Evangelho
Mc VI, 14-33
Morte de João Baptista
14 O rei Herodes ouviu falar de Jesus,
pois o seu nome se tornara célebre; e dizia-se: «Este é João Baptista, que
ressuscitou de entre os mortos e, por isso, manifesta-se nele o poder de fazer
milagres»; 15 outros diziam: «É Elias»; outros afirmavam: «É um profeta como um
dos outros profetas.» 16 Mas Herodes, ouvindo isto, dizia: «É João, a quem eu
degolei, que ressuscitou.» 17 Na verdade, tinha sido Herodes quem mandara
prender João e pô-lo a ferros na prisão, por causa de Herodíade, mulher de
Filipe, seu irmão, que ele desposara. 18 Porque João dizia a Herodes: «Não te é
lícito ter contigo a mulher do teu irmão.» 19 Herodíade tinha-lhe rancor e
queria dar-lhe a morte, mas não podia, 20 porque Herodes temia João e, sabendo
que era homem justo e santo, protegia-o; quando o ouvia, ficava muito perplexo,
mas escutava-o com agrado. 21 Mas chegou o dia oportuno, quando Herodes, pelo
seu aniversário, ofereceu um banquete aos grandes da corte, aos oficiais e aos
principais da Galileia. 22 Tendo entrado e dançado, a filha de Herodíade
agradou a Herodes e aos convidados. O rei disse à jovem: «Pede-me o que
quiseres e eu to darei.» 23 E acrescentou, jurando: «Dar-te-ei tudo o que me
pedires, nem que seja metade do meu reino.» 24 Ela saiu e perguntou à mãe: «Que
hei-de pedir?» A mãe respondeu: «A cabeça de João Baptista.» 25 Voltando a
entrar apressadamente, fez o seu pedido ao rei, dizendo: «Quero que me dês
imediatamente, num prato, a cabeça de João Baptista.» 26 O rei ficou desolado;
mas, por causa do juramento e dos convidados, não quis recusar. 27 Sem demora,
mandou um guarda com a ordem de trazer a cabeça de João. O guarda foi e
decapitou-o na prisão; 28 depois, trouxe a cabeça num prato e entregou-a à
jovem, que a deu à mãe. 29 Tendo conhecimento disto, os discípulos de João
foram buscar o seu corpo e depositaram-no num sepulcro.
Volta dos Apóstolos
30 Os Apóstolos reuniram-se a Jesus e
contaram-lhe tudo o que tinham feito e ensinado. 31 Disse-lhes, então: «Vinde,
retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um pouco.» Porque eram tantos os
que iam e vinham, que nem tinham tempo para comer. 32 Foram, pois, no barco,
para um lugar isolado, sem mais ninguém. 33 Ao vê-los afastar, muitos
perceberam para onde iam; e de todas as cidades acorreram, a pé, àquele lugar, e
chegaram primeiro que eles.
Texto
Exame
Há fórmulas e esquemas variadíssimos para
fazer esse exame e os autores espirituais dedicam-lhe muitas páginas de
considerações e conselhos práticos para o levar a cabo.
Cabe a cada um
encontrar a melhor forma, honesta e séria, que responda às suas necessidades de
pacificação consigo mesmo e, também, de encontrar respostas adequadas aos problemas
que sabe que tem.
O exame exaustivo e pormenorizado de quanto
se fez durante o dia não parece ser nem prático nem útil porque, além de
difícil execução, pode conduzir a uma complexidade de avaliações que acabam,
quase sempre, em sentimentos derrotistas e cheios de escrúpulos, deformando
aquilo que se é e, tendencialmente, estabelecendo comparações com aquilo que se
desejaria ser se fosse possível.
A maior parte das
vezes não somos, de facto, quem gostaríamos de ser e, em muitas coisas, não
procedemos como consideramos que seria o ideal.
