04/03/2021

Virtudes

 


GRATIDÃO  1

A gratidão leva-nos a lutar

Quais são os verdadeiros motivos que dinamizam um cristão? Que procuramos quando dizemos que queremos ser melhores? A luta deve centrar-se em Deus, não em nós, sugere este texto.

«Será como um homem que, ao partir para fora, chamou os servos e confiou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual conforme a sua capacidade; e depois partiu» (Mt 25,14-15). A história de Jesus sobre os talentos é-nos muito familiar e, como toda a Escritura, nunca deixa de nos convidar a uma maior compreensão da nossa vida de relação com Deus. No fundo, a parábola fala de um homem que confia generosamente uma grande parte da sua riqueza a três servos. Ao fazê-lo, não os trata como a simples servos, antes os faz participar nos seus negócios. Visto desta maneira, parece que confiar é precisamente o verbo adequado: não lhes dá instruções detalhadas, dizendo-lhes exatamente o que fazer. Deixa-o nas suas mãos. A julgar pela sua reacção - o empenho com que se esforçam por multiplicar a riqueza do seu senhor - dois deles compreenderam imediatamente. Receberam o gesto do seu senhor como sinal de confiança. Podíamos até dizer que o viram como um gesto de amor, e por isso procuraram amorosamente agradar-lhe, embora não lhes tivessem sido postas exigências nem condições. «Aquele que recebeu cinco talentos negociou com eles e ganhou outros cinco» (Mt 25,16). Do mesmo modo, o que tinha dois talentos ganhou mais dois.

O outro servo, pelo contrário, percebe algo muito diferente. Sente que está a ser posto à prova e, portanto, não pode fracassar. Para ele, é de suma importância não tomar uma decisão errada. «Aquele que apenas recebeu um foi fazer um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor» (Mt 25,18). Teme desgostar o seu amo, bem como as consequências que imagina que podiam resultar desse desagrado. Por isso, diz-lhe: «Senhor, disse ele, sempre te conheci como homem duro, que ceifas onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. Por isso, com medo, fui esconder o teu talento na terra. Aqui está o que te pertence» (Mt 25,24-25). Como pensa que o seu amo é duro e injusto, não pensa que se lhe confie nada. Vê-o como um teste difícil, e não como uma oportunidade. E, não querendo falhar nesse teste, resolve agir do modo mais seguro com os bens e interesses de outra pessoa. O resultado é uma atitude fria e desprendida: «Aqui está o que te pertence» (Mt 25,25).

Estas duas reacções, tão diferentes, podem ajudar-nos a refletir sobre como estamos a responder ao que Deus nosso Pai nos tem confiado: a nossa vida, a nossa vocação cristã. Ambas têm um valor imenso aos seus olhos. E Ele colocou-as nas nossas mãos. Como é a nossa resposta?

 

 

Justin Gillespie

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