para isto... Não. Para isto não
há outros. Se tu pudesses falar assim, todos podiam dizer a mesma coisa. O
pedido de Cristo dirige-se a todos e cada um dos cristãos. Ninguém está
dispensado: nem por razões de idade, nem de saúde, nem de ocupação. Não há
desculpas de nenhum género. Ou produzimos frutos de apostolado ou a nossa fé
será estéril. Além disso, quem disse que para falar de Cristo, para difundir a
sua doutrina, era preciso fazer coisas especiais, fora do comum? Faz a tua vida
normal; trabalha onde estás a trabalhar, procurando cumprir os deveres do teu
estado, acabar bem o que é próprio da tua profissão ou do teu ofício,
superando-te, melhorando-te dia-a-dia. Sê leal, compreensivo com os outros e
exigente contigo mesmo. Sê mortificado e alegre. Será esse o teu apostolado. E,
sem saberes porquê, tendo perfeita consciência das tuas misérias, os que te
rodeiam virão ter contigo e, numa conversa natural, simples – à saída do
trabalho, numa reunião familiar, no autocarro, ao dar um passeio, em qualquer
parte – falareis de inquietações que em todas as almas existem, embora às vezes
alguns não queiram dar por isso. Mas cada vez as perceberão melhor, desde que
comecem a procurar Deus a sério. (Amigos de Deus, 272–273)
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