CARTA
APOSTÓLICA PATRIS CORDE 04 Jan
DO
PAPA FRANCISCO
POR OCASIÃO DO 150º
ANIVERSÁRIO DA DECLARAÇÃO DE SÃO JOSÉ COMO PADROEIRO UNIVERSAL DA IGREJA
5. Pai com coragem criativa
Se a primeira etapa de toda
a verdadeira cura interior é acolher a própria história, ou seja, dar espaço no
nosso íntimo até mesmo àquilo que não escolhemos na nossa vida, convém
acrescentar outra caraterística importante: a coragem criativa. Esta vem ao de
cima sobretudo quando se encontram dificuldades. Com efeito, perante uma
dificuldade, pode-se estacar e abandonar o campo, ou tentar vencê-la de algum
modo. Às vezes, são precisamente as dificuldades que fazem sair de cada um de
nós recursos que nem pensávamos ter.
Frequentemente, ao ler os
«Evangelhos da Infância», apetece-nos perguntar por que motivo Deus não
interveio de forma direta e clara. Porque Deus intervém por meio de
acontecimentos e pessoas: José é o homem por meio de quem Deus cuida dos
primórdios da história da redenção; é o verdadeiro «milagre», pelo qual Deus
salva o Menino e sua mãe. O Céu intervém, confiando na coragem criativa deste
homem que, tendo chegado a Belém e não encontrando alojamento onde Maria possa
dar à luz, arranja um estábulo e prepara-o de modo a tornar-se o lugar mais
acolhedor possível para o Filho de Deus, que vem ao mundo (cf. Lc 2, 6-7). Face
ao perigo iminente de Herodes, que quer matar o Menino, de novo em sonhos José
é alertado para O defender e, no coração da noite, organiza a fuga para o Egito
(cf. Mt 2, 13-14).
Numa leitura superficial
destas narrações, a impressão que se tem é a de que o mundo está à mercê dos
fortes e poderosos, mas a «boa notícia» do Evangelho consiste precisamente em
mostrar como, não obstante a arrogância e a violência dos dominadores terrenos,
Deus encontra sempre a forma de realizar o seu plano de salvação. Às vezes
também a nossa vida parece à mercê dos poderes fortes, mas o Evangelho diz-nos
que Deus consegue sempre salvar aquilo que conta, desde que usemos a mesma
coragem criativa do carpinteiro de Nazaré, o qual sabe transformar um problema
numa oportunidade, antepondo sempre a sua confiança na Providência.
Se, em determinadas
situações, parece que Deus não nos ajuda, isso não significa que nos tenha
abandonado, mas que confia em nós com aquilo que podemos projetar, inventar,
encontrar.
Trata-se da mesma coragem
criativa demonstrada pelos amigos do paralítico que, desejando levá-lo à
presença de Jesus, fizeram-no descer pelo teto (cf. Lc 5, 17-26). A dificuldade
não deteve a audácia e obstinação daqueles amigos. Estavam convencidos de que
Jesus podia curar o doente e, «não achando por onde introduzi-lo, devido à
multidão, subiram ao teto e, através das telhas, desceram-no com a enxerga,
para o meio, em frente de Jesus. Vendo a fé daqueles homens, disse: “Homem, os
teus pecados estão perdoados”» (5, 19-20). Jesus reconhece a fé criativa com
que aqueles homens procuram trazer-Lhe o seu amigo doente.
Francisco
Notas:
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