27/11/2020

Leitura espiritual 27 Novembro

Evangelho

Jo XI, 1- 24

 

Flagelação e coroação de espinhos

 

1 Pilatos tomou então Jesus e mandou-O flagelar. 2 Depois, os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-Lha sobre a cabeça e revestiram-n'O com um manto de púrpura. 3 Aproximavam-se d'Ele e diziam-Lhe: «Salve, rei dos judeus!», e davam-Lhe bofetadas. 4 Saiu Pilatos ainda outra vez fora e disse-lhes: «Eis que vo-l'O trago fora, para que conheçais que não encontro n'Ele crime algum». 5 Saiu, pois, Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse-lhes: «Eis aqui o Homem!». 6 Então os príncipes dos sacerdotes e os guardas, quando O viram, gritaram: «Crucifica-O, crucifica-O!». Pilatos disse-lhes: «Tomai-O e crucificai-O, porque eu não encontro n'Ele motivo algum de condenação». 7 Os judeus responderam-lhe: «Nós temos uma Lei e, segundo essa Lei, deve morrer, porque Se fez Filho de Deus». 8 Pilatos, tendo ouvido estas palavras, temeu ainda mais. 9 Entrou novamente no Pretório e disse a Jesus: «Donde és Tu?». Mas Jesus não lhe deu resposta. 10 Então Pilatos disse-Lhe: «Não me falas? Não sabes que tenho poder para Te soltar e também para Te crucificar?». 11 Jesus respondeu: «Tu não terias poder algum sobre Mim, se não te fosse dado do alto. Por isso, quem Me entregou a ti tem maior pecado».

 

 

Condenaçãode Jesus

 

12 Desde este momento, Pilatos procurava soltá-l'O. Porém, os judeus gritavam: «Se soltas Este, não és amigo de César!, porque todo aquele que se faz rei, declara-se contra César». 13 Pilatos, tendo ouvido estas palavras, conduziu Jesus para fora e sentou-se no seu tribunal, no lugar chamado Litóstrotos, em hebraico Gábata. 14 Era o dia da Preparação da Páscoa, cerca da hora sexta. Pilatos disse aos judeus: «Eis o vosso rei!». 15 Mas eles gritaram: «Tira-O, tira-O, crucifica-O!». Pilatos disse-lhes: «Hei-de crucificar o vosso rei?». Os pontífices responderam: «Não temos outro rei senão César». 16 Então entregou-Lho para que fosse crucificado.

 

Jesus vai para o Calvário

 

17 Tomaram, pois, Jesus que, carregando com a Sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, em hebraico Gólgota, 18 onde O crucificaram, e com Ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio. 19 Pilatos redigiu um título, que mandou colocar sobre a cruz. Nele estava escrito: «Jesus Nazareno, Rei dos Judeus». 20 Muitos judeus leram este título, porque o lugar onde foi crucificado ficava perto da cidade. Estava redigido em hebraico, em latim e em grego. 21 Os pontífices dos judeus diziam, porém, a Pilatos: «Não escrevas: Rei dos Judeus, mas: Este homem disse: Eu sou o Rei dos Judeus». 22 Pilatos respondeu: «O que escrevi, está escrito!». 23 Os soldados, depois de terem crucificado Jesus, tomaram as Suas vestes e fizeram delas quatro partes, uma para cada soldado. Tomaram também a túnica. A túnica não tinha costura, era toda tecida de alto a baixo. 24 Disseram entre si: Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela, para ver a quem tocará; para que se cumprisse deste modo a Escritura, que diz: “Repartiram entre si as Minhas vestes e lançaram sortes sobre a Minha túnica”. “Os soldados assim fizeram.

 

 


DE  CIVITATE DEI

 

LIVRO IX

 

CAPÍTULO V

 

As paixões que afectam a alma dos cristãos não arrastam ao vicio mas exercitam a virtude.

 

Por agora, não é preciso expor em pormenor e com precisão o que, a propósito destas paixões nos ensina a Escritura Sagrada, onde está contida a ciência cristã. Esta submete a inteligência a Deus, para que Ele a dirija e a ajude; e à inteligência submete as paixões, para que ela as modere, as refreie e as ponha ao serviço da justiça. Em suma, na nossa doutrina não se pergunta à alma piedosa se se encoleriza, mas porquê; nem se está triste, mas donde lhe vem a tristeza; nem se tem medo, mas porque é que

teme.

De resto, irritar-se contra um pecador para o corrigir, entristecer-se com um aflito para o consolar, horrorizar-se à vista de um homem em perigo para o impedir de perecer — pensando bem, não vejo que isso seja repreensível.

É verdade que os estóicos costumam censurar a misericórdia.

Todavia, quanto não seria mais louvável o nosso estóico com o ver-se com pena de um homem a salvar de um perigo, do que perturbar-se com o medo de um naufrágio.

Muito mais belo, muito mais humano, muito mais conforme com os sentimento de uma alma piedosa, foi o elogio que Cícero dirigiu a César: Das tuas virtudes, nenhuma é mais admirável nem mais agradável do que a misericórdia (Nulla de virtutihus tuis nec admirabilior nec gratior misericórdia est. Cícero, Pro Ligario, X II, 37).

Mas que é a misericórdia senão a compaixão do nosso coração para com a miséria alheia, que nos impele a socorrê-la, se pudermos? E este movimento serve a razão quando a misericórdia se manifesta sem comprometer a justiça, quer se exerça para com um necessitado, quer se perdoe a um arrependido. Cícero, egrégio orador, não teve dúvidas em lhe chamar virtude, ao passo que os estóicos não se envergonham de a colocar entre os vícios, embora admitindo, como o ensinou o livro de Epicteto,  — ilustre estóico fiel aos princípios de Zenão e de Crisipo, chefes dessa escola, que a alma do sábio está sujeita a tais paixões, embora isenta de todo o vício. Segue-se daí que não consideram estas paixões como vícios, desde que, quando surgem no sábio, nenhum prejuízo causem à razão e ao vigor do espírito. Há, pois, identidade de opiniões entre os peripatéticos, os platónicos e os próprios estóicos.

Mas, com o diz Túlio (Marco Túlio Cícero, nome completo do grande escritor geralmente conhecido apenas por Cícero) , há muito tempo que a controvérsia de palavras atormenta estes pequenos gregos (graeculi) mais ávidos de disputas do que de verdade.

Mas, a propósito, põe-se agora uma questão: terão de se considerar como fraquezas da vida presente os «afectos» (affectus) deste género que nós experimentamos na prática das boas acções? Os santos anjos punem sem cólera os que lhes são entregues pela eterna lei de Deus para serem punidos; socorrem os desgraçados, sem sentirem compaixão para com a sua desgraça; prestam aos amigos em perigo a sua ajuda, sem experimentarem o menor receio; e, todavia, na linguagem humana empregam-se, mesmo a seu respeito, as palavras que designam estas paixões, devido a uma certa analogia nos actos e não devido à fraqueza das «afeições» (affectionum). Da mesma forma, segundo a Escritura, o próprio Deus se irrita, e, todavia, não se perturba com qualquer paixão. A palavra «cólera» designa o efeito da vingança e não um alvoroçado afecto.

 

 

 

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