17/11/2020

Leitura espiritual 17 Novembro

 

Evangelho

 

Jo XVII, 27-50

 

Pedido de alguns pagãos

 

27 Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de Eu dizer? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente para esta hora é que Eu vim! 28 Pai, manifesta a tua glória!» Veio, então, uma voz do Céu: «Já a manifestei e voltarei a manifestá-la!» 29 Entre as pessoas presentes, que escutaram, uns diziam que tinha sido um trovão; outros diziam: «Foi um Anjo que lhe falou!» 30 Jesus respondeu: «Esta voz não veio por causa de mim, mas por amor de vós. 31 Agora é o julgamento deste mundo; agora é que o dominador deste mundo vai ser lançado fora. 32 E Eu, quando for erguido da terra, atrairei todos a mim.» 33 Dizia isto dando a entender de que espécie de morte havia de morrer. 34 Aquela gente replicou-lhe: «Nós aprendemos na nossa Lei que o Messias permanece vivo para sempre. Como afirmas Tu que o Filho do Homem tem de ser erguido? Mas quem é, afinal, esse tal Filho do Homem?» 35 Jesus respondeu-lhes: «Por um pouco de tempo ainda, a Luz está no meio de vós. Caminhai enquanto tendes a Luz, de modo que as trevas não vos apanhem, pois quem caminha nas trevas não sabe para onde vai. 36 Enquanto tendes a Luz, crede na Luz, para vos tornardes filhos da Luz.» Jesus disse estas coisas, foi-se embora e ocultou-se deles.

 

Incredulidade dos judeus

 

37 Embora Jesus tivesse realizado diante deles tantos sinais portentosos, não criam nele, 38 de modo a cumprirem-se as palavras do profeta Isaías, que dissera: Senhor, quem acreditou no que ouviu de nós? E a quem foi revelado o poder do Senhor? 39 Realmente não eram capazes de crer; por isso Isaías também dissera: 40 Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para não verem com os olhos e não entenderem com o coração e não se converterem e Eu ter de os curar. 41 Isto disse Isaías falando dele, porque tinha visto a sua glória. 42 Apesar disso, até entre os chefes, muitos creram nele, mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da Sinagoga, 43 pois amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus. 44 Jesus levantou a voz e disse: «Quem crê em mim não é em mim que crê, mas sim naquele que me enviou; 45 e quem me vê a mim vê aquele que me enviou. 46 Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em mim não fique nas trevas. 47 Se alguém ouve as minhas palavras e não as cumpre, não sou Eu que o julgo, pois não vim para condenar o mundo, mas sim para o salvar. 48 Quem me rejeita e não aceita as minhas palavras tem quem o julgue: a palavra que Eu anunciei, essa é que o há-de julgar no último dia; 49 porque Eu não falei por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, é que me encarregou do que devo dizer e anunciar. 50 E Eu bem sei que este seu mandato traz consigo a vida eterna; por isso, as coisas que Eu anuncio, anuncio-as tal como o Pai as disse a mim.»

 


Amar a Igreja

 

17

        

Para começar, gostaria de vos recordar umas palavras de São Cipriano:

A Igreja universal apresenta-se-nos como um povo cuja unidade é obtida a partir da unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.

 

Não estranhem, portanto, que nesta festa da Santíssima Trindade a homilia trate da Igreja, tanto mais que a Igreja tem as suas raízes no mistério fundamental da nossa fé católica: o de Deus uno em essência e trino em pessoas.

 

A Igreja centrada na Trindade: eis como sempre a consideraram os Padres.

 

Reparem como são claras as palavras de Santo Agostinho: “Deus habita no seu templo; não apenas o Espírito Santo, mas igualmente o Pai e o Filho... Por isso, a Santa Igreja é o templo de Deus, ou seja, de toda a Trindade”.

 

Ao reunirmo-nos de novo no próximo Domingo, consideraremos outro dos aspectos maravilhosos da Santa Igreja: essas notas que recitaremos dentro de pouco, no Credo, depois de cantar a nossa fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo.

 

Et in Spiritum Sanctum, dizemos.

 

 

E, logo a seguir, et unam, sanctam catholicam et apostolicam Ecclesiam, confessamos que há uma só Igreja, Santa, Católica e Apostólica.

 

Todos aqueles que amaram verdadeiramente a Igreja souberam relacionar estas quatro notas com o mais inefável mistério da nossa santa religião: a Santíssima Trindade.

 

Nós cremos na Igreja de Deus, Una, Santa, Católica e Apostólica, na qual recebemos a doutrina; conhecemos o Pai, o Filho e o Espírito Santo e somos baptizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

 

 

18

        

Momentos difíceis

 

É necessário meditarmos frequentemente, para não corrermos o risco de nos esquecermos, que a Igreja é um mistério grande, profundo. Nunca poderá ser abarcado nesta terra.

 

Se a razão tentasse explicá-lo por si só, veria apenas a reunião de pessoas que cumprem certos preceitos, que pensam de forma parecida. Mas isso não seria a Santa Igreja.

