Evangelho
Mc
I 23 – 45
Milagre na Sinagoga
23 Na sinagoga deles encontrava-se um homem com um
espírito maligno, que começou a gritar: 24 «Que tens a ver connosco, Jesus de
Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus.» 25 Jesus
repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem.» 26 Então, o espírito
maligno, depois de o sacudir com força, saiu dele dando um grande grito. 27 Tão
assombrados ficaram que perguntavam uns aos outros: «Que é isto? Eis um novo
ensinamento, e feito com tal autoridade que até manda aos espíritos malignos e
eles obedecem-lhe!» 28 E a sua fama logo se espalhou por toda a parte, em toda
a região da Galileia.
Cura da sogra de Pedro
29 Saindo da sinagoga, foram para casa de Simão e André,
com Tiago e João. 30 A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo lhe
falaram dela. 31Aproximando-se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a
e ela começou a servi-los.
Outros milagres
32 À noitinha, depois do sol-pôr, trouxeram-lhe todos os
enfermos e possessos, 33 e a cidade inteira estava reunida junto à porta. 34
Curou muitos enfermos atormentados por toda a espécie de males e expulsou
muitos demónios; mas não deixava falar os demónios, porque sabiam quem Ele era.
35 De madrugada, ainda escuro, levantou-se e saiu; foi para um lugar solitário
e ali se pôs em oração. 36 Simão e os que estavam com Ele seguiram-no. 37 E,
tendo-o encontrado, disseram-lhe: «Todos te procuram.» 38 Mas Ele
respondeu-lhes: «Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de
pregar aí, pois foi para isso que Eu vim.» 39 E foi por toda a Galileia,
pregando nas sinagogas deles e expulsando os demónios.
Cura de um
leproso
40 Um leproso veio
ter com Ele, caiu de joelhos e suplicou: «Se quiseres, podes purificar-me.» 41
Compadecido, Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: «Quero, fica purificado.»
42 Imediatamente a lepra deixou-o, e ficou purificado. 43 E logo o despediu,
dizendo-lhe em tom severo: 44 «Livra-te de falar disto a alguém; vai, antes,
mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que foi estabelecido
por Moisés, a fim de lhes servir de testemunho.» 45 Ele, porém, assim que se
retirou, começou a proclamar e a divulgar o sucedido, a ponto de Jesus não
poder entrar abertamente numa cidade; ficava fora, em lugares despovoados. E de
todas as partes iam ter com Ele.
A
filiação divina e vida interior (cont)
A
construção da Vida Interior passa, assim, a ser um trabalho constante com a
finalidade de, pode dizer-se, tornar-se uma pessoa completa, carne e espírito,
com domínio da vontade, agindo sob determinação do que considera conveniente e
bom em detrimento da cedência fácil ao instinto ou apelo mais ou menos mirífico
de felicidade.
A couraça, por chamar-lhe assim, que se vai
construindo, alicerçada nos valores que se têm - e sabem – como sérios, válidos,
importantes e fundamentais, vai-se fortalecendo constantemente não só com o
esforço de interiorização, mas com a prática continuada de actos bons e
meritórios que tornam verdadeiros e credíveis os desejos de melhoria interior.
Por
aqui se vê que a Vida Interior não é uma atitude estática, não se estabelece um
qualquer patamar a partir do qual se considera completa e satisfeita a ânsia de
melhoria, é, antes, um esforço contínuo de aperfeiçoamento que nunca se dá por
satisfeito nem completo.
À medida
que os obstáculos vão sendo removidos, surgem novas arestas a limar, contornos
a definir, emoções a estabilizar.
Evidentemente que tem a ver com a estreita
ligação com Deus porque a consciência leva a orientar-se a vida de forma a
agradar-lhe em tudo e num desejo de satisfazer a Sua vontade nas coisas
pequenas como nas grandes.
O
pensador, a pessoa que por feitio ou profissão está em permanente evolução de
pensamento, se não orienta esta acção para Deus fica-se sempre muito aquém de
uma satisfação completa.
Trata-se de insistir nos pequenos vencimentos
diários, ultrapassagens de obstáculos pouco importantes, metas intermédias que
se vão alcançando sem desprezar qualquer oportunidade ou ensejo, não cedendo à
tentação de deixar para depois, para uma ocasião que, por uma razão qualquer,
se ache mais propícia.
Esta
ocasião ideal, de facto, nunca surge porque o ideal, o que convém realmente, é
fazer o que tem de ser feito quando deve ser feito.