Porque, se temos uma ânsia, legítima, de
perfeição, é preciso ter bem em conta se essa fasquia está de facto ao nosso
alcance ou se não se trata de uma mera ambição impossível de conseguir.
Está claro que para chegar a um ponto
correcto de avaliação das nossas possibilidades concretas há que conseguir-se
um conhecimento próprio muito completo que considere as nossas características
principais, as nossas virtudes e defeitos, as tendências que apresentamos, como
nos relacionamos, de uma forma geral, com os outros, o que preferimos e o que
detestamos, se temos preconceitos ou irredutibilidade de opinião, se somos
estáveis nas nossas convicções ou se, ao contrário, somos volúveis conforme as
circunstâncias se nos apresentam.
Há que ter a noção
que nada disto se consegue num instante, por mais madura que seja a nossa
consciência e apurada a nossa capacidade de análise, bem pelo contrário, convém
estar preparado para um longo processo, feito de pequenos passos dados com
segurança e lealdade para connosco próprios.
Sim, lealdade para connosco porque, por
vezes, somos tentados a mascarar a evidência com desculpas ou justificações
que, na verdade, mais não são que tentativas de passar adiante e considerar o
assunto como arrumado.
Aparentemente pode
parecer ''coisa de religião'' exacerbada ou exigente, as pessoas ''normais''
não terão necessidade destas preocupações.
Isto é profundamente errado e um sintoma
evidente de soberba.
Quem pode julgar-se impecável no seu comportamento,
como e no que pensa, o quê e de que modo faz?
Quem, dotado de algum
juízo, pode considerar que não tem nada a corrigir, a emendar, a rever?
Uma pessoa assim,
revela-se intratável e pouco digna de confiança.
Ocorre, a propósito, uma frase que deixou um
lastro irremediável: ‘'Nunca me engano e raramente tenho dúvidas.’
A irresponsabilidade de uma afirmação como
esta só pode enraizar-se numa exacerbada vaidade pessoal, decerto grave e, de
certeza ridícula.
Mas será que muitas vezes não temos, cada um
de nós, a mesma convicção interior?
Não temos, de facto
uma atitude de superioridade, uma como que pretensa imunidade pessoal que nos
torna singulares, especiais?
Acontece que, a maior parte das vezes isto
acontece exactamente por falta de exame pessoal.
Não gostamos que nos
apontem um erro, que desqualifiquem uma opinião que emitimos, quanto mais
sermos nós próprios a fazê-lo.
‘Até parece masoquismo ou autoflagelação’,
pensamos.
Vemos na crítica ou no apontamento
desfavorável algo que nos diminui e envergonha. Afinal pode tratar-se de uma
ocasião soberana para corrigir, a tempo algo que talvez, se o não fizermos,
pode ter consequências pouco agradáveis.
O interessante está
em que, nem mesmo assim, nos coibimos de atentar nos erros, verdadeiros ou
imaginados por nós, que julgamos ver nos outros.
A velha máxima da descoberta do argueiro no
olho do vizinho e a incapacidade para detectar a trave no nosso.
A obrigação de corrigir os próprios erros
está intimamente ligada ao mesmo dever de corrigir o outro.
Temos de pensar e ter
claro que o outro, sobretudo se é nosso amigo, tem direito a que o corrijamos
tal como nós podemos legitimamente esperar que ele faça o mesmo convosco.
‘Quem sou eu para corrigir seja quem for?’
Ouve-se
com frequência esta alegação que, na verdade, revela indiferença, pelo menos, e,
egoísmo, seguramente.
Mas, repete-se, o médico pelo facto de estar
doente fica incapacitado de receitar a outrem o medicamento necessário para a
maleita que apresenta?
Atenção que se fala
de correcção no verdadeiro sentido do termo, que é, deve ser, uma atitude
construtiva, e não de crítica que é algo completamente diferente.
A primeira é um desejo que o outro corrija
algo que, a nosso ver, não é correcto.
A segunda é um
apontamento de outro cariz ou seja, uma avaliação pura e simples.
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