Evangelho
A Sua carne é comida
e o Seu sangue é bebida
52 Então, os judeus,
exaltados, puseram-se a discutir entre si, dizendo: «Como pode Ele dar-nos a
sua carne a comer?!» 53 Disse-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: se
não comerdes mesmo a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não
tereis a vida em vós. 54 Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue
tem a vida eterna e Eu hei-de ressuscitá-lo no último dia, 55 porque a minha
carne é uma verdadeira comida e o meu sangue, uma verdadeira bebida. 56 Quem
realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele.
57 Assim como o Pai que me enviou vive e Eu vivo pelo Pai, também quem de
verdade me come viverá por mim. 58 Este é o pão que desceu do Céu; não é como
aquele que os antepassados comeram, pois eles morreram; quem come mesmo deste
pão viverá eternamente.» 59 Isto foi o que Ele disse em Cafarnaúm, ao ensinar
na sinagoga. 60 Depois de o ouvirem, muitos dos seus discípulos disseram: «Que
palavras insuportáveis! Quem pode entender isto?» 61 Mas Jesus, sabendo no seu
íntimo que os seus discípulos murmuravam a respeito disto, disse-lhes: «Isto
escandaliza-vos? 62 E se virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes?
63 É o Espírito quem dá a vida; a carne não serve de nada: as palavras que vos
disse são espírito e são vida. 64 Mas há alguns de vós que não crêem.» De
facto, Jesus sabia, desde o princípio, quem eram os que não criam e também quem
era aquele que o havia de entregar. 65 E dizia: «Por isso é que Eu vos declarei
que ninguém pode vir a mim, se isso não lhe for concedido pelo Pai.» 66 A
partir daí, muitos dos seus discípulos voltaram para trás e já não andavam com
Ele.
Acto de fé de Pedro
67 Então, Jesus disse
aos Doze: «Também vós quereis ir embora?» 68 Respondeu-lhe Simão Pedro: «A quem
iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna! 69 Por isso nós cremos e
sabemos que Tu é que és o Santo de Deus.» 70 Disse-lhes Jesus: «Não vos escolhi
Eu a vós, os Doze? Contudo, um de vós é um diabo.» 71 Referia-se a Judas, filho
de Simão Iscariotes, pois esse é que viria a entregá-lo, sendo embora um dos
Doze.
Cristo
que passa
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A vida futura
A tarefa apostólica que
Cristo atribuiu a todos os Seus discípulos produz, portanto, resultados
concretos no âmbito social.
Não é admissível pensar que,
para se ser cristão, seja preciso voltar as costas ao mundo, ser um derrotista
da natureza humana. Tudo, até o mais pequeno dos acontecimentos honestos,
encerra um sentido humano e divino.
Cristo, perfeito homem, não
veio destruir o que é humano, mas enobrecê-lo, assumindo a nossa natureza
humana, excepto o pecado. Veio compartilhar todos os anseios do homem, menos a
triste aventura do mal.
O cristão deve encontrar-se
sempre disposto a santificar a sociedade a partir de dentro, estando plenamente
no mundo, mas não sendo do mundo naquilo que ele tem - não por característica
real, mas por defeito voluntário, pelo pecado - de negação de Deus, de oposição
à Sua amável Vontade salvífica.
A festa da Ascensão do
Senhor sugere-nos também outra realidade: o Cristo que nos anima a esta tarefa
no mundo espera-nos no Céu. Por outras palavras: a vida na terra, que amamos,
não é a definitiva: porque não temos aqui cidade permanente, mas andamos em
busca da futura cidade imutável.
Procuremos, no entanto, não
interpretar a Palavra de Deus nos limites de horizontes estreitos.
O Senhor não nos impele a
sermos infelizes enquanto caminhamos, esperando só a consolação no além. Deus
quer-nos felizes também aqui, embora anelando o cumprimento definitivo dessa
outra felicidade, que só Ele pode preencher completa e abundantemente.
Nesta terra, a contemplação
das realidades sobrenaturais, a acção da graça nas nossas almas, o amor ao
próximo como fruto saboroso do amor a Deus, supõem já uma antecipação do Céu,
um começo destinado a crescer dia a dia.
Nós, cristãos, não
suportamos uma vida dupla: mantemos uma unidade de vida, simples e forte, na
qual se fundamentam e compenetram todas ás nossas acções.
126
Cristo espera-nos.
Vivemos já como cidadãos do
céu sendo plenamente cidadãos da Terra, no meio de dificuldades, de injustiças,
de incompreensões, mas também no meio da alegria e da serenidade que dá
saber-se filho amado de Deus.
Perseveremos no serviço do
nosso Deus e veremos como aumenta em número e em santidade este exército
cristão de paz, este povo de corredenção.
Sejamos almas
contemplativas, com um diálogo constante, convivendo com o Senhor a toda a
hora: desde o primeiro pensamento do dia ao último da noite, pondo
continuamente o nosso coração em Jesus Cristo Senhor Nosso, chegando até junto
d'Ele por intermédio da Nossa Mãe Santa Maria e, por Ele, ao Pai e ao Espírito
Santo.
Se, apesar de tudo, a subida
de Jesus aos Céus nos deixa na alma um amargo rasto de tristeza, acudamos a sua
Mãe como fizeram os apóstolos: então, voltaram a Jerusalém... e oravam
unanimemente... com Maria, a Mãe de Jesus.
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Os Actos dos Apóstolos, ao
narrarem-nos os acontecimentos daquele dia de Pentecostes em que o Espírito
Santo desceu em forma de línguas de fogo sobre os discípulos de Nosso Senhor,
levam-nos a assistir à grande manifestação do poder de Deus com que a Igreja
iniciou a sua caminhada por entre as nações.
