27/09/2020

Leitura espiritual Setembro 27


Cartas de São Paulo

Tito

Tito foi, juntamente com Timóteo, um dos principais colaboradores de Paulo. De origem grega, aderiu à fé, provavelmente através de Paulo, durante a primeira viagem missionária deste. Certo é que o acompanhou a Jerusalém, para a assembleia apostólica, constituindo um exemplo vivo da decisão tomada de não impor os costumes judaicos aos cristãos oriundos do mundo pagão, pois, embora sendo grego, não foi obrigado a circuncidar-se (Gl 2,1.3).

ACÇÃO DE TITO Na sua colaboração com Paulo, foram-lhe confiadas tarefas delicadas como a organização da colecta em favor das igrejas da Judeia (2 Cor 8,6-17) e, provavelmente, a pacificação da comunidade de Corinto e a reconciliação entre esta e o próprio Paulo (2 Cor 2,1-13).
Paulo refere-se a ele sempre em termos muito elogiosos (2 Cor 7,6-7.13-16; 12,18). Segundo 2 Tm 4,10, foi-lhe ainda confiada uma missão na Dalmácia. A presente Carta dá-o como "bispo" de Creta (Tt 1,5), onde, segundo a tradição, exerceu o ministério até ao fim dos seus dias.
É estranho que os Actos dos Apóstolos, que mencionam várias vezes Timóteo, não façam nenhuma referência a Tito. Nunca foi apresentada uma explicação convincente para o facto, sugerindo alguns que Tito é o redactor das passagens "nós" dos Actos (Act 16,10-17; 20,5-21,18; 27,1-28,16).

AUTENTICIDADE A maioria dos exegetas contesta a autenticidade paulina da CARTA A TITO, quer pelo vocabulário utilizado, que se afasta bastante do que encontramos nas autênticas Cartas de Paulo, quer pelos problemas tratados, que fazem supor uma fase de desenvolvimento da Igreja posterior à época apostólica.
Além disso, a Carta encontra-se redigida num tom muito impessoal, com excepção do título de "meu verdadeiro filho" que se encontra na saudação (1,4), longe, pois, das afectuosas referências de Paulo a Tito noutras Cartas.

DIVISÃO E CONTEÚDO A Carta pode estruturar-se do modo seguinte:
Saudação inicial (1,1-4);
Orientações a Tito sobre os critérios de escolha dos responsáveis das comunidades (1,5-9);
Aviso contra os falsos mestres (1,10-16);
Ensinamentos sobre o modo de comportamento de várias categorias de crentes (2,1-15);
Elenco de deveres sociais (3,1-11);
Recomendações de carácter pessoal (3,12-14);
Saudação final (3,15).

Amigos de Deus

256
        
A vocação cristã, que é um chamamento pessoal do Senhor, leva cada um de nós a identificar-se com Ele.
Não devemos esquecer-nos, porém, de que Ele veio à Terra para redi­mir o mundo inteiro, porque quer que os homens se salvem.
Não há uma só alma que não interesse a Cristo. Cada uma lhe custou o preço do seu Sangue.

Ao considerar estas verdades, vem-me à memória a conversa dos Apóstolos com o Mestre momentos antes do milagre da multiplicação dos pães.
Uma grande multidão acompanhara Jesus.
Nosso Senhor ergue os olhos e pergunta a Filipe: «Onde compraremos pão para dar de comer a toda esta gente
Fazendo um cálculo rápido, Filipe responde: «Duzentos dinheiros de pão não bastam para cada um receber um pequeno bocado
Como não dispõem de tanto dinheiro, lançam mão de uma solução caseira.
Diz-lhe um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro: «Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes, mas que é isto para tanta gente

257

O fermento e a massa

Nós queremos seguir o Senhor e desejamos difundir a Sua Palavra. Humanamente falando, é lógico que também perguntemos a nós mesmos: mas que somos nós para tanta gente?
Em comparação com o número de habitantes da Terra, ainda que nos contemos por milhões, somos poucos.
Por isso, temos de considerar-nos como uma pequena levedura, preparada e disposta a fazer o bem à humanidade inteira, recordando as palavras do Apóstolo: “Um pouco de levedura fermenta toda a massa, transforma-a.”
Precisamos, portanto, de aprender a ser esse fermento, essa levedura, para modificar e transformar as multidões.

Por si mesmo é o fermento melhor do que a massa?
Não.
Mas é o meio necessário para que a massa se transforme, tornando-se alimento comestível e são.

