Mt
XXIII 13 - 39
Hipocrisia dos fariseus
13
Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque fechais aos homens o
Reino do Céu! Nem entrais vós nem deixais entrar os que o querem fazer. 14 Ai
de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, que devorais as casas das
viúvas, com o pretexto de prolongadas orações! Por isso, sereis mais
rigorosamente julgados. 15 Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas,
que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito e, depois de o terdes
seguro, fazeis dele um filho do inferno, duas vezes pior do que vós! 16 Ai de
vós, guias cegos, que dizeis: ‘Se alguém jura pelo santuário, isso não tem
importância; mas, se jura pelo ouro do santuário, fica sujeito ao juramento.’
17 Insensatos e cegos! Que é o que vale mais? O ouro ou o santuário, que tornou
o ouro sagrado? 18 Dizeis ainda: ‘Se alguém jura pelo altar, isso não tem
importância; mas, se jura pela oferta que está sobre o altar, fica sujeito ao
juramento.’ 19 Cegos! Qual é o que vale mais? A oferta ou o altar, que torna
sagrada a oferta? 20 Portanto, jurar pelo altar é o mesmo que jurar por ele e
por tudo o que está sobre ele; 21 jurar pelo santuário é jurar por ele e por
aquele que nele habita; 22 jurar pelo Céu é jurar pelo trono de Deus e por
aquele que nele está sentado. 23 Ai de vós, doutores da Lei e fariseus
hipócritas, porque pagais o dízimo da hortelã, do funcho e do cominho e
desprezais o mais importante da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade!
Devíeis praticar estas coisas, sem deixar aquelas. 24 Guias cegos, que filtrais
um mosquito e engolis um camelo! 25 Ai de vós, doutores da Lei e fariseus
hipócritas, porque limpais o exterior do copo e do prato, quando por dentro
estão cheios de rapina e de iniquidade! 26 Fariseu cego! Limpa antes o interior
do copo, para que o exterior também fique limpo. 27 Ai de vós, doutores da Lei
e fariseus hipócritas, porque sois semelhantes a sepulcros caiados: formosos
por fora, mas, por dentro, cheios de ossos de mortos e de toda a espécie de
imundície! 28 Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos outros,
mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade. 29 Ai de vós,
doutores da Lei e fariseus hipócritas, que edificais sepulcros aos profetas e
adornais os túmulos dos justos, 30 dizendo: ‘Se tivéssemos vivido no tempo dos
nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos profetas!’ 31 Deste
modo, confessais que sois filhos dos que assassinaram os profetas. 32 Acabai,
então, de encher a medida dos vossos pais! 33 Serpentes! Raça de víboras! Como
podereis fugir à condenação da Geena? 34 Por causa disto, envio-vos profetas,
sábios e doutores da Lei. Matareis e crucificareis alguns deles, açoitareis
outros nas vossas sinagogas e haveis de persegui-los, de cidade em cidade. 35
Assim cairá sobre vós todo o sangue inocente que tem sido derramado sobre a
terra, desde o sangue do justo Abel até ao sangue de Zacarias, filho de
Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar. 36 Em verdade vos digo:
Tudo isto cairá sobre esta geração!»
Castigo de Jerusalém
37
«Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são
enviados! Quantas vezes quis reunir os teus filhos como a galinha reúne os seus
pintainhos sob as asas, e tu não quiseste! 38 Pois bem, a vossa casa ficará
deserta. 39 Eu vos digo que não voltareis a ver-me até que digais: Bendito o
que vem em nome do Senhor.»
Humildade
A virtude da humildade não consiste só em registar os movimentos de soberba, de egoísmo e de orgulho. De facto, nem Jesus nem a Sua Santíssima Mãe experimentaram movimento algum de soberba e, todavia, tiveram a virtude da humildade em sumo grau. A palavra humildade tem a sua origem na latina humus, terra; humilde, na sua etimologia, significa inclinado para a terra; a virtude da humildade consiste em inclinar-se diante de Deus e de tudo quanto há de Deus nas criaturas. [1]
O que se tem escrito e dito sobre esta
virtude encheria muitos livros.
A razão é simples: é tão difícil de conseguir, que costuma dizer-se, que
o homem tem de lutar por conquistá-la até ao último sopro de vida.
Esta virtude, se fosse inata na natureza humana, e o mundo, como o
conhecemos, seria absolutamente diferente.
Mas não!
