02/12/2020

Leitura Espiritual Dezembro 02

 

Evangelho

 

Mt II, 1 - 23

 

Adoração dos Magos

 

1 Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, chegaram a Jerusalém uns magos vindos do Oriente. 2 E perguntaram: «Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.» 3 Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes perturbou-se e toda a Jerusalém com ele. 4 E, reunindo todos os sumos sacerdotes e escribas do povo, perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. 5 Eles responderam: «Em Belém da Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: 6 E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as principais cidades da Judeia; porque de ti vai sair o Príncipe que há-de apascentar o meu povo de Israel.» 7 Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e pediu-lhes informações exactas sobre a data em que a estrela lhes tinha aparecido. 8 E, enviando-os a Belém, disse-lhes: «Ide e informai-vos cuidadosamente acerca do menino; e, depois de o encontrardes, vinde comunicar-mo para eu ir também prestar-lhe homenagem.» 9 Depois de ter ouvido o rei, os magos puseram-se a caminho. E a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o menino, parou. 10 Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; 11 e, entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. 12 Avisados em sonhos para não voltarem junto de Herodes, regressaram ao seu país por outro caminho.

 

Fuga para o Egipto

 

13 Depois de partirem, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egipto e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar.» 14 E ele levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egipto, 15 permanecendo ali até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciou pelo profeta: Do Egipto chamei o meu filho.

 

Matança dos Inocentes

 

16 Então Herodes, ao ver que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o seu território, da idade de dois anos para baixo, conforme o tempo que, diligentemente, tinha inquirido dos magos. 17 Cumpriu-se, então, o que o profeta Jeremias dissera: 18 Ouviu-se uma voz em Ramá, uma lamentação e um grande pranto: É Raquel que chora os seus filhos e não quer ser consolada, porque já não existem. 19Morto Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, no Egipto, 20e disse-lhe: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe e vai para a terra de Israel, porque morreram os que atentavam contra a vida do menino.» 21 Levantando-se, ele tomou o menino e sua mãe e voltou para a terra de Israel. 22 Porém, tendo ouvido dizer que Arquelau reinava na Judeia, em lugar de Herodes, seu pai, teve medo de ir para lá. Advertido em sonhos, retirou-se para a região da Galileia 23 e foi morar numa cidade chamada Nazaré; assim se cumpriu o que foi anunciado pelos profetas: Ele será chamado Nazareno.

 

 


 

JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR

 

 

Iniciação à Cristologia

 

 

A distinção entre natureza e pessoa.

 

3. A concepção subjectivista da pessoa e a sua incidência na cristologia

 

Com a mudança produzida por descartes no pensamento filosófico modificou-se também o conceito de pessoa. Se anteriormente se definia a pessoa em ordem da realidade e do ser, a partir deste autor tentar-se-á definir a partir da subjectividade; p. ex. como a auto consciência do próprio eu e do próprio psiquismo (no qual se contem toda a realidade pessoal), ou antes como a abertura e capacidade de relação com outro tu.

Quando se aplicam estas teorias subjectivistas a Cristo suscitar-se-á imediatamente o problema de imaginar em Jesus uma pessoa humana distinta do Verbo. Com efeito, se o que constitui e define a pessoa é a sua auto consciência, a humanidade de Cristo – que tem consciência da sua vida psíquica – será um sujeito humano.

 

a) Algumas teorias recentes sobre a personalidade de Jesus Cristo

 

Nessa linha de pensamento, alguns autores explicam que a personalidade consiste na abertura da consciência humana ao ser em geral, que no fundo é uma abertura ao infinito, quer dizer, a Deus. Por isso afirmam que em Cristo haveria um centro de consciência humano referido a outro centro de consciência divino; quer dizer, n’Ele encontraríamos duas subjectividades: uma divina (Deus) e outra humana (Cristo), ao que alguns autores chamam abertamente pessoa humana.

Então, como pode dar-se, em Cristo, uma unidade entre o humano e o divino? Como expressam anuidade entre essas duas subjectividades? – tentam explicá-la pelas operações existentes entre os dois centros de consciência: pelo conhecimento que essa pessoa humana tenha da divindade e pela comunicação ou revelação de si que Deus faça a essa pessoa humana. E assim dizem que «toda a realidade de Jesus» reside no facto de que a sua subjectividade humana está totalmente aberta ao infinito, em completa obediência ao Pai; e por isso pode receber a total auto doação de Deus que se revela plenamente: assim pois, Jesus será um ser humano no qual tem lugar a revelação suprema de Deus.

 

b) Crítica destas teorias

 

Estas teorias reduzem a cristologia a uma simples antropologia: Cristo seria uma simples pessoa humana igual a nós, um homem que tem uma relação mais intensa coma divindade, um homem especialmente santo; e não se poderia dizer com verdade que Jesus Cristo é Deus feito homem, tal como ensina a fé.

