Evangelho segundo São João
Jo VII 6-53
Origens de Cristo
25 Então, alguns de
Jerusalém comentavam: ‘Não é este a quem procuravam, para o matar? 26 Vede como
Ele fala livremente e ninguém lhe diz nada! Será que realmente as autoridades
se convenceram de que Ele é o Messias? 27 Mas nós sabemos donde Ele é, ao passo
que, quando chegar o Messias, ninguém saberá donde vem. 28 Entretanto, Jesus,
ensinando no templo, bradava: Então sabeis quem Eu sou e sabeis donde venho?!
Pois Eu não venho de mim mesmo; há um outro, verdadeiro, que me enviou, e que
vós não conheceis. 29 Eu é que o conheço, porque procedo dele e foi Ele que me
enviou. 30 Procuravam, então, prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão, pois a
sua hora ainda não tinha chegado. 31 Porém, dentre o povo, muitos creram nele e
comentavam: ‘Quando vier o Messias, será que há-de realizar mais sinais
miraculosos do que este?’ 32 Tal comentário do povo a respeito dele chegou aos
ouvidos dos fariseus. Então, os sumos sacerdotes e os fariseus mandaram guardas
para prenderem Jesus. 33 Entretanto, Jesus começou a dizer: Já pouco tempo vou
ficar convosco, pois irei para aquele que me enviou. 34 Haveis de procurar-me,
mas não me encontrareis, e não podereis ir para o lugar onde Eu estiver. 35 Os
judeus, por isso, disseram entre si: ‘Para onde tenciona Ele ir, que não o
possamos encontrar? Tenciona ir até aos que estão dispersos entre os gregos
para pregar aos gregos? 36 Que significam estas palavras que Ele disse: Haveis
de procurar-me, mas não me encontrareis, e não podereis ir para o lugar onde Eu
estiver?’
Jesus ensina no
último dia da festa
37 No último dia, o
mais solene da festa, Jesus, de pé, bradou: Se alguém tem sede, venha a mim; e
quem crê em mim que sacie a sua sede! 38 Como diz a Escritura, hão-de correr do
seu coração rios de água viva. 39 Ora Ele disse isto, referindo-se ao Espírito
que iam receber os que nele acreditassem; com efeito, ainda não tinham o
Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado. 40 Então, entre a
multidão de pessoas que escutaram estas palavras, dizia-se: ‘Ele é realmente o
Profeta.’ 41 Diziam outros: ‘É o Messias.’ Outros, porém, replicavam: ‘Mas pode
lá ser que o Messias venha da Galileia?! 42 Não diz a Escritura que o Messias
vem da descendência de David e da cidade de Belém, donde era David? 43 Deste
modo, estabeleceu-se um desacordo entre a multidão, por sua causa. 44 Alguns
deles queriam prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão. 45 Depois os guardas
voltaram aos sumos sacerdotes e aos fariseus, que lhes perguntaram: ‘Porque é
que não o trouxestes?’ 46 Os guardas responderam: ‘Nunca nenhum homem falou
assim!’ 47 Replicaram-lhes os fariseus: ‘Será que também vós ficastes
seduzidos? 48Po rventura acreditou nele algum dos chefes, ou dos fariseus? 49 Mas
essa multidão, que não conhece a Lei, é gente maldita!’
Nicodemos defende
Jesus
50 Nicodemos, aquele
que antes fora ter com Jesus e que era um deles, disse-lhes: 51 ‘Porventura
permite a nossa Lei julgar um homem, sem antes o ouvir e sem averiguar o que
ele anda a fazer?’ 52 Responderam-lhe eles: ‘Também tu és galileu? Investiga e
verás que da Galileia não sairá nenhum profeta.’ 53 E cada um foi para sua
casa.
Cristo
que passa
133
Entre
os dons do Espírito Santo, eu diria que há um de que todos nós, cristãos, temos
especial necessidade: o dom da Sabedoria, que, fazendo-nos conhecer a Deus e
tomar-Lhe o sabor, nos coloca em condições de poder julgar com verdade as
situações e as coisas da vida presente.
Se
fôssemos consequentes com a nossa fé, quando olhássemos à nossa volta e
contemplássemos o espectáculo da História e do Mundo, não poderíamos deixar de
sentir crescer nos nossos corações os mesmos sentimentos que animaram o de
Jesus Cristo: «ao ver aquelas multidões, compadeceu-se delas, porque estavam
maltratadas e fatigadas e como ovelhas sem pastor».
Não
é que o cristão não veja todo o bem que há na Humanidade, não aprecie as
alegrias puras, não participe dos anseios e dos ideais terrenos.
Pelo
contrário, sente tudo isso desde o mais recôndito da alma e compartilha-o e
vive-o com especial intensidade, pois conhece melhor do que ninguém os arcanos
do espírito humano.
A fé
cristã não nos torna pusilânimes nem cerceia os impulsos nobres da alma, pois é
ela que os engrandece, ao revelar o seu verdadeiro e mais autêntico sentido:
não estamos destinados a uma felicidade qualquer, porque fomos chamados à
intimidade divina, a conhecer e amar Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo
e, na Trindade e na Unidade de Deus, todos os anjos e todos os homens.
