Evangelho
Mt
XXVII 3 - 25
Fim de Judas
3 Então Judas, o traidor, vendo que Jesus fora condenado, tocado pelo
remorso, tornou a levar as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes
e aos anciãos, 4 dizendo: «Pequei, entregando sangue inocente». Mas eles
disseram: «Que nos importa? Isso é contigo!». 5 Então, tendo atirado as moedas
de prata para o templo, retirou-se e foi-se enforcar. 6 Os príncipes dos
sacerdotes, tomando as moedas de prata, disseram: «Não é lícito deitá-las na
arca das esmolas, porque são preço de sangue». 7 E, tendo consultado entre si,
compraram com elas o Campo do Oleiro para sepultura dos estrangeiros. 8 Por
esta razão aquele campo foi chamado até ao dia de hoje “campo de sangue”. 9
Então se cumpriu o que foi anunciado pelo profeta Jeremias: “Tomaram as trinta
moedas de prata, custo d'Aquele cujo preço foi avaliado pelos filhos de Israel,
10 e deram-nas pelo Campo do Oleiro, como o Senhor me ordenou”.
Jesus diante de Pilatos
11 Jesus foi apresentado diante do governador, que O interrogou,
dizendo: «És Tu o Rei dos Judeus?». Jesus respondeu-lhe: «Tu o dizes». 12 Mas,
sendo acusado pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu.
13 Então Pilatos disse-Lhe: «Não ouves de quantas coisas Te acusam?». 14 E não
lhe respondeu a palavra alguma, de modo que o governador ficou muito admirado.
15 O governador costumava, por ocasião da festa da Páscoa, soltar aquele preso
que o povo quisesse. 16 Naquela ocasião tinha ele um preso famoso, que se
chamava Barrabás. 17 Estando eles reunidos, perguntou-lhes Pilatos: «Qual
quereis vós que eu vos solte? Barrabás ou Jesus, que se chama Cristo?». 18
Porque sabia que O tinham entregado por inveja. 19 Enquanto ele estava sentado
no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: «Não te metas com esse justo, porque
fui hoje muito atormentada em sonhos por causa d'Ele». 20 Mas os príncipes dos
sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo a que pedisse Barrabás e que fizesse
morrer Jesus. 21 O governador, tomando a palavra, disse-lhes: «Qual dos dois
quereis que vos solte?». Eles responderam: «Barrabás!». 22 Pilatos disse-lhes:
«Que farei então de Jesus, que se chama Cristo?». 23 Disseram todos: «Seja
crucificado!». O governador disse-lhes: «Mas que mal fez Ele?». Eles, porém,
gritavam mais alto: «Seja crucificado!». 24 Pilatos, vendo que nada conseguia,
mas que cada vez o tumulto era maior, tomando água, lavou as mãos diante do
povo, dizendo: «Eu sou inocente do sangue deste justo; a vós pertence toda a
responsabilidade!». 25 Todo o povo respondeu: «O Seu sangue caia sobre nós e
sobre os nossos filhos».
Pecado
e arrependimento
O
prevaricador, aquele que comete o pecado, ofende tanto mais violentamente a
Deus quanto mais grave o pecado for, mas, o ofendido, Deus, não guarda num
arquivo essas violências, antes espera que o arrependimento traga o
prevaricador ao encontro do perdão que anseia conceder-lhe.
Neste
caso, de facto, quem sofre mais é o pecador porque, com o seu acto, se afasta
voluntariamente de Deus que é a fonte de todo o bem, e, este afastamento,
provoca realmente uma dor insuportável que, constantemente, vem à tona da
consciência até que se tome a resolução de arrependimento e se consuma esse
mesmo arrependimento na Confissão Sa cramental.
O
ofendido, Deus, não fica com “marca” nenhuma, nem poderia porque é Perfeito; o
ofensor sim, fica com uma marca que o pecado deixa sempre e, mesmo depois de
perdoado, permanece o sinal que, por leve que seja, só se apagará com o
exercício de boas obras que contrariem, compensem de certo modo, o mal
praticado.
Por
isso, podemos concluir que o arrependimento é um dos mais belos sentimentos do
homem e que não só o beneficia e dignifica a ele próprio como a própria
sociedade em geral.
