Novo Testamento
Evangelho
Lc VII, 24-50
Elogio do Precursor
24 Depois de os mensageiros de João se
terem retirado, Jesus começou a dizer à multidão acerca dele: «Que fostes ver
ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? 25 Que fostes ver, então? Um homem
vestido com roupas finas? Os que usam trajes sumptuosos vivem regaladamente e
estão nos palácios dos reis. 26 Que fostes ver, então? Um profeta? Sim, Eu
vo-lo digo, e mais do que um profeta. 27 É aquele de quem está escrito: ‘Vou
mandar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de ti.’ 28
Digo-vos: Entre os nascidos de mulher não há profeta maior do que João; mas, o
mais pequeno do Reino de Deus é maior do que ele.» 29 E todo o povo que o
escutou, bem como os cobradores de impostos, reconheceram a justiça de Deus,
recebendo o baptismo de João. 30 Mas, não se deixando baptizar por ele, os
fariseus e os doutores da Lei anularam os desígnios de Deus a seu respeito.
Jesus censura a incredulidade
dos judeus
31 «A quem, pois, compararei os homens
desta geração? A quem são semelhantes?
32 Assemelham-se a crianças que, sentadas na praça, se interpelam umas
às outras, dizendo: ‘Tocámos flauta para vós, e não dançastes! Entoámos
lamentações, e não chorastes!’ 33 Veio João Baptista, que não come pão nem bebe
vinho, e dizeis: ‘Está possesso do demónio!’ 34 Veio o Filho do Homem, que come
e bebe, e dizeis: ‘Aí está um glutão e bebedor de vinho, amigo de cobradores de
impostos e de pecadores!’ 35 Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus
filhos.»
A pecadora aos pés de Jesus
36 Um fariseu convidou-o para comer
consigo. Entrou em casa do fariseu, e pôs-se à mesa. 37 Ora certa mulher,
conhecida naquela cidade como pecadora, ao saber que Ele estava à mesa em casa
do fariseu, trouxe um frasco de alabastro com perfume. 38 Colocando-se por
detrás dele e chorando, começou a banhar-lhe os pés com lágrimas; enxugava-os
com os cabelos e beijava-os, ungindo-os com perfume. 39 Vendo isto, o fariseu
que o convidara disse para consigo: «Se este homem fosse profeta, saberia quem
é e de que espécie é a mulher que lhe está a tocar, porque é uma pecadora!» 40
Então, Jesus disse-lhe: «Simão, tenho uma coisa para te dizer.» «Fala, Mestre»
- respondeu ele. 41 «Um prestamista tinha dois devedores: um devia-lhe
quinhentos denários e o outro cinquenta. 42 Não tendo eles com que pagar,
perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?» 43 Simão respondeu: «Aquele a quem
perdoou mais, creio eu.» Jesus disse-lhe: «Julgaste bem.» 44 E, voltando-se
para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me
deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e
enxugou-os com os seus cabelos. 45 Não me deste um ósculo; mas ela, desde que
entrou, não deixou de beijar-me os pés. 46 Não me ungiste a cabeça com óleo, e
ela ungiu-me os pés com perfume. 47 Por isso, digo-te que lhe são perdoados os
seus muitos pecados, porque muito amou; mas àquele a quem pouco se perdoa pouco
ama.» 48 Depois, disse à mulher: «Os teus pecados estão perdoados.» 49
Começaram, então, os convivas a dizer entre si: «Quem é este que até perdoa os
pecados?» 50 E Jesus disse à mulher: «A tua fé te salvou. Vai em paz.»
Texto
CARTA
APOSTÓLICA
AMANTISSIMA
PROVIDENTIA
DO
SUMO PONTÍFICE
PAPA
JOÃO PAULO II
AOS
BISPOS, SACERDOTES E FIÉIS DA ITÁLIA
NO
SÉTIMO CENTENÁRIO DA MORTE
DE
SANTA CATARINA DE SENA,
VIRGEM
E DOUTORA DA IGREJA
A insistência no princípio de solidariedade
serve também para demonstrar a raiz profunda da fraternidade humana que nos foi
ensinada por Cristo. Os homens vivem esta realidade: cada um é quase
completamente dos outros. A Providência criou-os dotando-os de qualidades
físicas e morais diferenciadas de indivíduo para indivíduo, de maneira que tem
cada um necessidade dos outros, "para que assim, por força, tenhais
matéria para usar a caridade uns com os outros" (39), e
fiquem todos ligados pela necessidade do auxilio mútuo, como os membros do
corpo entre si (40).
