Novo Testamento [i]
Evangelho
Mc VI, 34-56
Primeira multiplicação dos
pães
34 Ao desembarcar, Jesus viu uma grande
multidão e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou,
então, a ensinar-lhes muitas coisas. 35 A hora já ia muito adiantada, quando os
discípulos se aproximaram e disseram: «O lugar é deserto e a hora vai
adiantada. 36 Manda-os embora, para irem aos campos e aldeias comprar de
comer.» 37 Jesus respondeu: «Dai-lhes vós mesmos de comer.» Eles disseram-lhe:
«Vamos comprar duzentos denários de pão para lhes dar de comer?» 38 Mas Ele
perguntou: «Quantos pães tendes? Ide ver.» Depois de se informarem,
responderam: «Cinco pães e dois peixes.» 39 Ordenou-lhes que os mandassem
sentar por grupos na erva verde. 40 E sentaram-se, por grupos de cem e
cinquenta. 41 Jesus tomou, então, os cinco pães e os dois peixes e, erguendo os
olhos ao céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e dava-os aos seus
discípulos, para que eles os repartissem. Dividiu também os dois peixes por
todos. 42 Comeram até ficarem saciados. 43 E havia ainda doze cestos com os
bocados de pão e os restos de peixe. 44 Ora os que tinham comido daqueles pães
eram cinco mil homens.
Jesus caminha sobre o mar
45 Jesus obrigou logo os seus discípulos
a subirem para o barco e a irem à frente, para o outro lado, rumo a Betsaida,
enquanto Ele próprio despedia a multidão. 46 Depois de os ter despedido, foi
orar para o monte. 47 Era já noite, o barco estava no meio do mar e Ele sozinho
em terra. 48 Vendo-os cansados de remar, porque o vento lhes era contrário, foi
ter com eles de madrugada, andando sobre o mar; e fez menção de passar adiante.
49 Mas, vendo-o andar sobre o mar, julgaram que fosse um fantasma e começaram a
gritar, 50 pois todos o viram e se assustaram. Mas Ele logo lhes falou:
«Tranquilizai-vos, sou Eu: não temais!» 51 A seguir, subiu para o barco, para
junto deles, e o vento amainou. E sentiram um enorme espanto, 52 pois ainda não
tinham entendido o que se dera com os pães: tinham o coração endurecido.
Outros milagres
53 Finda a travessia, aproximaram-se de
Genesaré e aportaram. 54 Assim que saíram do barco, reconheceram-no. 55
Acorreram de toda aquela região e começaram a levar os doentes nos catres para
o lugar onde sabiam que Ele se encontrava. 56 Nas aldeias, cidades ou campos,
onde quer que entrasse, colocavam os doentes nas praças e rogavam-lhe que os
deixasse tocar pelo menos as franjas das suas vestes. E quantos o tocavam
ficavam curados.
Texto:
Trabalho
O trabalho a que todo o ser humano è chamado
constitui de facto uma obrigação à qual ninguém pode - deve –eximir-se.
A especificidade das circunstâncias de cada
um pode muitas vezes condicionar o trabalho.
Um pintor de paredes não pode, em princípio
ensinar matemática numa universidade mas, um professor de matemática poderá
pintar uma parede.
Talvez não o faça tão
bem como o pintor mas este não pode, de todo, fazer o trabalho daquele.
Ao pintar uma parede, o professor
universitário, não deixa de o ser; logo, a categoria da pessoa não se vê
afectada pelo trabalho que desenvolve, nem o trabalho tem mais ou menos
categoria segundo a pessoa que o faz.
Daqui se pode concluir que o trabalho, seja
qual for, tem uma categoria própria e intransmissível que não tem que ver com
quem o executa mas sim como è levado a cabo.
É, em parte, por
isto, que o trabalho só se admite quando é bem feito, quando quem o executa
envolve nele todas as suas capacidades e conhecimentos.
O que se pode exigir a um padeiro é que faça
pão excelente, já essa exigência não tem razão de ser se lhe encomendarmos a
reparação de um computador.
Assim, o homem dignifica-se com o trabalho,
seja ele qual for, desde que nele se aplique o melhor que sabe e pode.
Há uma estação de rádio que a meio da semana
começa a falar na Sexta-Feira pondo uma ênfase como se estivesse à vista o
almejado fim de uma semana de trabalho, sacrifício, punição, tortura.
E, de facto, há muita
gente que pensa assim, para quem o trabalho equivale a uma dolorosa punição que
se arrasta numa sucessão de dias sem brilho, nem alegria.
Estas pessoas nem sequer pensam nos muitos
milhões de seres humanos que procuram um trabalho, seja qual for, sem sequer
questionar a remuneração.
Além de desajustados na sociedade e egoístas
não, são dignos do trabalho que têm.
Há sempre algo que se pode fazer e, mesmo que
não se necessite da remuneração, deve ocupar-se o tempo em qualquer coisa que
se revele útil para os demais.
‘Que já trabalhei muito e duramente, agora
tenho direito a sopas e descanso.’
Claro, direito até pode ter, se considerar
que há tempo para trabalhar e tempo para descansar, só que, nenhum destes
tempos é permanente, isto é, deve intervalar-se o trabalho com o merecido
descanso.
A questão reside no conceito de descanso.
Para o sujeito que faz a afirmação acima é
evidente que considera que descansar é não fazer nada e, isto, é absolutamente
errado.
Descansar é justamente intervalar o trabalho
habitual com qualquer outra actividade útil.
Dormir mais que o habitual pode ser útil para
quem, normalmente, goza de poucas horas de sono.
Passear, deambular
por terras ou locais que não se conhecem, constitui um bom descanso e, ao mesmo
tempo, a possibilidade de conhecer e contactar coisas novas e, assim,
enriquecer-se.
Não fazer nada além de não ter justificação
nenhuma é uma lamentável perda de tempo.
Um tempo que é sempre
precioso e insubstituível já que é impossível recuperar o tempo que passou.
Arrastar-se - na exactidão do termo - para o
local de trabalho como um condenado a quem não resta alternativa, é uma figura
comum e, infelizmente, frequente.
Nada, absolutamente,
se fez ou fará sem trabalho e mais... sem trabalho dedicado e persistente, seja
ele qual for, intelectual ou braçal, de enorme grandiosidade ou discreto e
apagado.
O ser humano está
chamado a contribuir com a parte que especificamente lhe couber, para o
desenvolvimento do mundo, do ambiente, da sociedade em que vive.
E esta contribuição é
a sua quota-parte no trabalho, no esforço comum.
E, a verdade, como de resto já vimos, é esta:
se escamotear esta contribuição fica um vazio que ninguém mais pode preencher
porque, mesmo que quisesse nunca o faria como aquele que o não fez.
Uma das grandes lições e exemplos neste campo
vêm-nos exactamente de Jesus Cristo que passou a Sua vida a trabalhar, primeiro
como jovem com as ocupações normais dos jovens: estudar, - trabalho intelectual
- aprender uma profissão, ajudando o Seu Pai Adoptivo na profissão com que
provia o sustento da família - trabalho braçal - até aos últimos três anos da
Sua vida na terra na ocupação da pregação do Reino, tão extenuante que se
refere muitas vezes nos Evangelhos, como, por exemplo, chegando a adormecer em
pleno fragor de uma tempestade no mar, - trabalho espiritual -, tornando, deste
modo todo o trabalho humano em trabalho divino.
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