Novo Testamento [i]
Evangelho
Mc X, 1-16
Na Pereia
1 Saindo dali, foi para a região da
Judeia, para além do Jordão. As multidões agruparam-se outra vez à volta dele,
e outra vez as ensinava, como era seu costume.
O matrimónio é indissolúvel
2 Aproximaram-se uns fariseus e
perguntaram-lhe, para o experimentar, se era lícito ao marido divorciar-se da
mulher. 3 Ele respondeu-lhes: «Que vos ordenou Moisés?» 4 Disseram: «Moisés
mandou escrever um documento de repúdio e divorciar-se dela.» 5 Jesus
retorquiu: «Devido à dureza do vosso coração é que ele vos deixou esse
preceito. 6 Mas, desde o princípio da criação, Deus fê-los homem e mulher. 7
Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher, 8 e
serão os dois um só. Portanto, já não são dois, mas um só. 9 Pois bem, o que
Deus uniu não o separe o homem.» 10 De regresso a casa, de novo os discípulos o
interrogaram acerca disto. 11 Jesus disse: «Quem se divorciar da sua mulher e
casar com outra, comete adultério contra a primeira. 12 E se a mulher se
divorciar do seu marido e casar com outro, comete adultério.»
Jesus e as crianças
13 Apresentaram-lhe uns pequeninos para
que Ele os tocasse; mas os discípulos repreenderam os que os haviam trazido. 14
Vendo isto, Jesus indignou-se e disse-lhes: «Deixai vir a mim os pequeninos e
não os afasteis, porque o Reino de Deus pertence aos que são como eles. 15 Em
verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como um pequenino, não
entrará nele.» 16 Depois, tomou-os nos braços e abençoou-os, impondo-lhes as
mãos.
Texto:
E o que é o ideal?
Hoje mesmo, talvez
próximo de nós, um ou uma jovem parte numa aventura missionária para um lugar
qualquer que nem tem que ser muito longe.
Pelas noites escuras e agrestes, avançam
destemidos e entusiasmados esses exércitos de jovens procurando desgraçados com
fome e com frio, carentes do mais básico necessário à vida, de destroços
humanos consumidos pelos excessos de álcool e de drogas, abandonados por uma
sociedade que não tem respostas para lhes dar nem apoios que cheguem para as
suas carências.
E estes actuais Francisco Xavier ou Teresa de
Calcutá e muitos, muitos outros aprendizes de missionários, mantêm bem vivo o
ardente ideal de Francisco de Assis e o entusiasmo sonhador de Inácio de
Loyola.
Talvez hoje existam como que duas sociedades
que vivem nos mesmos locais e têm as mesmas leis a que obedecer e os mesmos
princípios oficiais porque reger-se mas que na verdade são completamente
diferentes.
Uma rege-se por um hedonismo exacerbado e um
egoísmo pessoal e até colectivo que se fecha como que numa grande bolha
impenetrável à sua volta donde ninguém entra nem ninguém sai.
Paralelamente existe
essa outra sociedade constituída por pessoas normais e correntes, com avultados
meios de fortuna ou escassez de bens, mas que têm uma atitude comum: o
sentimento do Samaritano.
Não passam indiferentes pelas ruas da cidade,
as mais movimentadas e as de pouquíssimo tráfego, que vão às praças públicas
bem iluminadas de noite e também se aventuram nas alfurjas escondidas em vielas
escuras.
Levam com eles poucas palavras ou conselhos
porque aqueles que procuram precisam de pão, roupa, assistência de toda a ordem
e as palavras por belas que sejam ou os conselhos mesmo preciosos não lhes
tiram a fome, tapam a nudez ou resolvem os problemas.
Quem já assistiu - repete-se -, assistiu a
coisas destas não pode deixar de ficar fascinado com a beleza carinhosa e ao
mesmo tempo rude e normal como estas pessoas actuam. E o extraordinário, é que
pouca gente sabe quem são, normalmente, só o sabem os do mesmo grupo.
O que ganham? Meu Deus! O que ganham!
«Tudo o que fizeste por um destes Meus irmãos, foi a Mim que o fizeste»! [1]
Que prémio! Que fantástico “empate de
capital”!
Mas, estranhamente, pode observar-se que não
é a recompensa – embora fabulosa de servir o próprio Deus – que move estas
pessoas.
Dir-se-ia que existe
como que uma espécie de fúria perante a passividade e impassibilidade de uma
grande parte da sociedade que passa e vive como que à margem destas gritantes
realidades e essa fúria traduz-se numa urgência incontida de socorrer, de
assistir, de apoiar toda essa enorme – e crescente – multidão de carenciados de
toda a espécie.
Estas pessoas sentem um apelo irresistível
para colmatar as falhas graves quer da sociedade quer dos que governam as
sociedades, e num voluntariado exemplar e anónimo, entregam-se com uma alegria
contagiante a trabalhos esgotantes e muito esforçados.
É a solidariedade de que já se falou, elevada
a um grau de insuspeitada doação de si mesmo e das suas capacidades de acorrer
com o que se pode, sem esperar nenhum retorno ou benefício.
Perante o sacerdote e o levita que passam
apressados, estes samaritanos não são capazes de continuar o caminho sem se
deterem junto dos que jazem na vera do caminho e, debruçando-se sobre eles,
inteirarem-se do que precisam e do que está na sua mão poderem fazer por eles.
São pessoas que trabalham, são casadas e têm
família, muitas vezes filhos pequenos para cuidar, outras que tendo poucas
obrigações a cumprir, ocupam o seu tempo desta forma e outras, muitas, que o
fazem pelo prazer íntimo de poder ajudar quem precisa.
Estes samaritanos também são pessoas jovens,
recém-licenciados ou simples estudantes que encontram, no pouco tempo de que
dispõem, umas horas para se dedicarem com entusiasmo a estas actividades.
Há a firme convicção que a sociedade actual
só não se afunda de vez porque existem estas pessoas que funcionam como
flutuadores neste mar revolto de indiferentismo e indiferença e, assim, mantêm
à tona um barco que mete água por todos os lados ameaçando naufrágio a cada
ondulação mais forte.
Estas pessoas, jovens e de maior idade, não
precisaram dos ensinamentos preciosos e imprescindíveis – segundo agora se quer
fazer crer – que o Estado pretende ministrar desde a tenra idade sobre a
sexualidade, as relações entre pessoas do mesmo sexo, unilaterais ou em grupo,
para serem pessoas com sentido de vida verdadeiro e firme, de ideias concretas
e correctas, de princípios estáveis e bem assentes, de vontade bem dirigida, de
ideal bem definido, com capacidade de agir sem demora em favor dos outros que
podem precisar da sua assistência ou apoio seja ele qual for.
Não… não precisaram de receber essa estúpida
e soês “educação” que o Estado tão magnanimamente quer ministrar.
Bastaram-lhe uns
Pais, uma família que lhes instilaram os princípios básicos da vida, que os
ensinaram com o exemplo concreto a enfrentarem os desafios e que, sobretudo,
lhes deram a noção correcta da diferença entre um homem e uma mulher, do seu
papel na sociedade e das regras de convivência observando o respeito pela
própria pessoa e pela pessoa dos outros.
Na vida corrente, a normal do comum das
pessoas, vai-se tomando nota daquilo que os outros fazem ou fizeram que, de
alguma forma, sobressai e se nota.
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