Só é
possível o arrependimento a uma pessoa com um carácter bem formado que, em
primeiro lugar, lhe permita aperceber-se do mal praticado e, depois, lhe faça
ver com clareza a necessidade de se arrepender para, digamos assim, repor tudo
no seu lugar.
Para
o cristão é muito confortável a certeza de que Deus não quer a condenação de
ninguém, por mais grave que seja o delito que possa ter cometido, mas sim que
se arrependa e retome o Seu convívio.
E, o interessante, é que quando isto acontece
é como se um peso enorme seja removido dos ombros do pecador e sinta como que
uma compensação da falta cometida.
Na realidade tal justifica-se porque: «Digo-vos que, do mesmo modo, haverá maior alegria no céu por um pecador que fizer penitência que por noventa e nove justos que não têm necessidade de penitência». [1]
É da
condição humana falhar, cair, deslizar para o mal, ou algo menos bom, e, isto,
por vezes assume um verdadeiro hábito por que se repete vezes sem conta ao
longo da vida.
Pode ocorrer, então, um sentimento de quase
fatalismo, de impotência e, pior ainda, a vergonha de ter de confessar sempre a
mesma falta.
Pode andar-se assim muito tempo, muitos anos,
talvez a vida inteira.
Aqui joga um papel fundamental o desejo de
melhoria, de correcção de endireitar o que está enviesado e, sobretudo, de
reconhecer a própria debilidade e fraqueza.
Começar
e recomeçar com a mesma diligência e sem nunca esmorecer, considerando que o
mérito reside muito mais na luta que na conquista da vitória final.
De
facto, a vitória, já está presente nessa luta perseverante, continuada, por
melhorar em algo que não está tão bem como deveria estar.
Mas
reconhecer o erro, por si próprio, ou porque a tal é induzido por outros, é uma
atitude muito meritória e, normalmente conduz a evitar cometer esse mesmo erro,
não basta para que tudo fique resolvido e, sobretudo para sossegar
concretamente a consciência.
Recordemos a reacção às palavras de Jesus na cena evangélica da mulher adúltera: «Aquele de vós que estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra» o que acontece? «Mas eles, ouvindo isto, foram-se retirando, um após outro, começando pelos mais velhos». [2]
É
interessante que o Evangelista se refira expressamente a «começando pelos mais velhos», o que, no nosso entender, quererá
significar uma consciência mais apurada pelas experiências de vida de cada um,
ou seja, as pessoas de idade mais madura apreendem com mais facilidade o que as
palavras de Cristo querem dizer.
Mas, de facto, embora se retirem, desistindo
do propósito que ali os levara, a lapidação da adúltera, porque reconhecem a
sua incapacidade moral para levar a cabo algo tão radical, embora prescrito na
Lei judaica, deixam, por assim dizer, incompleta a justiça para com a mulher já
que não consta que algum deles se lhe tenha dirigido com uma palavra de perdão.
Talvez, por isso mesmo, Jesus que não era
testemunha, em termos formais, do adultério tenha dito á mulher: «Nem Eu te condeno», acrescentando «vai e doravante não peques mais» ou
seja, ‘não intervenho na administração da justiça humana mas, com o poder
divino que tenho, perdoo-te o pecado que cometes-te contra Deus.’
Talvez
que a leitura atenta deste trecho do Evangelho de São João nos a considerar: ‘Que escreves, Tu Senhor, no chão? Os meus
pecados, faltas e fraquezas? Mas, eu, Senhor, não quero acusar ninguém de nada
e, muito menos, atirar alguma pedra! Eu! Como poderia? Então eu não sei o que
sou? E não sei, muito bem, que se ninguém me acusa é apenas por caridade ou por
desconhecimento das maldades que pratiquei e pratico.
Tudo foi perdoado, sem dúvida, e, não falo ou
penso nisso, mas a Tua misericórdia que me mandou em paz depois de aceite o meu
arrependimento, não cessa de me surpreender com o perdão e o esquecimento das
faltas confessadas.
Que
escreves no chão, Senhor?
Será: «Não julgues para não seres julgado, não condenes para não seres condenado, não te consideres impecável porque não o és» [3]
Este
importantíssimo tema é, talvez hoje mais que nunca, alvo de grande controvérsia
e discussão:
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