 

Na Santa Igreja os católicos encontramos a nossa fé, as nossas normas de conduta, a nossa oração, o sentido de fraternidade, a comunhão com todos os irmãos que já desapareceram e que estão a purificar-se no Purgatório - Igreja padecente-, ou com os que já gozam da visão beatífica - Igreja triunfante-, amando eternamente Deus, três vezes Santo.

 

É a Igreja que permanece aqui e, ao mesmo tempo, transcende a história.

 

A Igreja que nasceu sob o manto de Santa Maria e continua a louvá-la como Mãe na terra e no céu.

 

Confirmemos em nós mesmos o carácter sobrenatural da Igreja; confessemo-lo aos gritos, se for preciso, porque nestes momentos são muitos aqueles que - embora fisicamente dentro da Igreja, e até em altas posições - se esqueceram destas verdades capitais e pretendem apresentar uma imagem da Igreja que não é Santa, que não é Una, que não pode ser Apostólica porque não se apoia na rocha de Pedro, que não é Católica porque está sulcada por particularismos ilegítimos, por caprichos de homens.

 

Não é novidade.

 

Desde que Jesus Cristo fundou a Santa Igreja, esta Mãe, que é nossa Mãe, sofreu uma perseguição constante.

Talvez noutras épocas as agressões se organizassem abertamente; agora, em muitos casos, trata-se de uma perseguição camuflada.

Seja como for, hoje, como ontem, há quem continue a combater a Igreja.

 

Repetirei mais uma vez que não sou pessimista, nem por temperamento nem por hábito.

 

Como é possível ser pessimista se Nosso Senhor prometeu que estará connosco até ao fim dos séculos?

 

A efusão do Espírito Santo plasmou, na reunião dos discípulos no Cenáculo, a primeira manifestação pública da Igreja.

 

O nosso Pai Deus - conforme nos diz a Escritura com uma expressão tão gráfica, para podermos perceber: “Pai amoroso que cuida de nós como da menina dos olhos, - não cessa de santificar, pelo Espírito Santo, a Igreja fundada pelo Seu Filho muito amado”.

 

Mas a Igreja vive actualmente dias difíceis: são anos de grande desconcerto para as almas.

 

O clamor da confusão levanta-se por toda a parte e renascem com estrondo todos os erros que houve ao longo dos séculos.

 

 

19

        

Fé.

Precisamos de fé.

Se olharmos com olhos de fé, descobrimos que a Igreja contém em si mesma e difunde à sua volta a sua própria apologia.

Quem a contempla, quem a estuda com olhos de amor à verdade, deve reconhecer que ela, independentemente dos homens que a compõem, e das modalidades práticas com que se apresenta, leva em si mesma uma mensagem de luz universal e única, libertadora e necessária, divina.

 

Quando ouvimos vozes de heresia - porque são exactamente isso, nunca me agradaram os eufemismos-, quando observamos que se ataca impunemente a santidade do matrimónio e do sacerdócio; a concepção imaculada da Nossa Mãe Santa Maria e a sua virgindade perpétua, com todos os restantes privilégios e excelências com que Deus a adornou; o milagre perene da presença real de Jesus Cristo na Sagrada Eucaristia, o primado de Pedro, a própria Ressurreição de Nosso Senhor, como não sentir a alma cheia de tristeza?

Mas tenham confiança: a Santa Igreja é incorruptível.

A Igreja vacilará se o seu fundamento vacilar, mas poderá Cristo vacilar?

Enquanto Cristo não vacilar, a Igreja jamais fraquejará até ao fim dos tempos.

 

20

        

O humano e o divino na Igreja

 

Assim como em Cristo há duas naturezas - a humana e a divina - também, por analogia, podemos referir-nos à existência na Igreja de um elemento humano e de um elemento divino.

A ninguém passa despercebida a evidência dessa parte humana.

A Igreja, neste mundo, está composta por homens e para homens, e dizer homem é falar da liberdade, da possibilidade de actos grandes e de actos mesquinhos, de heroísmos e de claudicações.

 

Se só admitíssemos essa parte humana da Igreja nunca conseguiríamos compreendê-la, pois não teríamos chegado à porta do mistério. A Sagrada Escritura utiliza muitos termos - tirados da experiência terrena - para os aplicar ao Reino de Deus e à sua presença entre nós, na Igreja.

Compara-a ao redil, ao rebanho, à casa, à semente, à vinha, ao campo onde Deus planta ou edifica.

Mas destaca uma expressão que compendia tudo: “a Igreja é o Corpo de Cristo”.

 

E Ele a uns constituiu Apóstolos, a outros profetas, a outros evangelistas, a outros pastores e doutores, para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo. São Paulo escreve também que “somos um só corpo em Cristo, e cada um de nós membros uns dos outros”.

Como é luminosa a nossa fé! Todos somos em Cristo, porque Ele é a Cabeça do corpo da Igreja.

 

 

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