MISTÉRIOS DOLOROSOS
Quinto Mistério
Jesus é crucificado
Chegou ao fim o Teu calvário. O
sofrimento, os insultos, o vexame de seres despido em público, o opróbrio de
seres contado entre os salteadores, tudo se consumou.
Inclinas a cabeça gotejante, e expiras.
E o
mundo cobre-se de trevas. E muitos ressuscitaram.
E eu?
Coberto
pelas trevas ou ressuscitado?
Inclinado em prostração pelo sacrifício
tremendo, coberto de crepes, as lágrimas correndo, o corpo alquebrado pela
angústia do meu Senhor morto, ou, ao contrário, ressuscitado para a vida que
acabas-Te de dar-me, para a luminosa realidade de Teu filho e irmão, para a
felicidade de finalmente ter sido liberto da minha escravidão ao pecado?
Como pude eu, Senhor, mergulhar nas
trevas?
Como posso eu, Senhor, passear-me
indiferente ao Teu sacrifício?
Como é possível que eu não me transfigure
num homem novo, diferente?
Porquê não começo a caminhar em frente,
para Ti, em vez dos desvios que faço continuamente, das paragens para deter-me
em coisas que não valem nada, nesta minha viagem para me juntar a Ti?
Nessa Cruz onde expiras-Te, caberei eu
também?
Posso, Senhor, juntar-me a Ti de braços
estendidos e participar conTigo?
Porque não quisesTe Senhor, que eu fosse,
ao menos, esse ladrão que levaste conTigo para o Paraíso?
Mais fácil, muito mais fácil teria sido,
sem dúvida. Tu queres de mim, Senhor, toda a minha entrega e, eu, não Te dou
senão bocadinhos de mim, da minha vida e, mesmo esses, de má vontade e sem
determinação.
Posso eu merecer este Teu sacrifício?
Decerto
que sim, mas só com a Tua ajuda, Senhor. Só com a Tua ajuda constante.
Bastará
um momento, uma fracção de segundo, que me falte o Teu apoio e eu sou de novo
aquele que Te flagela, que Te coloca a coroa de espinhos, que Te trespassa o
peito com a lança, que Te vê morrer sem compreender nada, sem fazer nada.
Não podes, Senhor, deixar-me. Tenho de ser
digno da Tua morte, tenho de merecer o Teu calvário, a Tua Cruz.
Protesto eu que a minha cruz é pesada,
difícil e, no entanto, não morro nela. Pelo contrário, constantemente sinto a
Tua mão a ajudar-me a carregá-la, o seu peso descansar também no Teu ombro
dorido. Pois é, Senhor, mas eu não passo de um pobre pecador, desnorteado por
vezes, cheio de ambições, de vaidade e fraquezas. Tenho à minha frente a Tua
cruz, essa enorme cruz onde morresTe por mim.
Inclino-me contristado e com o coração
compungido pela dor de Te ver partir, de Te ver morrer.
Sei
porem que ressuscitarás e que estarás sempre comigo, até que resolvas chamar-me
para o pé de Ti.
Nada mais quero, nada mais desejo.
O que for preciso, Senhor, o que for
necessário fazer para merecer esta Tua morte, que eu o faça com a Tua ajuda,
com o alento que sabes dar, com a Tua misericórdia e bondade infinitas.
E
então, quando prostrado Te adorar, quando estiver no Teu seio, dir-Te-ei: Obrigado
Senhor, pela Tua morte, sem ela não estaria aqui gozando a Vida Eterna.
(AMA, 1999)
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