O ser humano tem uma
personalidade própria que, tendencialmente, o leva a julgar-se superior ou mais
capaz que o seu semelhante.
Não se alargarão pois,
estes, comentários já que, noutros locais, se podem encontrar muito boas
definições, conselhos, instruções e valiosas considerações, que pessoas de
grande estatura moral e intelectual têm feito sobre esta virtude ao longo dos
tempos.
Voltamos ao que atrás dissemos: a tendência
para avaliar os outros e o seu comportamento’ em função daquilo que somos e do
que fazemos.
Somos o nosso próprio exemplo, vemo-nos como
que num espelho, reflectidos no aspecto exterior, deixando escondido o que
realmente somos.
Há uma relação muito grande entre a humildade e a consciência do próprio eu, das limitações e barreiras que se levantam dentro de nós e, também, da correcta avaliação das nossas capacidades e potências porque, ser humilde, não significa considerar-se nem incapaz nem miserável mas, sim, ter a consciência daquilo que nos falta para sermos perfeitos.
A perfeição, pedida por Cristo: «sede perfeitos como o vosso Pai celestial é perfeito» [2] é, obviamente inatingível – é impossível igualar Deus – e, não obstante, Cristo exigiu-o e não a um grupo restrito e escolhido de seguidores, mas a todos os seres humanos.
Evidentemente que
Jesus não poderia nunca exigir, aos homens, algo impossível; tão só quer que
façamos tudo quanto que está ao nosso alcance para o conseguir.
Ou seja, Cristo não exige, como condição para
nos salvarmos, a conquista do objectivo mas a luta empenhada por consegui-lo.
Esta luta que a humildade pessoal deve
orientar, ir-nos-á levando por caminhos cada vez mais elevados, naturalmente
mais difíceis e exigentes, que nos conduzirão a um estado de alma crescente em
alegria, satisfação e serenidade.
Serenidade
A serenidade é uma virtude do carácter estável que enfrenta os factos e circunstâncias da vida corrente com uma atitude positiva evitando as reacções repentinas ditadas pela emoção, antes analisando com objectividade a verdadeira natureza da coisa na busca da solução ideal.
Às vezes pode ser confundida com os defeitos que se lhe opõem como a preguiça ou o desleixo e, por isso mesmo, São Josemaria Escrivá avisa: ‘Não confundas a serenidade com a preguiça, com o desleixo, com o atraso nas decisões ou no estudo dos assuntos. A serenidade complementa-se sempre com a diligência, virtude necessária para considerar e resolver, sem demora, as questões pendentes.’ [3]
Talvez que uma das situações da vida humana
onde a serenidade se mostre mais necessária seja no matrimónio.
Os cônjuges têm, quase sempre, maneiras de
ser diferentes e, consequentemente, as formas de encarar os factos e incidentes
da vida comum podem não coincidir.
Daqui que seja
frequente a discussão mais ou menos acesa, sobre o assunto em causa.
A ausência de serenidade, em pelo menos um
dos cônjuges, pode levar a algum extremismo de posições, transformando o que
começara por ser uma discussão normal entre dois adultos que se amam, numa
altercação viva e ruidosa em que se vai perdendo o controlo das palavras e das
emoções, continuando na sublimação dos defeitos de cada um como se estivessem a
discutir duas pessoas que se odeiam.
O final é sempre um mal-estar entre o casal
em que nenhum dos dois quer ceder nos seus pontos de vista, surgindo um mau
humor mais ou menos perdurável.
Por isso, esta virtude é importante para, pelo menos, ‘Aquele que estiver mais sereno diga uma palavra que contenha o mau humor até mais tarde.’ [4]
A vida no mundo de hoje constitui um desafio
permanente a esta virtude.
São tantas e tão
variadas as dificuldades que cada dia se levantam, as dúvidas quanto a um
futuro cada vez mais incerto, as pressões de toda a ordem a que se é sujeito, a
rapidez com que ocorrem mudanças, muitas vezes radicais, no mundo que nos
rodeia que, diria, manter a serenidade é um complexo e difícil exercício da
vontade e de um carácter que requer equilíbrio, estabilidade emocional e,
naturalmente, bom humor.
[1] r.
garrigou-lagrange, Las Três Edades de la Vida interior, vol. II,
pg. 670
[2] Cfr. Mt 5, 48
[3] s.
josemaria escrivá, Forja, 467
[4] s.
josemaria escrivá, Cristo que Passa, 26
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