De modo semelhante, na Igreja universal há
solidariedade entre sector e sector. O que é figurado na alegoria das três
vinhas: a pessoal, a do próximo, e a universal do povo de Deus. As primeiras
duas estão de tal maneira unidas "que nenhum pode fazer bem a si sem o
fazer ao próximo, nem mal sem que o faça a ele" (41).
Mas na solidariedade com a terceira vinha está o sentido catariniano do
equilíbrio e da ordem.
É na vinha universal que está plantada a
única vide verdadeira, Jesus Cristo, sobre a qual todas as outras devem estar
enxertadas para d'Ele receberem a vida (42).
Nela o principal trabalhador é o Papa, "Cristo na terra, que nos deve
servir o sangue d'Ele" (43); do Papa todo o outro
trabalhador depende, por obediência e porque ele "tem as chaves do sangue
do humilde Cordeiro" (44). Imagens estas
transparentes do primado de Pedro — primado de magistério e de governo
estabelecido pela "primeira doce Verdade" (45) —
que une o carisma e a instituição em Cristo, fonte única, que é a fonte única
de ambos.
Nesta lógica se inspirou, em favor do
pontificado romano, toda a actividade de Catarina, anjo tutelar da Igreja.
CONCLUSÃO
O papel excepcional desempenhado por Catarina
de Sena, segundo os planos misericordiosos da Providência divina na história da
salvação, não terminou com o seu feliz trânsito para a pátria celeste. Ela, na
verdade, continuou a influir salutarmente na Igreja, tanto pelos luminosos
exemplos de virtude como devido aos admiráveis escritos. Por isso os Sumos
Pontífices meus Predecessores lhe exaltaram concordemente a perene actualidade,
propondo-a continuamente à admiração e imitação dos fiéis.
O Sumo Pontífice Pio II, na Bula de
Canonização, chamou-lhe com palavras quase proféticas "illustris et
indelebilis memoriae virginem" (46).
Pio IX proclamou-a, em 1866, segunda padroeira de Roma. São Pio X propô-la como
modelo às Mulheres da Acção Católica, nomeando-a padroeira delas. Pio XII
proclamou São Francisco de Assis e Santa Catarina de Sena padroeiros primários
da Itália, com a Carta Apostólica Licet commissa de 18 de Junho de 1939; e, no
memorável discurso em honra dos dois Santos, pronunciado na igreja de
"Santa Maria sopra Minerva" a 5 de Maio de 1940, este Papa tributou à
Santa de Sena o seguinte esplêndido elogio: "Neste serviço da Igreja, vós
bem compreendeis, dilectos filhos, como Catarina se antecipa aos nossos tempos,
com uma acção que dilata a alma católica e a põe ao lado dos ministros da fé;
sujeita sim, mas também cooperadora na difusão e defesa da verdade e da
restauração moral e social da convivência humana" (47).
Nem menos palpitantes de actualidade foram os repetidos louvores que à figura e
actividade apostólica de Catarina tributou o Sumo Pontífice Paulo VI, por ocasião
da festa anual da Santa. Parecem-me, entre outras, altamente significativas
para os nossos tempos as seguintes palavras do meu venerado Predecessor.
"Santa Catarina, disse ele a 30 de Abril de 1969, amou a Igreja na sua
realidade que, bem sabemos, tem aspecto duplo: um místico, espiritual e
invisível, o essencial e fundido com Cristo Redentor glorioso, que não cessa de
derramar o Seu sangue (quem falou tanto do sangue de Cristo como Catarina?)
sobre o mundo por meio da Sua Igreja; o outro, humano, histórico, institucional
e concreto, mas nunca separado do divino. Vale a pena perguntarmos se os nossos
modernos críticos do aspecto institucional da Igreja são capazes de compreender
esta simultaneidade." (48). Mas Paulo VI testemunhou,
com autoridade maior ainda, a sua estima pelo valor perene da doutrina ascética
e mística de Santa Catarina, quando a elevou, juntamente com Santa Teresa de
Ávila, à dignidade de Doutoras da Igreja e lhes celebrou a sobre-humana
sabedoria na Basílica de São Pedro a 4 de Outubro de 1970 (49).