Essas teorias, além do mais, sustentam uma antropologia insuficiente que reduz a realidade de um ser a um dos seus actos: a pessoa seria a simples consciência de si. O que é um erro, pois toda a operação vital – como o é a consciência – requer um sujeito operante, que é a pessoa. Portanto a pessoa não se identifica com a sua consciência, nem se constitui por ela: a pessoa é quem tem essa consciência de si.

Por isso a Congregação para a Doutrina da Fé, em 1972, contestou esses erros como opostos à fé[1].

 

4. Modos de expressar a realidade do mistério da união hipostática

 

Sabemos que o Filho de Deus fez suas as propriedades da natureza humana e fez participe a humanidade assumida da dignidade da sua pessoa; de modo que ao expressar o mistério da Encarnação dá-se uma espécie de comunicação de propriedades entre o humano e o divino, o que se denominou com uma locução de origem grega, communicatio idiomatum. Por exemplo, quando São Pedro diz aos judeus: «Matastes o autor da vida» (Act 3,15); ou quando São Paulo diz: «Se tivessem conhecido (a Sabedoria de Deus), nunca teriam crucificado o senhor da glória» (1 Cor 2,8). Em ambos os casos atribuem-se a Deus propriedades humanas (como morrer ou ser crucificado).

Neste campo, há uns modos de falar sobre Cristo que são adequados, mas outros podem ser ambíguos ou erróneos. Portanto, devemos cuidar a precisão da linguagem para nos expressar convenientemente; para isto vejamos algumas regras elementares que devemos observar nas nossas expressões sobre o mistério de Jesus Cristo.

 

a) Unicamente à pessoa de Cristo há que atribuir todas as propriedades e acções tanto da sua natureza divina como as da sua natureza humana.

 

Como a pessoa de Cristo é o sujeito que subsiste nas duas naturezas, podem e devem-se atribuir a essa pessoa todas as propriedades e acções da natureza divina e da natureza humana, que realmente são suas e lhe pertencem.

Tenhamos em conta que normalmente nomeamos a pessoa subsistente por meio de nomes concretos: o Verbo, Deus, o Filho de Deus, Jesus de Nazaré, Cristo, o Filho do homem, este homem, etc.

Assim podemos dizer que Deus nasceu de Maria Virgem, ou que o Filho de Deus morreu por nós. E também podemos dizer que Jesus é Deus, é a Verdade e ávida, que por Ele se criaram todas as coisas, ou que existe antes de Abraão. E assim o confessa o símbolo Niceno-Constatinopolitano: «Creio num só Senhor, Jesus Cristo, Filho único de Deus, nascido do pai antes de todos os séculos (…) por quem tudo foi feito; que por nós, os homens (…) encarnou em Maria, a Virgem, e se fez homem; e por nossa causa foi crucificado em tempos de Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e subiu ao céu».

 

b) Não se podem atribuir a uma natureza de Cristo as propriedades e acções de outra

 

Como depois da união hipostática as duas naturezas de Cristo permanecem distintas e sem confusão, não se podem pregar ou atribuir a uma natureza as propriedades ou acções da outra.

Tenhamos em conta que normalmente designamos as naturezas em si mesmas, e não a pessoa dessa natureza, com os nomes abstractos que qualificam o seu modo de ser: p. ex. a divindade, a humanidade.

Assim, não se pode dizer de modo algum que a divindade nasceu no tempo, ou que era passível, ou que morreu por nós. Como tampouco se pode dizer que a humanidade de Cristo é incriada, eterna, omnipotente, ou que era impassível.

 

Mas também temos de ter em conta outro modo de significar as naturezas: a reduplicação. Os nomes que significam a natureza em concreto (p. ex. Deus, homem), que em princípio significariam a pessoa, se usarmos a reduplicação (p. ex. Jesus Cristo, enquanto Deus; ou o Filho de Deus, enquanto é homem), neste caso designam propriamente a natureza (a divina ou a humana), e não a pessoa.   

Desta forma podemos dizer que o Filho de Deus, enquanto homem, é inferior ao Pai, é criatura, o que morreu na cruz. E também podemos dizer que Jesus, enquanto Deus, é eterno, igual ao Pai, não foi feito.     Em alternativa, não se pode dizer que Jesus, enquanto Deus, nasceu em Belém; ou que Cristo, enquanto homem, é o Criador, ou é uma pessoa.

Em resumo, ainda que todas as propriedades e acções das duas naturezas se injustamente à única pessoa de Cristo, para evitar equívocos e locuções confusas, muitas vezes convém distinguir a razão dessa atribuição: umas atribuem-se-lhe segundo a sua natureza divina (p. ex. Jesus Cristo é o Criador de todas as coisas enquanto Deus), e outras segundo a sua natureza humana (p. ex. é filho de Maria enquanto homem).

 

 

Vicente Ferrer Barriendos

 

(Tradução do castelhano por ama)

 



[1] Cf. CONGR. PARA A DOUTRINA DA FÉ, Declaração, O mistério oi Filho de Deus, 3.



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