Essa
é a grande ousadia da fé cristã: proclamar o valor e a dignidade da natureza
humana e afirmar que, mediante a graça que nos eleva à ordem sobrenatural,
fomos criados para alcançar a dignidade de filhos de Deus.
Ousadia
certamente incrível, se não se baseasse no desígnio salvador de Deus Pai e não
houvesse sido confirmada pelo Sangue de Cristo e reafirmada e tornada possível
pela acção constante do Espírito Santo.
Temos
de viver de Fé, crescer na Fé, até poder dizer de cada um de nós, de cada
cristão, o que há muitos séculos escreveu um dos grandes Doutores da Igreja
Oriental: “Da mesma maneira que os corpos transparentes e límpidos, quando
recebem os raios luminosos, se tornam resplandecentes e irradiam brilho, assim
as almas que são conduzidas e iluminadas pelo Espírito Santo se tornam também
espirituais e levam às outras a luz da graça. Do Espírito Santo procede o
conhecimento das coisas futuras, a inteligência dos mistérios, a compreensão
das verdades ocultas, a distribuição dos dons, a cidadania celeste, a
conversação com os Anjos. D'Ele, a alegria que nunca termina, a perseverança em
Deus, a semelhança com Deus e - a coisa mais sublime que pode ser pensada - a
transformação em Deus”.
A
consciência da grandeza da dignidade humana - de um modo eminente e inefável,
pois fomos, pela acção da graça, constituídos filhos de Deus - é no cristão uma
só coisa com a humildade, visto que não são as nossas forças que nos salvam e
nos dão a vida, mas o favor divino.
É uma
verdade que não se pode esquecer, porque senão pervertia-se o nosso
endeusamento, convertendo-se em presunção, em soberba e, mais cedo ou mais
tarde, em ruína espiritual perante a experiência da nossa fraqueza e miséria.
Perguntava
a si mesmo Santo Agostinho:”Atrever-me-ei a dizer que sou santo? Se dissesse
santo como santificador e não necessitado de ninguém que me santificasse, seria
soberbo e mentiroso. Mas, se entendo por santo o santificado, segundo aquilo
que se lê no Levítico: sede santos, porque Eu, Deus, sou santo, então também o
corpo de Cristo, até ao último homem situado nos confins da Terra, poderá dizer
ousadamente, unido à sua Cabeça e a ela subordinado: sou santo”.
Amemos
a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade; escutemos na intimidade do nosso ser
as moções divinas - alentos, censuras - ; caminhemos sobre a Terra dentro da
luz derramada na nossa alma; e o Deus da esperança nos encherá de todas as
formas de paz, para que essa esperança vá crescendo em nós cada vez mais, pela
virtude do Espírito Santo.
134
Amizade
com o Espírito Santo
Viver
segundo o Espírito Santo é viver de Fé, de Esperança, de Caridade; é deixar que
Deus tome posse de nós e mude os nossos corações desde a raiz, para os fazer à
sua medida.
Uma
vida cristã madura, profunda e firme não é coisa que se improvise, porque é
fruto do crescimento em nós da graça de Deus.
Nos
Actos dos Apóstolos, descreve-se a situação da primitiva comunidade cristã numa
frase breve, mas cheia de sentido: “perseveravam todos na doutrina dos
Apóstolos e na comum fracção do pão e nas orações”.
Assim
viveram os primeiros cristãos e assim devemos viver nós: a meditação da
doutrina da Fé, de modo assimilá-la, o encontro com Cristo na Eucaristia, o
diálogo pessoal - a oração sem anonimato - face a face com Deus, hão-de constituir
como que a substância última da nossa vida. Se isso faltar, talvez haja
reflexão erudita, actividade mais ou menos intensa, devoções e práticas
piedosas.
Não
haverá, porém, existência cristã autêntica, porque faltará a compenetração com
Cristo, a participação real e vivida na obra divina da salvação.
A
qualquer cristão se aplica esta doutrina, porque todos estamos igualmente
chamados à santidade.
Não
há cristãos de segunda classe, obrigados a pôr em prática apenas uma versão
reduzida do Evangelho: todos recebemos o mesmo baptismo e, embora exista uma
ampla diversidade de carismas e de situações humanas, um mesmo é o Espírito que
distribui os dons divinos, uma mesma a Fé, uma só a Esperança, uma só a
Caridade.
Podemos,
pois, ter por dirigida a nós mesmos a pergunta do Apóstolo: “não sabeis que
sois templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós? e recebê-la como um
convite a um trato mais pessoal e directo com Deus”.
Infelizmente,
o Paráclito é para alguns cristãos o Grande Desconhecido, um nome que se
pronuncia, mas que não é Alguém - uma das Três Pessoas do Único Deus - com Quem
se fala e de Quem Se vive.
Ora
é indispensável ter com Ele familiaridade e confiança, cheia de simplicidade
como nos ensina a Igreja através da Liturgia.
