01/10/2020

Leitura espiritual Outubro 01


Cartas de São Paulo

Filémon

Pelo tema e pelo tom afectuoso, esta é certamente uma Carta autêntica de Paulo (v.19). Filémon era um cristão de elevada posição social, convertido por Paulo, e tinha como escravo um outro cristão, Onésimo. Este, tendo fugido ao seu senhor, refugiou-se junto de Paulo (v.10), que o refere em Cl 4,9 como "irmão fiel e querido". Este facto era motivo de graves penas civis, tanto para o escravo como para quem o acolhia.
Paulo, prescindindo da questão legal, envia-o ao seu senhor com o presente "bilhete" e pede a Filémon que acolha de novo, não como escravo, mas "como irmão querido" (v.16), um irmão na fé. Mais: como se fosse o próprio Paulo (v.17).

LUGAR
Pelo que é dito no v.1, a Carta terá sido escrita num dos cativeiros de Paulo (Roma, Éfeso ou Cesareia), nos últimos anos da sua vida (ver v.9-10.13.18). Os companheiros referidos aqui (v.23-24) são os mencionados em Cl 4,7-17.

DIVISÃO E CONTEÚDO
Esta tem a estrutura normal das Cartas de Paulo:
Apresentação e saudação: v.1-3;
Acção de graças: v.4-7;
Corpo da Carta: v.8-22;
Saudação final: v.23-25.

TEOLOGIA Como noutras ocasiões em que trata a questão da escravatura, Paulo não se preocupa em mudar a estrutura social em vigor (1 Cor 7,20-24; Ef 6,5-9; Cl 3,22-4,1). O que ele faz é prescindir disso e deslocar o problema para a questão do amor fraterno, mais profunda que a questão legal em vigor, pois, em Cristo, "não há escravo nem livre" (Gl 3,28).
Daí em diante, Filémon deve tratar o (antigo) escravo Onésimo como irmão, porque Paulo está disposto a recompensá-lo monetariamente, isto é, a resgatar Onésimo.
Com isto, Paulo, embora não se oponha frontalmente à escravatura, tão-pouco a aprova; e afirma que o amor fraterno, centro do Evangelho de Cristo, é que levará à eliminação da escravatura.

Amigos de Deus

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Em mim encontra-se toda a graça de doutrina e de verdade, em mim toda a esperança de vida e de virtude.
Com quanta sabedoria pôs a Igreja estas palavras na boca da nossa Mãe, para que nós, os cristãos, não as esqueçamos.
Ela é a segurança, o Amor que nunca nos abandona, o abrigo constantemente aberto, a mão que acaricia e consola sempre.

Um antigo Padre da Igreja escreve que devemos procurar conservar na nossa mente e na nossa memória um resumo ordenado da vida da Mãe de Deus.
Tereis folheado muitas vezes prontuários de Medicina, de Matemática ou de outras matérias.
Aí se enumeram, para casos de necessidade urgente, os remédios imediatos, as medidas que se devem adoptar, com o fim de não nos perdermos nessas ciências.

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Meditemos frequentemente tudo quanto temos ouvido sobre a nossa Mãe numa oração sossegada e tranquila.
E, como resultado, ir-se-á gravando na nossa alma uma espécie de compêndio, para recorrermos a Ela sem vacilar, especialmente quando não tivermos outro apoio.
Não será isto interesse pessoal da nossa parte?
Certamente que o é.
Mas, porventura, não sabem as mães que os filhos são geralmente um pouco interesseiros e que com frequência se dirigem a elas como úl­timo remédio?
Sabem-no e não se importam.
Por isso são mães e o seu amor desinteressado percebe - no nosso aparente egoísmo - o nosso afecto filial, a nossa confiança inabalável.

Não pretendo - nem para mim, nem para vós - que a nossa devoção a Santa Maria se limite a estas invocações prementes.
Acho, no entanto, que não deve humilhar-nos que nos aconteça isso alguma vez.
As mães não contabilizam os pormenores de carinho que os seus filhos lhes demonstram, não pesam nem medem com critérios mesquinhos.
Uma pequena demonstração de amor, saboreiam-na como se fosse mel e acabam por conceder muito mais do que receberam.
Se assim fazem as mães boas da terra, imaginai o que poderemos esperar da nossa Mãe, Santa Maria!


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Mãe da Igreja

Agrada-me voltar, em pensamento, àqueles anos em que Jesus per­maneceu junto de sua Mãe e que abarcam quase toda a vida de Nosso Senhor neste mundo.
Vê-lo pequeno quando Maria cuida d'Ele e o beija e o entretém...
Vê-lo crescer diante dos olhos enamorados de sua Mãe e de José, seu pai na terra...
Com quanta ternura e com quanta delicadeza Maria e o Santo Patriarca se preocupariam com Jesus durante a sua infância!
E, em silêncio, aprenderiam muito e constantemente d'Ele.
As suas almas ir-se-iam afazendo à alma daquele Filho, Homem e Deus.
Por isso, a Mãe - e, depois dela, José - conhece como ninguém os sentimentos do coração de Cristo e os dois são o caminho melhor, diria até que o único, para chegar ao Salvador.