Uma
tarefa adiada è uma tarefa meio perdida ou, talvez, nunca concluída porque
entretanto, outras surgiram que mereceram atenção e requereram acção da nossa
parte.
A
Vida Interior não é uma postura mas um estado de alma, quer dizer, não é algo
que se tenha de vez em quando mas sempre, seja qual for o ambiente ou
circunstância.
Por
isso ligámos tão estreitamente a Vida Interior à Filiação Divina porque a
constatação da segunda como sendo uma realidade, leva a considerar a primeira
como uma necessidade.
Com
uma Vida Interior sólida, a pessoa é naturalmente alegre, com aquela alegria sã
e serena que advém da certeza de que os actos que se praticam são convenientes
e agradam a Deus, ao mesmo tempo que as preocupações ou adversidades que a vida
corrente sempre traz consigo, nunca tomam dimensões desproporcionadas nem
condicionam desmesuradamente a vida pessoal.
Antes são encaradas com naturalidade e a
predisposição para as resolver e ultrapassar é muito maior porque não se
encaram esses incidentes como fardos insuportáveis ou insolúveis mas, antes,
vem ao de cima a confiança, a esperança e a certeza que nada é superior às
próprias forças porque se sabe, com segurança, que Deus, se permite a carga
também proporciona os meios para a suportar.
Porque
é que São Josemaria, como já se disse, é de facto um santo dos nossos dias com
algo de revolucionário?
Porque, realmente, veio ensinar uma nova
forma de focar a vida comum e corrente: ‘Os cristãos são para o mundo o que a
alma é para o corpo. Vivem no mundo, mas não são mundanos, como a alma está no
corpo, mas não é corpórea. Habitam em todos os povos, assim como a alma está em
todas as partes do corpo. Actuam pela sua vida interior sem se fazerem notar,
como a alma pela sua essência. Vivem como peregrinos entre coisas perecíveis,
na esperança da incorruptibilidade dos céus, assim como a alma imortal vive
agora numa tenda mortal. Multiplicam-se de dia para dia no meio das
perseguições, assim como a alma se embeleza mortificando-se... E não é lícito
aos cristãos abandonarem a sua missão no mundo, como não é permitido à alma
separar-se voluntariamente do corpo.» ([1]); ou ainda:
‘A filiação divina é uma verdade feliz, um mistério consolador. A filiação divina empapa toda a nossa vida espiritual, porque nos ensina a procurar, conhecer e amar o nosso Pai do Céu, e assim cumula de esperança a nossa luta interior e nos dá a simplicidade confiante dos filhos pequenos. Mais ainda: precisamente porque somos filhos de Deus, esta realidade leva-nos também a contemplar com amor e com admiração todas as coisas que saíram das mãos de Deus Pai Criador. E deste modo somos contemplativos no meio do mundo, amando o mundo.» [2]
A constatação da nossa Filiação Divina
leva-nos à necessidade da contemplação de tão magnífico dom.
Ser filho de Deus, com todos os direitos e
prerrogativas que tal implica, é algo que não se apreende na totalidade.
Deus ama-nos como seres criados por Ele
próprio mas, como se tal não bastasse, outorga-nos, com o Baptismo, essa
filiação autêntica, real, efectiva!
Fazemos parte da Sua família íntima, somos
amados verdadeira e incondicionalmente, sem mérito algum da nossa parte. E,
este amor preenche por completo as nossas necessidades porque é um amor imenso,
divino, sem comparação alguma com o mais excelente amor humano.
Como todo o amor, pede retorno, - já vimos que amar é dar e receber - e o interessante e de espantar é que Deus, nosso Senhor e Criador, que não precisa do nosso amor para nada, espera verdadeiramente que Lhe retribuamos - tentemos sériamente retribuir - o Seu amor divino com o nosso amor humano, para o divinizar e devolver expurgado de qualquer impureza que possa conter.
Quantas vezes, ao longo do dia, nas situações mais correntes, nos detemos nem que sejam uns escassos segundos a interiorizar estas realidades?
E não é nada de mais se considerarmos que Ele
nos vê e nos ouve sempre, sempre!
Essa disposição da alma para considerar a presença de Deus na nossa vida e, tomando consciência disto, fazer tudo para Lhe agradar como forma de retribuir tão grande bem.
Educar a consciência, formar o carácter, esclarecer a mente, ter claras e bem definidas as balizas dentro das quais decorre a nossa vida com essa tendência e desejo de a concretizar:
Tudo, absolutamente, para Ti, meu Senhor e
meu Deus: que tudo, absolutamente em Ti comece e acabe sempre!
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.