Na vida e na actividade,
quer literária quer apostólica, de Santa Catarina de Sena, verificou-se na
realidade tudo o que tive ocasião de recordar a um grupo de Bispos em visita ad
limina: "O Espírito Santo está activo a iluminar as mentes dos fiéis com a
Sua verdade e a inflamar-lhes os corações com o amor. Mas estes conhecimentos
de fé e este sensus fidelium não são independentes do magistério da Igreja, que
é instrumento do mesmo Espírito Santo e assistido por Ele. E só quando os fiéis
são alimentados pela palavra de Deus, fielmente transmitida na sua pureza e
integridade, que os seus próprios carismas são plenamente activos e
frutuosos" (50).
Oxalá, dilectíssimos Irmãos e Filhos, o
exemplo de Santa Catarina de Sena — cuja vida foi tão admiravelmente activa e
fecunda para a pátria e para a igreja, porque dócil ao "instinctus"
do Espírito Santo e guiada pelo Magistério da Igreja — oxalá suscite em
muitíssimas almas admiração mais viva e desejo de imitação das heróicas
virtudes. Teremos assim nova confirmação de a sua morte ter sido
verdadeiramente — e continuar a sê-lo — "preciosa aos olhos do
Senhor", como é "a morte dos Seus santos" (51).
Depois de expressos estes sentimentos da
nossa alma, a Vós, veneráveis Irmãos e aos dilectos filhos da Itália, e também
a todos os que recordam piedosamente em todo o mundo este centenário da morte
de Santa Catarina de Sena, nomeadamente à Ordem dos Frades Pregadores e às
Monjas e Irmãs que vivem vida consagrada a Deus segundo as normas da mesma
Família religiosa, de todo o coração concedemos a Bênção Apostólica.
Dado em Roma, junto de São
Pedro, no dia 29 do mês de Abril, em memória de Santa Catarina de Sena, Virgem
e Doutora da Igreja, no ano de 1980, segundo do Nosso Pontificado.
IOANNES PAULUS PP. II
Notas
(22) Várias ediç. modernas
(Tommaseo, Misciattelli, Ferretti, Meattini) todas com a numer. de Tommaseo.
Edição critica (88 cartas) com numeração romana, preparada por Dupré-Theseider,
1940.
(23) Edição preparada por G.
Cavallini, Roma 1968.
(24) Underhill E., Mysticism, ed. Meridian Book, 1955, p. 467.
(25) Ediç. crítica preparada
por Cavallini G., Roma 1978.
(26) Diálogo, cc. 21-22;
Cartas 272.
(27) Diálogo, c. 11.
(28) Lumen gentium, c. V.
(29) Diálogo, c. 53.
(30) Diálogo, c. 26.
(13) Diálogo, cc. 56-77.
(32) Diálogo, cc. 87-96.
(33) Lumen gentium, c. V.
(34) Diálogo, c. 6.
(35) Cfr. DEMAN T., La parte del prossimo nella vita
spirituale secondo il Dialogo (in "Vita cristiana", 1947, n. 3, pp.
250-258).
(36) Diálogo, c. 7.
(37) Diálogo, cc. 7-8.
(38) Carta 263. Cfr.
Diálogo, cc. 7 e 64.
(39) Diálogo, c. 7.
(40) Diálogo, c. 148.
(41) Diálogo, c. 24.
(42) Ibidem.
(43) Cartas 313 e 321.
(44) Carta 339; cfr. Cartas
309 e 305.
(45) Carta 24, ou X.
(46) Bula Misericordias
Domini: Bull. Rom., vol. V,
1860, p. 165.
(47) Discorsi, vol. II, p. 100.
(48) Insegnamenti di Paolo
VI, VII, 1969, p. 941.
(49) Cfr. AAS 62, 1970, pp.
673-678.
(50) Cfr. Alocução a um
grupo de Bispos da Índia, 31.5.1979: AAS 71, 1979, p. 998.
(51) Sl 116, 15.
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