Que em cada um de vós, escrevia Santo Ambrósio, esteja a alma de Maria, para louvar o Senhor; que em cada um esteja o espírito de Maria, para se regozijar em Deus.
E este Padre da Igreja acrescenta umas considerações, que à primeira vista parecem atrevidas, mas que têm um sentido espiritual claro para a vida do cristão: Segundo a carne, uma só é Mãe de Cristo; segundo a fé, Cristo é fruto de todos nós.

Se nos identificarmos com Maria, se imitarmos as suas virtudes, poderemos conseguir que Cristo nasça, pela graça, na alma de muitos que se identificarão com Ele pela acção do Espírito Santo.
Se imitarmos Maria, participaremos de algum modo na sua maternidade espiritual: em silêncio, como Nossa Senhora, sem que se note, quase sem palavras, com o testemunho íntegro e coerente de uma conduta cristã, com a generosidade de repetir sem cessar um fiat que se renova como algo íntimo entre Deus e nós.

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O muito amor a Nossa Senhora e a falta de cultura teológica levou um bom cristão a fazer um comentário que vos vou narrar, porque, com toda a ingenuidade, é lógico em pessoas de poucas letras.

Tome-o - dizia-me - como um desabafo; compreenda a minha tristeza perante algumas coisas que sucedem nestes tempos.
Durante a preparação e o desenrolar do actual Concílio, propôs-se que fosse incluído o tema da Virgem.
Assim mesmo: o tema.
É deste modo que falam os filhos?
É esta a fé que sempre professaram os fiéis?
Desde quando é que o amor da Virgem é um tema, sobre o qual se admite entabular uma disputa a propósito da sua conveniência?

Se há alguma coisa contrária ao amor, é a mesquinhez.
Não me importo de ser muito claro; se não o fosse - continuava ele - parecia-me uma ofensa à Nossa Santa Mãe.
Discutiu-se se era ou não oportuno chamar a Maria Mãe da Igreja... Incomoda-me descer a mais pormenores, mas a Mãe de Deus e, por isso, Mãe de todos os cristãos, não será Mãe da Igreja, que é o conjunto dos que foram baptizados e renascem em Cristo, filho de Maria?

Não entendo - acrescentava - donde vem a mesquinhez de regatear esses títulos de louvor a Nossa Senhora.
Que diferente é a fé da Igreja!
O tema da Virgem!
Pretendem os filhos discutir o tema do amor a sua mãe?
Querem-lhe muito e basta!
E amá-la-ão muito, se são bons filhos.
Do tema - ou do esquema - falam os estranhos, os que estudam o caso com a frieza do enunciado de um problema.
Até aqui, o desabafo recto e piedoso, mas injusto, daquela alma sim­ples e devotíssima.

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Continuemos nós a considerar este mistério da Maternidade divina de Maria, numa oração calada, afirmando do fundo da alma: Virgem, Mãe de Deus: Aquele a quem os Céus não podem conter, encerrou-se no teu seio para tomar carne de homem.

Vede o que nos faz recitar hoje a liturgia: bem-aventuradas sejam as entranhas da Virgem Maria, que acolheram o Filho do Pai eterno. Uma exclamação velha e nova, humana e divina.
É dizer ao Senhor o que se costuma dizer nalguns sítios para exaltar uma pessoa: bendita seja a mãe que te trouxe ao mundo!

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Mestra de Fé, de Esperança e de Caridade

Maria cooperou com a sua caridade para que nascessem na Igreja os fiéis membros da Cabeça de que é efectivamente mãe segundo o corpo.
Como Mãe, ensina; e, também como Mãe, as suas lições não são ruidosas.
É preciso ter na alma uma base de finura, um toque de delicadeza, para compreender o que nos manifesta, mais do que com promessas, com obras.

Mestra de fé! Bem-aventurada és tu, porque acreditaste!
Assim a saúda Isabel, sua prima, quando Nossa Senhora sobe à montanha para a visitar.
Tinha sido maravilhoso aquele acto de fé de Santa Maria: eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra.
No nascimento de seu Filho contempla as grandezas de Deus na terra; há um coro de Anjos e tanto os pastores como os poderosos da terra vêm adorar o Menino.
Mas depois a Sagrada Família tem de fugir para o Egipto, para escapar às intenções criminosas de Herodes.
Depois, o silêncio; trinta longos anos de vida simples, vulgar, como a de qualquer lar, numa pequena povoação da Galileia.




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