Pensai mesmo que seja a traços largos, na eficácia do fermento, que serve para fabricar o pão, alimento básico, simples, ao alcance de to­dos.
A preparação da fornada, em muitos sítios, é uma verdadeira cerimónia, e dali sai um produto estupendo, saboroso que se come "com os olhos"...
Talvez já a tenhais presenciado.
Escolhem farinha boa; se é possível, da melhor.
Trabalham a massa na masseira, para a misturar bem com o fermento, em longo e paciente labor.
Depois um tempo de repouso, imprescindível para que a levedura cumpra a sua missão, inchando a massa.

Entretanto arde o lume no forno, animado pela lenha que se consome...
E aquela massa, metida no calor do lume, torna-se o pão fresco, esponjoso, de grande qualidade.
Resultado impossível de conseguir, se não fosse pela levedura - em pouca quantidade - que se diluiu, que desapareceu no meio dos outros elementos, num trabalho eficiente, mas que não se vê...

258
         
Se meditarmos com sentido espiritual no texto de São Paulo, compreenderemos que temos de trabalhar em serviço de todas as almas. O contrário seria egoísmo.
Se olharmos para a nossa vida com humildade, veremos claramente que o Senhor nos concedeu talentos e qualidades, além da graça da fé.
Nenhum de nós é um ser repetido.
O Nosso Pai criou-nos um a um, repartindo entre os Seus filhos diverso número de bens.
Pois temos de pôr esses talentos, essas qualidades, ao serviço de todos; temos de utilizar esses dons de Deus como instrumentos para ajudar os homens a descobrirem Cristo.

Não vejais este afã como um acrescentamento, como uma espécie de enfeite que se junta à nossa condição de cristãos.
Se a levedura não fermenta, apodrece.
Pode desaparecer dando vida à massa, mas também pode desaparecer porque se perde em homenagem à ineficácia e ao egoísmo.
Não prestamos um favor a Deus Nosso Senhor quando o damos a co­nhecer aos outros: “por pregar o Evangelho não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação, por mandato de Jesus Cristo; e ai de mim se eu não evangelizar!”



259
         
Fainas de pesca

Eis que mandarei muitos pescadores, promete o Senhor, e pescarei esses peixes.
Assim nos indica Deus o nosso grande trabalho: pescar.

Falando ou escrevendo, às vezes compara-se o mundo com o mar. E há muita verdade nessa comparação.
Na vida humana, tal como no mar, há períodos de calma e períodos de borrasca, de tranquilidade e de forte ventania.
Muitas vezes, os homens nadam em águas amargas, no meio de gran­des vagas; caminham no meio de tormentas; viajam cheios de tristeza, mesmo quando parece que têm alegria, mesmo quando falam ruidosamente: gargalhadas que pretendem encobrir o seu desalento, o seu desgosto, a sua vida sem caridade nem compreensão.
E devoram-se uns aos outros, tanto os homens como os peixes...

É missão dos filhos de Deus conseguir que todos os homens entrem - com liberdade - dentro da rede divina, para que se amem.
Se somos cristãos, temos de converter-nos nos pescadores de que fala o profeta Jeremias.
Jesus Cristo também utilizou repetidamente essa metáfora: "Segui-me e Eu vos farei pescadores de homens", diz a Pedro e a André.

260
        
Acompanhemos Jesus nesta pesca divina.
Jesus está junto do lago de Genesaré e as pessoas comprimem-se à sua volta, ansiosas por ouvirem a palavra de Deus.
Tal como hoje!
Não estais a ver?
Estão desejando ouvir a mensagem de Deus, embora o dissimulem exteriormente.
Talvez alguns se tenham esquecido da doutrina de Cristo; talvez outros, sem culpa sua, nunca a tenham aprendido e olhem para a religião como coisa estranha... mas convencei-vos de uma realidade sempre actual: chega sempre um momento em que a alma não pode mais; em que não lhe bastam as explicações vulgares; em que não a satisfazem as mentiras dos falsos profetas.
E, mesmo que nem então o admitam, essas pessoas sentem fome, desejam saciar a sua inquietação com os ensinamentos do Senhor.

Deixemos São Lucas continuar a sua narrativa: «E viu duas barcas à beira do lago; e os pescadores tinham saído e lavavam as redes. Entrando numa das barcas, que era a de Simão Pedro, pediu-lhe que se afas­tasse um pouco da terra. E sentando-se dentro, ensinava o povo
Quando acabou a sua catequese, ordenou a Simão: «Faz-te mais ao largo e lançai as vossas redes para pescar»; é Cristo o dono da barca; é Ele quem prepara a faina.
Para isso é que veio ao mundo: para tratar de que os Seus irmãos descubram o caminho da glória e do amor ao Pai.
Não fomos nós, portanto, quem inventou o apostolado cristão.
Nós, os homens, só o dificultamos, com a nossa rudeza, com a nossa falta de fé.



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