Santo
Rosário - Mistérios
Gozosos
Quarto Mistério
Apresentação de Jesus no Templo
Com a humildade simples de sempre, foste, Senhora,
cumprir a Lei: Passados os dias estabelecidos depois do nascimento, a jovem Mãe
tem de purificar-se no Templo. Pelo filho deve oferecer um casal de pombas ou
rolas brancas para ser circuncidado e, assim, tomar parte no Povo de Deus..
E tu, Senhora, foste purificar-te ao Templo!
Tu,
sem mancha de pecado, sem qualquer defeito que pudesse macular a brancura do
teu coração e a limpidez da tua alma, não hesitaste um segundo em cumprir o que
estava escrito que os filhos da Casa de Israel fizessem!
Quantas vezes eu não pensei que estava dispensado de
rezar mais, de me humilhar, de me declarar disponível para o Senhor; quantas
vezes não pensei comigo mesmo que sou melhor que estes, porque eu faço, eu
penso, eu desejo muito mais e melhor!
Tudo
porque o meu coração tem uma carapaça que turva a sua limpidez. A minha alma
cheia de equimoses de pecados antigos e recentes; feridas e lanhos de defeitos
que não consigo rebater nem ultrapassar.
Não
consigo porque não dedico a essa luta um esforço humilde, continuado e
perseverante que me leve a estar sempre pronto para a luta contra a minha falta
de carácter.
Toda a tua vida, Senhora minha, é uma lição de humildade
simples e serena. Não fazes nada de extraordinário, não dás nas vistas, não
sobressais no meio das outras mulheres e, no entanto, cumpres com alegria e
simplicidade todas as prescrições da Lei como se tuas obrigações fossem. E
nisto está o teu segredo, Maria: Cumprir o que Deus manda, sem discutir, sem
argumentar, a tempo e horas, quando e como deve ser feito.
Esta singela disponibilidade cumpridora dos deveres é sem
dúvida, a característica mais extraordinária da Mãe do meu Senhor e minha Mãe.
Não a vemos nunca em êxtase em frente das multidões,
sentada numa cadeira especial, ou nos primeiros lugares das assembleias. Não.
Uma mulher simples, em que as coisas, os actos e as palavras não são estudados
ou arquitectados de acordo e com conveniências ou objectivos.
Apenas
uma serena certeza: Obedecer com prontidão e total disponibilidade.
E, no entanto, esta mulher é a Mãe de Deus!
Que lugar mais alto, que maior honra, que pergaminho, que
nome ilustre pode comparar-se: A Mãe de
Deus!
Ah Senhora minha, conseguiste com a tua serena calma,
impor ao mundo um nome doce e vigoroso ao mesmo tempo que se nos coloca na boca
com amoroso deleite, ou com esperançada angústia?
Nos nossos lábios um último grito, um último apelo, dos
aflitos, dos que sofrem, dos que, em último recurso, para ti apelam. Dos que,
acabrunhados pela dor buscam lenitivo. Dos que, esmagados pela alegria te
agradecem. Dos que, como eu, doidos de amor apenas pronunciam o teu nome
lentamente, deixando-o ecoar por todo o seu ser até ao mais profundo do seu
coração.
Obedecer. Obedecer prontamente, sem hesitações ou
desvios. Não dai a pouco, ou mais logo quando houver mais tempo, mais sossego,
melhor luz… todas as mil desculpas que invento para adiar o que tem de ser
feito já.
Obedecer!
É
isto, Senhora, que procuro. É isto, Senhora, que quero: Obedecer.
Para
isso, bem o sei, preciso expurgar de mim todos os invólucros que me cingem, as
preocupações com coisas pequenas, as cobardias constantes, as faltas de
atenção, as interrupções, os devaneios. Para isso é preciso estar pronto.
Só tu, Senhora minha, podes ajudar-me a conseguir este
estado de alma. Só tu podes ajudar-me a eliminar tudo aquilo que tenho a mais e
que tanto é, que não me deixa ver o essencial, o que realmente vale a pena. A
ti recorro, Mãe Santíssima, para que me conduzas pela mão ao Templo da Purificação,
onde eu, com os olhos finalmente libertos de escamas e o coração nu, de fora do
peito, veja com toda a clareza a Vontade de Deus meu Senhor.
Tenho a certeza que serei também purificado e o fogo
interior que se me acende no peito, incendiará todo o meu ser, purificando-me
assim de todas as minhas faltas.
(AMA,
1999)
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