Assim
conheceremos melhor Nosso Senhor e ao mesmo tempo compreenderemos melhor o
imenso dom que significa ser cristão; veremos como é grande e verdadeiro o
"endeusamento", a participação na vida divina a que atrás me referi.
Porque
o Espírito Santo não é um artista que desenha em nós a divina substância, como
se lhe fosse alheio; não é assim que nos conduz à semelhança divina: “é Ele
mesmo, que é Deus e de Deus procede, que Se imprime nos corações que O recebem,
à maneira de selo sobre a cera, e é assim, por comunicação de si mesmo e pela
semelhança, que restabelece a natureza segundo a beleza do modelo divino e
restitui ao homem a imagem de Deus”.
135
Para
pôr em prática, ainda que seja de um modo muito genérico, um estilo de vida que
nos anime a conviver com o Espírito Santo - e, ao mesmo tempo com o Pai e o
Filho - numa verdadeira intimidade com o Paráclito, devemos firmar-nos em três
realidades fundamentais: docilidade - digo-o mais uma vez - vida de oração,
união com a Cruz.
Em
primeiro lugar, docilidade - porque é o Espírito Santo que, com as Suas
inspirações, vai dando tom sobrenatural aos nossos pensamentos, desejos e
obras.
É
Ele que nos impele a aderir à doutrina de Cristo e a assimilá-la em
profundidade; que nos dá luz para tomar consciência da nossa vocação pessoal e
força para realizar tudo o que Deus espera de nós.
Se
formos dóceis ao Espírito Santo, a imagem de Cristo ir-se-á formando, cada vez
mais nítida, em nós e assim nos iremos aproximando cada vez mais de Deus Pai.
“Os
que são conduzidos pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus”.
Se
nos deixarmos guiar por esse princípio de vida, presente em nós, que é o
Espírito Santo, a nossa vitalidade espiritual irá crescendo e
abandonar-nos-emos nas mãos do nosso Pai Deus, com a mesma espontaneidade e
confiança com que um menino se lança nos braços do pai.
«Se
não vos tornardes como meninos, não entrareis no Reino dos Céus», disse o
Senhor.
É
este o antigo e sempre actual caminho da infância espiritual, que não é sentimentalismo
nem falta de maturidade humana, mas sim maioridade sobrenatural, que nos leva a
aprofundar as maravilhas do amor divino, reconhecer a nossa pequenez e a
identificar plenamente a nossa vontade com a de Deus.
136
Em
segundo lugar, vida de oração, porque a entrega, a obediência, a mansidão do
cristão nascem do amor e para o amor caminham.
E o
amor conduz ao convívio, à conversação, à intimidade.
A
vida cristã requer um diálogo constante com Deus Uno e Trino, e é a essa
intimidade que o Espírito Santo nos conduz.
Quem
conhece as coisas que são do homem, senão o espírito do homem, que está nele?
Assim
também as coisas que são de Deus, ninguém as conhece senão o Espírito de Deus.
Se
tivermos assídua relação com o Espírito Santo, também nós nos faremos espirituais,
nos sentiremos irmãos de Cristo e filhos de Deus, a Quem não teremos dúvida de
invocar como Pai nosso que É.
Acostumemo-nos
a conviver com o Espírito Santo, que é quem nos há-de santificar; a confiar
n'Ele, a pedir a Sua ajuda, a senti-Lo ao pé de nós.
Assim
se irá tornando maior o nosso pobre coração, e teremos mais desejos de amar a
Deus e, por Ele, a todas as criaturas.
E
nas nossas vidas reproduzir-se-á a visão com que termina o Apocalipse: o
Espírito e a Esposa, o Espírito Santo e a Igreja - e cada um dos cristãos -
dirigem-se a Jesus Cristo, pedindo-Lhe que venha, que esteja connosco para
sempre.
137
Por
último, união com a Cruz.
Porque,
na vida de Cristo, o Calvário precedeu a Ressurreição e o Pentecostes, e esse
mesmo processo deve reproduzir-se na vida de cada cristão: Diz-nos São Paulo: “Somos
co-herdeiros de Cristo; mas isto, se sofrermos com Ele, para sermos com Ele
glorificados”.
O
Espírito Santo é o fruto da Cruz, da entrega total a Deus, de buscarmos
exclusivamente a Sua glória e de renunciarmos completamente a nós mesmos.
Só
quando o homem, sendo fiel à graça, se decide a colocar no centro da sua alma a
Cruz, negando-se a si mesmo por amor de Deus, estando realmente desapegado do
egoísmo e de toda a falsa segurança humana, quer dizer, só quando vive
verdadeiramente de Fé, é que recebe com plenitude o grande fogo, a grande luz,
a grande consolação do Espírito Santo.
É
então que vêm à alma essa paz e essa liberdade que Cristo ganhou para nós e que
se nos comunicam com a graça do Espírito Santo.
Os
frutos do Espírito Santo são caridade, alegria, paz, paciência, benignidade,
bondade, longanimidade, mansidão, fé, modéstia, continência, castidade; e onde
está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.
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