A vitória que Cristo obtivera sobre a morte e
sobre o pecado - com a Sua obediência, a Sua imolação na Cruz e a Sua
Ressurreição - revelou-se então em todo o seu esplendor divino.
Os discípulos, que já tinham
sido testemunhas da glória do Ressuscitado, experimentaram em si a força do
Espírito Santo: as suas inteligências e os seus corações abriram-se a uma nova
luz.
Tinham seguido Cristo e
recebido com fé a sua doutrina; mas nem sempre conseguiam penetrar totalmente
no sentido desta.
Era necessário que viesse o
Espírito de Verdade para lhes fazer compreender todas as coisas.
Sabiam que só em Jesus
podiam encontrar palavras de vida eterna e estavam dispostos a segui-Lo e a dar
a vida por Ele; mas eram fracos e, quando chegou a hora da provação, fugiram,
deixaram-nO só.
No dia de Pentecostes tudo
isso passou: o Espírito Santo, que é espírito de fortaleza, tornou-os firmes,
seguros, audazes.
A palavra dos Apóstolos
ressoa então, forte e vibrante, pelas ruas e praças de Jerusalém.
Os homens e as mulheres
vindos das mais diversas regiões, que naqueles dias povoam a cidade, escutam
assombrados.
“Partos, medos e
elamitas, e os que habitam a Mesopotâmia, a Judeia e a Capadócia, o Ponto e a
Ásia, a Frígia e a Panfília, o Egipto e várias partes da Líbia que é vizinha de
Cirene, e os que vieram de Roma, tanto judeus como prosélitos, cretenses e
árabes, todos os ouvimos falar, nas nossas próprias línguas, das maravilhas de
Deus”.
Estes prodígios, que se
realizam diante dos seus olhos, levam-nos a prestar atenção à pregação
apostólica.
O mesmo Espírito Santo, que
actua nos discípulos do Senhor, tocou-lhes também nos corações e conduziu-os à
Fé.
Conta-nos São Lucas que,
depois de São Pedro ter falado, proclamando a Ressurreição de Cristo, muitos
dos que o rodeavam se aproximaram, perguntando: que havemos de fazer, irmãos?
E o Apóstolo respondeu-lhes:
“Fazei penitência, e cada um de vós seja baptizado em nome de Jesus Cristo
para remissão dos vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo”.
E o texto sagrado termina
dizendo-nos que “nesse dia se incorporaram na Igreja cerca de três mil
pessoas”.
A vinda solene do Espírito
Santo no dia de Pentecostes não foi um acontecimento isolado.
Quase não há uma página dos
Actos dos Apóstolos em que se não fale d'Ele e da acção pela qual guia, dirige
e anima a vida e as obras da primitiva comunidade cristã.
É Ele que inspira a pregação
de São Pedro, que confirma na fé os discípulos, que sela com a Sua presença o
chamamento dirigido aos gentios e, que envia Saulo e Barnabé para terras
distantes, a fim de abrirem novos caminhos à doutrina de Jesus.
Numa palavra, a Sua presença
e a Sua actuação dominam tudo.
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O renascimento baptismal
Esta realidade profunda que
o texto da Sagrada Escritura nos dá a conhecer não é uma simples recordação do
passado, de uma espécie de idade de ouro da Igreja, perdida na História.
Por cima das misérias e dos
pecados de cada um de nós, continua a ser a realidade da Igreja de hoje e da
Igreja de todos os tempos.
Anunciou o Senhor aos seus
discípulos: «Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para que
fique convosco eternamente».
Jesus cumpriu as Suas
promessas: ressuscitou, subiu aos Céus e, em união com o Eterno Pai, envia-nos
o Espírito Santo para nos santificar e nos dar a vida.
A força e o poder de Deus
iluminam a face da Terra.
O Espírito Santo continua a
assistir à Igreja de Cristo, para que ela seja - sempre e em tudo - sinal
erguido diante das nações, anunciando à Humanidade a benevolência e o amor de
Deus.
Por maiores que sejam as
nossas limitações, nós, homens, podemos olhar com confiança para os Céus e
sentir-nos cheios de alegria: Deus ama-nos e liberta-nos dos nossos pecados.
A presença e a acção do
Espírito Santo na Igreja são o penhor e a antecipação da felicidade eterna,
dessa alegria e dessa paz que Deus nos prepara.
Também nós, tal como aqueles
primeiros que se aproximaram de São Pedro no dia de Pentecostes, fomos baptizados.
No baptismo, o Nosso Pai, Deus, tomou posse
das nossas vidas, incorporou-nos na vida de Cristo e enviou-nos o Espírito
Santo.
Diz-nos a Sagrada Escritura:
”O Senhor, salvou-nos fazendo-nos renascer pelo baptismo, renovando-nos pelo
Espírito Santo, que Ele difundiu sobre nós abundantemente por Jesus Cristo,
nosso Salvador, a fim de que, justificados pela Sua graça, sejamos herdeiros da
vida eterna, segundo a esperança”.
A experiência da nossa
debilidade e das nossas faltas, a desedificação que pode produzir o espectáculo
doloroso da pequenez ou mesmo mesquinhez de alguns que se chamam cristãos, o
aparente fracasso ou a desorientação de algumas iniciativas apostólicas, tudo
isso - a comprovação da realidade do pecado e das limitações humanas - pode
constituir, no entanto, uma provação para a nossa fé e fazer com que se
insinuem em nós a tentação e a dúvida: onde estão a força e o poder de Deus?
É o momento de reagirmos, de
pormos em prática da maneira mais pura e firme a nossa esperança e, portanto,
de procurarmos ser mais firme na nossa fidelidade.
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